Um pequeno floco de neve vermelha caiu suavemente no chão. Seu brilho era tão belo e chamativo que era impossível não notá-lo. Todos que o viam, mesmo que por um instante, eram tomados por um breve sorriso de admiração.
— Parece que a terceira tarefa está começando… ou talvez nem chegue a acontecer — disse uma voz jovem, infantil.
Era Takeshi, ainda criança. O frio o fazia apertar as mãos contra o terno escuro, tentando se aquecer.
— Atchim… — espirrou, sem conseguir segurar.
Ele caminhava devagar pela neve, deixando pequenos rastros com suas pernas delicadas.
"Droga… meu eu adulto precisa ir logo. O tempo está acabando. Aquela lua… maldita."
Ajeitou o terno, envolvendo-o mais firmemente ao redor do corpo. Seus olhos se voltaram para os flocos que caíam, mas não havia neles nenhuma alegria — apenas medo do que estava por vir.
"Aqueles idiotas… como podem gostar dele, mesmo sabendo que isso quase o levou à morte? Preciso pensar… preciso encontrar uma forma de ajudá-lo..."
Os pensamentos fervilhavam em sua mente, causando uma leve dor de cabeça.
“Aaargh… não consigo me concentrar. Desde aquela conversa com eles…”
De repente, como um raio iluminando a escuridão, a memória surgiu com nitidez.
— Não precisa ficar assim — disse uma mulher de cabelos roxos, com um sorriso sereno. — Eu vou cumprir com as minhas palavras.
Ela se aproximou, olhando nos olhos dele com firmeza, como se quisesse gravar cada palavra em sua alma.
— Existe um ranking entre os guardiões. Eles vão do mais fraco ao mais forte. A mais fraca fisicamente é Leilane... mas, em termos de habilidade, ela está entre os mais perigosos.
Takeshi franziu a testa.
— Leilani? Nunca ouvi falar dela…
— Ela é especial — a mulher respondeu, o olhar se tornando mais sério. — Leilane possui um dos itens raros: o Coração Verde. E foi escolhida por um dos seres do culto.
— Como assim “escolhida”? — ele perguntou, confuso.
— Ela tinha um mestre. Alguém que cuidava dela como se fosse uma filha. Esse homem fez uma oferenda em nome dela… e, em troca, o Coração foi concedido. Agora, ele está com ela.
A lembrança apertou o peito de Takeshi criança como se algo o puxasse para baixo.
Mesmo sendo considerada a mais fraca, Leilani carregava uma história profunda e dolorosa. E, por mais que ele quisesse estender a mão para ajudá-la… sabia que não podia.
“Pessoas como ela... não deveriam ter que lutar sozinhas.”
No presente, Takeshi criança caminhava lentamente pelo ambiente, atento a qualquer detalhe que pudesse revelar uma nova informação.
— As pessoas realmente podem ser cruéis… — murmurou para si mesmo, com o olhar baixo e o pensamento distante.
……
Tok! Tok!
Do lado de fora, dois toques secos ecoaram contra a parede.
— E aí! Ainda vão demorar muito? — Luna perguntou, impaciente, os braços cruzados enquanto encarava o corredor parcialmente escuro.
Dentro da sala, o som de folhas sendo reviradas preenchia o ambiente.
— Espera, garota! Estamos analisando isso aqui! — resmungou Mark, irritado por não encontrar nada útil.
William, por outro lado, manteve a calma, folheando os papéis com paciência.
— Ainda estamos verificando os documentos. Pode demorar um pouco…
Luna suspirou alto, encostando-se na parede, mas decidiu esperar.
Luna fechou os olhos por um momento, apoiando-se na parede enquanto tentava relaxar os pensamentos.
“Hmm… já temos o coração e enfrentamos alguns guardiões. As torres… todas foram destruídas. Parece que falta pouco.”
Dentro da sala, William continuava mexendo em todos os papéis, vasculhando cada canto com dedicação. Já Mark, sentado na cadeira de madeira, apenas observava, girando lentamente enquanto descansava os braços.
William lançou um olhar impaciente para ele.
— Você vai me ajudar ou vai continuar aí fingindo que está decorando o lugar? — disse, com certo desprezo na voz.
Mark girou a cadeira mais rápido, deixando a cabeça pender um pouco para trás, como se ignorasse a provocação.
— Que preguiça… Pode continuar sozinho. Estou apreciando o silêncio — respondeu, com um sorriso debochado.
William suspirou fundo e voltou a vasculhar os papéis. O clima entre os dois oscilava entre cansaço e tensão, enquanto o tempo parecia apertar cada vez mais.
