Capítulo 45: Preparar, Entrar, Sobreviver

Rave exibiu um sorriso tão alegre que chegou a causar estranheza nos demais.

Layos e Mark apenas o observavam em silêncio, sem esboçar qualquer reação. Igris, com uma expressão levemente desconfiada, resolveu se pronunciar:

— Eu sou Igris. E você, quem é? — perguntou, mantendo o olhar atento, ainda incerto sobre as intenções de Rave.

Rave levou o dedo indicador até os lábios em um gesto despreocupado e respondeu com naturalidade:

— Sou Rave! E vocês... quem são os outros que estão com você?

Layos e Tsukiko se entreolharam e, um a um, disseram seus nomes. Um breve silêncio pairou no ar, interrompido apenas pelo brilho súbito de uma notificação do sistema.

Um painel dourado com bordas negras surgiu diante de Rave. A mensagem flutuava no ar com uma intensidade quase solene:

『Guardiões: 4 | 5. Vocês estão indo bastante rápido. Todos já estão esperando a terceira tarefa começar.』

Outras pessoas também receberam a notificação em seus sistemas.

— Mas o que foi isso? — perguntou Layos, surpreso com a mensagem repentina.

No meio da multidão, uma figura de aparência marcante se destacou. Um homem de pele escura, olhos negros intensos e cabelos cacheados aproximou-se de Rave com certa urgência no olhar.

— Ele conseguiu… Aqueles dois vão querer entrar no castelo — disse, ofegante.

— Beleza, mano! Chama eles — respondeu Rave com um sorriso confiante, como se já estivesse esperando por isso.

O homem se virou e caminhou rapidamente em meio à multidão. Alguns segundos depois, duas figuras emergiram por entre as pessoas, chamando imediatamente a atenção de todos ao redor.

O primeiro vestia um uniforme escolar com tons de verde e azul, típico do ensino médio. Tinha olhos azuis profundos e um porte físico impecável. Sua postura, aparência e até o cuidado evidente com o próprio corpo o diferenciavam dos demais — ele claramente não era originário daquele lugar. Media cerca de 1,70 metro.

Ao seu lado, vinha o segundo. Usava um chapéu marrom de ponta levemente curvada, que lhe dava um ar misterioso. Seus olhos eram negros e sua pele, quase pálida. Tinha cerca de 1,68 metro de altura e caminhava com passos silenciosos, mas seguros.

— Quem são esses? — perguntou Igris, ainda com o semblante tenso.

— Aquele de chapéu... ninguém sabe o nome dele. É muito quieto. Mas o outro… — a voz hesitou por um momento antes de continuar — ele é o responsável por fazer o sistema aumentar o dano da punição.

As palavras ecoaram com peso na mente dos presentes. Layos se recordou do momento em que o sistema anunciou o aumento da punição, causado pela presença de alguém com um poder anormalmente alto. E agora… esse alguém estava bem à sua frente.

O adolescente de olhos azuis aproximou-se de Rave com expressão hostil.

— Escuta aqui! Aqueles caras com você lá atrás são uns completos idiotas. Não me faça ter que descer o braço neles — disse com uma voz carregada de agressividade.

Antes que a tensão aumentasse, o homem de chapéu estendeu calmamente a mão direita, impedindo o outro de avançar. O gesto silencioso parecia conter mais autoridade do que palavras.

Rave, por sua vez, manteve o sorriso no rosto e respondeu com um tom leve, mas com uma seriedade oculta nas entrelinhas:

— Sei que você é o poderoso aqui, mas isso não te dá o direito de sair machucando todo mundo à vontade.

O clima ficou denso após aquelas palavras. Rave e o adolescente continuaram se encarando com olhares afiados, como se medissem um ao outro em silêncio. A tensão era palpável.

Foi então que Yoko se aproximou lentamente, com os ombros caídos e o semblante exausto, como se cada passo exigisse esforço.

— ...Enfim, vamos logo entrar. Alguns podem ficar do lado de fora, se quiserem — disse, com a voz fraca e cansada.

Aquelas palavras foram o suficiente para quebrar o momento de tensão. O adolescente e o cara de chapéu pararam de se encarar e, sem dizer mais nada, caminharam em direção ao castelo. A entrada os engoliu como uma boca aberta esperando os próximos acontecimentos.

Rave, por sua vez, soltou uma risada abafada e murmurou, observando a cena:

— E o cara realmente é insuportável...

