O ESPADACHIM DE DAGURA

Baraki Grewford. Esse é o nome que me foi concedido por Sua Majestade, Jawin Darmak. Mas minha história começa muito antes disso, em um tempo em que eu era apenas um pequeno pirralho de rua, sonhando em um dia dar uma vida digna à minha família.

Hoje, sentado no jardim de minha mansão, cercado por flores exóticas e árvores centenárias, permito-me refletir sobre a jornada

 que me trouxe até aqui. O ar está fresco, e o sol da tarde banha o cenário com uma luz dourada, mas minha mente não encontra paz. Cada detalhe deste lugar, cada pedra, cada folha, parece ecoar as escolhas que fiz, as vidas que destruí e o preço que paguei para chegar a este ponto. Este jardim, tão belo e sereno, é um contraste gritante com o caos que habita dentro de mim.

Há cerca de 22 anos, eu nasci neste mundo vasto e assustador. Desde o início, a vida não foi gentil comigo. Filho de uma família pobre de mercadores, eu sabia que o destino não me reservava facilidades. Desde o meu nascimento, carreguei o peso de uma realidade cruel: a vida nunca seria fácil para mim. Meus pais lutavam para sobreviver, e eu, ainda criança, logo entendi que precisaria fazer o mesmo.

Aos seis anos, já me vi na obrigação de ajudar minha família, vendendo mercadorias como um vendedor ambulante. Eu detestava aquilo, mas me esforçava ao máximo para trazer algum dinheiro para casa. Afinal, não havia sido agraciado com o luxo de uma família rica. Naquela época, eu acreditava que o futuro era algo premeditado, que o sistema era justo, que o esforço seria recompensado. Que tolo eu era. Eu era apenas um pivete estúpido, cuspindo palavras sem noção, sem entender como o mundo realmente funcionava.

Mas logo descobri a verdade. O mundo era um lugar de guerras, tirania e violência desmedida. As formas mais cruéis de violência eram recíprocas, e a injustiça reinava soberana. Foi essa descoberta que moldou meu sonho de infância: tornar-me um soldado de prestígio, subir na hierarquia social e garantir que minha família tivesse uma vida digna.

Aos oito anos, comecei a treinar esgrima sozinho. Todos os dias, eu balançava minha espada de madeira, uma que eu mesmo havia esculpido com minhas próprias mãos. Não importava se estava frio, quente, chuvoso ou ensolarado. Eu estava sempre no mesmo lugar, na mesma hora, balançando minha espada incansavelmente. A madeira que escolhi a dedo, o fio que decidi dar a ela — tudo era parte de mim. Eu a balançava sem restrições, tão rápido quanto meus olhos podiam acompanhar. Em poucos dias, já sentia a força em minhas mãos. A espada parecia leve como uma pena. Me lembro de um dia em que a balancei 500, 1.000, 2.000 vezes por segundo. Eu não parei.

Mesmo quando minhas mãos sangravam, expondo a carne viva, e o sangue escorria como água, eu engolia a dor e continuava. A dor física era passageira, mas a determinação de superar meus limites era eterna. À noite, chorava de dor, mas sempre acreditei que poderia contornar o destino com força de vontade e persistência.

Aos doze anos, meu corpo havia mudado drasticamente. Caçando javalis de fogo com as mãos nuas, minha pele se tornara resistente ao fogo e a impactos. Meus ossos, flexíveis como borracha e resistentes como aço, eram resultados de devorar a carne e os âmagos dos golens de fogo. Minha habilidade com a espada também havia evoluído espantosamente. Eu tinha o poder de abater monstros de Rank D, como goblins, com facilidade.

Ao completar meu aniversário de doze anos, as mudanças em meu corpo e minhas habilidades de esgrima haviam aumentado de forma espantosa. Graças aos meus treinos árduos e às cicatrizes em minhas mãos, eu me fortaleci, mais rápido, mais resistente. Eu estava pronto para dar o próximo passo.

Vendo o meu desenvolvimento e dedicação, tomei coragem e solicitei aos meus pais que queria ingressar na Academia de Esgrima da Guarda Imperial de Dagura. Meus pais, orgulhosos e alegres com o progresso que eu havia alcançado, concordaram imediatamente em me matricular naquela instituição.

A Academia de Esgrima da Guarda Imperial de Dagura era a mais prestigiada da capital do império. Era o lugar onde os melhores espadachins do reino se formavam, e eu estava determinado a me tornar um deles. Ingressei na academia com o coração cheio de esperança e a mente focada em um único objetivo: tornar-me um soldado de grande importância e prestígio, capaz de garantir uma vida digna para minha família.