Tudo parecia um ciclo sem fim de buscas frustradas… até que, de repente:
— Achei! — exclamou William, com um brilho de empolgação nos olhos.
Mark rapidamente se aproximou, também animado, com os olhos arregalados de curiosidade.
O papel era de tom esbranquiçado, com manchas alaranjadas nas bordas. A aparência era envelhecida e um tanto estranha. As letras estavam mal formadas, como se tivessem sido escritas às pressas, mas ainda assim era possível compreender o conteúdo.
— Hm… Que língua é essa? Porque eu não entendo nada — Mark estreitou os olhos e inclinou o rosto sobre o papel.
William sorriu, prestes a explicar:
— Nomitis. É o nome dessa língua. Parece que você é meio—
Antes que pudesse terminar a frase, Mark já lançava um olhar raivoso, sacando a adaga de forma ameaçadora.
William ergue as mãos, desconversando imediatamente.
— Ok, ok… Esquece o que eu ia dizer.
O clima descontraído voltou, mas a tensão entre os dois sempre surgia nos momentos mais inusitados.
Luna finalmente entrou na sala, caminhando até eles com o semblante levemente irritado — não estava nada satisfeita por ter ficado tanto tempo esperando sozinha.
Sem se abalar, William estendeu o papel que havia encontrado, colocando-o sobre a mesa para que todos pudessem ver.
— Vou ler em voz alta — disse ele, endireitando o papel diante dos olhos.
— "Primeiro, conseguimos construir o objeto. Já se passaram 30 anos desde o acontecimento. Enfim, caso a lua venha novamente, estamos com o objeto no lugar. Precisamos do livro das partes do ####."
— Que?! — Mark se exaltou, frustrado. — O que significa isso?!
— Calma — respondeu William, mantendo a compostura. — Essa parte está riscada… Não dá para ler o que vem depois.
Luna franziu levemente a testa, um pressentimento incômodo a invadindo.
William continuou a leitura, com o tom mais cauteloso:
— "Como o livro está com as páginas rasgadas, fica difícil continuar. No caso, eu acho que só a página 10 e a 13 já são o suficiente. Talvez estejam lá os passos do ritual."
William continuou a leitura, agora com a voz um pouco trêmula:
— "A lua... parece que ela acorda os mortos. Com o tempo, talvez ninguém consiga sobreviver aqui. Sou louco por escrever essas palavras, mesmo sabendo que ninguém vai lê-las..."
Um arrepio percorreu os corpos dos três. A ideia de uma lua falsa capaz de reanimar os mortos os deixou atônitos — como se, de repente, o mundo que conheciam estivesse prestes a ruir.
— Então… a lua já existia antes disso — murmurou William, tentando organizar os próprios pensamentos. — Parece que ela está ligada ao mito da criação… talvez não seja apenas uma presença, mas uma força ancestral.
O silêncio retornou, ainda mais pesado.
A cada frase lida, uma nova camada de mistério se abria — e agora, todos sabiam: aquilo era apenas o começo.
— Como assim?! Droga, como vamos matar uma coisa dessas?! — exclamou Mark, levantando-se da cadeira com os olhos arregalados.
Luna permaneceu em silêncio por alguns segundos, o impacto da informação ainda a atingindo em cheio.
— …Eu acho que… não podemos matá-la — murmurou, com a voz baixa e o semblante abalado.
William, no entanto, parecia pensativo, analisando cada detalhe do que haviam lido.
— Ainda há esperança. O texto menciona um objeto… talvez possamos encontrá-lo aqui. Se for real, ele pode ser a chave para vencermos isso.
Um novo fio de esperança surgiu no meio da tensão — frágil, mas suficiente para manter todos de pé.
— Ainda temos alguns dias para resolver tudo isso. Precisamos ser rápidos para explorar o castelo e verificar outras salas — disse William, com firmeza.
Os dois assentiram silenciosamente. William guardou o papel no bolso com cuidado e saiu da sala. Mark e Luna trocaram um olhar breve antes de o seguir pelos corredores silenciosos.
Conforme caminhavam, começaram a notar algo estranho nas paredes. Texturas estranhas, como línguas retorcidas, se entrelaçavam e formavam formas semelhantes a flores. As superfícies pulsavam levemente… como se estivessem vivas, batendo no ritmo de um coração.
Foi então que, na parede à esquerda, uma massa de carne grotesca começou a emergir. Tinha uma aparência repulsiva, viva e deformada.
Um arrepio percorreu a espinha dos três. Sem hesitar, correram adiante, tentando escapar daquilo que, por um instante, parecia olhar diretamente para eles.
— Que coisa era aquilo? — Mark corria com passos saindo uma aura negra.
