Sombras Crescentes

Aiden, agora com 14 anos e meio, acordava antes mesmo dos primeiros cantos dos galos, os pés descalços sentindo o frio das tábuas da varanda enquanto se preparava para mais um dia de trabalho. Desde os problemas relatados no último verão — Trotador doente e as vacas Margarida e Estrela sem dar leite —, ele havia assumido uma rotina ainda mais rigorosa, movido por um amor silencioso pelos animais que eram o coração pulsante da fazenda.

No estábulo, Trotador descansava, o pelo castanho começando a recuperar um pouco do brilho que outrora o tornava imponente. Aiden se aproximou com um balde de água e o remédio que Mestre Jorvan deixara meses atrás, uma mistura amarga que o veterinário garantira ser capaz de fortalecer o cavalo. Ele acariciou o focinho do animal, sentindo a respiração ainda um pouco pesada, mas mais firme do que antes.

— Vamos lá, amigo, só mais um gole — murmurou, inclinando o balde com cuidado. Trotador relinchou baixinho, hesitante, mas bebeu, e Aiden sorriu, um alívio pequeno, mas genuíno, aquecendo seu peito. Ele passava horas ali, limpando o estábulo, trocando a palha úmida por feno seco e falando com o cavalo como se ele pudesse responder. Trotador era mais do que um ajudante nos campos; era um símbolo da resistência da família, e Aiden estava determinado a vê-lo de pé novamente.

Depois, seguia para o curral, onde Margarida e Estrela pastavam com uma lentidão que ainda preocupava. As vacas estavam mais magras do que o normal, o pelo opaco refletindo a luta dos últimos meses. Aiden não desistia delas. Ele havia começado a coletar ervas nas colinas próximas, guiado pelas lições de Liana sobre plantas medicinais. Um dia, encontrou uma flor de pétalas azuis escondida entre as rochas, seu aroma doce lembrando uma história antiga que sua avó contava sobre uma "flor da cura". Sem saber se era verdade, ele colheu algumas, triturou-as com uma pedra e misturou ao feno.

— Tomara que isso ajude, meninas — disse, espalhando a mistura no cocho. Nos dias seguintes, para sua surpresa, Margarida começou a mugir com mais energia, e uma manhã, ao ordenhá-la, Aiden encontrou um fio de leite no balde. Não era muito, mas era um começo. Ele correu para a casa, o coração leve, gritando:

— Mãe! Pai! O leite voltou!

Liana, na cozinha, ergueu os olhos da panela de mingau, um sorriso fraco iluminando seu rosto pálido. Markus, que consertava uma cadeira quebrada, apenas assentiu, mas Aiden viu o brilho de orgulho em seus olhos azuis. Aquela pequena vitória reacendeu a esperança na família, mesmo que os desafios continuassem.

O tempo passaram como as estações, cada um trazendo seus próprios desafios e recompensas. Aiden cresceu em meio à terra, seus ombros se alargando com o trabalho diário, os cabelos castanhos caindo em mechas sujas de poeira sobre a testa. Aos 16 anos, ele era quase tão alto quanto Markus, e suas mãos, antes macias, agora exibiam calos que contavam histórias de cercas consertadas, campos arados e baldes carregados. A Fazenda das Colinas mudara pouco — o celeiro vermelho ainda resistia, desbotado pelo sol, e o jardim de ervas de Liana continuava a exalar seus aromas —, mas Aiden assumia mais responsabilidades, aprendendo com o pai os segredos de cuidar da terra.

Ele nunca sonhara em ser algo além de fazendeiro. Desde pequeno, quando corria atrás das galinhas ou ajudava a mãe a colher ervas, sentia que pertencia àquele lugar. A vida na fazenda era tudo que conhecia e tudo que desejava. Cada manhã, ao acordar com o canto dos galos, ele sentia uma paz profunda, uma conexão com a terra que parecia correr em suas veias. Ele ajudava Markus a arar os campos, aprendendo sobre rotação de culturas para manter o solo fértil. Juntos, plantavam milho, trigo e legumes, e Aiden ficava fascinado ao ver as sementes que plantava com as próprias mãos se transformarem em brotos verdes, depois em espigas douradas.

