A trilha que levava à cidade era longa e sinuosa, cortando colinas e florestas esparsas. No início, o calor do meio-dia ainda dominava, mas à medida que as horas passavam, o sol descia lentamente no horizonte, e o ar ficava mais frio. O vento, que antes era apenas uma brisa suave, agora soprava com mais força, balançando os galhos das árvores e trazendo aquele cheiro úmido e terroso que parecia impregnar tudo ao seu redor. Thomas caminhava com passos firmes, mas sua mente estava inquieta. Ele pensava em Aiden, nas marcas escuras em seu braço, e na promessa silenciosa que fizera de encontrar uma forma de ajudá-lo.
Conforme o dia avançava para o entardecer, as sombras das árvores se alongavam, e o céu ganhava tons de laranja e roxo. Thomas acelerou o passo, sabendo que a noite estava próxima e que ele precisava chegar à cidade antes que a escuridão tomasse conta completamente. O som de seus passos ecoava na trilha silenciosa, acompanhado apenas pelo sussurro do vento entre as folhas. Ele segurava o saco de lona com mais força, como se as ferramentas fossem um escudo contra os perigos que poderiam espreitar nas sombras.
"Eu deveria ter estado lá", pensou, chutando uma pedra solta no caminho. O som do impacto ecoou na trilha silenciosa. "Eu não sou como ele. Não sei lutar, não sei enfrentar monstros. Mas... e se eu pudesse mudar isso?" Ele esfregou a nuca, um hábito nervoso que surgia quando se sentia inadequado. Uma solução que não e de todo ruim assim, vai ser seguir o que o Aiden comentou, "Não vai ser de todo ruim me inscrever na guilda".
A jornada de volta à cidade foi longa e cansativa. A escuridão caiu rapidamente, e Thomas teve que confiar na luz fraca da lua para guiar seus passos. O caminho de terra se estreitava, ladeado por árvores cujos galhos pareciam mãos esqueléticas estendendo-se para o céu. O vento sussurrava entre as folhas, e o som de seus próprios passos parecia alto demais no silêncio da noite. Ele apertou o saco de lona com mais força, como se as ferramentas dentro pudessem protegê-lo de qualquer coisa escondida nas sombras — um lobo, um bandido, ou pior, outro zumbi como os que atacaram o chalé. Seus ombros doíam do trabalho do dia, e o cansaço pesava em suas pernas, mas ele não parava. Aiden precisava dele, mesmo que fosse apenas para voltar com ajuda.
Quando finalmente avistou as luzes da cidade à distância, o alívio o inundou. As muralhas de pedra se erguiam contra o horizonte, tochas acesas nas torres de vigia, e o portão principal estava semiaberto, guardado por dois sentinelas que o reconheceram e acenaram para que entrasse. "Tarde pra estar na estrada, hein, Thomas?" disse um deles, a voz rouca mas amigável. Thomas apenas assentiu, tímido demais para responder, e passou pelo portão, os ombros relaxando ao sentir a segurança das ruas pavimentadas sob seus pés.
A cidade estava tranquila àquela hora, as lojas fechadas e as ruas quase vazias, exceto por alguns transeuntes apressados e um gato que cruzou seu caminho, os olhos brilhando na penumbra. Ele seguiu em direção a uma taverna "O Repouso do Viajante". Era uma taverna pequena, com uma placa de madeira desgastada balançando ao vento, e o cheiro de ensopado e cerveja escapava pelas janelas entreabertas.
Thomas empurrou a porta, que rangeu nas dobradiças, e entrou. O interior era quente e acolhedor, apesar da rusticidade. Uma lareira crepitava no canto, lançando sombras dançantes nas paredes de pedra, e o cheiro rico de carne cozida misturava-se ao aroma azedo da cerveja derramada. Mesas de madeira gastas estavam espalhadas pelo salão, algumas ocupadas por clientes: um grupo de comerciantes conversava em voz baixa, um velho solitário bebia em silêncio num canto, e uma mulher de capa escura observava tudo com olhos atentos. Atrás do balcão, um taverneiro corpulento limpava um caneco com um pano surrado, o rosto marcado por rugas e uma barba grisalha.
Thomas hesitou na entrada, sentindo-se deslocado. Ele não era um aventureiro, não ainda, e a timidez o fez querer dar meia-volta. Mas o cansaço venceu, e ele se aproximou do balcão, esfregando a nuca enquanto falava. "Er… oi. Eu preciso de um quarto pra noite," disse, a voz vacilante.
O taverneiro ergueu uma sobrancelha, avaliando-o de cima a baixo. "Primeira vez aqui, rapaz? Não te conheço."
"Sim, senhor. Eu… eu sou de fora, mas vou ficar na cidade. Só preciso de um lugar pra dormir."
O taverneiro assentiu, pegando uma chave de um gancho atrás do balcão. "Cinco cobres pela noite. O jantar tá incluído, se quiser."
Thomas vasculhou o bolso, encontrando as moedas e entregando-as com uma mão trêmula. "Obrigado," murmurou, pegando a chave. Ele se sentou em uma mesa vazia, o saco de lona aos pés, e pediu uma tigela de ensopado. O cheiro quente de legumes e carne o fez perceber o quanto estava faminto. Enquanto comia, observava os outros clientes discretamente, ouvindo fragmentos de conversas. Os comerciantes falavam sobre rotas de comércio interrompidas por ataques de bandidos, o velho resmungava sobre o clima, e a mulher de capa escura permanecia em silêncio, os olhos fixos em um pergaminho que segurava.
