O silêncio cortava como uma faca o peito de Aiden. Ele acordou no chão frio do pátio da Fazenda das Colinas, o corpo dolorido como se tivesse sido pisoteado por um cavalo em disparada. A boca seca carregava o gosto metálico de sangue, e o cheiro acre de fumaça impregnava o ar, pesado e sufocante. Piscou lentamente, a visão embaçada ajustando-se à luz cinzenta do amanhecer que mal atravessava a névoa densa. Ao seu redor, a fazenda era um cenário de destruição: a casa, antes um lar sólido de madeira e pedra, tinha as janelas quebradas como órbitas vazias, e a porta da frente pendia em lascas, arrancada das dobradiças. O celeiro vermelho, desgastado pelo tempo, agora era apenas uma pilha de vigas queimadas, com brasas ainda fumegantes. O milharal, que dias antes brilhava dourado sob o sol, transformara-se em um campo de cinzas e talos negros, retorcidos como se implorassem ao céu.
Aiden se levantou com dificuldade, os músculos protestando a cada movimento. Seus pés descalços pisaram em cacos de vidro e terra úmida, e ele cambaleou, as mãos trêmulas buscando apoio no ar. O cheiro de queimado misturava-se ao fedor de morte vindo das galinhas espalhadas pelo pátio — penas brancas e marrons manchadas de sangue, pescoços torcidos em ângulos grotescos. O curral estava vazio, as cercas quebradas e o chão pisoteado. Margarida e Estrela, as vacas que ele cuidara com tanto carinho, não estavam lá. O silêncio era opressivo, cortado apenas pelo vento frio que soprava entre as tábuas soltas. No estábulo, a porta escancarada revelava a ausência de Trotador, o cavalo que sempre o recebia com um relincho grave. O vazio era uma ferida aberta, e Aiden sentiu o desespero apertar seu peito.
— Pai! Mãe! Elara! — Sua voz saiu rouca, rasgando a garganta enquanto corria para a casa, tropeçando nos escombros. A sala era um caos: a mesa de carvalho feita por Markus estava tombada, uma perna quebrada; os potes de barro da mãe jaziam em pedaços; o pano bordado por Elara, com flores tortas, pendia rasgado na janela. Então ele viu: Markus, caído perto da porta, a foice ainda presa em sua mão rígida. O sangue seco manchava o chão, e os olhos abertos do pai fixavam o teto em um grito mudo.
— Pai... — Aiden caiu ao lado dele, lágrimas quentes escorrendo enquanto tocava o rosto frio de Markus. — Eu sinto muito... eu não consegui... — Sua voz falhou, engolida por soluços. Com dedos trêmulos, fechou os olhos do pai, um gesto pequeno diante da imensa perda.
Um gemido fraco o tirou do torpor. Virando-se, viu Liana contra a parede, um corte na testa sangrando sobre sua camisa de linho. Ela respirava, mas estava pálida, os olhos fechados. Aliviado por ela estar viva, Aiden correu até ela.
— Mãe, você está bem? — perguntou, a voz embargada enquanto a sacudia suavemente. Liana abriu os olhos, o horror tomando conta ao ver Markus.
— Markus... não... — Ela tentou se levantar, mas Aiden a segurou.
— Não, mãe, você está ferida. Fique quieta. — Ele a ergueu com cuidado, levando-a ao quarto e deitando-a no colchão de palha. Cobriu-a com um cobertor puído, tentando conter suas próprias lágrimas. — Eu vou cuidar de tudo, mãe. Prometo.
— Eu vou cuidar de tudo, mãe. Eu prometo.
Aiden saiu do quarto deixando sua mãe repousar pegou uma pá enferrujada no canto do pátio, as mãos trêmulas enquanto caminhava até o velho carvalho que marcava o limite da propriedade — o lugar onde Markus sempre dissera que gostaria de descansar. O solo estava duro, endurecido pelo frio da manhã, e cada pazada era um esforço que reverberava em seus ossos doloridos. O som da terra sendo cavada misturava-se ao crepitar distante das últimas brasas do celeiro, e as lágrimas caíam silenciosas, pingando no buraco que crescia lentamente.
