Aiden deixou o salão da guilda, o peso das cinco moedas de prata tilintando em seu bolso, um testemunho tangível de sua recém-concluída missão de coleta de ervas medicinais. A estrutura da guilda erguia-se às suas costas como um sentinel de eras passadas, suas pedras antigas polidas pelo tempo, cinzentas e salpicadas de musgo, carregando em cada fissura as marcas de incontáveis histórias de bravura. As paredes externas eram adornadas com entalhes intricados — dragões alados, cavaleiros em combate, e ramos de carvalho entrelaçados —, um testemunho silencioso dos feitos que ecoavam nos corações daqueles que cruzavam seus portões. Vigas de madeira maciça, escuras e polidas pelo toque de gerações, sustentavam o teto alto, projetando sombras longas sobre o chão de lajotas gastas. O ar ali dentro era denso, impregnado do cheiro de pergaminho seco e ferro aquecido, como se o próprio edifício respirasse as aspirações dos aventureiros que o habitavam.
Ao descer os degraus de pedra que levavam às ruas, Aiden sentiu o burburinho da cidade envolvê-lo como uma onda viva. As ruas pulsavam com energia: mercadores erguiam suas vozes em cantos roucos, oferecendo tecidos tingidos em tons de rubi e safira, frutas maduras que reluziam ao sol, e amuletos de madeira que prometiam sorte ou proteção. Aventureros cruzavam o caminho, suas armaduras tilintando em um coro metálico, os olhos brilhando com a promessa de glória ou a exaustão de batalhas recém-travadas. Cidadãos comuns moviam-se entre eles, carregando cestos pesados ou guiando crianças de mãos sujas pelas vielas estreitas, suas conversas misturando-se ao som de martelos batendo em bigornas e carroças rangendo sobre os paralelepípedos.
Aiden caminhava devagar, os olhos verdes capturando cada detalhe daquele mundo novo e caótico. Em seu peito, uma chama de excitação ardia, alimentada pela possibilidade de um futuro que se abria diante dele — um caminho de desafios e conquistas que poderia levá-lo até Elara, sua irmã perdida nas garras dos bandidos, e oferecer sustento à sua mãe, deixada aos cuidados frágeis da vila. Mas, sob essa chama, uma sombra de apreensão se contorcia. A recepcionista mencionara uma missão de combate contra mortos-vivos numa fazenda próxima, criaturas das trevas que ele nunca enfrentara, e a ideia de tais horrores o fazia hesitar. Ele sabia que sua foice, agora afiada e reforçada, e a cota de malha que tilintava sob sua camisa eram apenas ferramentas — o verdadeiro teste seria de sua coragem, uma virtude ainda não provada contra o desconhecido.
Seus passos o levaram ao "Dragão Dorminhoco", uma taverna que se erguia como um refúgio rústico em meio ao tumulto. A fachada de madeira, envelhecida pelo tempo, exibia um tom castanho quente, e o telhado de palha inclinava-se suavemente, como se sussurrasse promessas de descanso. Acima da porta, uma placa balançava ao vento, o dragão entalhado em sua superfície enrolado em um sono pacífico sobre uma cama de gravetos, os olhos fechados em serenidade. Aiden empurrou a porta pesada, e o calor do interior o envolveu como um abraço.
A luz trêmula da lareira dançava sobre as paredes de madeira, lançando sombras que brincavam entre as vigas expostas do teto. O aroma de cerveja forte misturava-se ao cheiro rico de carne assada, pairando no ar como uma canção silenciosa de conforto. O salão era um mosaico de vida: mesas rústicas espalhavam-se pelo chão, ocupadas por aventureiros cujas risadas ecoavam como trovões, mercadores que murmuravam sobre negócios em tons conspiratórios, e o tilintar ocasional de copos erguidos em brindes. Um bardo tocava uma melodia suave em um canto, os dedos deslizando sobre as cordas de um alaúde, enquanto vozes se entrelaçavam em conversas animadas ou sussurros carregados de segredos.
Aiden cruzou o salão, seus olhos varrendo as figuras até pousarem em Oloorin, sentado solitário a uma mesa de canto. O aventureiro de rank C era uma presença imponente, mesmo em repouso: a cicatriz que cruzava seu rosto contava histórias de batalhas vencidas, e sua juba grisalha, amarrada em um rabo de cavalo, caía sobre os ombros largos. Diante dele, uma caneca de cerveja repousava, o líquido âmbar refletindo a luz do fogo, e seu olhar estava perdido em algum ponto distante, como se visse além das paredes da taverna, talvez em memórias de terras longínquas.
Aiden aproximou-se, os passos leves sobre o chão de madeira rangente. "Oloorin," chamou, a voz cortando o murmúrio ambiente com uma nota de respeito.
O veterano ergueu os olhos, o olhar endurecido suavizando-se ao reconhecer o jovem. "Aiden, o novato," respondeu, a voz grave ressoando como o eco de uma caverna profunda. "O que te traz aqui desta vez?"
