O Custo da Vitória

Gareth, o tank, foi o primeiro a reagir. Mesmo com o braço direito sangrando e a perna esquerda rígida pelo ferimento mal curado, ele ergueu o escudo com dificuldade, o metal riscado tremendo em suas mãos. Seu rosto estava pálido, mas seus olhos castanhos queimavam com determinação. "Fiquem atrás de mim!" gritou, a voz rouca de cansaço, mas firme como uma rocha. Ele avançou um passo, posicionando-se entre o Hobgoblin e seus companheiros, o escudo à frente como uma barreira frágil contra a tempestade que se aproximava.

Lyanna, a maga, agarrou sua varinha com mãos trêmulas, os dedos traçando as runas enquanto murmurava palavras mágicas quase inaudíveis. Seu rosto estava tenso, os olhos castanhos arregalados de medo e exaustão, o suor escorrendo pela testa após o esforço contra os goblins. "Eu vou tentar enfraquecê-lo," disse, a voz falhando, mas ela não recuou. Uma faísca alaranjada brilhou na ponta da varinha, o calor se espalhando pelo ar úmido da cabana como uma promessa débil.

Mira, a cleriga, segurou seu livro sagrado contra o peito, os lábios movendo-se em uma oração silenciosa à Deusa da Luz. Seus olhos azuis estavam cheios de preocupação, o rosto pálido refletindo o peso da batalha anterior, mas ela se forçou a manter a calma. "Que a luz nos proteja," sussurrou, erguendo a mão para conjurar uma bênção. Uma aura suave envolveu o grupo, mas era fraca, quase imperceptível — suas energias estavam no limite.

Thomas, o novato, apertou suas espadas curtas com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. Seu coração batia descontroladamente, o som pulsando em seus ouvidos como tambores de guerra. O ombro ferido ardia, o sangue seco grudando na túnica rasgada, mas ele não podia desistir. Olhou para o menino nos seus braços, o garoto tremendo com os olhos arregalados de terror, e soube que precisava protegê-lo.

O Hobgoblin não esperou. Com um grunhido gutural, avançou, os passos pesados fazendo as tábuas do chão rangerem. A clava subiu em um arco brutal, o ar sibilando com a força do movimento. Gareth se preparou, o escudo à frente, mas o impacto foi devastador. O metal dobrou com um estrondo, e Gareth foi arremessado para trás, batendo contra a parede da cabana com um baque surdo que fez a madeira estalar. Ele grunhiu, os ossos protestando, o braço tremendo enquanto se levantava, a adrenalina mascarando a dor.

Lyanna aproveitou o momento e lançou uma bola de fogo. A esfera flamejante cortou o ar, o calor intenso distorcendo o ambiente, e acertou o peito do Hobgoblin. As chamas explodiram contra a armadura de couro, o cheiro de carne queimada subindo em uma nuvem nauseante, mas o monstro apenas rosnou, o fogo parecendo mais irritá-lo do que feri-lo. Seus olhos vermelhos se fixaram em Lyanna com uma intensidade assassina, e ele avançou em sua direção, a clava erguida para um golpe mortal.

Mira correu até Gareth, suas mãos brilhando com uma luz fraca enquanto tentava curar seus ferimentos. "Aguente firme!" disse, a voz trêmula. A luz envolveu o tank, fechando parcialmente os cortes, mas não foi suficiente para reparar o impacto brutal. Gareth se levantou, o rosto contorcido, e brandiu a espada com um grito rouco, mirando o flanco do Hobgoblin. A lâmina cortou a armadura, mas mal arranhou a pele grossa, o metal tilintando inutilmente.

Thomas, vendo Lyanna em perigo, colocou o menino no chão com cuidado, sussurrando: "Fique aqui!" Ele correu para interceptar o Hobgoblin, gritando: "Por aqui!" O monstro hesitou por um instante, os olhos se voltando para Thomas, e girou a clava em um arco lateral. Thomas tentou se esquivar, mas o golpe o acertou de raspão no ombro já ferido, o impacto o jogando contra uma pilha de peles podres. A dor explodiu em seu corpo, o gosto de sangue na boca, mas ele se levantou, as espadas tremendo em suas mãos.