Quando terminou, envolveu o corpo de Markus em um lençol branco, o tecido áspero manchando-se com o sangue seco. Carregá-lo até a cova foi uma tarefa quase impossível — o peso do pai, antes uma presença forte e viva, agora era apenas um fardo frio em seus braços. Ao colocá-lo no chão, Aiden sussurrou:
— Eu vou encontrar Elara, pai. Eu prometo. — A terra caiu sobre o lençol em montes pesados, cobrindo Markus até que restasse apenas um montículo marcado por uma cruz simples de gravetos.
Depois, enterrou as galinhas em um canto do pátio, cavando buracos menores e marcando cada um com uma cruzinha de madeira. Era um gesto inútil, talvez, mas parecia o certo — uma tentativa de trazer ordem ao caos que engolira sua vida. Quando terminou, o sol já subia no céu, e Aiden voltou para dentro, exausto, mas sem tempo para descansar.
Após finalizar os enterros Aiden saiu sem rumo em busca do meu companheiro.
— Trotador! — Sua voz ecoou pelo campo silencioso, mas não houve resposta. Ele correu até o riacho, onde o cavalo às vezes pastava, os pés afundando na lama fria. Pegadas confusas marcavam o chão, misturadas a rastros de botas pesadas — os bandidos o haviam levado, junto com Elara. A certeza disso o atingiu como um soco, e ele caiu de joelhos, as mãos agarrando a terra como se pudesse arrancar dela uma explicação.
Na casa, Liana estava acordada, sentada na cama com os olhos fixos na parede. A ferida na testa havia parado de sangrar, mas a palidez dela era alarmante, os cabelos castanhos desgrenhados caindo sobre o rosto como um véu de luto. Aiden trouxe uma tigela de mingau, feita com os últimos grãos que encontrara na despensa, e sentou-se ao seu lado.
— Mãe, você precisa comer — disse, oferecendo a tigela. Ela balançou a cabeça, os lábios tremendo.
— Não consigo, Aiden... — Sua voz era um fio fraco, quase perdido no silêncio.
— Por favor, mãe. Você precisa ficar forte. — Ele insistiu, mas Liana virou o rosto, uma lágrima escorrendo por sua bochecha. Suspirando, Aiden deixou a tigela na mesinha ao lado e se levantou. — Vou cuidar da fazenda. Volto logo.
Aiden foi capitar as plantações, removendo toda cinza que um dia foram belas plantações marcadas com lindos momentos, enquanto capinava perdido em pernsamentos, Aiden escutava ao longe risadas de sua irmã, o barulho das panelas de sua mãe, a batida do mertelo de seu pai nas cercas, enquanto limpava um pequeno pedaço para plantar algo, parecia certo, talvez um recomeço para todos.
Nos dias seguintes, Aiden estabeleceu uma rotina quase desesperada. Acordava antes do amanhecer, o céu ainda escuro, e começava pelas plantações. Depois, tentava consertar o que podia — pregava tábuas soltas na casa, varria os cacos do chão, reforçava o cercado com pedaços de madeira resgatados dos escombros. Cada tarefa era uma batalha contra o desespero, um grito silencioso de que ele não desistiria.
Na cozinha, preparava refeições simples com o que encontrava: um ensopado ralo de raízes ressecadas do jardim, um punhado de grãos torrados que dividia com a mãe. Sentava-se ao lado dela, tentando puxar conversa.
— Mãe, lembra do Festival da Colheita? Você e o pai dançando, Elara rindo... — Ele sorria, invocando memórias de dias felizes, mas Liana apenas olhava para ele, os olhos vazios.
— Tudo se foi, Aiden. Tudo. — Sua voz era um sussurro cortante, e ela virava o rosto, afundando-se mais na melancolia que a consumia. Aiden engolia o nó na garganta e continuava, servindo o ensopado em silêncio, o sabor amargo da realidade misturando-se à comida escassa.
Sem a fazenda para sustentá-los, Aiden começou a caminhar até a vila de Pedra Clara, a uma hora de distância. O trajeto era solitário, o vento soprando frio contra seu rosto. Ele levava recados para os vizinhos, carregava pacotes, fazia qualquer tarefa que rendesse algumas moedas. Na vila, seu principal empregador era Thomas, o filho do ferreiro.
O primeiro encontro após o ataque foi carregado de emoção. Aiden chegou à forja, o calor das brasas contrastando com o frio que sentia por dentro, e Thomas o viu de imediato.
