Após aquela revelação vinda da árvore dourada, o silêncio tomou conta do lugar.
— Espera um pouco… isso é verdade? — Anika perguntou, segurando com firmeza as esferas de energia em suas mãos.
Seu rosto tremia, e seus olhos semicerrados denunciavam a dificuldade em aceitar aquela informação.
Ethan apenas sorriu, com um brilho irônico nos olhos.
— Exatamente. Vamos todos morrer aqui. Vocês realmente acham que vão conseguir completar isso? — disse ele, como se divertisse com o próprio destino, mesmo ciente de que sua morte era uma possibilidade real.
Takeshi cerrava os punhos, tomado por uma raiva crescente diante das possibilidades que se desenhavam. A ideia de perder Layos ou Mark... aquilo seria insuportável.
— Entendi. Agora me diga… árvore, ou seja lá o que for você, qual é o efeito da sua energia? — sua voz estava firme, porém carregada de tensão.
De repente, o céu chamou sua atenção. As estrelas, pequenas e distantes, começaram a brilhar com intensidade incomum, iluminando o alto com um fulgor inquietante. Todos levantaram os olhos ao mesmo tempo.
— O que isso significa? — perguntaram Takeshi e Anika quase em uníssono.
Ethan, por um instante, ficou em silêncio, surpreso.
— São eles… — murmurou — Devem estar gostando de algo na tarefa.
— Mas… quem são eles? — Anika perguntou, com a voz hesitante, como se temesse a resposta.
Ethan permaneceu calado por alguns segundos, como se as palavras estivessem presas na garganta. Seu semblante mudou. Quando finalmente falou, sua voz foi quase um sussurro:
— Os Modificadores.
O som daquele nome carregava um peso incomum. Assim que foi pronunciado, algo invisível pareceu atravessar o ar. Anika e Takeshi sentiram uma pressão no peito — como se algo tivesse tocado diretamente seus corações, provocando uma leve dor que os fez vacilar.
O silêncio foi quebrado apenas por um sussurro frágil, vindo da árvore dourada. Mas as palavras eram tão suaves, quase etéreas, que apenas Takeshi conseguia ouvi-las.
Anika e Ethan observavam sem entender.
Takeshi, por sua vez, mantinha os olhos fixos na árvore. A cada palavra sussurrada por ela, sua expressão se alterava entre espanto e inquietação.
— Sim… sim. Agora entendo… eu… eu vou fazer isso — murmurou, com dificuldade, como se ainda lutasse para aceitar o que havia acabado de descobrir.
Sua mão tremeu levemente ao segurar a espada. A lâmina parecia mais pesada do que antes — como se agora carregasse um novo propósito, um novo destino.
O céu, ainda tomado pelas estrelas que brilhavam intensamente, observava em silêncio.
Takeshi se aproximou lentamente dela. Havia arrependimento em seus olhos, e sua voz soava como um pedido silencioso de perdão.
— Eu sei… você não vai conseguir andar. Mas se essa é a única maneira de salvá-los, então… farei isso. Por você. Por mim.
Ele suspirou fundo. As palavras dela ecoavam em sua mente, como feridas abertas. Seu olhar antes hesitante agora se endurecia, tomado por uma firmeza melancólica. Havia medo, havia dor... mas também havia decisão.
— Para destruir a Lua… antes, precisa me matar. Talvez você não acredite, mas… essa é a única opção. — sua voz vacilou, e ele fechou os olhos por um instante. — Só te peço uma coisa. Aquelas esferas de energia... por favor, não as toque. Elas... elas são crianças. Crianças que sofreram demais. Deixe que continuem vivas. É tudo o que peço.
Sem esperar resposta, Takeshi respirou fundo e ativou a habilidade Visão da Noite com o olho cego.
A visão escureceu, tornando sua expressão sombria e fantasmagórica. Aos poucos, sombras se dissiparam, e ele pôde ver com clareza o corpo oculto atrás da árvore — um vulto negro, imóvel, pulsando uma energia pesada.
Engoliu em seco, sentindo a garganta apertada, e então avançou. Com um movimento preciso, porém trêmulo, cravou a lâmina em cheio no peito do ser, que imediatamente começou a sangrar.
O som do sangue caindo foi abafado pela voz suave e serena da árvore, que, mesmo enfraquecida, ainda lhe falava com dignidade.
— Eu sei… tudo está acontecendo depressa, não é? — ela murmurou — Nós mal tivemos tempo de nos conhecer. Mas essa era sua missão… e agora, você precisa terminá-la.
