Thomas acordou com um sobressalto, o coração batendo rápido no peito enquanto os primeiros raios de luz se infiltravam pelas frestas da janela do quarto simples na taverna "O Repouso do Viajante". Ele piscou, esfregando os olhos com as costas da mão, ainda sentindo o peso do sono misturado à excitação que o fizera rolar na cama a noite toda. Hoje era o dia. Levantou-se com um movimento rápido, as tábuas do chão rangendo sob suas botas gastas, e vestiu a túnica surrada que cheirava a suor e poeira de estrada. No canto do quarto, pegou suas duas espadas curtas — lâminas simples, forjadas por ele mesmo em dias mais tranquilos na forja de seu pai, o metal frio e familiar nas mãos calejadas. Ele as prendeu ao cinto de couro, sentindo o peso delas balançar contra suas coxas, e respirou fundo. "Vamos lá, Thomas," murmurou para si mesmo, a voz rouca de quem mal dormira.
Desceu as escadas da taverna em passos apressados, o cheiro de pão fresco e mingau subindo do salão vazio. O taverneiro, com sua barba grisalha e olhos sonolentos, apenas acenou enquanto limpava o balcão. Thomas deixou uma moeda sobre a madeira gasta e saiu para a rua, o ar fresco da manhã batendo em seu rosto. A cidade ainda acordava, os sons de portas abrindo e carroças rangendo ecoando ao longe, mas ele não parou para observar. Seus pés o levaram direto à Guilda dos Aventureiros, o prédio de pedra cinza erguendo-se imponente no centro da praça como um guardião silencioso.
Ao empurrar a porta de carvalho, o barulho do salão o envolveu — conversas altas, o tilintar de armaduras, o farfalhar de pergaminhos sendo desenrolados. Ele hesitou por um instante, os ombros encolhendo enquanto seus olhos castanhos percorriam o espaço lotado. Aventureiros de todos os tipos cruzavam o salão, mas ele se fixou no balcão, onde a recepcionista de cabelos ruivos o cumprimentou com um sorriso caloroso. "Bom dia, Thomas," disse ela, a voz clara cortando o ruído. "Veio para a missão, presumo?"
"Sim, senhora," respondeu ele, esfregando a nuca com um gesto nervoso. "Tô pronto… acho."
Ela riu suavemente, os olhos verdes brilhando com um toque de encorajamento. "Você vai se sair bem. Venha, vou te apresentar ao grupo." Ela contornou o balcão e o guiou até um canto do salão, onde três figuras conversavam animadamente em torno de uma mesa redonda de madeira marcada por cortes e manchas de cerveja. Thomas sentiu o estômago revirar, mas endireitou os ombros, tentando parecer mais confiante do que se sentia.
A recepcionista parou ao lado da mesa e pigarreou para chamar a atenção do trio. "Gareth, Lyanna, Mira, este é Thomas, o quarto membro para a missão dos goblins. Ele é Rank F, mas está ansioso para ajudar." Ela deu um passo atrás, deixando Thomas exposto aos olhares curiosos dos três.
Ele engoliu em seco, as mãos suadas apertando o cinto. "Oi, eu sou Thomas," começou, a voz saindo baixa. "Nunca lutei em grupo antes, mas tenho duas espadas curtas e espero ajudar no que for preciso." Tentou sorrir, mas o resultado foi um canto de boca torto que o fez parecer desajeitado.
O primeiro a responder foi um homem robusto, de ombros largos e cabelo castanho-escuro curto, que se levantou com um rangido da cadeira. Carregava um escudo grande preso às costas, o metal riscado, e uma espada longa pendia em sua bainha. "Eu sou Gareth," disse, a voz grave com um toque de confiança hesitante. "Uso meu escudo pra me proteger e minha espada pra atacar. Nunca lutei em grupo, mas já afugentei uns lobos na minha vila. Não se preocupa, a gente descobre como fazer isso juntos." Ele deu um tapa leve no ombro de Thomas, quase o desequilibrando, e riu.
Uma jovem de pele clara e cabelos pretos presos em um rabo de cavalo se inclinou sobre a mesa, os olhos castanhos brilhando com energia. Vestia um manto azul escuro com runas simples bordadas, e segurava uma varinha fina que emitia um brilho fraco. "Eu sou Lyanna, maga de fogo," disse, o tom rápido e animado. "Minha varinha lança feitiços à distância — bolas de fogo, na maior parte. Já queimei uns ratos no sótão da minha avó, mas nada como isso. Vamos te ajudar no que precisar." Ela apontou a varinha para Thomas como brincadeira, mas logo baixou o braço com um sorriso.