Minha vida acadêmica começou com um destaque imediato. Eu era o melhor em tudo: nas notas, no condicionamento físico e no raciocínio rápido. Minha habilidade com a espada era incomparável, e logo me tornei uma estrela que todos queriam orbitar. Até mesmo os membros mais altos da nobreza compareciam aos meus duelos, ansiosos para ver o prodígio que eu me tornara.

Essa fama perdurou por três anos seguidos. Minha evolução continuou a crescer insanamente, e meu sonho estava prestes a se concretizar. A formatura estava a poucos dias de acontecer, e, para finalizar o ciclo acadêmico, foi proposto um grande torneio de esgrima. Os melhores alunos da academia seriam escolhidos para participar, e o campeão teria a honra de se juntar aos Cavaleiros Templários do Rei de Dagura.

Quando ouvi isso, meu coração explodiu de felicidade. Meu sonho estava finalmente ao meu alcance. Eu havia lutado tanto, superado tantos obstáculos, e agora o prestígio supremo estava quase em minhas mãos. Com essa certeza, entrei no torneio e venci todas as batalhas com facilidade, chegando à final sem grandes dificuldades.

Porém, como nem tudo é um conto de fadas tosco, onde as coisas acontecem sem contratempos, minha vida foi abalada por uma tragédia. Um dia antes da final do torneio, algo aconteceu. Em frente à porta do meu quarto no dormitório, havia uma carta. Com mãos trêmulas, eu a abri e li as palavras que mudariam minha vida para sempre: meus pais haviam sido mortos por um grupo de semi-humanos fora da lei.

O chão sumiu sob meus pés. Tudo parecia uma mentira, uma piada cruel que torcia meu estômago e me fazia querer vomitar. "Como isso pôde acontecer? Por quê? Por que eles? Há tantos lixos que mereciam morrer, mas por que foram justamente meus pais? Por que pessoas boas têm que morrer, enquanto esse tipo de escória continua vivendo entre nós?" Esses pensamentos me atormentaram durante toda a noite, triturando meu coração e minha alma.

No dia seguinte, mal conseguia me mover. Minhas pernas tremiam, a força que eu sempre tive havia me abandonado, e meus olhos estavam inchados de tanto chorar. A dor física que eu suportara durante anos era nada comparada à dor da alma. Eu estava quebrado, e nada poderia consertar o que havia sido destruído dentro de mim.

Mesmo assim, tentei seguir em frente. Entrei no torneio final, mas minha mente estava longe dali. A velocidade que eu tanto orgulhava havia desaparecido, e minha espada parecia pesar toneladas. Nos primeiros segundos de combate, fui humilhado. A fama que eu construíra ao longo de anos foi esmagada em um instante. As pessoas na plateia me olhavam com desdém, e os nobres riam da minha desgraça. Eu havia sido arrastado de volta à estaca zero.

Pouco depois, fui expulso da Academia da Guarda Imperial de Dagura.

 Todo o dinheiro que meus pais deixaram foi entregue a um orfanato especial, um lugar que funcionava como um abrigo para crianças abandonadas. Mas esse "abrigo" era uma fachada para algo muito mais sombrio. As garotas eram obrigadas a se tornarem freiras ou eram vendidas como prostitutas no mercado negro. Os meninos, por sua vez, eram explorados em trabalhos pesados, sem qualquer chance de escapar. Era um lugar onde a esperança perecia lentamente, e a crueldade reinava.

Trabalhávamos nos campos para conseguir um pouco de dinheiro, e não havia outra opção: ou trabalhávamos, ou morríamos de fome. Era uma vida dura, mas, por mais que o abrigo fosse um lugar terrível, ainda era melhor do que a rua. 

Lá fora, a realidade era ainda mais cruel. Viver nas ruas significava estar sujeito a doenças, ser vendido como escravo ou enfrentar coisas ainda piores. No abrigo, ao menos, tínhamos um teto sobre nossas cabeças e alguma comida, por mais escassa que fosse.

Para mim, já acostumado a balançar a espada por horas a fio, o trabalho pesado não fazia muita diferença. Meu corpo estava endurecido pelo esforço, e minha mente, embora cansada, ainda resistia. Mas, após ser mandado para aquele lugar, algo dentro de mim se quebrou. Eu havia adentrado o abismo da depressão, e nada mais importava. O que quer que acontecesse comigo, eu já não me importava.

Por causa disso, acabei me tornando vítima de bullying, agressões, roubos e abusos frequentes. Eu já havia aguentado tudo isso até os meus 16 anos, mas tanta coisa feriu minha mente de tal forma que eu já não suportava mais. Minha alma foi se quebrando, pedaço por pedaço, até que restou apenas um vazio.