— Eu lá sei — Luna olhou para ele por uns segundos.
À frente, o caminho se dividia em três opções. À esquerda, havia uma antiga porta de madeira, com dobradiças enferrujadas. À direita, um corredor escuro se estendia sem fim. Mas bem no centro... havia uma boca grotesca, repleta de dentes enormes e uma massa pulsante e disforme. O odor que exalava dali era insuportável, semelhante a lixo apodrecido.
Luna observou os caminhos com atenção, cobrindo levemente o nariz, e perguntou:
— E agora? Para onde vamos?
William manteve-se sereno, os olhos fixos na porta de madeira.
— Pela porta — respondeu com convicção.
Mark avançou sem hesitar. Correu até a porta de madeira e, com um chute potente, a arrebentou, atravessando-a de imediato.
— Caramba, ele é rápido... — comentou Luna, surpresa com a agilidade do companheiro.
Atrás dela, a boca monstruosa se escancarou, pronta para engoli-los. William, sem perder a calma, girou a mão esquerda com precisão. Uma flor vermelha surgiu em sua palma, e ele a lançou com força contra a criatura. O impacto fez a boca se fechar com um estalo grotesco e recuar.
Aproveitando a abertura, os dois atravessaram a porta atrás de Mark.
Logo na entrada, o encontraram parado, com o dedo no queixo e o olhar fixo à frente.
— Esse lugar é enorme... mas que merda — murmurou, incrédulo.
Luna e William então compreenderam o motivo da reação. Diante deles, havia uma imensa sala circular, com escadas se dividindo à direita e à esquerda. Ao longo das paredes, espaçadas a cada dois metros, estavam cerca de dez portas. A arquitetura era complexa e opressiva.
— Isso... isso aqui não é um castelo — disse Luna, assombrada com o que via.
As escadas que se estendiam para a direita e para a esquerda eram cobertas por um tapete espesso, ornamentado com linhas entrelaçadas em tons de azul e roxo.
A madeira escura dos degraus, em um tom marrom profundo, rangia suavemente sob os pés.
Ao longo das paredes, lâmpadas de gás emolduradas por suportes de ferro lançavam uma luz tênue e oscilante, criando sombras dançantes que davam vida ao ambiente.
No centro da imensa sala, erguia-se uma estátua colossal, com cerca de treze metros de altura. A figura representava uma pessoa sentada sobre os galhos entrelaçados de uma árvore.
Seus cabelos, longos e ondulados, pareciam esculpidos com extremo cuidado, caindo sobre os ombros de forma natural.
Vestia uma camisa marcada por linhas quase invisíveis, desbotadas pelo tempo, e uma calça espessa, de tecido tão denso que mal revelava o contorno das pernas.
O rosto da estátua chamava atenção. Tinha uma beleza serena e quase etérea — os traços finos, os olhos fechados em calma, como se estivesse em um estado de profundo descanso ou meditação.
Acima deles, no teto abobadado, pequenas esferas estavam dispostas de maneira peculiar: cinco do lado esquerdo, cinco do lado direito, uma solitária no centro e outra exatamente acima do local onde o grupo havia entrado.
Cada esfera emitia um brilho sutil, em diferentes tons, como se simbolizassem algo mais do que mera decoração.
O chão, por sua vez, exibia um padrão hipnotizante de vermelho escuro entrelaçado com faixas negras que corriam em todas as direções, como veias pulsantes.
A atmosfera era carregada — havia beleza e mistério, mas também uma presença opressora, como se aquele lugar observasse cada movimento deles em silêncio absoluto.
— Só acho… que estamos sem escolha agora — disse Luna em um tom contido, os olhos fixos na imponente estátua no centro da sala.
A dúvida pairava sobre todos. Aquilo realmente era um castelo? Ou estariam presos em algo muito mais estranho e distorcido do que imaginavam? As formas, os símbolos, o ar opressor… nada ali parecia seguir uma lógica comum.
Mark cruzou os braços, observando as portas alinhadas nas paredes com desconfiança.
— E então… vamos escolher qual delas? — perguntou, quebrando o silêncio.
William caminhou alguns passos à frente, analisando o ambiente. Seus olhos percorreram cada uma das entradas, calculando as possibilidades.
— Não temos tempo a perder. É melhor cada um explorar uma porta diferente — sugeriu com firmeza.
Luna e Mark se entreolharam por um breve instante. Separar-se ali parecia uma péssima ideia, mas algo no tom de William dizia que não tinham outra escolha.
O ar ficou mais pesado. As lâmpadas de gás vacilaram por um momento, como se o lugar tivesse ouvido a decisão.