— Aiden... eu sinto muito pelo que aconteceu — disse Thomas, largando o martelo e limpando as mãos sujas de fuligem na calça. — Se eu puder ajudar...
— Obrigado, Thomas. Eu só preciso de trabalho. Qualquer coisa. — Aiden manteve a voz firme, mas seus olhos traíam a exaustão.
Thomas assentiu, entregando-lhe um saco de ferramentas. — Leve isso pro Sr. Harlan. Ele vai te pagar algumas moedas.
Antes de sair, Thomas o chamou de volta, hesitante. — Aiden, eu... soube sobre Elara. Que ela foi levada.
Aiden engoliu em seco, a dor apertando seu peito. — Sim. Os bandidos a levaram pra Valtara, pra vendê-la.
Thomas fechou os punhos, o rosto contorcendo-se em uma mistura de raiva e desespero. — Ela... ela era tudo pra mim, Aiden. Eu queria pedir a mão dela no próximo festival. — Sua voz quebrou, e ele virou o rosto, esfregando os olhos com força. — Se eu pudesse, eu iria atrás dela. Mas meu pai precisa de mim aqui.
— Eu sei, Thomas. Eu vou encontrá-la. De alguma forma, eu vou. — Aiden colocou a mão no ombro do amigo, um gesto de solidariedade que escondia sua própria incerteza.
Thomas olhou para ele, os olhos marejados. — Você é corajoso, Aiden. Mais do que eu jamais seria. Me avise se precisar de qualquer coisa, tá? Comida, ferramentas... qualquer coisa.
Aiden assentiu, agradecido pela oferta. Nos dias seguintes, tornou-se um rosto constante na vila, entregando ferramentas, carregando carroças, limpando estábulos. Thomas sempre lhe dava de pão, carne seca ou verduras para levar para sua mãe, que Aiden aceitava com gratidão silenciosa, guardando para dividir com a mãe.
A vida na fazenda era um fio tênue. O estoque de comida diminuía a cada dia, e Aiden dividia suas porções com Liana, muitas vezes indo dormir com o estômago vazio.
Naquela manhã, Aiden estava no pasto, martelo em punho, consertando uma cerca que o vento da noite anterior havia derrubado. Cada golpe no prego ecoava em seus pensamentos, trazendo à tona a possibilidade de vender a fazenda. Se eu vendesse, poderia pagar um médico para a mãe e ir atrás de Elara, pensava ele, enquanto o suor escorria por sua testa. Com o dinheiro, talvez conseguíssemos sair dessa miséria. Mas então, ele parou, o martelo suspenso no ar, e olhou para a terra ao seu redor — os campos que seu pai havia arado, o carvalho onde Markus descansava. Como posso abandonar isso? É tudo que me resta dele.
Aiden respirou fundo, sentindo o peso da decisão. Ele imaginou estranhos andando por aquelas terras, apagando as marcas de sua família. Talvez pudesse tentar mais uma vez — pedir ajuda na vila, vender o que eu conseguir em vez da fazenda inteira. Mas no fundo, a realidade o pressionava: os recursos estavam acabando, e ele não podia fazer tudo sozinho.
No dia seguinte, ainda incerto, Aiden decidiu consultar o Sr. Harlan, o líder da vila. Caminhou até lá com passos lentos, o coração dividido. Ao chegar, encontrou Harlan em sua oficina, o cheiro de madeira fresca enchendo o ar.
— Sr. Harlan, eu... eu estava pensando em vender a fazenda — disse Aiden, as palavras saindo com dificuldade. — O senhor acha que alguém compraria?
Harlan largou a serra e o encarou, franzindo a testa. — Vender a fazenda? Aiden, você tem certeza disso? Seu pai colocou o coração naquele lugar.
Aiden baixou os olhos, as mãos inquietas. — Eu sei, senhor. Mas a mãe está piorando, e eu preciso encontrar Elara. Não vejo outra saída.
Harlan coçou o queixo, pensativo. — Entendo sua situação, rapaz. Mas é uma decisão grande. Se vender, não tem como voltar atrás.
As palavras de Harlan acertaram Aiden como um golpe. Ele viu flashes de sua infância: o pai ensinando-o a ordenhar as vacas, Elara correndo entre as árvores. — Talvez... talvez eu deva esperar mais um pouco — murmurou, quase para si mesmo. — Tentar segurar as coisas por mais tempo.