— A terra é nossa vida, filho — dizia Markus, enquanto ensinava Aiden a prever o clima observando as nuvens e o comportamento dos animais. — Se você cuidar dela, ela cuidará de você.

Aiden assentia, absorvendo cada lição como se fosse um tesouro. Ele não tinha ambições de empunhar espadas ou explorar terras distantes; seu coração estava nas colinas, no cheiro de terra molhada após a chuva, no som do riacho que corria ao longe. Até mesmo nos dias mais difíceis, quando o sol queimava sua pele ou a geada matava as plantações, ele encontrava beleza na simplicidade daquela vida.

Elara, aos 19 anos, tornara-se uma jovem de beleza serena, os cabelos dourados caindo em ondas sobre os ombros. Ela ainda ajudava na fazenda, carregando baldes d'água e cuidando das galinhas, mas seus olhos muitas vezes se voltavam para a vila, onde Tomas, o filho do ferreiro, esperava por suas visitas. Aiden a provocava como sempre, rindo quando ela corava ao mencionar o rapaz, mas no fundo sentia alegria por ela. Liana, porém, enfraquecia a cada dia. A tosse que a acompanhava desde tempos antigos tornara-se mais seca e persistente, e ela passava longas horas na cama, o corpo curvado pelo cansaço e pela doença que ninguém nomeava.

Markus permanecia o pilar da família, mas até ele começava a mostrar sinais do tempo. Seus cabelos grisalhos se espalhavam, e ele caminhava mais devagar, embora sua força ainda impressionasse. A fazenda, apesar dos esforços de Aiden, continuava frágil, sustentada por uma teimosia que parecia herdada de geração em geração.

Os dias na fazenda eram longos e repetitivos, mas Aiden encontrava conforto na rotina. Ele acordava cedo, antes do amanhecer, e começava verificando os animais. No estábulo, Trotador estava mais forte, capaz de puxar o arado nos dias bons, e Aiden passava tempo escovando seu pelo, falando com ele sobre o clima ou as colheitas. Depois, ia para o curral, onde Margarida e Estrela agora davam leite suficiente para a família e um pouco para vender na vila. Ele limpava os cochos, consertava cercas quebradas pelo vento e carregava feno para o celeiro.

Com Markus, trabalhava nos campos. Eles usavam um arado simples, puxado por Trotador, e Aiden aprendera a guiar o cavalo com firmeza, mantendo as linhas retas no solo. Nos meses de primavera, plantavam sementes, e no outono, colhiam o que a terra oferecia. Markus ensinava-o a reconhecer os sinais do solo — quando estava seco demais, quando precisava de descanso. Aiden adorava esses momentos, o suor escorrendo pelo rosto enquanto ouvia as histórias do pai sobre os tempos em que a fazenda era maior, antes das secas e das tempestades que levaram parte das terras.

— Um dia, isso tudo vai ser seu, Aiden — dizia Markus, batendo em seu ombro. — Cuide bem dela.

— Eu vou, pai — respondia Aiden, com um sorriso tímido. Ele sonhava em melhorar a fazenda, talvez construir um novo celeiro ou cavar um poço para garantir água nos verões secos. Não havia espaço em seu coração para aventuras; tudo que queria estava ali, entre as colinas.

