Ethan afundou as pernas na neve vermelha com facilidade, como se fosse apenas um passo comum. Do seu corpo, penas brancas começaram a crescer, suaves e elegantes à primeira vista — mas qualquer um com um pouco de percepção saberia que aquilo não era símbolo de paz. Eram armas. Vivas. Afiadas. Letais.
Logo em seguida, ele afundou ainda mais o corpo no solo, produzindo um som abafado e grave, como se algo estivesse prestes a romper.
E então ele disparou.
Com uma velocidade animalesca, Ethan avançou contra Anika, que mal teve tempo de reagir. Seus olhos se arregalaram ao perceber o quão rápido ele realmente era. Ele girou o corpo e desferiu um soco com a mão esquerda, tão forte que o ar ao redor se tornou pesado, denso como chumbo. Por puro instinto, Anika inclinou a cabeça para o lado direito, escapando por centímetros.
Mas Ethan não parou. Com a perna esquerda, tentou derrubá-la, girando como um predador em movimento. Anika fincou os pés no chão, resistindo ao impacto. Ela não caiu, mas o golpe atingiu sua perna com força brutal — a dor pulsou como se tivesse sido atingida por um martelo.
Enquanto isso, Takeshi observava a cena sem conseguir reagir. Estava ofegante, o frio cortante da neve parecia não afetar mais seus sentidos. Ao seu lado, o sistema tremia, sua luz pulsando instável. De repente, uma notificação surgiu em sua frente, tremulando como se estivesse hesitante.
『Ei! Tem algo errado... Alguém está mexendo na tarefa.』
Takeshi sentiu o coração gelar. Seus lábios se moveram, mas nenhuma palavra saía. O que aquilo queria dizer?
— Hã...? O que aconteceu? — perguntou em voz baixa, atordoado.
A janela do sistema apareceu de novo. Um pequeno emoji com os olhos apertados apareceu, seguido por uma nova mensagem:
『Tarefa Principal #2 – Castelo Azul』
Dificuldade: D+
Objetivo:
— Matar o Coração Congelado. (Ainda em andamento)
— Destruir os cinco guardas. ( 2|5)
— Destruir as três torres de proteção. ( Finalizada)
Prazo: 1 mês
Recompensa: 3000 moedas
Falha: Você será teleportado para um lugar isolado, cercado por criaturas hostis — ou se tornará apenas um osso quebrado.
Takeshi leu e releu cada palavra, mas uma frase martelava na mente dele.
"Virar um osso quebrado? Que tipo de punição é essa?"
Antes que pudesse se aprofundar nos próprios pensamentos, seus olhos se arregalaram ao ver Anika no chão — derrotada, respirando com dificuldade.
Ethan estava parado à frente dela, com um sorriso cruel no rosto. O punho dele já estava erguido, pronto para dar o golpe final.
Foi como se algo explodisse dentro de Takeshi.
Raiva. Medo. Algo que queimava no fundo da alma.
Sem pensar, ele correu. Seu corpo respondeu antes da mente. Quando finalmente conseguiu chamar a atenção de Ethan…
Ele viu algo horrível.
O rabo de Ethan — coberto de espinhos — agora estava enrolado no braço direito de Takeshi, perfurando a pele com violência. Sangue pingava, escorrendo sobre a neve.
Por um instante, Takeshi não sentiu nada.
Mas então veio a dor.
— AAAHHHHHH!
A cena pareceu congelar no tempo. Anika ergueu os olhos, ainda ofegante, enquanto Ethan mantinha um sorriso sombrio no rosto.
Takeshi tentou recuar, mas o rabo espinhoso de Ethan se contraiu ainda mais ao redor de seu braço, cravando-se fundo na carne. A dor era sufocante.
Ele tentou virar o pulso, forçar algum movimento, qualquer coisa que o soltasse… mas nada funcionava. Pelo contrário, cada tentativa apenas fazia os espinhos penetrarem ainda mais, rasgando músculo e tendão.
Anika não pensou duas vezes. As mãos dela brilharam com magia intensa e, com um gesto rápido, tocou as mãos de Ethan, fazendo-o gritar de dor. No entanto, mesmo em agonia, ele conseguiu soltar uma ameaça entre os dentes cerrados:
— ...Se você continuar… esse cara vai morrer comigo…
Anika hesitou. Seus olhos tremiam, presa entre dois impulsos: acabar com aquilo de uma vez ou preservar a vida de Takeshi.
Foi quando ouviu a voz dele, firme apesar da dor, e um fio de sangue escorrendo dos lábios.
— Não liga pra mim… termina isso. Você gosta da sua mestra, não é? Então faça isso por ela.
Anika sentiu o peito apertar. A imagem de sua mestra sorriu em sua memória. Aquela mulher que a ensinou tudo… que lhe deu um lar.
