O Peso da Floresta

Aiden saiu da guilda com o papel da missão em mãos, sentindo uma mistura de excitação e nervosismo. Era sua primeira missão como aventureiro rank F: coletar dez troncos de carvalho jovem na Floresta das Sombras. A tarefa parecia simples o bastante quando a escolhera no quadro, mas agora, segurando o documento carimbado, ele sentia o peso da responsabilidade. Não era apenas madeira; era o primeiro passo para se tornar mais forte, ganhar dinheiro e encontrar Elara. Ele ajustou a foice nas costas, a cota de malha tilintando levemente sob a camisa nova, e começou a caminhar em direção à floresta, que ficava a uma curta distância de Akasall.

O sol estava alto, aquecendo as pedras da praça enquanto ele deixava as ruas movimentadas da cidade para trás. Passou por mercadores carregando cestos e aventureiros conversando sobre suas façanhas, seus olhos verdes captando cada detalhe do novo mundo que agora habitava. Ao chegar à entrada da Floresta das Sombras, parou por um instante. As árvores altas erguiam-se como sentinelas, suas copas bloqueando parte da luz e projetando sombras escuras no chão. O ar estava fresco, carregado com o cheiro de musgo e folhas úmidas. Ele respirou fundo e entrou, seguindo um caminho estreito que serpenteava entre os troncos.

A missão exigia dez troncos de carvalho jovem, e Aiden começou a procurar logo que pisou na mata. Ele sabia que essas árvores eram menores, com troncos mais finos que os carvalhos maduros, mas identificar uma entre tantas outras não era tão fácil quanto imaginara. Caminhou por alguns minutos, examinando cada árvore com cuidado, até encontrar uma que parecia promissora: o tronco era estreito, a casca lisa e as folhas de um verde claro. "Essa deve servir," murmurou, aproximando-se.

Retirou a foice das costas e segurou o cabo com firmeza. Na fazenda, ele usava machados para cortar madeira, mas agora só tinha a foice, uma ferramenta que conhecia mais como arma do que como instrumento de trabalho. Posicionou a lâmina contra o tronco e gritou —"Ceifadora das Sombras!" e deu um golpe forte, o seu grito fez varios pássaros ao arredor voarem. O metal cortou a casca, mas parou logo em seguida, mal penetrando a madeira. Ele franziu a testa e tentou novamente, aplicando mais força. O segundo golpe afundou um pouco mais, mas o tronco permaneceu firme. "Isso vai levar tempo," pensou, sentindo os braços reclamarem com o esforço.

Ele continuou golpeando, ajustando a postura para tentar encontrar um ângulo melhor. A foice era afiada — o ferreiro fizera um bom trabalho —, mas exigia uma técnica que ele ainda não dominava. Após várias tentativas, conseguiu fazer um corte mais fundo, mas a árvore ainda resistia. O suor escorria por sua testa, pingando no chão, e seus músculos começavam a doer. Ele parou por um momento, apoiando-se no cabo da foice, e olhou ao redor. A floresta estava silenciosa, exceto pelo som de sua respiração ofegante e o farfalhar ocasional das folhas ao vento.

O artificer dissera que a "Ceifadora das Sombras" amplificava força e velocidade, mas dependia de emoções intensas. Aiden fechou os olhos, trazendo à mente o ataque à fazenda — os gritos de Elara, o fogo consumindo o celeiro, a impotência que sentira. "Ceifadora das Sombras!" exclamou, girando a foice com toda a força. A lâmina brilhou com uma aura negra fraca, mas o golpe não foi muito mais forte que os anteriores. A madeira cedeu um pouco mais, mas ainda assim a árvore ficou de pé.

Ele bufou, frustrado. "Por que não funciona como antes?" murmurou, limpando o suor da testa. Tentou novamente, concentrando-se ainda mais na raiva e no desespero, mas o resultado foi parecido. A aura aparecia, mas não com a intensidade que ele precisava. Cansado de bater na mesma árvore, decidiu mudar de abordagem. Ouviu sons de animais na floresta e pensou que poderia usar a habilidade neles, como treinamento.

Caminhando com cuidado, avistou um coelho selvagem a poucos metros. O animal tinha uma pelagem marrom que se misturava às folhas secas no chão, as orelhas longas e alertas movendo-se ao menor ruído. Ele estava parado, mordiscando uma planta, os olhos pretos brilhando na penumbra. Aiden segurou a foice com firmeza e avançou lentamente, tentando não fazer barulho. Quando estava perto o suficiente, gritou "Ceifadora das Sombras!" e atacou. A lâmina cortou o ar com um zumbido, mas passou longe do coelho, que saltou em um piscar de olhos e desapareceu entre os arbustos.