Elara ajudava com tarefas menores, como colher legumes ou fiar lã das ovelhas. Ela cantava enquanto trabalhava, uma melodia suave que ecoava pelo pátio, e Aiden às vezes se pegava cantando junto, mesmo sem jeito. Liana, quando tinha forças, saía para o jardim, arrancando ervas com mãos trêmulas. Aiden a observava, preocupado com sua palidez, mas ela sempre sorria e dizia:

— Estou bem, meu menino. Só preciso de um pouco de ar fresco," disse Liana, a voz fraca entrecortada por uma tosse seca. Ela estava sentada na beira da cama, o rosto pálido iluminado pela luz trêmula de uma lamparina. Aiden, ao seu lado, franziu a testa, preocupado com a mãe, que parecia mais frágil a cada dia por causa da doença que a consumia.

Antes que ele pudesse responder, um clarão cortou a escuridão além da janela, seguido por um estrondo que fez as paredes de madeira da casa tremerem. Aiden se levantou de um salto, o coração disparado, enquanto Liana segurava o peito, os olhos arregalados de susto. Do lado de fora, vozes roucas ecoaram no pátio da Fazenda das Colinas, quebrando o silêncio da noite sem lua.

— Pai! — gritou Aiden, correndo para a sala. Markus já estava lá, os músculos tensos sob a camisa surrada, segurando a foice que usava para cortar o mato alto. Seus olhos castanhos brilhavam com uma mistura de alerta e determinação.

— Aiden, pegue sua irmã e proteja sua mãe! — ordenou Markus, a voz firme como ferro. Ele avançou para a porta da frente, pronto para enfrentar o que quer que estivesse lá fora.

Aiden correu para o quarto de Elara, encontrando-a encolhida no canto, os cabelos loiros desgrenhados e os olhos azuis cheios de medo.

— Vamos, Elara, vem comigo! — disse, puxando-a pelo braço. Ela tremia, mas o seguiu, agarrando-se à sua mão.

Antes que pudessem alcançar Liana, a porta da frente explodiu em lascas com um barulho ensurdecedor. Passos pesados invadiram a casa, e sombras escuras emergiram na sala, iluminadas pelo brilho alaranjado das tochas que carregavam. Eram bandidos — homens de capas escuras, rostos marcados por cicatrizes e armas reluzindo em suas mãos.

Markus se colocou entre os invasores e sua família, a foice erguida como uma barreira.

"Quem são vocês?" ele rugiu, a voz grave ecoando enquanto os bandidos invadiam, suas silhuetas escuras contra o brilho fraco das tochas. Eram muitos — seis, talvez sete —, os rostos marcados por cicatrizes e sorrisos torcidos, carregando espadas enferrujadas e porretes pesados. O cheiro de suor rançoso e metal os acompanhava, uma ameaça palpável.

O líder dos bandidos deu um passo à frente, um homem alto e robusto, com uma cicatriz profunda cortando o rosto do queixo à testa. Seus olhos frios brilhavam sob a luz das tochas, e ele segurava uma espada larga com uma calma arrogante. Ele inclinou a cabeça, avaliando Markus como se fosse um animal acuado.

— "Quem somos nós?" — repetiu o líder, a voz rouca carregada de zombaria. — Somos os donos da noite, fazendeiro. E você? Só um homem com uma ferramenta de colheita achando que pode brincar de herói.

Markus apertou o cabo da foice, os músculos dos braços retesados sob a camisa surrada.

— "Vocês não têm lugar aqui. Saiam da minha casa ou eu juro que corto cada um de vocês até o osso."

O líder riu, um som seco e cruel que fez Elara se encolher ainda mais contra Aiden.

— "Corte-nos até o osso, hein? Gosto da sua ousadia, fazendeiro. Mas olhe ao redor. Somos sete, e você é um. Acha mesmo que sua foice vai mudar o destino desta noite?"

— "Eu não preciso mudar o destino," — retrucou Markus, os olhos flamejando. — "Só preciso mantê-los longe da minha família."

O líder deu um sorriso torto, os dentes amarelados à mostra.

— "Sua família, hein? Ouvi dizer que você tem uma filha bonita. Loiro como o sol, olhos de céu. Ela vai render uma fortuna em Valtara. Os mercadores lá pagam bem por garotas assim."

