Capítulo 48: bonecos (2)

Enquanto isso, em outro ponto daquele estranho cenário, Luna sentiu um leve arrepio percorrer-lhe a espinha. Seu corpo reagia ao ambiente — algo não parecia certo.

Mark, por outro lado, parecia alheio à tensão no ar. Observava os espelhos nas paredes com curiosidade infantil, fazendo caretas para os próprios reflexos, como se quisesse brincar com sua própria imagem. Já William mantinha a postura séria, caminhando à frente com passos cautelosos, atento a qualquer movimento ou armadilha no ambiente.

De repente, os sistemas deles emitiram uma nova notificação. As palavras surgiram no ar com brilho sutil:

『Coração morto. Última missão da tarefa: Eliminar o último Cavaleiro.』

Os três se entreolharam, surpresos. A notícia os deixou animados, mas também confusos. Nenhum deles havia agido ainda — quem teria destruído o coração?

Apesar da dúvida, não havia tempo para pensar demais. Eles estavam em meio a um antigo castelo, vasculhando corredores frios e iluminados apenas por tochas intermitentes, em busca de qualquer pista sobre aquele lugar enigmático. Desde o início, nada ali fazia sentido, e todos ansiavam por uma resposta.

— Pessoal… estou querendo dormir… — Mark murmurou, os olhos pesados, quase se fechando por completo.

Luna lançou um olhar severo. Sem hesitar, deu uma leve cotovelada no ombro de Mark, fazendo-o se assustar e despertar com um arrepio.

— Acorde logo — disse ela com firmeza, o cenho franzido. — Ainda temos muito o que investigar. Não é hora de descansar.

Mark suspirou fundo, esfregando os olhos. O castelo parecia ainda mais silencioso após o aviso do sistema, como se algo estivesse prestes a acontecer — e eles sabiam que não podiam baixar a guarda

Subitamente, no final do corredor, cinco figuras curiosas emergiram da sombra.

Eram bonecos de pelúcia com orelhas longas de coelho, revestidos por uma combinação de pelos brancos e marrons. Estavam cobertos por uma fina camada de poeira, o que lhes dava um aspecto empoeirado e levemente sombrio. Seus olhos, grandes e vívidos, oscilavam entre tons azulados e vinho, criando um contraste enigmático em meio à penumbra.

Tinham cerca de setenta centímetros de altura — pequenos demais para parecerem ameaçadores à primeira vista. Suas mãos eram minúsculas e delicadas, cada uma segurando pequenas esferas que mudavam de cor a cada passo dado, emitindo um brilho tênue e hipnotizante.

Mark observou aquela cena por alguns segundos, atônito, antes de finalmente quebrar o silêncio com um suspiro cansado.

— Que diabos são essas coisas...? — murmurou ele, com os olhos semicerrados e sem qualquer entusiasmo.

William recuou, ainda encarando as criaturas. Aqueles bonecos estavam com a cabeça levantada olhando para eles.

— Já deu. Vou rasgar essas porcarias — rosnou Luna, cerrando os punhos.

Aqueles estranhos bonecos emanavam uma aura incomum, mesclando tons de roxo e laranja de forma sutil, quase hipnótica. Suas bocas mantinham-se seladas por uma fina linha, discreta o suficiente para esconder qualquer sinal de dentes, o que tornava sua expressão ainda mais perturbadora.

Com movimentos lentos e quase cerimoniosos, eles começaram a se erguer. Suas pernas pequenas e delicadas pareciam frágeis, mas sustentavam seus corpos com firmeza inesperada.

Enquanto se levantavam, um pó fino e quase imperceptível desprendia-se deles, flutuando suavemente pelo ar como uma névoa silenciosa — carregando consigo a sensação de que algo antigo e esquecido havia despertado.

— Droga… é melhor ir logo — disse Mark, girando a adaga entre os dedos com um olhar afiado, embora levemente tomado pelo medo.

O golpe que desferiu foi tão rápido que nem William nem Luna conseguiram acompanhar com os olhos. No entanto, os estranhos bonecos apenas soltaram uma risada baixa e sinistra… e desapareceram antes que a lâmina os alcançasse.