Takeshi permaneceu imóvel por um instante, com os olhos baixos e o coração pesado. Não havia um sorriso em seu rosto — apenas um vazio silencioso, uma pontada de culpa corroendo seus pensamentos.
Sentia-se miserável por ter atacado alguém que talvez só estivesse tentando proteger algo maior… e ele ainda não compreendia completamente os motivos dela.
Com a voz baixa, mas carregada de uma promessa amarga, murmurou:
— Não se preocupe... eu vou fazer aquele desgraçado pagar por tudo. Que você tenha uma boa viagem.
A luz da árvore dourada começou a enfraquecer, desaparecendo aos poucos, como se sua alma se apagasse junto com a claridade. A espada, agora fincada em seu tronco, parecia uma lápide silenciosa em um túmulo vivo.
Anika permaneceu paralisada, os olhos arregalados e os lábios entreabertos, em choque com o que acabara de testemunhar.
Ethan, por outro lado, apenas riu — um riso estranho, carregado de descrença e ironia, como se estivesse assistindo a uma peça de teatro absurda.
Takeshi respirou fundo, tentando sufocar a confusão em seu peito. Com firmeza, puxou a espada do tronco da árvore. No instante em que a lâmina se desprendeu, um buraco se revelou no centro da madeira sagrada.
Ali dentro, flutuava uma esfera dourada, entrelaçada por linhas cinzentas que giravam em espiral, como um pequeno tornado contido — pulsando, viva.
Takeshi deixou a espada escorregar de suas mãos, caindo no chão com um som seco e metálico. Seus olhos permaneceram fixos na esfera dourada, agora completamente exposta.
Ele estendeu a mão para pegá-la, mas, antes de tocá-la, foi surpreendido por um aroma adocicado e penetrante, quase enjoativo. Seu olhar se estreitou.
"Como eu suspeitava..."
Era a habilidade Verme dos Aspectos. Tudo finalmente fazia sentido. Takeshi compreendeu a natureza da técnica: para usá-la, era necessário matar uma criatura e consumi-la.
O pensamento lhe provocava repulsa — havia algo de grotesco e desumano naquele ato. Aquilo ia contra tudo o que ele considerava justo… ou limpo.
Takeshi estava parado diante da árvore dourada, com o olhar vidrado — faminto, quase eufórico. Um sorriso involuntário se formava em seu rosto, enquanto o aroma que exalava daquele tronco o envolvia por completo. Era doce e quente, mas ao mesmo tempo... errado.
Seu corpo tremia não de medo, mas de desejo. E isso o deixava confuso.
"Por que estou sentindo isso? Eu não queria fazer isso... então por que essa fome me domina assim?", pensava ele, tentando controlar o impulso.
— É melhor vocês não verem isso — murmurou ele, ofegante, com saliva escorrendo pelo canto dos lábios.
Anika, sem entender, virou o rosto, respeitando o aviso. Ethan, por outro lado, curioso e incrédulo, se recusou a desviar o olhar. Mas logo se arrependeu.
— O quê... — murmurou ele, com os olhos arregalados e expressão de puro horror.
Crack! Crack!
O som dos galhos sendo partidos ecoava como ossos quebrando. Takeshi cravou os dentes no tronco dourado com uma força insana. A textura era macia como carne crua, e o gosto... delicioso. Ele nunca tinha provado nada igual. Era como se cada fibra da árvore despertasse em sua mente sensações antigas, primitivas.
Mas no fundo, algo doía.
Ele se lembrava da voz da árvore, da maneira gentil como ela falava, de sua vontade de ajudá-los. E agora, ele a devorava.
Uma lágrima escorreu por seu rosto, misturando-se ao sangue dourado da árvore que manchava seus lábios.
Após devorar parte significativa da árvore dourada, restando apenas um pequeno tronco enraizado no chão, Takeshi sentiu um arrepio percorrer todo o seu corpo. Seus olhos se arregalaram quando, de repente, uma voz ecoou em sua mente — suave, mas imponente. Era a mesma mulher misteriosa de antes.
— Qual vai ser?
A pergunta, carregada de peso e expectativa, provocou uma dor aguda em sua cabeça. Suas emoções, já desordenadas, tornaram-se ainda mais caóticas, como se uma tempestade interna estivesse se formando. Mesmo cambaleando, ele respondeu com firmeza:
— Mental...
Ele escolheu com base em sua intuição — sabia que aquilo não se tratava apenas de força ou resistência. Havia algo mais profundo ali. Algo relacionado a memórias... e ele queria entender.