Foi então que, em minha cabeça, brotaram os seguintes pensamentos: "Por que estou assim? Quem foi o culpado? Ah, eu já nem me lembro mais… Como eram chamados? Ah! Acho que me lembro… Semi-humanos, certo? Sim, era isso mesmo. Foram eles que acabaram com minha vida? Ah, sim! Sim, foram esses malditos miseráveis. O que fiz para eles? Por que tinham que fazer isso? Ah, eu já estou farto disso. Já que eles se acham superiores, tirando a vida de inocentes, então vou exterminar o maior número de semi-humanos que eu conseguir da face deste planeta. Eu já não me importo com mais nada mesmo!"

Com esses pensamentos, eu caí no Vale da Loucura e me quebrei por completo. Assim, me tornei o que as pessoas chamariam de monstro. Alguém incapaz de sentir a mínima simpatia ou dor pelos outros.

 Pelo contrário, a dor das pessoas passou a ser como uma gloriosa música, um show de piadas que arrancava altas risadas do meu rosto sem vida.

Na calada da noite, tomado pela insanidade, fui até minha maleta e a abri. Dela, saquei minha antiga espada de madeira, aquela que eu mesmo havia esculpido com tanto esforço e determinação. Ao segurá-la, um gargalhado escapou da minha garganta. Rios incessantes e alegres se espalharam pelos grandes e longos corredores do abrigo. Eu estava pronto.

Movendo-me como um relâmpago, um flash de luz, eu percorri quarto após quarto, ceifando a vida de inúmeras pessoas. Minha espada de madeira, com sua velocidade impressionante, cortava como uma navalha. Gritos preencheram a noite, transformando-a em um momento de esplendor. Era como uma dança de valsa, onde eu me movia com graça e precisão, sentindo um novo eu emergir das sombras.

Corredor após corredor, eu continuei. Após ceifar centenas de vidas, me sentia extremamente radiante. O sangue que cobria meu corpo era como a brisa fresca de um nascer do sol, revigorante e purificador. Foi então que, enquanto parava para sentir aquele momento, o mesmo grupo de rapazes que me humilhara antes apareceu no corredor, passando bem na minha frente.

Com um tom de arrogância, eles se aproximaram, prontos para me atormentar como sempre faziam. Mas, naquele momento, eu estava tão feliz que resolvi brincar um pouco com eles. E assim fiz. Cortei seus braços, pernas, línguas e ouvidos, um por um, em sequência. Depois, cortei suas cabeças e as levei comigo. No caminho, as pendurei como troféus, deixando-as como um aviso para quem quer que ousasse se opor a mim. Então, deixei o abrigo para trás, após cometer um grande massacre.

Eu me tornei o que, no futuro, seria conhecido em todo o país como o Arlequim do Fio de Madeira. Pois, com a mesma espada de madeira que esculpi com esforço e determinação, eu massacrei todas as pessoas daquele orfanato. E, naquele momento, cravei em meu coração aquela sensação de alegria. Era a única coisa que poderia me fazer sentir vivo: aquela excitação, aquela euforia de ver o sofrimento alheio.

Após esse dia, fugi de Dagura e me tornei cada vez mais monstruoso. Passei por vários lugares, enfrentando desafios e derramando sangue. Tornei-me um verdadeiro espadachim, um ser que não conhecia limites nem piedade. Eu já havia lutado contra dragões, orcs e até mesmo ogros, mas tudo isso ainda era fácil para mim. Após minha ascensão na esgrima, voltei a Dagura e, em um duelo público, derrotei o cavaleiro que um dia me humilhara. Em troca, tomei o lugar dele.

Assim, me foi concedido o posto de capitão da Defesa Imperial de Dagura. Com o cargo, escolhi dois aliados: o Assassino Kazu e o Mago Negro Killer. Eram novos "amigos" que conheci em minha jornada, companheiros tão sombrios e implacáveis quanto eu.

Após conseguir meu objetivo, lutei em várias batalhas, onde, sozinho, destruí exércitos inteiros. Meu único propósito era acabar com o país dos semi-humanos. Nenhum deles escaparia. Eu, Baraki Grewford, seria o juízo final para aqueles que arruinaram minha vida.

Após uma nova solicitação do rei, destruí uma cidade independente de elfos de linhagem pura. Era um lugar de beleza incomparável, onde a magia e a natureza coexistiam em harmonia. Mas, para mim, era apenas mais um alvo. Quando as chamas consumiram as casas e os gritos ecoaram pelas ruas, eu me senti vivo como nunca. Foi lá que encontrei Kalmia.