Foi possível notar que eles olharam brevemente para os espelhos ao redor antes de sumirem por completo. Logo em seguida, ouviu-se um som sutil de pequenos passos se afastando.

— O quê? Para onde aquelas coisas foram? — Mark perguntou, olhando ao redor com confusão estampada no rosto.

O espelho à esquerda brilhou subitamente, emitindo um som agudo — semelhante ao disparo de uma bala.

Instintivamente, Mark soltou um suspiro e recuou com força, os olhos arregalados. William e Luna também deram alguns passos para trás, em alerta.

Em um piscar de olhos, algo cortou o ar à frente deles com velocidade impressionante, como se fosse um projétil disparado. O impacto foi tão violento que atingiu um dos espelhos ao lado, estilhaçando parte da estrutura em mil fragmentos. O som da explosão de vidro ecoou pelo ambiente, estridente e ameaçador.

— Vamos correr. Agora! — gritou William, visivelmente nervoso.

O grupo tentou avançar, mas foi surpreendido por vários brilhos surgindo bem diante da única saída, bloqueando o caminho.

— Eu não me importo! Vou acabar com isso — disse Luna, tomada pela raiva, já pressentindo o pior enquanto corria em direção ao obstáculo.

Com um gesto rápido, ela abriu a mão direita e a golpeou o ar com força. Uma pequena onda de vento cortante se formou, atingindo em cheio o espelho de onde emanava o brilho.

O vidro se estilhaçou em inúmeros fragmentos, revelando por trás dele uma única criatura — o mesmo tipo de boneco que haviam visto antes.

A figura caiu rolando pelo chão. Seu pequeno corpo tremia, e os frágeis bracinhos não foram capazes de segurar a esfera que carregava, fazendo-a rolar lentamente pelo chão de pedra.

A esfera começou a apresentar rachaduras sutis em sua superfície, como se estivesse prestes a se desfazer. Isso provocou uma onda de fúria no pequeno boneco, que reagiu com intensidade inesperada.

Mark, atento, avançou com agilidade. Empunhou sua adaga com precisão e desferiu um golpe quase perfeito em direção à esfera. Porém, no instante em que a lâmina se aproximava do alvo, uma linha fina e quase invisível surgiu ao redor, como uma armadilha oculta.

Essa linha deslizou no ar, passando perigosamente próxima ao pescoço de Mark — quase o suficiente para cortá-lo ali mesmo.

A linha passou rente à sua pele, tão próxima que ele sentiu um frio percorreu sua garganta. Um segundo a menos… e estaria morto.

William lançou uma rosa afiada em direção ao fio, cortando-o no exato momento em que ele prestes a atingir Mark. Se tivesse hesitado por um segundo, Mark teria morrido ali mesmo.

Sem perder tempo, William ergueu a perna direita, preparando-se para esmagar a esfera no chão.

Mas antes que pudesse agir, o boneco rolou em sua direção. Ele bateu as perninhas no chão com um som abafado e fofo, como o de uma pelúcia sendo sacudida. Um áudio distorcido e estranhamente infantil ecoou de dentro dele:

— Isso é meu! — gritou o boneco, disparando em alta velocidade em direção à esfera.

O boneco começou a mudar de cor, tingindo-se de vermelho e roxo enquanto seu corpo girava rapidamente até se transformar numa esfera compacta. Num instante, lançou-se em altíssima velocidade direto na direção da perna de William.

— Cuidado! — gritou Mark, empurrando William com força e fazendo-o cair para trás no último segundo.

A esfera passou com tanta potência que começou a pegar fogo em pleno ar. Ela cruzou o espaço com um assobio agudo e colidiu com um espelho à frente, quebrando-o em mil pedaços antes de se chocar contra a parede e desaparecer.

Luna havia perdido a trajetória da esfera por um momento, mas ao se virar... parou de repente. Dois novos bonecos estavam diante dela, observando em silêncio, com aqueles olhos vazios e fixos.

Ela cerrou os punhos, contendo a irritação.

— Eu odeio pelúcias — murmurou, com a voz carregada de desprezo.

