A Noite do Guardião

O zumbi avançou, um gemido gutural escapando de sua garganta podre, os braços esticados em direção a Aiden como se guiados por um instinto faminto. A luz trêmula da lareira projetava sombras grotescas nas paredes da sala, alongando a figura da criatura até que parecesse um monstro saído das histórias de terror que Elara contava nas noites frias da fazenda. A pele cinzenta pendia em farrapos, revelando tendões secos e ossos amarelados, e os olhos — buracos negros e vazios — fixavam-se em Aiden com uma intensidade que gelava o sangue. O cheiro fétido de carne em decomposição encheu o ar, tão forte que ele sentiu a bile subir à garganta, mas engoliu em seco, os dedos apertando o cabo da foice com força.

Aiden plantou os pés no chão, o coração batendo como um tambor em seu peito. Ele precisava agir rápido. As palavras de Oloorin ecoaram em sua mente: "Mira a cabeça, garoto — um golpe certeiro no crânio ou uma decapitação os manda de volta ao repouso eterno." Inspirando fundo, ele tentou canalizar a energia que sentia pulsar dentro de si, aquela força sombria que havia começado a despertar desde que se tornara um aventureiro. "Ceifadora das Sombras!" gritou, a voz cortando o silêncio opressivo da sala. Por um instante, a lâmina da foice brilhou com uma aura negra, mas a energia vacilou, dissipando-se no ar como fumaça ao vento. A habilidade falhou, e o pânico começou a rastejar por seu peito como uma cobra gelada.

O zumbi estava a poucos passos agora, os dedos retorcidos quase roçando seu rosto. Aiden ergueu a foice com ambas as mãos, mirando a cabeça da criatura, mas o nervosismo fez seus braços tremerem. Ele hesitou por uma fração de segundo, o peso da responsabilidade — proteger Mara e Lia — travando seus movimentos. Quando finalmente desferiu o golpe, a lâmina desceu em um arco desajeitado, acertando o ombro do zumbi em vez do crânio. A foice cortou profundamente a carne podre, arrancando um jato de líquido escuro e viscoso que respingou no chão, mas a criatura apenas cambaleou para o lado, sem demonstrar dor ou fraqueza. O gemido gutural tornou-se mais alto, como se o ataque o tivesse enfurecido.

Aiden recuou, o coração disparado, mas tropeçou em um pedaço de madeira quebrada entre os destroços da sala. Ele caiu de costas com um baque surdo, a foice escorregando de suas mãos e deslizando para longe, fora de alcance. O zumbi aproveitou a abertura, avançando com uma lentidão implacável, as garras podres esticadas em sua direção. Desesperado, Aiden rolou para o lado, sentindo o ar deslocado quando as unhas afiadas passaram a centímetros de seu rosto. A manobra o salvou por pouco, mas não sem custo: as garras rasgaram a manga de sua camisa, deixando um arranhão profundo em seu braço esquerdo. A dor lancinante o fez gritar, um som que ecoou pela casa e arrancou um soluço abafado de Lia no andar de cima.

Ele se levantou rapidamente, ignorando o sangue quente que escorria pelo braço, e correu para pegar a foice. Seus dedos fecharam-se ao redor do cabo no instante em que o zumbi virou-se para ele novamente, os olhos vazios brilhando à luz da lareira. Aiden girou o corpo com um esforço sobre-humano, desferindo um golpe horizontal na direção do pescoço da criatura. Desta vez, a lâmina encontrou seu alvo. A cabeça podre foi arrancada com um som úmido e nauseante, rolando pelo chão como uma bola grotesca, os olhos ainda abertos em uma expressão congelada. O corpo desabou em seguida, inerte, uma pilha de carne e ossos que não se moveria novamente.