Harlan deu um leve sorriso, colocando a mão em seu ombro. — Pense bem, Aiden. Se precisar de ajuda, sabe onde me encontrar.
Aiden voltou para casa com a mente em tumulto. Por ora, desistiria da venda, mas a semente da ideia já estava plantada.
Os dias seguintes trouxeram mais sombras. A tosse de Liana tornou-se um som constante, roubando-lhe o fôlego, e ela mal conseguia levantar da cama. Aiden tentou alimentá-la com o pouco que restava — uma sopa rala de batatas murchas —, mas ela afastava a colher, os olhos vidrados.
Certa noite, enquanto aquecia água para um chá fraco, Aiden ouviu Liana chamá-lo. Correu ao quarto e a encontrou sentada, o rosto pálido como cinzas.
— Aiden, eu não quero te prender aqui — disse ela, a voz trêmula.
— Me deixe com o Padre Elias. Vá atrás da sua irmã.
Ele segurou a mão dela, fria e frágil. — Não, mãe. Eu não vou te deixar. Vamos sair dessa juntos.
Mas as palavras soaram vazias até para ele. A verdade era cruel: sem dinheiro, sem recursos, a fazenda estava morrendo — e Liana junto com ela.
No dia seguinte, a realidade o venceu. Aiden voltou à vila, o peito apertado, e encontrou Harlan na praça. — Sr. Harlan, eu decidi. Preciso vender a fazenda — disse, a voz rouca de emoção.
Harlan suspirou, mas assentiu. — Sinto muito, Aiden. Mas talvez haja uma luz nisso. O Sr. Jonas, seu vizinho, me disse ontem que está interessado. Ele quer expandir as terras dele e prometeu cuidar bem da sua fazenda.
Aiden piscou, surpreso. O Sr. Jonas era um homem gentil, um amigo de longa data da família. A ideia de que a fazenda ficaria com alguém conhecido trouxe um alívio agridoce. — Ele... ele vai cuidar dela mesmo? — perguntou, quase implorando por uma garantia.
— Sim, rapaz. Jonas me deu a palavra dele — respondeu Harlan. — Venha amanhã para acertarmos tudo.
Na manhã seguinte, Aiden recebeu o Sr. Jonas na fazenda. O vizinho, com seu chapéu de palha e mãos calejadas, caminhou pelo terreno com um olhar respeitoso.
— Aiden, eu sei o que esta terra significa para você — disse Jonas, parando perto do carvalho. — Prometo que vou cuidar dela como se fosse minha. E se um dia você quiser voltar, vai ter um lugar aqui.
Aiden engoliu o nó na garganta. — Obrigado, Sr. Jonas. Isso... isso torna as coisas um pouco mais fáceis.
Eles assinaram os papéis ali mesmo, sob o céu claro, e Jonas entregou a Aiden uma quantia modesta, mas suficiente para seus planos: cuidar de Liana e buscar Elara. Quando Jonas se foi, Aiden ficou sozinho no pátio, o peso da decisão ainda o esmagando, mas com um fio de esperança a mais.
Aiden segurou o saco de moedas com firmeza, o som tilintante delas ecoando em sua mente enquanto caminhava de volta para casa. A fazenda agora pertencia a outro dono, e o dinheiro nas suas mãos era tudo o que restava para garantir o futuro de sua mãe antes de partir em busca de sua irmã, Elara. Ele respirou fundo, sabendo que o próximo passo seria o mais difícil: levar sua mãe, Liana, para a igreja.
Dentro da casa silenciosa, Aiden encontrou Liana deitada, frágil e pálida, os olhos fixos em algum ponto distante. Ele se aproximou com cuidado, ajoelhando-se ao lado dela.
— Mãe, está na hora — disse ele, a voz suave para não assustá-la. — Vou levá-la para a igreja. O Padre Elias vai cuidar de você enquanto eu estiver fora.
Liana virou o rosto devagar, os olhos marejados encontrando os dele. — Aiden... eu só te atraso — murmurou ela, a voz quase um sussurro.
— Não diga isso, mãe — respondeu ele, segurando a mão dela com delicadeza. — Vou trazer ela de volta, mas preciso saber que você está segura.