Rave caminhou à frente com passos confiantes, e Yoko o acompanhou logo atrás, ainda demonstrando cansaço. Ao se aproximarem do portão do castelo, Yoko se virou brevemente para os demais.

— Vocês vêm? — perguntou com um olhar calmo, porém firme.

Layos, Tsukiko e Igris se entreolharam por um instante. A vontade de agir, de não permanecer à espera, era evidente no semblante de cada um. A demora os incomodava — havia algo errado, e não sabê-lo era pior do que enfrentá-lo.

Sem mais hesitação, assentiram em silêncio e começaram a caminhar em direção ao castelo. Eles sabiam que, entrando, talvez não houvesse volta. Mas ainda assim… era preciso.

…….

Enquanto atravessavam a neve tingida de vermelho e passavam pelo acampamento modesto, Takeshi seguia adiante com um sorriso enigmático no rosto. Ao seu lado, o sistema azul o acompanhava em silêncio.

Anika caminhava em silêncio, mas seu olhar revelava que sabia mais do que dizia. As informações reveladas pelo sistema sobre os guardiões estavam frescas em sua mente, e agora, o último deles... era Ethan.

Em suas mãos, ela carregava a esfera que antes repousava na árvore dourada. As pequenas esferas ao redor giravam lentamente, como se envoltas em uma dança silenciosa, tentando expressar algum tipo de afeto sutil.

— O que você vai fazer? — Ethan perguntou, sua voz trêmula, o olhar ainda satisfeito pelos últimos acontecimentos.

Takeshi sentiu os ombros mais leves, como se parte do peso tivesse desaparecido. Ainda caminhando, respondeu com uma alegria incomum:

— Vamos usar a arma escondida no andar inferior do castelo.

Havia convicção em suas palavras, como se soubesse exatamente o que fazer.

Ethan cerrou os punhos. O ódio crescia em seu peito, pois ele conhecia bem o castelo… e não queria, de forma alguma, vê-los vencendo. 

Takeshi, por sua vez, só havia descoberto aquela informação por ter devorado parte da árvore dourada e absorvido fragmentos de suas memórias — e mesmo sendo poucas, estavam se revelando valiosas.

“Esse desgraçado acha mesmo que vou agir como um cão obediente… Mal sabe ele que estou apenas esperando o momento certo para matá-lo.”

Ethan mantinha o olhar firme, carregado de raiva contida, enquanto caminhava em silêncio.

Anika lançou um olhar desconfiado em sua direção. Apesar da vontade de eliminá-lo ali mesmo — pensando em proteger os demais e facilitar o andamento da tarefa —, ela hesitou. Sabia que, por mais instável que Ethan estivesse, talvez ele ainda pudesse ser útil no plano de Takeshi.

Por ora… decidiu apenas observar.

 『Como você sabia sobre as poções?』

A pergunta surgiu repentinamente no sistema de Takeshi, revelando que até mesmo aquela entidade estava começando a desconfiar de seu conhecimento. Era evidente que as informações que Takeshi possuía iam além do esperado.

— Isso… é algo comum de se saber — respondeu ele, desviando levemente o olhar. Preferiu não entrar em detalhes, pois não queria revelar nada sobre si mesmo ou sobre o mundo de onde viera, especialmente com outras pessoas por perto.

『Vai mesmo deixar a tarefa se arrastar assim?』

— Por enquanto, sim… — respondeu com um tom calmo, mas firme.

『Mesmo nesse estado, você ainda sabe muito bem como usar as palavras.』

O sistema já começava a entender com clareza quem era Takeshi. Conhecia seu jeito, sua maneira de esconder o que pensava e como manipulava com inteligência até os momentos de fraqueza. E, de certo modo, apreciava vê-lo agir de forma agressiva, mas estrategicamente defensiva.

Enquanto isso, Ethan caminhava ao lado, com um sorriso disfarçado no rosto. Não demonstrava nenhuma intenção de atacar Takeshi, mas por dentro, mantinha seus próprios planos ocultos — como um lobo em pele de cordeiro.

Anika apressou os passos até alcançar Takeshi, posicionando-se ao lado dele com o olhar atento.

— Você está mesmo bem? — perguntou, com uma expressão de preocupação genuína.

— Já disse que estou… — respondeu Takeshi, em um tom baixo e levemente desanimado, evitando contato visual.