Kalmia era uma beldade que parecia ter saído de um conto de fadas. Seus cabelos longos tinham a cor de cerejeiras em flor, suaves e brilhantes, balançando ao vento como seda. Seus olhos, da cor de um vinho rubi, eram profundos e expressivos, capazes de transmitir uma doçura que contrastava com a brutalidade ao seu redor. Sua pele era branca como algodão, imaculada e delicada, e sua figura era majestosa, como se ela fosse uma princesa nascida para reinar. Mas sua feição gentil foi rapidamente substituída por um olhar de terror quando entrei em sua vida.

Eu a vi pela primeira vez no salão principal da mansão de sua família. Ela estava ao lado dos pais, nobres elfos de linhagem pura, tentando proteger-se da carnificina que eu trouxera. Seu rosto, antes sereno, se contorceu de medo quando eu me aproximei. Sem hesitar, matei seus pais na frente dela. O olhar de desespero em seus olhos foi como um presente para mim. Eu queria quebrá-la, destruir tudo o que ela era, e foi exatamente o que fiz.

Após massacrar todos ao seu redor, eu a agarrei. Ela lutou, é claro, mas sua força era insignificante comparada à minha. Eu a forcei a se submeter, roubando sua pureza e quebrando sua alma em pedaços. Seus gritos de dor e desespero ecoaram pelas paredes da mansão, mas ninguém estava lá para salvá-la. Ela se tornou minha escrava, meu troféu, um lembrete do meu poder absoluto. Kalmia, a princesa elfa de linhagem nobre, foi reduzida a uma sombra do que era, uma criatura quebrada e submissa, obrigada a servir-me como um brinquedo especial.

Após minha última missão de grande escala, finalmente estou em busca do meu objetivo final: acabar com a nação dos semi-humanos. Vingar meus familiares e continuar a subir até o topo do mundo. Assim, solicitei ao rei a aprovação para marchar contra os semi-humanos, e, graças ao crescimento econômico do país deles, consegui o aval que precisava. Agora, marcho para meu objetivo final: exterminar essa espécie de lixo imundo que mancha este mundo.

Essa é a história de como me tornei o melhor espadachim de Dagura e como obtive glória através da dor. Não importa o que digam, eu irei eliminá-los do mapa. Não restará um único semi-humano neste planeta, pois serei o juízo final que eles tanto merecem.

Eu, Baraki Grewford, como a voz de Dagura, afirmo e declaro guerra aos semi-humanos. Eles pagarão por cada gota de sangue que derramaram. E eu serei o carrasco que os levará à extinção.

Com essas palavras, levantei-me da cadeira onde estava sentado, sentindo o peso da decisão que acabara de tomar. O jardim, antes um refúgio de beleza e tranquilidade, agora parecia um mero cenário para a escuridão que habitava minha alma. Minha mente estava focada, meu coração, frio como gelo. Não havia espaço para dúvidas ou arrependimentos. A guerra estava declarada, e eu seria o instrumento da vingança.

Ao entrar na mansão, minha presença fez com que as criadas se agitassem, baixando os olhos e curvando-se em sinal de respeito. Uma delas, uma jovem de cabelos escuros e olhos assustados, aproximou-se hesitante.

— Senhor Baraki, há algo que possamos fazer por você? — perguntou, sua voz tremendo levemente.

Olhei para ela por um momento, sentindo um prazer perverso ao ver o medo estampado em seu rosto. Então, com um tom de voz calmo, mas carregado de autoridade, ordenei:

— Prepare Kalmia. Quero que ela seja levada ao meu quarto esta noite. Certifique-se de que esteja… adequadamente apresentável.

A criada inclinou a cabeça rapidamente, murmurando um "sim, senhor" antes de se afastar em passos apressados. Eu sabia que Kalmia seria preparada como eu havia ordenado. Ela não tinha escolha. Ninguém em minha mansão tinha.

Enquanto subia as escadas em direção ao meu quarto, senti uma pontada de antecipação. Kalmia, a princesa elfa de cabelos cor de cerejeira e olhos cor de vinho, era mais do que um troféu. Ela era um lembrete do meu poder, da minha capacidade de quebrar até mesmo os mais nobres e belos. Sua dor, sua submissão, eram como uma música para mim, uma sinfonia que eu nunca cansaria de ouvir.

Ao entrar no quarto, fechei a porta atrás de mim e me aproximei da janela. Lá fora, o céu noturno estava repleto de estrelas, mas minha mente estava longe dali. Eu sabia que, em breve, Kalmia estaria comigo, mais uma vez submetendo-se à minha vontade. E, enquanto eu a dominava, eu me lembraria de por que eu havia me tornado o que era: um monstro, um carrasco, o juízo final para aqueles que ousaram cruzar meu caminho.