Ethan, tomado por uma fúria cega, tinha as veias do rosto quase explodindo. Num movimento rápido, saltou e girou com o rabo, tentando atingir os dois de uma só vez.
Anika, ágil, se moveu para o lado oposto, desviando com precisão e evitando ser atingida. Seus reflexos foram impressionantes.
Takeshi, por outro lado, não teve a mesma sorte. Apesar de tentar recuar, três espinhos do rabo cortaram parte de sua roupa, provocando pequenos ferimentos em seu corpo. Ele sentiu uma fisgada aguda na cabeça e outra no abdômen. Sabia que tinha pouco tempo para reagir.
O som seco do rabo atingindo a neve ecoou pelo campo.
Sem hesitar, Takeshi correu em direção à árvore dourada. Ethan soltou uma gargalhada debochada, acreditando que ele estava fugindo como um covarde.
— Hahaha! — zombou. — Está mesmo protegendo um fraco? Venha comigo. Deixe esse lixo para morrer.
Anika se colocou na frente dele, firme, bloqueando o caminho de Ethan. Seu olhar estava gelado como a neve ao redor.
Ethan, com um sorriso sádico, aproximou-se.
— Tsc... você é mesmo idiota. Mulheres… sempre têm utilidade. Mas se recusar… vai morrer como o resto.
Ele agarrou o pulso de Anika com brutalidade, apertando com tanta força que parecia capaz de esmagar seus ossos. Ela fechou os olhos, contendo a dor, mas sua expressão não cedeu.
— Escuta aqui… agora você vai morrer! — rosnou ele, aumentando ainda mais a pressão.
Mas antes que pudesse fazer algo pior... ele congelou. Seus olhos se arregalaram em puro espanto.
Takeshi havia tocado a árvore dourada.
Uma onda de energia atravessou seu corpo como um sopro divino. A dor foi silenciada por um calor reconfortante. Ele sentiu alívio. Sentiu poder.
Era como se a própria árvore respondesse à sua determinação.
De repente, a árvore dourada brilhou intensamente, liberando uma aura que envolveu Takeshi e Anika, empurrando Ethan alguns metros para trás. Um círculo de luz dourada se formou ao redor deles, criando uma barreira protetora que isolava o espaço.
Ethan se enfureceu. Começou a socar a barreira repetidamente, cada golpe mais brutal que o anterior. A cada impacto, faíscas de energia branca explodiam e cresciam ao redor, como se alimentadas por sua raiva.
Dentro do campo, o sistema azul apareceu ao lado de Takeshi, em estado de choque, com um pequeno emoji de um cachorro trêmulo ao lado de sua interface. Logo depois, surgiu uma mensagem no ar:
『Caramba. Ele está aguentando a punição... Nós vamos morrer! Bom, só você mesmo, idiota.』
O sistema resmungava direto na cara de Takeshi, irritado com o quanto ele era fraco comparado aos outros escolhidos. A impaciência do sistema era visível, como se já tivesse desistido de argumentar.
Anika observou a cena, e mesmo com as pernas feridas e dificuldade para andar, se aproximou aos poucos.
Takeshi notou e foi até ela. Com delicadeza, a ajudou a se sentar, mesmo estando sem um dos braços. O fragmento que ele havia devorado ainda o mantinha firme… embora ele não soubesse que era aquilo o responsável por mantê-lo vivo até agora.
Anika ficou levemente sem graça, mas logo murmurou em um tom mais sério:
— Você não precisa me ajudar. Primeiro se cuida. E... eu tô bem.
Takeshi sorriu de leve, mas então sua visão começou a escurecer.
— Ei! — disse Anika, preocupada.
Ele estava desabando. Seu corpo caiu lentamente no chão, ofegante, os olhos semiabertos.
Anika se arrastou na neve, tentando ignorar a dor nas pernas, para se aproximar.
Takeshi pensava, entre a consciência e o desmaio:
“Pelo menos consegui... mas ainda não entendo essa árvore. Tenho tantas perguntas...”
Olhou para Anika, para o sistema ao seu lado, e sussurrou com um sorriso cansado:
— Eu tô bem... só cansado. Tudo me deixou cansado...
E era verdade.
Desde que chegou àquele mundo, Takeshi nunca teve paz… nunca teve descanso.
Takeshi fechou os olhos, vencido pelo cansaço, e adormeceu ali mesmo, entre a neve e o brilho suave da árvore dourada. Sua respiração era calma, apesar dos ferimentos e de tudo o que havia enfrentado.