Continuaram caminhando em silêncio. Ao longe, começaram a distinguir a silhueta do castelo, parcialmente encoberta pela distância. Pontos escuros surgiam ao redor da estrutura, mas era impossível identificar o que eram. A dúvida e a tensão voltaram a pairar no ar.

— Parece que algo está acontecendo... — murmurou Anika, hesitante, com o olhar preocupado e o pensamento voltado para sua mestra.

— Ela vai ficar bem. Logo chegaremos lá — respondeu Takeshi, lançando um breve olhar por sobre o ombro, como se ainda observasse o caminho percorrido.

Ethan, caminhando logo atrás, franziu o cenho ao ouvir o diálogo. Passou a mão pelos cabelos com irritação contida, tentando disfarçar o incômodo.

“Esses dois não param de falar...”

Enquanto isso, as pequenas esferas que flutuavam ao redor de Anika começaram a desacelerar levemente ao sentirem a presença de Takeshi. Talvez fosse uma reação ao fato de ele ter ferido a Árvore Dourada…

Ethan tentou mover o rabo, mas não conseguiu direito.

— Droga... ainda estou ferido, mesmo depois de curado — pensou, frustrado com a limitação do próprio corpo.

……

O grupo se encontrava na sala principal por enquanto. O ambiente era silencioso, com um ar pesado, mas Rave parecia alheio a tudo, rindo como se estivesse se divertindo com a situação 

— Aqui dentro é bem escuro — comentou Layos, olhando ao redor com atenção.

— Verdade. Fique atento — respondeu Igris, observando as paredes com cautela, como se esperasse algo surgir da escuridão.

Tsukiko caminhava em silêncio, observando Yoko, que seguia calada e visivelmente desanimada.

— Para onde será que eles foram? — murmurou Layos, enquanto seus olhos se fixavam em um símbolo de cabra gravado na parede.

Chegando ao topo das escadas, Yoko avistou dois caminhos distintos.

— Eu vou pela direita. Você vem comigo, Rave?

— É claro que sim — respondeu ele com um sorriso despreocupado.

Sem hesitar, os dois seguiram pelo corredor à direita, deixando os demais para trás em meio à escuridão silenciosa do castelo.

— Será que devemos acompanhá-los? — perguntou Layos, ainda indeciso.

— Melhor não — respondeu Tsukiko com firmeza. — Podemos acabar atrapalhando.

Enquanto refletiam, seus olhos foram atraídos por uma pequena caixa metálica no chão, envolta por fitas amarelas desbotadas. Intrigado, Layos se abaixou e a pegou.

No exato momento em que seus dedos tocaram o objeto, o chão ao lado deles começou a tremer levemente. Uma abertura se formou, revelando uma escadaria estreita e escura que descia para o subsolo.

— O que é isso...? — murmurou Igris, dando um passo hesitante à frente.

A escuridão abaixo parecia sussurrar algo, como se chamasse por eles. E então... um leve som metálico ecoou lá de baixo.

— Isso não me parece nada confiável... — disse Igris, com uma expressão tensa e um leve tom de receio na voz.

— Eu vou descer — declarou Tsukiko, a curiosidade brilhando em seus olhos.

— O quê?! — Igris a encarou, surpreso com a decisão repentina.

— Sim, eu vou. Se quiserem explorar outro caminho, tudo bem. — A firmeza em sua voz não deixava espaço para objeções.

Layos sorriu levemente, como se a escolha dela o divertisse.

— Eu vou com você — disse ele, em um tom tranquilo e amigável, demonstrando confiança mesmo diante do mistério à frente.

Igris soltou um longo suspiro, desistindo de qualquer tentativa de argumentar. Apenas respirou fundo e aceitou a situação.

Enquanto isso, Tsukiko e Layos já se preparavam para descer a escada. Com passos decididos, começaram a caminhar em direção ao desconhecido.

Poucos segundos depois, Igris apareceu atrás deles. Mesmo hesitante, descia com passos cautelosos, olhando em volta com certo receio, mas sem querer ficar para trás.

Pouco a pouco, os três desciam pelas escadas de pedra envoltas em sombras densas. O som dos próprios passos ecoava de forma estranha, como se o ambiente os absorvesse. A cada metro descido, o ar se tornava mais frio e denso, e uma sensação inquietante começava a se espalhar entre eles..