Por fim, uma mulher de feições suaves e cabelos castanhos claros em uma trança frouxa ergueu os olhos de um livro sagrado. Seu vestido cinza simples tinha um cordão com um símbolo de luz na cintura, e sua calma parecia palpável. "Eu sou Mira, cleriga da Deusa da Luz," falou, a voz baixa e gentil. "Curo ferimentos e dou bênçãos. Só usei minha magia em cortes de fazenda, mas estamos no mesmo barco." Ela ofereceu um sorriso sereno, e Thomas sentiu a tensão diminuir um pouco.
A recepcionista interveio. "Os detalhes da missão estão com Lyanna, que será a líder. Vou deixar vocês conversarem." Com um aceno, ela voltou ao balcão.
Lyanna bateu com a varinha na mesa. "Certo, vamos ao plano. A missão é eliminar um acampamento de goblins que tá atacando caravanas além da floresta. Não sabemos quantos são, mas os relatos falam de uma dúzia, talvez. A ideia é explorar a área primeiro, pegar qualquer goblin solitário em silêncio pra não alertar os outros, e depois atacar o acampamento. Alguma sugestão?"
Gareth cruzou os braços, o escudo tilintando. "Eu fico na frente. Já corri atrás de lobos, então se encontrarmos um goblin sozinho, posso tentar derrubá-lo com o escudo. Thomas, você vem atrás e acerta ele se eu errar."
Thomas assentiu, o coração acelerando. "Tá bom. Eu tento acertar."
Mira ergueu a mão, calma mas firme. "Fico atrás, observando. Posso curar cortes pequenos no caminho e guardar energia pras lutas grandes. Lyanna, você cobre a distância com feitiços?"
"Sim," respondeu Lyanna, tamborilando os dedos na varinha. "Se virmos um grupo pequeno, lanço uma bola de fogo pra assustar eles. Thomas, não se preocupa se errar. Nenhum de nós sabe o que tá fazendo direito, vamos aprender juntos."
Thomas sentiu o rosto esquentar, mas o apoio deles o tranquilizou. "Obrigado. Só quero ajudar… e não atrapalhar."
Gareth riu, batendo na mesa. "Você não vai atrapalhar. Vamos te ensinar na estrada. Pega suas coisas, saímos em dez minutos!"
O grupo deixou a guilda e seguiu pela estrada de terra que cortava os campos. O som das botas de Gareth ecoava pesado, enquanto Lyanna caminhava ao lado, girando a varinha entre os dedos. Mira seguia atrás, o livro contra o peito, e Thomas fechava a marcha, as espadas batendo contra suas pernas. O cheiro de terra seca e capim subia do chão, misturado ao leve aroma de metal da armadura de Gareth.
Eles mal entraram na floresta quando gritos agudos cortaram o ar, seguidos pelo clangor de metal. Gareth ergueu a mão, e o grupo se agachou atrás de um arbusto. À frente, quatro goblins atacavam uma caravana. Três, pequenos e encurvados, com pele verde-acinzentada e olhos amarelos, brandiam cimitarras curvas, cercando dois mercadores contra uma carroça tombada. O quarto, mais ao fundo, segurava um arco curto, disparando flechas contra um guarda com um escudo quebrado. O cheiro de sangue e madeira queimada pairava, vindo de uma fogueira improvisada dos goblins.
Mira tomou a frente, os olhos analisando a cena. "Temos que agir rápido," sussurrou. "Lyanna, tenta acertar o arqueiro com sua magia. Gareth, vai na frente e segura os das cimitarras. Thomas, fica atrás do Gareth e ataca se der. Eu fico atrás, curando quem se ferir."
Lyanna assentiu, erguendo a varinha. "Deixa comigo." Gareth sacou a espada com um rangido, o escudo à frente. "Vamos lá, Thomas, fica comigo!" Thomas engoliu em seco, as mãos suadas nas espadas, e seguiu, o coração disparado.
O combate explodiu. Lyanna apontou a varinha para o arqueiro, murmurando palavras trêmulas. Uma bola de fogo voou, mas errou por metros, acertando o chão e levantando poeira. O goblin virou-se, surpreso, e ela xingou. "Droga!" Ajustou a mira e lançou outro feitiço, acertando em cheio. As chamas envolveram o goblin, que caiu gritando, o arco escorregando das mãos queimadas.