Aiden tomou assento à frente dele, o banco chiando sob seu peso. "Completei a missão das ervas," começou, os dedos tamborilando na mesa em um ritmo nervoso. "Mas agora estou pensando em algo maior. Há uma missão na guilda contra mortos-vivos numa fazenda próxima. Queria teu conselho... e, se possível, tua companhia."
Oloorin tomou um gole longo de sua cerveja, os olhos semicerrados enquanto considerava as palavras do jovem. Ele pousou a caneca com um thud suave e inclinou-se para a frente, os cotovelos apoiados na madeira gasta. "Mortos-vivos, hein? Criaturas sombrias, essas. Não sentem dor, não conhecem cansaço. São um teste cruel para qualquer um, especialmente um novato como tu."
Aiden inclinou-se, ansioso por cada palavra. "O que sabe sobre eles? Como posso enfrentá-los?"
Oloorin coçou a barba, o som áspero das unhas contra os pelos enchendo o breve silêncio. "O fogo é teu maior aliado contra eles," disse, os olhos brilhando com a sabedoria de anos. "Queimam como palha seca, e as chamas os atrasam. Mira a cabeça, garoto — um golpe certeiro no crânio ou uma decapitação os manda de volta ao repouso eterno. Mas cuidado: eles vêm em bandos, e se te cercarem, nem toda a bravura do mundo te salvará. E há os que carregam um toque maldito — um roçar de dedos podres que pode sugar tua força vital."
Aiden estremeceu, mas manteve o olhar firme. "E alguma história deles? Algo que eu deva saber além da luta?"
Oloorin sorriu, um canto da boca subindo em uma expressão melancólica. "Há uma velha canção que cantávamos nas terras do norte," disse, a voz baixando a um tom quase poético. "Ouça, e que ela te guie:
'Sob a terra fria jazem os inquietos,
Ossos que dançam ao chamado funesto.
Fogo e ferro os fazem calar,
Mas nas sombras voltam a caminhar.'
"É um lembrete, Aiden. Os mortos-vivos não descansam por vontade própria. Algo os ergue — feitiçaria negra, ou uma dor que o túmulo não apaga. Respeita o que enfrentas, mas não te curva ao medo."
Aiden absorveu as palavras, o peso delas assentando-se em seus ombros como uma armadura invisível. "Obrigado, Oloorin. Teu saber é um tesouro. Mas... vens comigo? Tua experiência faria diferença."
Oloorin suspirou, o som carregado de arrependimento. "Queria poder, garoto. Mas parto esta tarde para terras distantes, uma missão que não posso recusar. Terás de enfrentar essa sozinho, receio dizer."
Aiden sentiu uma pontada de decepção, mas assentiu, o queixo erguido em determinação. "Entendo. Teus conselhos já são uma ajuda imensa. Boa viagem, Oloorin."
O veterano ergueu a caneca em um brinde silencioso, os olhos brilhando com um misto de orgulho e tristeza. "Que os ventos te favoreçam, Aiden. Volta vivo, e que nossas trilhas se cruzem novamente."
Aiden levantou-se, o coração mais firme apesar da solidão que o aguardava. Com um aceno final, deixou a mesa de Oloorin e saiu da taverna, o calor do "Dragão Dorminhoco" dando lugar à brisa fresca das ruas.
O resto do dia passou em um torvelinho de preparações. Aiden caminhou pelas ruas, os sentidos alertas ao caos vibrante da cidade. Ele parou em uma loja de suprimentos, uma construção baixa de pedra com uma vitrine repleta de cordas, frascos e ferramentas. O interior cheirava a couro e óleo, e um comerciante de barba rala o cumprimentou com um sorriso astuto.
"Buscas algo, jovem?" perguntou o homem, os olhos estreitando-se em avaliação.
"Sim," respondeu Aiden, examinando as prateleiras. "Uma corda resistente e um frasco de óleo."
O comerciante pegou uma corda enrolada, grossa e trançada com firmeza, e um pequeno frasco de vidro cheio de um líquido âmbar. "Corda, três moedas de prata. Óleo, duas. Bom para fogo, esse óleo — queima forte."
Aiden pensou no conselho de Oloorin sobre o fogo contra os mortos-vivos e assentiu. "Levo os dois," disse, entregando as moedas com um leve aperto no peito ao ver seu pequeno tesouro diminuir.
Com os suprimentos na mochila, ele seguiu pelas ruas, onde encontrou outros aventureiros. Um homem corpulento, com uma armadura de couro surrada, deu-lhe um tapa amigável nas costas. "Mortos-vivos, hein? Cuidado, garoto. Mantém a cabeça no lugar e não te deixa cercar," disse, a voz grave carregada de experiência.
Aiden agradeceu com um aceno, as palavras ecoando em sua mente enquanto ele caminhava até as margens de um canal que cortava a cidade. A água fluía preguiçosa, refletindo o céu que se tingia de roxo com o pôr do sol, e ele sentou-se na borda de pedra, os pés pendurados sobre o vazio. Ali, sozinho com o sussurro da correnteza, deixou os pensamentos vagarem.