Thomas terminou a refeição rapidamente, o cansaço pesando em seus ombros. Ele subiu as escadas até o quarto, um espaço simples com uma cama estreita, uma mesa de cabeceira e uma janela que dava para a rua. Trancou a porta, deitou-se na cama sem nem tirar as botas e fechou os olhos. Mas o sono não veio facilmente. Sua mente estava agitada, pensando em Aiden, em Mara e Lia, em Lyra e sua história horrível. E, acima de tudo, na decisão que ele estava prestes a tomar. "Eu vou me inscrever na guilda amanhã", pensou, o coração batendo um pouco mais rápido. "Vou me tornar um aventureiro!".
Na manhã seguinte, Thomas acordou com os primeiros raios de sol entrando pela janela. Ele se levantou, lavou o rosto em uma bacia de água fria e desceu para o salão da taverna, onde o taverneiro já servia pão fresco e mingau para os poucos hóspedes. Comeu rapidamente, pagou mais uma moeda pelo café da manhã e saiu para a rua.
A cidade estava mais movimentada agora, com comerciantes abrindo suas lojas, crianças correndo pelas ruas e o som de martelos e serras ecoando das oficinas. Thomas seguiu em direção à guilda, o coração apertado de nervosismo. Ele nunca estivera lá antes, apenas ouvira falar do prédio imponente no centro da cidade, com paredes de pedra cinza e uma grande porta de carvalho adornada com o símbolo de uma espada cruzada com um cajado.
Empurrou a porta e entrou, os olhos arregalados ao ver o interior movimentado. O salão principal era amplo, com um teto alto sustentado por vigas de madeira, e as paredes estavam cobertas por placas de missões — pergaminhos pregados com descrições de tarefas, recompensas e ranks necessários. Aventureiros de todos os tipos circulavam pelo espaço: guerreiros musculosos com armaduras reluzentes, magos com robes bordados, arqueiros com arcos nas costas e até alguns ladinos furtivos que pareciam desaparecer nas sombras. O ar estava carregado com o cheiro de couro, metal e um leve toque de algo que Thomas não identificava — talvez magia.
No centro do salão, atrás de um balcão de madeira polida, estava a recepcionista. Era uma jovem de cabelos ruivos presos em um coque, com olhos verdes penetrantes e um sorriso profissional no rosto. Ela conversava com um aventureiro, anotando algo em um livro de registros, antes de olhar para Thomas, que se aproximava hesitantemente.
"Olá, bem-vindo à Guilda dos Aventureiros," disse ela, a voz clara e acolhedora. "Como posso ajudá-lo?"
Thomas engoliu em seco, esfregando a nuca. "Er… oi. Eu… eu quero me inscrever como aventureiro."
A recepcionista ergueu uma sobrancelha, avaliando-o. "Entendo. Você tem alguma experiência prévia? Alguma habilidade especial?"
Ele balançou a cabeça, o rosto corando. "Não, senhora. Eu sou bom com ferramentas, conserto coisas. Eu sou um ferreiro, sou forte, posso carregar peso, trabalhar duro. Mas não sei lutar, não ainda."
Ela sorriu gentilmente, pegando um formulário de pergaminho e uma pena. "Não se preocupe, todos começam de algum lugar. A guilda aceita aventureiros de todos os níveis. Vamos começar com seu nome."
"Thomas," disse ele, aliviado por ela não tê-lo dispensado imediatamente.
"Ótimo, Thomas. Agora, a guilda opera com um sistema de ranks, de F a S, com F sendo o nível inicial. Cada rank tem acesso a missões de dificuldade correspondente. Para aventureiros de rank F, as missões são simples, mas importantes para a comunidade — coisas como coletar ervas, entregar mensagens, ajudar fazendeiros com problemas menores. À medida que você completa missões e ganha experiência, pode subir de rank e aceitar tarefas mais desafiadoras."
Thomas assentiu, absorvendo a informação. "Entendi. Eu gostaria de começar com algo simples, pra aprender."
A recepcionista anotou algo no formulário e olhou para as placas de missões atrás dela. "Vamos ver… temos uma missão de rank F disponível: coletar ervas medicinais nas colinas próximas para o boticário da cidade. Ele precisa de dez maços de erva-cidreira. É uma tarefa tranquila, mas requer atenção para identificar as plantas corretas. Você acha que pode fazer isso?"
Thomas hesitou por um momento, mas então assentiu com determinação. "Sim, eu posso. Eu conheço um pouco sobre plantas, minha mãe me ensinou."
"Perfeito," disse ela, entregando-lhe um pequeno pergaminho com a descrição da missão. "Leve isto ao boticário quando completar a coleta. Ele assinará confirmando a entrega, e você receberá sua recompensa aqui na guilda."
Thomas pegou o pergaminho com cuidado, como se fosse um tesouro. "Obrigado, senhora. Eu… eu vou fazer o meu melhor."
Ela sorriu novamente, um toque de humor nos olhos. "Tenho certeza que sim, Thomas. E não se preocupe, todos os aventureiros começam assim. Boa sorte!"
Ele agradeceu mais uma vez e saiu da guilda, o coração batendo forte de excitação e nervosismo. Ele tinha uma missão — sua primeira missão como aventureiro. Era algo pequeno, mas era um começo. Pensou em Aiden, imaginando o amigo sorrindo e dando um tapinha em seu ombro, orgulhoso dele por dar esse passo. Imaginando Elara e no que esta passando e com raiva de não ter conseguido fazer nada. Com o pergaminho seguro no bolso, Thomas seguiu em direção às colinas, pronto para provar seu valor e, quem sabe, se tornar o herói que ele sempre admirou em Aiden.