Markus ficou rígido, a raiva subindo como uma chama.

— "Você não vai tocar nela. Nem em um fio de cabelo."

— "Oh, eu não vou tocar," — disse o líder, erguendo as mãos em um gesto teatral. — "Meus homens vão cuidar disso. Eu só fico com o ouro depois que ela for vendida. Talvez a ponham pra trabalhar nas minas primeiro... ou quem sabe direto pros bordéis. Depende de quem oferecer mais."

Aiden, segurando Elara com força, sentiu o sangue ferver nas veias.

— "Cale a boca!" — gritou ele, a voz tremendo de fúria e medo. — "Ela é minha irmã, não uma mercadoria!"

O líder virou os olhos frios para Aiden, um brilho de diversão neles.

— "Olha só o filhote latindo. Guarde sua energia, garoto. Você vai precisar dela pra chorar quando terminarmos."

Markus não deu aos bandidos mais tempo para falar. Com um rugido, ele avançou, a foice cortando o ar em um arco mortal.

O primeiro bandido, um homem magro com um tapa-olho e uma espada curta, foi ao encontro dele.

— "Vou te abrir ao meio, seu camponês idiota!" — gritou o bandido, desferindo um golpe rápido contra o peito de Markus.

Markus desviou com um giro do corpo, a lâmina passando a centímetros de sua camisa.

— "Tente de novo," — rosnou ele, e contra-atacou com a foice, a ponta curva acertando o bandido no flanco. O homem gritou, o sangue jorrando enquanto cambaleava para trás.

— "Maldito!" — berrou o segundo bandido, um brutamontes de barba rala e olhos selvagens, erguendo um machado pesado. — "Você vai pagar por isso!"

Ele desceu o machado com força bruta, mirando a cabeça de Markus.

— "Fique quieto e morra!" — gritou o bandido, mas Markus rolou para o lado, a lâmina cravando-se no chão de madeira com um estrondo. Ele se levantou num salto e girou a foice, cortando a perna do brutamontes.

— "Você fala demais," — disse Markus, a voz cortante como sua arma. O bandido caiu com um urro, tentando alcançá-lo, mas Markus terminou o serviço com um golpe no peito.

O terceiro bandido, mais ágil, segurava duas adagas e avançou em silêncio, tentando flanquear Markus.

— "Você é lento, velho," — sibilou o bandido, lançando uma adaga contra ele. Markus ergueu a foice, bloqueando a lâmina no cabo com um clangor metálico.

— "E você é descuidado," — respondeu Markus, empurrando o bandido para trás e cortando com um golpe diagonal que abriu o torso do inimigo. O homem desabou, os olhos arregalados em choque.

Markus ficou de pé, ofegante, o suor escorrendo pela testa, a foice pingando sangue. Três corpos jaziam ao seu redor, mas o líder apenas bateu palmas lentamente, o som ecoando na sala.

— "Nada mal, fazendeiro," — disse o líder, avançando com a espada larga em mãos. — "Mas agora você lida comigo. Vamos ver quanto tempo essa coragem dura."

Markus ergueu a foice, o peito arfando.

— "Você fala como se já tivesse vencido. Ainda estou de pé."

— "Por enquanto," — retrucou o líder, girando a espada com um floreio. — "Mas eu já derrubei homens melhores que você. Um fazendeiro com uma foice não é nada pra mim."

— "Então venha me provar," — desafiou Markus, os olhos fixos no inimigo.

O líder atacou, a espada cortando o ar com um silvo. Markus bloqueou o golpe, mas a força o fez recuar, os braços tremendo com o impacto.

— "Fraco," — zombou o líder, desferindo outro golpe que Markus desviou por pouco. — "Você não aguenta nem cinco minutos comigo."

— "Eu não preciso de cinco minutos," — disse Markus, contra-atacando com um golpe baixo que raspou a coxa do líder. — "Só preciso de um erro seu."