Ele viu Elara em sua mente — o cabelo dourado voando enquanto corriam pelos campos da fazenda, o riso dela enchendo o ar como música. A lembrança do ataque dos bandidos cortou como uma lâmina: os gritos dela, o fogo consumindo o lar, sua impotência enquanto a levavam. Ele era jovem, inexperiente, mas o amor por elas era uma força maior que o medo, uma chama que queimava através das dúvidas e o impulsionava adiante.
O sol caiu, e Aiden retornou ao "Dragão Dorminhoco". Ele revisou seus suprimentos à luz de uma vela em seu quarto simples — a foice afiada, a corda, o óleo, as poucas moedas restantes —, e afiou a lâmina uma última vez, o som do metal contra a pedra um mantra de preparação. Deitou-se na cama, o colchão rangendo sob seu peso, e deixou o burburinho da taverna abaixo levá-lo a um sono inquieto, os sonhos entremeados por visões de sombras sem rosto e o chamado distante de Elara.
A manhã seguinte amanheceu com um sol pálido, seus raios tímidos cortando a bruma que cobria a cidade como um véu leve. Aiden acordou antes do canto dos galos, o ar fresco mordendo sua pele enquanto vestia a cota de malha e prendia a foice às costas. Após um café rápido — pão seco e uma tigela de mingau —, ele deixou a taverna e tomou a estrada que se afastava da cidade, os telhados de palha e pedra dando lugar a campos abertos e colinas suaves que se erguiam em camadas gentis contra o horizonte.
A jornada era um espetáculo de contrastes. A brisa fria soprava do norte, carregando o aroma de orvalho e flores silvestres, enquanto o céu se mantinha limpo, um azul pálido que prometia um dia claro. Os campos ao redor da estrada balançavam ao vento, o trigo dourado ondulando como um mar vivo, e as colinas erguiam-se em silêncio, suas encostas cobertas de ervas selvagens e rochas esparsas. Aiden caminhava com um passo firme, os olhos atentos ao caminho, a mochila batendo levemente contra suas costas.
Ao longo da estrada, encontrou sinais da vida que persistia além das muralhas. Um pastor guiava seu rebanho, as ovelhas balindo em um coro desajeitado enquanto o cajado do homem batia na terra seca. "Cuidado nas trilhas, rapaz," disse o pastor, a voz rouca cortando o ar. "Os ventos falam de sombras inquietas." Aiden agradeceu com um aceno, o aviso ecoando os conselhos de Oloorin.
Mais adiante, um corvo solitário pousou em um poste quebrado, seu grasnido melancólico enchendo o silêncio. As penas negras reluziam ao sol, e os olhos do pássaro o seguiram enquanto passava, como se carregassem um presságio que ele não podia decifrar. Aiden apertou o passo, o som dos cascos de um cavalo ao longe misturando-se ao canto distante de um pássaro que ele não reconheceu — talvez um tordo, cujas notas tristes pareciam lamentar algo perdido.
A viagem consumiu metade do dia, o sol subindo ao zênite e aquecendo o ar enquanto Aiden se aproximava da fazenda. Os sinais de devastação começaram a emergir como feridas na paisagem. Cercas de madeira, outrora orgulhosas, jaziam quebradas, suas estacas espalhadas pelo chão como ossos de uma fera caída, algumas cravadas na terra como lanças partidas. As plantações, que deveriam brilhar com o verde da vida, estavam pisoteadas, os talos de milho dobrados e quebrados, a terra revirada em um caos silencioso que parecia gritar sua ruína. O celeiro ao longe erguia-se como uma sombra torta, o telhado afundado, as portas pendendo em dobradiças tortas.
Uma quietude anormal pairava no ar, um silêncio que pesava mais que o vento que sussurrava entre os destroços. Não havia canto de pássaros, nem zumbido de insetos — apenas o lamento suave da brisa, carregando consigo o cheiro de terra úmida e algo mais sombrio, um leve toque de podridão que fez o estômago de Aiden se contrair.
Ele parou à entrada da fazenda, os pés firmes no chão revirado, os olhos fixos na desolação diante dele. A mochila parecia mais pesada agora, o peso da missão caindo sobre seus ombros juvenis como uma capa de chumbo, ele viu o celeiro em ruínas
Aiden segurou a foice com força, os dedos calejados apertando o cabo enquanto dava o primeiro passo adentro da devastação. A brisa soprou mais forte, agitando os cabelos castanhos sobre sua testa, e o sol pálido lançou sua sombra longa à frente, como um arauto de sua chegada. Diante dele, as trevas da fazenda aguardavam, mas sua determinação ardia como uma chama que não se apaga — um farol contra a noite que se aproximava, um juramento silencioso de que ele prevaleceria.
E assim, com o coração batendo em um ritmo de coragem e temor, Aiden enfrentou o limiar de seu maior desafio até então, as sombras da fazenda estendendo-se como mãos ansiosas para recebê-lo.