Mas agora havia Takeshi, com aquele jeito estranho, intenso, mas com uma coragem que chamava sua atenção. Ele estava sofrendo. E ainda assim… sorria.
Ethan aproveitou a hesitação. Empurrou Anika no chão com brutalidade e recuou dois passos, suas bochechas avermelhadas pela dor causada pela magia. Ele apertou ainda mais o rabo espinhoso em Takeshi, fazendo o sangue jorrar.
— Você fala demais. Cala a boca… e deixa ela decidir — rosnou.
As veias do rosto de Takeshi saltavam pela raiva, pelo esforço. Mas ele ainda encontrou forças para sorrir — um sorriso cansado, mas provocador, como se quisesse dar a ela coragem.
— Vai com tudo… Eu não vou morrer por causa de um popô…
Ethan ficou tomado pela fúria e apertou ainda mais, com força brutal, tentando arrancar de vez o braço de Takeshi. O grito de dor cortou o ar, ecoando entre a neve e o sangue. Mas, mesmo em meio ao sofrimento, Takeshi pensou:
“Eu não vou morrer… Ainda tenho duas vidas. Esse desgraçado vai pagar.”
Num impulso desesperado, ele forçou o próprio braço para cima, permitindo que fosse arrancado. Um jato de sangue se espalhou, tingindo a neve de vermelho. A dor era insuportável, mas Takeshi resistiu, avançando com tudo contra Ethan.
Com um rugido feroz, ele desferiu um soco direto no rosto do inimigo. O impacto foi tão violento que Ethan foi lançado a três metros de distância, como uma boneca de pano.
O golpe atingiu em cheio o peito dele, que quase colapsou. Ethan cuspiu uma quantidade absurda de sangue no chão. Seus olhos reviraram, ficando brancos, e o rabo caiu no chão, se contorcendo em espasmos de dor.
No chão, o braço de Takeshi jazia abandonado, envolto em neve e sangue.
Anika ficou sem palavras, paralisada por um instante. Então correu até ele, os olhos tremendo de choque e preocupação. Segurou sua roupa com força, a voz embargada:
— Você é louco… seu braço… Você pode morrer assim!
Takeshi a olhou com um sorriso fraco, o rosto pálido e suado. A dor era como fogo rasgando seu corpo, mas ele não recuava.
— Eu… ainda tô aqui, não tô?
O sangue escorria, o frio mordia sua pele, mas naquele momento, Takeshi estava em pé… e vivo.
Ethan se levantou lentamente, cambaleando. Sua visão estava turva, o mundo ao redor girava, e um zunido irritante ecoava em seus ouvidos. Mas, mesmo assim, uma única frase ressoava forte em sua mente:
“COMO?! Aquela força…! Eu pensava que todos eles seriam fracos… Maldito!”
As veias em seu rosto saltaram com intensidade. A raiva tomou conta do seu corpo como uma febre. Seus dentes rangeram com força, a mandíbula travada pelo ódio crescente.
Do outro lado, Takeshi sorriu. Não era um sorriso de empolgação ou arrogância… Era de alguém que havia encontrado algo inesperadamente interessante — e perigoso.
Ele levou o dedo mínimo até os lábios, como se provocasse, e murmurou com um olhar afiado:
— Pensei que você seria forte… Vai morrer como um fraco.
Apesar do tom provocador, o coração de Takeshi batia acelerado. Ele estava nervoso. Sabia que, da forma como estava agora, não poderia vencê-lo de forma direta. Mas a ideia que surgia em sua mente era arriscada… e talvez a única chance.
Takeshi se aproximou de Anika no ouvido fazendo ela sentir um arrepio e uma vergonha mas ele disse
— Melhor você desvia dos ataques. Tenho um plano na mente apenas siga minhas formas.
Ethan moveu as pernas de raiva. Pequenos raios brancos começaram a surgir no corpo dele. Takeshi olhou para aquilo e pensou:
“O único jeito de vencer é usar isso…. Eu até consigo sobreviver, mas ela… eu espero que ela consiga.”
Anika ver aquilo e se mexe para ir desvia, mas sente uma medo de deixar Takeshi já que ele está sem o braço..
Ela queria se mover, mas suas pernas pareciam presas ao chão. Não era medo. Era algo pior. Culpa.
Ethan se aproximou em alta velocidade, como uma flecha movida pela fúria. Takeshi, ao perceber que não teria tempo para reagir, usou o que restava de força para empurrar Anika de leve para o lado. Ela estava absorta, desligada da realidade — seus olhos vagavam, como se buscassem algo distante em sua memória.
Anika se lembrava de algo profundo… um momento que a marcou, alguém que tentou salvar, mas falhou.