Aiden ficou olhando o espaço vazio, o peito subindo e descendo rápido. "Preciso ser mais preciso," pensou, ajustando a postura. Ele continuou procurando, determinado a não desistir. Logo, viu um esquilo subindo em uma árvore próxima. O animal era pequeno, com uma pelagem cinza e um rabo fofo que balançava enquanto escalava o tronco. Ele parou em um galho baixo, segurando uma noz entre as patas dianteiras, os olhos atentos. Aiden se aproximou, erguendo a foice, e tentou ativar a habilidade mais uma vez. O golpe saiu rápido, mas desajeitado, e a lâmina acertou o ar a centímetros do esquilo, que subiu correndo para um galho mais alto.

Frustrado, ele decidiu voltar à madeira. Retornou ao carvalho jovem e continuou cortando, golpe após golpe, até que, após muito esforço, a árvore finalmente caiu com um baque surdo. Ele cortou o tronco em pedaços menores, adequados para carregar, mas percebeu que só tinha um pronto. O sol já descia no céu, e seus braços tremiam de cansaço. Carregou o tronco nos ombros e voltou para Akasall, o peso pressionando seus músculos doloridos.

Na guilda, entregou o tronco à recepcionista, que o registrou em um livro grande. Ela ergueu uma sobrancelha ao ver apenas uma peça. "Está tendo dificuldades?" perguntou, a voz neutra mas com um toque de curiosidade.

Aiden assentiu, limpando o suor da testa. "Sim, é mais difícil do que eu pensava. Mas vou continuar."

Ela sorriu levemente. "É assim no começo. Não desista."

Ele agradeceu e saiu, caminhando até a taverna "Dragão Dorminhoco". Pediu um ensopado simples e sentou-se perto da lareira, o calor aliviando o frio que começava a se instalar em seus ossos. Enquanto comia, alguns aventureiros se aproximaram. Um deles, um homem de barba ruiva e armadura de couro, deu um tapinha em seu ombro.

"Primeira missão?" perguntou, sentando-se sem convite.

"Sim," respondeu Aiden, engolindo uma colherada. "Coletar troncos."

"Todos passamos por isso," disse uma mulher de tranças loiras, rindo. "Procure áreas com mais carvalhos juntos. E se tiver uma habilidade, treine em coisas paradas primeiro. Ajuda a pegar o jeito."

Aiden assentiu, guardando as dicas. Após a refeição, subiu para o quarto e caiu na cama, o corpo exausto. Pensou em Elara por um momento, mas o sono o levou antes que pudesse se aprofundar nas lembranças.

O sol mal havia nascido quando Aiden acordou, os músculos ainda rígidos do dia anterior. Ele desceu para o café da manhã — mingau quente e pão —, engoliu tudo rápido e partiu novamente para a Floresta das Sombras. Desta vez, seguiu o conselho dos aventureiros e procurou uma área onde os carvalhos jovens fossem mais abundantes. Após uma hora caminhando, encontrou um pequeno bosque com várias árvores adequadas, seus troncos finos agrupados perto de um riacho raso.

Ele começou a cortar, prestando mais atenção na técnica. Em vez de usar só força, mirava cortes precisos, enfraquecendo o tronco aos poucos. O primeiro caiu mais rápido que o do dia anterior, e ele sorriu, satisfeito com o progresso. Enquanto cortava o segundo, decidiu treinar a "Ceifadora das Sombras" em algo imóvel, como sugeriram. Escolheu uma árvore morta próxima, o tronco seco e quebradiço destacando-se entre as verdes.

Fechou os olhos, pensando na raiva que sentia pelos bandidos que levaram Elara. "Ceifadora das Sombras!" gritou, e a lâmina brilhou com uma aura negra mais forte que antes. O golpe cortou fundo, lascas voando pelo ar. Ele continuou, testando a habilidade várias vezes. Às vezes funcionava, às vezes não, mas ele sentia que estava começando a entender o ritmo da energia.