Os dois bonecos continuaram a encarar Luna fixamente, como se estivessem avaliando sua existência. Seus olhos, antes apagados, começaram a brilhar em um vermelho pulsante, como se fossem luzes de Natal mal-humoradas.

— Será que vocês foram contratados pra decoração de fim de ano? — ela comentou, abrindo um sorriso sarcástico.

O boneco da direita, como se ofendido, disparou correndo na direção dela.

Luna suspirou, visivelmente sem entusiasmo.

— Ah, pronto...

Sem demonstrar qualquer pressa, ela levantou a mão e lançou uma rajada de vento fraco, que ainda assim foi suficiente para lançar os dois bonecos para longe como se fossem sacos vazios. Eles bateram no chão e rolaram até pararem numa posição desconfortável.

Luna cruzou os braços, olhando para a cena com tédio.

— Eu acho que eles só são perigosos quando estão escondidos... — murmurou consigo mesma, desapontada com o desempenho dos ‘inimigos’.

Mark e William ficaram de olhos arregalados, as bocas apertadas em choque diante do que acabaram de presenciar.

Luna se aproximou com calma. Sem hesitar, agarrou dois dos bonecos com as mãos. As pequenas criaturas tremiam e se contorciam, como se tentassem desesperadamente proteger a esfera que seguravam.

— Capturei dois. Cuidem dos outros — disse Luna com frieza, sua voz vazia de qualquer emoção.

Os bonecos continuaram se debatendo, tentando escapar de seu aperto. Luna apenas apertou as mãos com firmeza e murmurou:

— É melhor ficarem quietos.

Instantaneamente, os dois bonecos pararam de se mover, como se tivessem entendido a ameaça.

Enquanto isso, Mark ajudava William a se levantar. Juntos, os dois vasculharam o ambiente em busca de outros alvos — mas, por enquanto, não encontraram mais nada.

— Acho que eles vão acabar ficando com medo — disse Mark, lançando um olhar atento ao redor, como se esperasse um ataque a qualquer momento.

William se aproximou e pousou a mão suavemente sobre o ombro de Mark.

— Por enquanto, vamos manter a atenção redobrada. Essas criaturas são surpreendentemente rápidas — alertou, com um tom calmo, mas firme.

Luna então se aproximou, posicionando-se atrás dos dois, observando as criaturas com um olhar frio e calculista.

— São fracas — comentou, como se aquilo fosse óbvio. — Essas criaturas não me parecem um grande desafio.

Mark achou a situação um tanto sem graça ao ver a reação de Luna e os bonecos permanecendo imóveis.

— É... Melhor eu usar força total — murmurou, posicionando a adaga diante de um espelho à sua esquerda.

— Toma cuidado — alertou Luna, com os olhos atentos. — Ainda não sabemos se eles estão ligados a esse espelho.

No instante seguinte, um brilho atravessou o espelho como um disparo veloz, quase imperceptível.

Mark reagiu por instinto e se abaixou rapidamente. Algo invisível cortou o ar acima de sua cabeça, atingindo o teto com violência — se tivesse sido um pouco mais lento, sua cabeça teria sido destruída.

“Que diabos são essas coisas...? Eu poderia ter morrido agora mesmo...”

No teto, abriu-se um pequeno buraco. Em seguida, William lançou uma rosa contra um dos espelhos, que rachou levemente ao impacto, mas não se quebrou por completo.

De dentro dele, uma figura se esgueirou — um dos bonecos saiu correndo em disparada, veloz e ágil, em direção a outro espelho.

— Droga! Volta aqui! — exclamou Mark, iniciando uma corrida atrás da criatura, determinado a não deixá-la escapar.

William tentou lançar mais uma de suas rosas, mas a velocidade dos dois oponentes o impedia de calcular o tempo certo. Seus olhos mal conseguiam acompanhar os movimentos — era como se o espaço ao redor deles estivesse distorcido pela rapidez com que se moviam.

Ele respirou fundo, cerrando os dentes.

— Tch... se continuar assim, não vou conseguir acertar nenhum....

William sentiu um arrepio.