Anika observou em silêncio por alguns segundos, depois desviou o olhar para o sistema flutuante ao lado dele. Com um tom curioso, perguntou:
— Ele é de onde?
O sistema hesitou, flutuando no ar com sua luz azul pulsante.
『Por que quer saber isso?』
Anika ajeitou os cabelos para trás com uma das mãos machucadas, um gesto quase distraído, e respondeu:
— Bem… os olhos dele são diferentes, como se estivessem sempre pulsando, vivos demais. E... ele é mais pálido do que qualquer um que já vi. Não que isso seja ruim, só... estranho. Nunca vi alguém assim.
O sistema ficou visivelmente nervoso, sua luz tremeluzindo por um breve instante. Ele sabia bem: Takeshi era do Japão, e ainda por cima muito jovem. Havia também detalhes que nem ele próprio compreendia completamente. Mas, por enquanto, preferiu não alimentar mais dúvidas.
『Sobre isso… nem eu sei. Deve ser natural mesmo.』
Ele mentiu. Não por bondade, mas por cautela. Apesar de ainda não gostar verdadeiramente de Takeshi, o sistema começou a entender que aquele garoto era necessário para sobreviver naquele mundo.
Além disso... havia algo em Takeshi que o deixava desconfortável. Um tipo de estranheza que até mesmo ele, como sistema, preferia não provocar.
Anika soltou um leve “hum hum”, sem insistir, e voltou a encarar Ethan. Ele ainda socava a barreira com fúria, como um animal preso, os golpes ecoando como trovões abafados. A expressão dela se fechou em silêncio.
As pequenas esferas de luz ao redor da árvore começaram a se mover lentamente em direção ao corpo de Takeshi. Elas giravam ao seu redor como se dançassem, deixando rastros suaves no ar frio, criando um espetáculo silencioso e mágico.
Anika observava tudo em silêncio, hipnotizada. Seu olhar se fixou no chão, onde sombras começaram a se formar — silhuetas de pequenas crianças de mãos dadas, girando em círculo como numa antiga dança folclórica. Eram quatro, no total. A imagem era bela... e estranhamente melancólica.
De repente, um som metálico ecoou levemente no ar — o sistema de Anika apareceu diante dela, vibrando com intensidade.
『Conquista desbloqueada: Você ganhou o título “A Primeira Árvore distorcida”.』
Assim que a mensagem surgiu, uma aura prateada envolveu o corpo de Anika. Ela sentiu uma onda de calor e alívio percorrer sua pele.
Quando a luz se dissipou, seus ferimentos haviam desaparecido por completo — nenhum corte, nenhuma dor. Era como se tivesse renascido.
Anika ficou surpresa, mas aliviada com a recuperação repentina. Apesar de não demonstrar tanto, por dentro sentia uma alegria silenciosa aquecer seu peito.
O sistema dela permaneceu brilhando, até que uma nova janela se abriu, exibindo outra informação:
『Título "A Primeira Árvore Distorcida" está carregando. Tempo restante: 1 hora.』
Anika franziu a testa, confusa.
— Por que isso está acontecendo? Eu nem fiz nada...
Antes que o próprio sistema dela respondesse, o sistema azul de Takeshi interferiu, surgindo com sua típica expressão irritada.
『O título foi ativado pelo seu sistema. Você não conseguiria usá-lo sozinha — títulos precisam ser vinculados e ativados por um sistema. E sim, eles entram em tempo de recarga. Então... esse negócio está relacionado à cura, certo?』
O sistema de Anika, agora com um brilho suave, exibiu um estranho emoji de uma boneca sem rosto. Logo acima, apareceu uma linha de diálogo flutuante:
『Correto. Você acertou, mas… você não ganhou para seu monitor?』
O sistema azul respondeu com um tom mais contido:
『Até apareceu, mas não consigo ver os detalhes. Vou esperar ele acordar pra ver se algo muda.』
Anika então desviou o olhar para Ethan, que ainda golpeava a barreira incansavelmente, e perguntou:
— Eu queria entender uma coisa... Quando vimos ele, apareceu uma mensagem dizendo "Caminho Nível 11". E também... o que é esse "monitor"?
O sistema azul permaneceu em silêncio por alguns segundos. Então, o sistema de Anika começou a explicar com uma voz neutra e precisa:
『É algo difícil de explicar. Caminhos são formas de evolução do seu símbolo. E esse símbolo vem da galáxia de onde você é. Quando um Caminho está em um nível elevado, ele representa uma força transcendental — vai além de simples habilidades. Eles estão ligados diretamente à alma da pessoa... e ao Értevia.』
Anika fechou os olhos por um instante, repetindo mentalmente cada palavra para não esquecer. Em seguida, abriu-os lentamente e murmurou:
— Então aquele Caminho... era mesmo tão forte assim? Porque... no fim, até conseguimos lidar com ele.