O líder grunhiu, o sangue escorrendo pela perna, mas sorriu.

— "Um arranhão? Isso é o melhor que você tem? Vou te mostrar o que é um golpe de verdade."

Ele fintou um ataque alto, e quando Markus ergueu a foice para bloquear, o líder mudou a trajetória, cortando o ombro de Markus. O fazendeiro gritou, o sangue manchando sua camisa.

— "Está vendo?" — disse o líder, rindo. — "Você é carne pra minha lâmina."

Markus cambaleou, mas se recusou a cair.

— "Você não vai vencer," — murmurou, a voz rouca de dor. — "Minha família... eu não vou deixar..."

— "Sua família já perdeu," — cortou o líder, avançando novamente. — "A garota vai pra Valtara, e você vai pro chão."

O golpe final veio rápido. O líder cravou a espada no peito de Markus, que arregalou os olhos, o ar escapando em um suspiro.

— "Boa tentativa, fazendeiro," — disse o líder, puxando a lâmina. — "Mas acabou."

Markus caiu de joelhos, a foice escapando de suas mãos, o sangue se acumulando sob ele.

— "Pai!" — O grito de Aiden rasgou o ar, cheio de desespero.

Aiden segurava Elara, que chorava enquanto dois bandidos se aproximavam. Um deles, com uma cicatriz no pescoço, agarrou o braço dela.

— "Essa aqui é um prêmio," — disse ele, rindo. — "Loiro assim? Vamos vender ela pros ricos de Valtara. Talvez um nobre a queira como criada... ou algo mais."

— "Me solta!" — gritou Elara, chutando o bandido, mas ele a segurou com mais força.

— "Quieta, pequena," — disse o segundo bandido, um homem magro com uma faca enferrujada.

— "Você vai aprender a obedecer logo. Os mercadores gostam delas quebradas."

Aiden pegou um ancinho da parede e avançou.

— "Tirem as mãos dela!" — gritou, brandindo a ferramenta contra o bandido com a cicatriz.

— "Olha o garoto valente," — zombou o bandido, desviando e empurrando Aiden contra a parede.

— "Volte pro canto, moleque."

Aiden caiu, o ar fugindo dos pulmões, mas ouviu os gritos de Elara enquanto a arrastavam para fora.

— "Aiden! Me ajuda!" — ela gritava, a voz cortada pelo choro.

Liana, cambaleando até a sala, viu a cena e tentou correr até a filha.

— "Minha menina..." — murmurou, antes de um bandido a acertar na cabeça com o cabo da espada.

— "Fique fora do caminho, velha," — disse ele, rindo enquanto Liana desabava, inconsciente.

Aiden se arrastou até o corpo de Markus, as lágrimas escorrendo.

— "Pai, eu... eu não consegui..." — sussurrou, tocando o rosto frio do pai.

Do lado de fora, os bandidos amarravam Elara a um cavalo.

— "Essa vai nos deixar ricos," — disse o bandido magro, rindo. — "Valtara tá cheia de porcos ricos querendo uma garota bonita. Talvez até um capitão pirata a leve pro mar."

— "Ou um minerador," — acrescentou o outro, apertando as cordas. — "Eles pagam bem por mãos pequenas pras minas."

Aiden ouviu e sentiu uma fúria crescer dentro dele, misturada ao desespero e à dor. Ele pegou a foice de Markus e correu para o pátio, os olhos ardendo com uma determinação feroz.

— "Vocês não vão levá-la!" — gritou, cortando o ar com a foice.

Nesse momento, algo mudou. Uma sensação estranha tomou conta dele — um calor que começou no peito e se espalhou até os braços, como se a terra sob seus pés estivesse respondendo ao seu grito. A foice em suas mãos pareceu vibrar, e uma voz ecoou em sua mente: Ceifadora das Sombras. Era como se o desespero tivesse despertado algo adormecido dentro dele, um poder latente ligado à sua vida como fazendeiro e à arma que segurava.