Com todo o cuidado, Aiden a envolveu em um cobertor grosso e a ergueu nos braços. Ela estava leve demais, como se o peso da doença tivesse levado metade dela embora. Ele a carregou lentamente até a porta, cada passo pesado com o medo de machucá-la. O ar frio da manhã os recebeu do lado de fora, e Liana descansou a cabeça no ombro dele, os olhos fechados.
O caminho até a igreja na vila foi silencioso, exceto pelo som dos passos de Aiden nas pedras irregulares. Ele segurava a mãe com firmeza, ajustando os braços para que ela ficasse confortável. Quando chegaram, o Padre Elias já estava à porta, o rosto sereno mas preocupado.
— Aiden, entre com ela — disse o padre, gesticulando para dentro.
— Preparamos um lugar para Liana.
Eles a levaram para um quarto simples nos fundos da igreja, com uma cama e uma pequena janela. Aiden deitou a mãe com gentileza, ajeitando o cobertor sobre ela.
— Mãe, eu vou partir agora — disse ele, ajoelhando-se ao lado da cama. — Vou para Akasall a cidade grande. Lá eu consigo dinheiro como aventureiro e informações sobre Elara. Mas eu volto, eu prometo.
Liana ergueu a mão trêmula e tocou o rosto dele. — Meu menino... tome cuidado. Eu estarei aqui, esperando.
— Eu amo você, mãe — sussurrou Aiden, beijando a testa dela antes de se levantar.
Ele se virou para o Padre Elias, tirando o saco de moedas do bolso. — Padre, aqui está o dinheiro da venda da fazenda. Por favor, use para cuidar dela. Eu mando mais assim que puder.
O padre pegou o saco e colocou a mão no ombro de Aiden. — Fique tranquilo, meu filho. Ela estará em boas mãos. Vá com Deus e volte com sua irmã.
— Obrigado, padre — disse Aiden, com um aceno grato. Ele deu um último olhar para a mãe antes de sair, o coração apertado, mas decidido.
Aiden caminhou até a forja, o som do martelo contra o metal guiando seus passos. Thomas, o filho do ferreiro, estava lá, o suor escorrendo pelo rosto enquanto trabalhava. Ao ver Aiden, ele parou, largando as ferramentas e limpando as mãos no avental.
— Aiden, o que houve? — perguntou Thomas, franzindo a testa. — Você tá com essa cara de quem vai embora.
— Eu vou mesmo, Thomas — respondeu Aiden, firme. — Vendi a fazenda. Levei minha mãe pra igreja com o Padre Elias, e agora eu vou pra Akasall.
— Akasall? — Thomas arregalou os olhos. — A cidade grande? Isso é o quê, algumas semanas a pé?
— Sim, pelo menos três semanas — disse Aiden, cruzando os braços. — Vou tentar ganhar dinheiro como aventureiro e descobrir onde levaram Elara. Os bandidos falaram que iam vendê-la em Valtara. Não posso esperar mais. Preciso ficar forte antes de ir para lá.
Thomas passou a mão pelo cabelo, claramente preocupado. — Akasall é um lugar duro, Aiden.
— Não tenho outra escolha — retrucou Aiden, a voz carregada de determinação. — Minha mãe tá segura agora, mas Elara não. Preciso ir atrás dela.
Thomas suspirou, assentindo devagar. — Entendo. Eu queria ir com você, sabe? Mas meu pai tá velho, precisa de mim aqui na forja.
— Eu sei, Thomas. Não te pediria isso — disse Aiden, com um leve sorriso. — Mas me faz um favor: dá uma olhada na minha mãe de vez em quando, vê se ela tá bem.
— Claro, Aiden, eu prometo — respondeu Thomas, estendendo a mão. — E você, me avisa se precisar de algo. Qualquer coisa.
Aiden apertou a mão do amigo com força. — Obrigado, Thomas. Você é um irmão pra mim. Quem sabe um dia eu volto e a gente trabalha juntos de novo, hein?
Thomas riu, mas havia tristeza nos olhos dele. — Seria bom. Só não se meta em encrenca demais lá em Akasall. E encontre Elara. Ela... ela é importante pra mim também.
— Eu sei — disse Aiden, sério. — Vou trazer ela de volta, Thomas. Pode contar comigo.
Com um último aceno, Aiden se virou e começou a caminhar para fora da vila. A estrada à frente era longa, e Akasall, um destino incerto. Mas ele carregava consigo o peso da promessa: para sua mãe, para Thomas e, acima de tudo, para Elara.