Aiden ficou parado por um instante, ofegante, o peito subindo e descendo em respirações rápidas e irregulares. O alívio o inundou, mas foi breve. Um estalo seco de galhos quebrando veio de fora, seguido por gemidos adicionais que cortaram a noite como facas. Ele virou-se para a porta quebrada, o coração afundando ao perceber que mais zumbis estavam se aproximando. A barricada, já fragilizada pelo primeiro ataque, não resistiria por muito tempo. Ele precisava agir.

Correndo para a entrada, Aiden tentou empilhar mais destroços — uma cadeira quebrada, tábuas soltas do chão — contra a porta, mas antes que pudesse terminar, outro zumbi apareceu no vão, arrastando-se sobre os restos da barricada. A criatura era ainda mais grotesca que a primeira, com metade do rosto desfigurado, a mandíbula pendendo em um ângulo impossível. Aiden praguejou baixinho e voltou à luta, erguendo a foice mais uma vez.

Ele tentou a "Ceifadora das Sombras" novamente, gritando o nome da habilidade com toda a força de sua vontade, mas a aura negra apenas tremeluziu antes de desaparecer. Sem escolha, ele confiou na força bruta, mirando a cabeça do zumbi com mais cuidado. Após dois golpes desajeitados que acertaram o peito e o ombro da criatura, ele finalmente conseguiu alinhar a lâmina corretamente. A decapitação veio com um corte limpo, e o segundo zumbi caiu, o corpo desmoronando em um monte fétido.

Mas a noite estava apenas começando. Enquanto Aiden recuperava o fôlego, novos sons ecoaram ao redor da casa — batidas nas janelas barricadas, mais gemidos vindo de diferentes direções. Ele correu para uma das janelas, pregando outra tábua solta com o martelo que encontrara mais cedo, mas os golpes das criaturas do lado de fora faziam a madeira tremer. O cansaço já pesava em seus ombros, os músculos gritando em protesto, e o arranhão em seu braço ardia como fogo. Ainda assim, ele ouvia os gritos abafados de Mara e Lia acima, e isso o mantinha em movimento.

A batalha se estendeu por horas, uma dança exaustiva de luta e defesa. A cada zumbi que ele derrubava, outro parecia surgir das sombras, forçando-o a alternar entre o combate e o reforço das entradas. Em um momento, ele derrubou um armário pesado contra a porta principal, apenas para ser surpreendido por um zumbi que quebrou uma janela lateral, as garras rasgando as tábuas como papel. Aiden enfrentou a criatura com a foice, mas tropeçou em uma cadeira quebrada, levando uma pancada no ombro que o deixou tonto por alguns segundos. Ele se recuperou a tempo de decapitar o zumbi, mas o esforço o deixou ofegante, o suor escorrendo por sua testa e misturando-se ao sangue em seu braço.

A escuridão da noite tornava-se mais densa, a vela sobre a mesa consumindo-se lentamente até restar apenas um toco, sua luz fraca mal alcançando as paredes. Aiden sentia o peso do cansaço como uma corrente amarrada aos seus tornozelos, mas a determinação queimava em seu peito. Ele pensava em Elara, nos cabelos dourados dela voando enquanto corriam pelos campos da fazenda, e em Liana, tossindo na cama enquanto ele prometia voltar. Essas memórias o ancoravam, impedindo-o de sucumbir ao medo.

Em um momento de desespero, quando dois zumbis invadiram a sala ao mesmo tempo, Aiden se lembrou do conselho de Oloorin sobre o fogo. Ele correu para a lareira, pegando um pedaço de madeira em chamas, e o jogou contra um dos zumbis. O fogo pegou na roupa rasgada da criatura, e ela começou a queimar, os gemidos transformando-se em urros de agonia enquanto cambaleava para trás. Inspirado, ele pegou o frasco de óleo que havia espalhado mais cedo e jogou o restante no chão, acendendo-o com outro pedaço de lenha. Uma barreira de chamas se ergueu, bloqueando temporariamente a entrada e incinerando o segundo zumbi que tentava avançar.