Enquanto isso, Takeshi respirou fundo. Agora, mais do que nunca, sentia o peso das desvantagens de seu corpo.
O sangue perdido tornava cada movimento um desafio. Seus músculos pesavam como se fossem de pedra. Os olhos ameaçavam se fechar. As pernas, trêmulas, quase cederam.
Mas ele girou a cabeça com força, como se quisesse expulsar o cansaço e a dor — era hora de voltar ao plano.
À frente, Ethan emitia sons estranhos, guturais, quase bestiais. Parecia um animal faminto… um predador.
— Seu desgraçado! — gritou ele, a voz carregada de ódio.
Então, num impulso selvagem, Ethan avançou como uma fera solta da coleira. O vento explodia ao redor de seu corpo envolto por pequenos relâmpagos brancos.
Takeshi, mesmo sem um braço e com o corpo cambaleante, correu para frente, sentindo cada músculo gritar de dor. Seus olhos cravaram-se em Anika, que ainda parecia presa em seus próprios fantasmas, hesitante no meio da neve vermelha.
— Se mexe! — gritou ele, a voz carregada de urgência e raiva.
O grito ecoou como um trovão, cortando o transe de Anika. Ethan, pego de surpresa pelo som, hesitou por um instante — o suficiente.
Anika, despertando com os olhos brilhando em decisão, avançou num salto. Chegou em um instante e, com as duas mãos envoltas em energia ardente, pressionou contra o rosto de Ethan.
— Saia da frente dele! — disse ela, firme.
A pele de Ethan começou a queimar com um som sibilante. Ele urrou, cambaleando para trás enquanto os raios brancos em seu corpo se desestabilizavam e explodiam em faíscas aleatórias.
O chão tremeu levemente quando Ethan caiu, os joelhos batendo com força na neve tingida de vermelho. Seus olhos giravam, o corpo em choque. Ele ainda tentava resistir, mas os músculos não obedeciam — estavam em colapso.
Anika olhou para as próprias mãos, feridas e levemente queimadas, com os dedos tremendo pelo esforço. A pele estava avermelhada, marcada pelas chamas que ela mesma invocou. Takeshi se aproximou devagar, ainda ofegante, mas com um olhar gentil nos olhos.
— Não precisa se forçar tanto… — disse ele, em um tom mais suave. — Você me ajudou. Obrigado, de verdade.
Ela ficou um pouco surpresa com o elogio. Seus olhos desviaram, envergonhados, e um leve rubor surgiu em seu rosto. Com a voz baixa, quase como um sussurro, respondeu:
— Bem… agora a gente ganhou?
Takeshi riu, não alto, mas com sinceridade. Seu sorriso era leve, quase caloroso, apesar do sangue e da dor.
— Por enquanto, não. Ele ainda vai sobreviver… — fez uma pausa, olhando para ela com firmeza. — Mas vamos conseguir. Juntos.
Anika o encarou por um momento, e pela primeira vez, não havia medo ou hesitação em seu olhar — apenas uma calma silenciosa, como se algo tivesse mudado entre eles.
Anika pensou em se aproximar de Takeshi — apenas um pouco mais perto, talvez para agradecer de verdade ou apenas sentir a presença dele ali. Mas hesitou. Seria estranho, não só para ela, mas talvez para ele também. Além disso, havia algo diferente pulsando dentro dela, uma sensação nova e desconcertante… e isso a deixava confusa.
Enquanto o silêncio pairava entre os dois, quebrado apenas pela respiração ofegante e o vento gelado ao redor, Ethan, ainda em chamas, começou a se mover.
Num gesto lento e pesado, ele girou os braços, e o fogo que consumia seu corpo desapareceu, como se tivesse sido sugado pelo próprio ar.
O brilho nos olhos dele havia mudado. Silêncio. Mas não paz. Apenas a calma antes da próxima tempestade.
Ethan ergueu a cabeça, o rosto coberto de fuligem e sangue seco, mas o olhar… o olhar estava mais afiado do que nunca. Um sorriso torto se formou em seus lábios partidos enquanto ele dava um passo à frente, o chão rangendo sob seus pés queimados.
— Isso… foi só o aquecimento.
Takeshi deu um passo à frente, respirando fundo.
— Anika… não se esforça muito.
Ela hesitou, mas obedeceu.
E, no fundo da mente de Takeshi, apenas um pensamento martelava:
Com o olhar firme e o coração palpitando, Takeshi murmurou para si mesmo mentalmente.
“Layos, Mark... por favor, espero que vocês ainda estejam vivos.”
Ele apertou os punhos, sentindo a dor latejante percorrer o corpo, mas não recuou.
“Eu vou lutar… e vencer essa. Por todos nós.”