Gareth avançou, o escudo bloqueando o primeiro golpe de uma cimitarra. O impacto o fez recuar, e ele respondeu com um golpe desajeitado que cortou o ombro de um goblin, o sangue verde espirrando. Outro veio pelo lado, a lâmina mirando sua perna. Gareth grunhiu ao sentir o corte, o sangue escorrendo, e cambaleou. "Malditos!" rosnou, girando o escudo sem precisão.
Thomas hesitou atrás, o cheiro de sangue e fumaça enchendo suas narinas, os gritos dos goblins perfurando seus ouvidos. Ele viu Gareth lutar contra dois e congelou. Mas um goblin se distraiu, virando-se para os mercadores, e Thomas viu a chance. Com um grito rouco, avançou, a espada direita cortando o ar. Acertou o goblin na lateral, rasgando a pele, e a criatura caiu com um guincho. O impacto sacudiu seu braço, e ele quase deixou a espada cair.
O terceiro goblin virou-se para Thomas com um rosnado, a cimitarra vindo rápido. Thomas ergueu a segunda espada por instinto, mas o golpe foi forte, deslizando pela lâmina e arranhando seu antebraço. Ele gritou, o sangue quente escorrendo, e recuou, tropeçando. "Gareth!" chamou, o pânico subindo.
"Segura aí!" Gareth girou, acertando o goblin com o escudo. O impacto o lançou contra a carroça, ossos quebrando. Mas o esforço abriu sua guarda, e o segundo goblin cravou a cimitarra em sua coxa. Ele caiu de joelhos, o rosto contorcido.
Mira ergueu as mãos, o símbolo brilhando. "Que a luz cure!" entoou, trêmula. Uma aura envolveu Gareth, o sangramento diminuindo, e ele se levantou com um grunhido. "Valeu, Mira!" Ela correu até Thomas, o toque aliviando o arranhão. "Fique firme," disse, a voz hesitante.
Lyanna lançou outra bola de fogo, mirando o goblin que atacava Gareth. Errou por pouco, incendiando um arbusto, mas o calor o desorientou. Gareth aproveitou e o derrubou com a espada, o sangue verde manchando a terra.
O silêncio caiu, quebrado pelos gemidos dos mercadores e a respiração pesada do grupo. Gareth limpou a espada na grama, apoiando-se no escudo. Thomas guardou as espadas, as mãos trêmulas olhando o corte. Lyanna baixou a varinha, o brilho diminuindo, e Mira ajudou os viajantes, curando cortes leves.
O grupo ajudou os mercadores a levantar a carroça, o cheiro de sangue ainda no ar. Um viajante, de barba rala, apertou a mão de Gareth. "Vocês salvaram a gente. Levem isso." Entregou um saco de moedas, o tilintar soando como uma recompensa.
Eles se afastaram para uma clareira, o chão coberto de musgo, o som de um riacho trazendo paz. Sentaram-se em círculo, as armas ao lado, e refletiram enquanto o suor secava.
Gareth esfregou a coxa. "Eu não vi o flanco. Deixei me pegarem duas vezes. Thomas, você foi bem, mas fica mais perto do escudo da próxima vez."
Thomas assentiu, envergonhado. "Eu travei… quase levei um golpe feio. Obrigado, Mira."
Mira sorriu. "Demorei pra curar. Deveria ter sido mais rápida. Mas sobrevivemos."
Lyanna riu. "Meu primeiro feitiço? Um desastre! Preciso mirar melhor, mas peguei o arqueiro."
Eles riram, o som ecoando. Thomas pensou em Aiden, imaginando-o enfrentando zumbis. "Tô mais perto de te ajudar," pensou, os olhos nas chamas que Gareth acendia.
O grupo acampou na clareira. Gareth jogou lenha na fogueira, o crepitar enchendo o ar com cheiro de madeira queimada. Lyanna poliu a varinha, Mira abriu o livro, e Thomas desenrolou o saco de dormir. Trocaram histórias — Gareth sobre afugentar lobos, Lyanna sobre queimar ratos, Mira sobre curar cortes, e Thomas sobre Aiden e Elara.
"Vamos te ajudar a ficar forte," disse Gareth. Lyanna assentiu. "Eu posso te ensino algumas coisas também" Mira fechou o livro. "A luz guia os que têm propósito."
Planejaram explorar o acampamento goblin ao amanhecer. Thomas, deitado, olhou as estrelas, segurando a espada. "Vou ficar mais forte," pensou, a determinação queimando. A noite caiu, o silêncio os envolvendo, unidos por uma vitória desajeitada que marcava o início de sua jornada.