O alívio, porém, foi fugaz. Outros zumbis contornaram o fogo, forçando as janelas laterais até que as tábuas cedessem. Aiden enfrentou-os com a foice, tentando a "Ceifadora das Sombras" mais uma vez. Em um instante de puro desespero, encurralado contra a parede com uma criatura a poucos centímetros de seu pescoço, ele gritou o nome da habilidade. A lâmina brilhou com uma aura negra intensa, cortando o rosto do zumbi ao meio em um golpe instável, mas eficaz. Ele caiu de joelhos, ofegante, sentindo que começava a entender a energia que corria em suas veias.

A noite parecia interminável, um ciclo de ataques e defesas que testava cada fibra de seu ser. Ele derrubava móveis para bloquear os zumbis, usava o fogo como arma, e aos poucos refinava seu uso da "Ceifadora das Sombras". Em um momento, ele pensou em Liana dizendo "Você é mais forte do que pensa, meu menino," e canalizou essa determinação em vez da raiva. A habilidade respondeu com mais força, permitindo-lhe decapitar um zumbi com um golpe quase perfeito.

Perto do amanhecer, a batalha alcançou seu clímax. Quatro zumbis invadiram a sala simultaneamente, suas figuras grotescas cercando Aiden em um semicírculo de morte. Ele estava exausto, os músculos tremendo, a respiração saindo em golfadas roucas. Os ferimentos — o arranhão no braço, a contusão no ombro — pulsavam com uma dor que ele mal conseguia ignorar. Os zumbis avançavam lentamente, as bocas abertas em gemidos famintos, e por um instante, ele sentiu o peso do desespero.

Ele concentrou toda sua energia na "Ceifadora das Sombras", visualizando a determinação que o trouxera até ali. "Ceifadora das Sombras!" gritou, e a lâmina brilhou com uma luz negra mais forte que nunca. Com um golpe amplo, ele decapitou dois zumbis de uma vez, as cabeças rolando pelo chão em um arco sangrento. Avançando contra os outros dois, ele cortou suas pernas com a foice, derrubando-os, e terminou o trabalho com golpes precisos na cabeça.

O esforço foi imenso. Aiden caiu de joelhos, a foice cravada no chão ao seu lado, o peito arfando enquanto tentava recuperar o fôlego. A casa ficou em silêncio, exceto pelo crepitar da lareira e o som de sua própria respiração. Ele se levantou com dificuldade, os membros pesados como chumbo, e subiu as escadas rangentes para verificar Mara e Lia.

No quarto do andar de cima, ele as encontrou encolhidas em um canto, os olhos arregalados de medo, mas ilesas. Mara segurava Lia contra o peito, as lágrimas escorrendo pelo rosto enquanto olhava para ele. "Está tudo bem agora," disse Aiden, a voz rouca de cansaço. "Eles se foram. Vocês estão seguras."

Mara o encarou com gratidão, a voz trêmula enquanto sussurrava: "Obrigada, Aiden. Você salvou nossas vidas."

Ele sorriu fracamente, o alívio misturado à exaustão, e desceu as escadas novamente. Sentou-se em uma cadeira quebrada na sala, os primeiros raios do amanhecer entrando pelas frestas das janelas barricadas. A luz suave banhou o ambiente, trazendo um calor reconfortante que contrastava com a escuridão da noite. Aiden fechou os olhos por um momento, sentindo a vitória árdua que conquistara. Ele havia protegido Mara e Lia, provando a si mesmo que podia enfrentar as sombras.

Mas enquanto o sol subia no horizonte, ele sabia que o perigo ainda não havia acabado. Joren, o marido de Mara, ainda estava desaparecido, levado para a floresta pelos zumbis. Aiden abriu os olhos, o olhar fixo na linha escura das árvores ao longe. Ele havia vencido aquela noite, mas a jornada estava longe de terminar. Por ora, permitiu-se um instante de descanso, o corpo exausto, mas o espírito fortalecido pela batalha que acabara de enfrentar.