Entre os cortes, ouviu um barulho e viu um veado a poucos metros. O animal tinha uma pelagem avermelhada que reluzia ao sol, chifres pequenos curvando-se para trás. Ele pastava tranquilamente, mordendo a grama perto do riacho, as orelhas movendo-se ao som da água. Aiden decidiu tentar. Avançou com cuidado, mas o veado ergueu a cabeça ao ouvir suas botas nas folhas secas. Quando ele atacou com a foice, o animal saltou para o lado e fugiu, os cascos batendo rápido no chão até sumir na mata.

Aiden suspirou, mas não se deixou abater. Voltou aos troncos, cortando mais um com esforço constante. Enquanto trabalhava, avistou uma raposa cruzando o caminho. A pelagem dela era laranja com tons de branco nas patas e na ponta do rabo, o corpo esguio movendo-se com graça entre as árvores. Ela parou por um instante, os olhos amarelados fixos em algo à distância, antes de continuar. Aiden se aproximou, tentando ser mais silencioso, e atacou com a habilidade ativada. A raposa ouviu o movimento e desviou com facilidade, correndo para longe em ziguezague.

Ele balançou a cabeça, percebendo que precisava melhorar sua furtividade. Continuou cortando madeira até ter mais três troncos prontos, o sol já baixo no horizonte. Carregou-os de volta à guilda, entregando-os à recepcionista, que os registrou com um aceno.

"Está indo bem," disse ela. "Já é mais que ontem."

"Obrigado," respondeu Aiden, sentindo um leve orgulho.

Na taverna, encontrou Oloorin, o aventureiro rank C, bebendo uma cerveja em uma mesa. Oloorin o chamou com um gesto. "Como foi hoje, novato?"

"Consegui mais troncos e treinei minha habilidade," disse Aiden, sentando-se. "Mas ainda não acerto os animais."

Oloorin assentiu. "Tente emoções diferentes. Raiva é boa, mas às vezes determinação funciona melhor. Descubra o que te move."

Aiden pensou na ideia enquanto comia um prato de carne com batatas. Após a conversa, subiu para o quarto e deitou-se, as palavras de Oloorin ecoando em sua mente. Talvez a determinação fosse o caminho. Ele adormeceu com esse pensamento.

O céu estava claro quando Aiden voltou à floresta, os braços já mais acostumados ao peso da foice. Ele foi direto ao bosque dos carvalhos jovens e começou a cortar, aplicando as técnicas que vinha aprendendo. Os troncos caíam mais rápido agora, a lâmina encontrando os pontos certos com menos esforço. Enquanto trabalhava, decidiu testar a sugestão de Oloorin.

Em vez de raiva, focou na determinação — a vontade de encontrar Elara e trazê-la de volta. "Ceifadora das Sombras!" exclamou, e a aura negra surgiu mais estável, cortando um tronco com um golpe quase limpo. Ele sorriu, sentindo que estava no caminho certo. Continuou assim, coletando madeira e treinando a habilidade, a energia fluindo com mais consistência.

Entre os troncos, avistou um javali selvagem perto de uma árvore caída. O animal era robusto, com uma pelagem grossa e escura cobrindo o corpo, presas curtas mas afiadas saindo da boca. Ele fuçava o chão com o focinho, grunhindo baixo enquanto procurava raízes. Aiden se aproximou com cuidado, mas o javali o ouviu e virou-se, os olhos pequenos fixos nele. Quando Aiden atacou, a foice cortou o ar com força, mas o javali desviou com um salto rápido, quase correndo em sua direção com as presas à mostra. Aiden recuou, o coração disparado, e o animal fugiu grunhindo para a mata.

"Não estou pronto pra isso," pensou, decidindo focar nos troncos. Ele terminou de cortar os últimos quatro necessários, o sol já se pondo quando carregou tudo de volta à guilda. A recepcionista o parabenizou ao registrar a entrega.

"Missão completa," disse ela, entregando algumas moedas de prata e anotando pontos em seu registro. "Bom trabalho."

Aiden guardou as moedas, satisfeito. Na taverna, pediu uma refeição melhor — carne assada com pão fresco — e sentou-se com outros aventureiros. Eles riram e contaram histórias de suas próprias missões, elogiando seu progresso.

"Primeira missão é sempre um teste," disse a mulher de tranças loiras. "Você passou bem."

Após a comida, ele subiu para o quarto e deitou-se, o corpo cansado mas a mente leve. Pensou em Elara e na mãe, sentindo que estava mais perto de seu objetivo. Com esse conforto, fechou os olhos e dormiu, pronto para o que viria a seguir.