Assim que deu sua resposta, a voz desapareceu. Em seguida, uma série de choques brancos, como relâmpagos comprimidos, começaram a percorrer sua mente. A dor era lancinante, latejando em cada canto do crânio. Ele se curvou, rangendo os dentes, mas não caiu.
Cada impulso parecia arrancar algo dele e, ao mesmo tempo, gravar algo novo.
Anika, agora encarando a cena, não conseguiu esconder a surpresa. Aproximou-se rapidamente, preocupada com o estado dele. Takeshi, no entanto, levantou o rosto devagar, e um sorriso atravessou seus lábios.
— Pode se afastar... eu consigo aguentar... Hahahahah...
Sua risada era uma mistura de dor, prazer e insanidade contida.
Anika permanecia imóvel, sem saber o que fazer diante da cena. Seu olhar expressava inquietação, dúvida e receio. Ao lado, Ethan apenas ria, apoiando uma das mãos sobre o abdômen como se estivesse se divertindo com o sofrimento alheio.
— Isso tá ficando cada vez mais interessante... — murmurou ele, entre risos abafados.
Enquanto isso, Takeshi começava a se erguer, apoiando-se com esforço. Seu corpo tremia sob o peso da dor que o consumia — uma dor profunda, semelhante a punhaladas invisíveis espalhadas por todo o corpo.
Cada movimento exigia um esforço imenso, como se estivesse sendo contido por correntes internas.
Mesmo assim, ele permaneceu firme.
As faíscas brancas, que dançavam ao seu redor como pequenos fragmentos de eletricidade, começaram a desaparecer gradualmente. O ar, antes pesado, parecia se acalmar. Takeshi então inspirou profundamente, como se tentasse recuperar o controle de si.
Foi nesse instante que a voz da mulher misteriosa ecoou novamente em sua mente — suave, mas marcante, como o sussurro de uma entidade distante:
— Cinquenta por cento do corpo... foi um sucesso.
As palavras reverberaram como um trovão abafado dentro de sua cabeça. Imediatamente, diversos fragmentos de pensamentos e palavras desconexas começaram a se mover em sua mente, embaralhadas e velozes como se quisessem escapar.
No entanto, aos poucos, tudo começou a se alinhar... como peças de um quebra-cabeça que finalmente encontravam seu lugar.
Takeshi virou-se para os dois, exibindo um sorriso largo, quase inquietante. Seus olhos brilhavam com uma mistura estranha de euforia e descontrole.
— Vamos indo para o castelo — disse, com uma voz firme, mas carregada de uma empolgação difícil de decifrar.
Anika franziu o cenho. Aquilo não parecia certo. A expressão dele, a postura... havia algo diferente, algo fora do comum. Ela não conseguia identificar exatamente o que era, mas sentia no ar que algo havia mudado.
Takeshi deu o primeiro passo à frente. Caminhava confiante, como se tivesse despertado de um longo sono — e algo o impulsionasse adiante, algo faminto.
Foi então que Ethan arregalou os olhos, estagnado no lugar.
— S-seu braço!!! — gritou, boquiaberto.
Os dois observaram, incrédulos. O braço de Takeshi, que antes estava severamente ferido e dilacerado, começava a se transformar diante de seus olhos. A carne rasgada se contorcia, formando uma massa pulsante, viva, moldando-se lentamente.
Ossos se reconstituíam. Tecidos se ligavam novamente. Em poucos segundos, seu braço estava completamente regenerado — como se nunca tivesse sido ferido.
Takeshi olhou para o próprio membro com fascínio. Seus olhos brilharam ainda mais, e um sorriso insano se formou em seus lábios. Aquilo o alegrava, e ao mesmo tempo, o consumia.
Ele continuou caminhando à frente, agora com um jeito maníaco, os passos rápidos, como se algo dentro dele estivesse gritando para sair.
"Vamos, vamos, vamos... Agora vou devorar mais!" — ecoava em sua mente.
O sistema azul que o acompanhava flutuava ao seu lado em silêncio. Mesmo sendo apenas uma entidade sem expressão facial, era como se compartilhasse da excitação desequilibrada de seu usuário.
Anika permaneceu em silêncio por alguns segundos, processando o que acabara de testemunhar. Mesmo sem entender completamente, ela apertou os lábios e seguiu em frente.
Ethan hesitou por um instante, mas logo caminhou ao lado dela, ainda lançando olhares inquietos para as costas de Takeshi.
A cada passo, o comportamento de Takeshi se tornava mais instável. Seus ombros tremiam levemente, não de cansaço, mas de excitação.
Um riso baixo e contido escapava de seus lábios de tempos em tempos, como se ele estivesse tentando esconder a euforia que o corroía por dentro.