Movido por instinto, Aiden gritou o nome da técnica:

— "Ceifadora das Sombras!"

Ele girou a foice em um arco poderoso, e uma energia totalmente visível e palpável, acompanhou o movimento. O Ceifadora das Sombras era uma habilidade que canalizava a força da raiva e do desespero que estava sentindo através da foice, transformando a ferramenta de colheita em uma arma temporariamente devastadora. A lâmina cortou o ar com um som agudo, carregada de uma energia negra como a noite. O ataque foi mais rápido e mais forte do que qualquer coisa que Aiden já havia feito, como se a própria foice tivesse guiado suas mãos.

O bandido magro, pego desprevenido, mal teve tempo de reagir. A foice o atingiu no peito, abrindo um corte profundo, a energia do golpe passou entre ele assustando o cavalo. Ele caiu de joelhos, os olhos arregalados em choque, antes de desabar morto. O segundo bandido, mais robusto, ergueu um porrete e avançou, mas Aiden já sentia o poder pulsando novamente.

— "Ceifadora das Sombras!" — gritou mais uma vez, girando a foice com uma força amplificada. A lâmina desceu, quebrando o porrete ao meio e cravando-se no ombro do bandido, que urrou de dor antes de cair, o sangue escorrendo pelo chão.

Aiden respirava pesadamente, o coração disparado. Ele não entendia completamente o que estava acontecendo, mas sabia que aquele poder vinha de algum lugar profundo —da raiva e do desespero que queimavam em seu peito. Era uma habilidade recém-despertada, crua e instintiva, mas ainda assim impressionante.

Então o líder dos bandidos surgiu, os olhos frios avaliando Aiden com uma mistura de surpresa e desdém.

— "O que foi isso, garoto?" — perguntou, sacando uma espada larga e avançando com passos confiantes. — "Acha que um truque bonito vai te salvar?"

Aiden ergueu a foice, ainda trêmulo, mas desafiador.

— "Você matou meu pai. Levou minha irmã. Eu vou te parar!"

— "Parar mim?" — riu o líder, a voz carregada de escárnio. — "Você não passa de um fazendeiro com uma foice brilhante."

Aiden sentiu a energia da terra pulsar novamente e decidiu arriscar tudo.

— "Ceifadora das Sombras!" — gritou, lançando-se contra o líder com um ataque carregado de toda a força que conseguia reunir. A foice desceu em um arco brilhante, a energia fluindo através dele, mas o líder era diferente dos outros. Experiente e poderoso, ele ergueu a espada e bloqueou o golpe sem esforço, o impacto fazendo os braços de Aiden tremerem.

— "Patético," — zombou o líder, empurrando Aiden para trás com um chute brutal no peito. — "Esse seu poder não é nada contra mim."

Aiden cambaleou, a dor explodindo em seu corpo, mas tentou atacar novamente. O líder, porém, era rápido demais. Com um movimento preciso, desarmou Aiden, fazendo a foice voar de suas mãos e cair no chão com um baque surdo.

— "Acabou, garoto," — disse o líder, agarrando Aiden pelo pescoço e erguendo-o do chão. — "Sua irmã já era. E você também."

Aiden debateu-se, mas o aperto era implacável. O líder o socou com força, e Aiden sentiu o mundo girar antes de colidir com o chão, a visão embaçada. A última coisa que viu foi Elara sendo jogada sobre um cavalo, os bandidos galopando para a noite, seus gritos ecoando na escuridão.

Quando Aiden acordou, o silêncio era pesado. Ele se arrastou até Markus, as lágrimas caindo enquanto segurava a mão fria do pai. Os bandidos sumidos no horizonte, e o peso da perda o esmagava. Sua mãe estava com um machucado na cabeça, mas estava viva.