『Vocês só conseguiram porque estavam dentro de uma tarefa. A punição afeta até mesmo os mais poderosos. Aqui, ninguém consegue usar 100% de seu poder. A punição é algo que supera qualquer força.』
O sistema azul absorvia todas as informações em silêncio, refletindo. Por fim, completou com uma observação:
『No total, existem doze Caminhos conhecidos. O primeiro deles — o nível 12 — é o mais comum. Basicamente, significa que a pessoa não tem nada de especial.』
O sistema de Anika ficou quieta e depois disse, sua voz soando com leveza, como se revelasse segredos antigos:
『Cada Caminho possui seu próprio nome em cada etapa de evolução. E como você está dentro de uma galáxia. Para avançar, precisa realizar certas ações que permitam a ascensão. Quando você sobe um Caminho, ele recebe um nome específico. Esse nome também se aplica a outras pessoas da mesma galáxia que estejam no mesmo nível. Já indivíduos de outras galáxias possuem Caminhos com nomes diferentes.』
Anika ouvia atenta, os olhos brilhando de curiosidade diante de tantas informações novas e complexas. Seu coração batia acelerado — aquilo tudo era fascinante.
A cada explicação, ela compreendia melhor: aquele mundo não era apenas cruel, mas também profundamente enraizado em regras e mistérios. Era como viver dentro de uma estrutura invisível que regia tudo — desde a força até o destino.
Anika observava as crianças dançando sem parar ao redor de Takeshi .Cruzou as pernas no chão, pensativa, e comentou:
— Realmente... são muitas coisas para memorizar. E sobre o "monitor"?
O sistema dela respondeu com uma calma quase robótica:
『Esse é mais simples. O termo "monitor" é usado para designar pessoas que não conseguem desenvolver habilidades por conta própria. Já aquelas que conseguem, pertencem a outra categoria, com um nome diferente.』
Anika apenas assentiu com a cabeça, absorvendo a informação. Seus olhos então se voltaram para o corpo de Takeshi, que agora estava relaxado. O sangue que antes escorria já havia estancado, e ele apenas dormia ali, como se enfim tivesse encontrado um momento de paz.
Por um breve instante, algo despertou em seu coração enquanto o observava. Mas logo afastou aquele sentimento.
Com calma, ela se levantou e se aproximou das pequenas esferas que flutuavam ao redor dele.
Foi então que as crianças pararam de dançar.
Ela observou atentamente as crianças paradas e perguntou, com a voz suave, mas curiosa:
— Vocês conseguem me entender?
As pequenas silhuetas balançaram a cabeça positivamente em uníssono.
“Isso é bizarro...” pensou Anika, sentindo um leve arrepio ao ver aquelas figuras infantis e silenciosas.
Do outro lado, Ethan continuava golpeando a barreira com força cada vez maior. Seu corpo já estava coberto de ferimentos, resultado direto da punição imposta pelo campo restritivo.
Ele gritava, furioso, mas suas palavras se perdiam, distorcidas pela proteção ao redor. O campo não apenas impedia a passagem física, mas também abafava qualquer som. Nada do que ele dizia podia ser compreendido.
Anika colocou a mão no queixo, pensativa, enquanto observava a barreira vibrar com cada impacto.
“Talvez essa barreira não aguente por muito tempo...”, refletiu, franzindo levemente a testa.
Enquanto isso, os dois sistemas começaram a conversar entre si, trocando comentários aleatórios sobre Ethan e sua insistência em quebrar a proteção.
Até que, de repente, o sistema azul se aproximou da borda da barreira, quase saindo dela, e gritou para Ethan com a maior cara de deboche:
『HAHAHAHA! Nem consegue entrar! Otário!』
O rosto de Ethan ficou ainda mais distorcido pela raiva, e seus socos passaram a atingir a barreira com força triplicada.
Anika arregalou os olhos e repreendeu com firmeza:
— Para com isso... sei lá, coisa azul! Enfim, não tenta piorar as coisas, por favor.
O sistema azul apenas olhou para ela e respondeu com um emoji mostrando a língua, seguido por uma carinha rindo como se nada tivesse acontecido.
『Bleh.』
Anika suspirou, já se arrependendo de ter falado com ele.