Lyanna, aproveitando a distração, conjurou outra bola de fogo, mirando o rosto do Hobgoblin. O feitiço voou com precisão, explodindo contra sua cabeça em uma onda de calor que fez Thomas recuar. O Hobgoblin rugiu, as chamas lambendo sua pele, mas ele não parou. Com um movimento rápido, agarrou Lyanna pelo braço, sua mão enorme quase esmagando os ossos dela. Ela gritou, a varinha caindo enquanto tentava se libertar, o som de seu desespero ecoando na cabana.

"Lyanna!" berrou Gareth, correndo em direção ao monstro. Ele golpeou com a espada, mirando o braço que segurava a maga, mas o Hobgoblin mal pareceu notar. Com um movimento brusco, soltou Lyanna e girou a clava, acertando Gareth no peito. O som de ossos quebrando ressoou, um estalo horrível que fez o ar parar, e Gareth foi arremessado contra a parede novamente. Desta vez, o impacto foi devastador — o Hobgoblin avançou, agarrando-o pelo pescoço com uma mão, os dedos se fechando como um torno. Gareth lutou, chutando e socando, mas seus olhos começaram a apagar. Com um rugido, o Hobgoblin o ergueu como uma boneca de pano e o jogou contra a madeira com força brutal. A parede rachou, e Gareth caiu, o corpo imóvel, o sangue escorrendo da boca em um fio vermelho que manchava o chão.

Mira, que tentava alcançar Gareth, congelou de horror. "Não!" gritou, as lágrimas escorrendo enquanto suas mãos brilhavam inutilmente. Thomas, levantando-se com dificuldade, sentiu o desespero tomar conta. O Hobgoblin virou-se para Lyanna, que ainda lutava, o braço torcido em um ângulo grotesco. Com a mão livre, ela conjurou uma última bola de fogo, o feitiço explodindo no peito do monstro em uma onda de chamas que iluminou a cabana. Ele cambaleou, a armadura fumegando, mas respondeu com fúria. A clava desceu em um golpe rápido, esmagando a cabeça de Lyanna com um som horrível de ossos e carne sendo pulverizados. O sangue espirrou, quente e viscoso, e seu corpo caiu inerte, a varinha rolando para longe.

Thomas e Mira gritaram ao mesmo tempo, o horror os paralisando por um instante. O menino, encolhido no canto, começou a chorar baixinho, o som cortando o ar como uma faca. O Hobgoblin, os olhos vermelhos fixos nos sobreviventes, avançou novamente, a clava pingando sangue enquanto arrastava pelo chão. Thomas sabia que não podiam vencer — estavam exaustos, feridos, e o inimigo era implacável. Ele correu até o menino, pegando-o nos braços, e gritou para Mira: "Corra! Pegue o garoto e fuja! Eu vou atrasá-lo!"

Mira hesitou, os olhos cheios de lágrimas, mas correu até Thomas, ajudando-o a segurar o menino. "Vamos juntos!" disse ela, a voz trêmula mas decidida. Thomas assentiu, o coração acelerado, e eles dispararam para a saída da cabana, o Hobgoblin rugindo atrás deles. O monstro avançou, a clava erguida, mas Thomas se esquivou por pouco, o golpe acertando o chão e levantando lascas de madeira que voaram como estilhaços.

Eles correram para a floresta, o ar gelado queimando seus pulmões, os galhos chicoteando seus rostos enquanto tropeçavam entre as árvores. Thomas carregava o menino, o peso do garoto em seus braços tornando cada passo uma agonia, as pernas tremendo de exaustão. Mira lutava para acompanhá-los, a respiração ofegante, o vestido cinza rasgando nos espinhos. O Hobgoblin os perseguia, os passos pesados fazendo a terra tremer, a clava destruindo arbustos e troncos em seu caminho. O cheiro de terra úmida e folhas podres enchia o ar, misturado ao suor e ao medo que escorria deles.

"Não olhe pra trás!" gritou Thomas, a voz rouca enquanto corria, os músculos queimando. O menino agarrava sua túnica, as lágrimas molhando o tecido, e Thomas sentia o coração apertar com cada soluço. Ele sabia que não podiam parar — o Hobgoblin estava perto, o som de sua respiração gutural cada vez mais alto, como um predador prestes a alcançar sua presa.

Eles chegaram a um riacho, a água gelada encharcando suas botas enquanto atravessavam, o frio mordendo suas pernas. Thomas olhou para Mira, ofegante: "Vamos atravessar! Talvez ele perca nosso rastro!" Eles cruzaram, a correnteza puxando suas roupas, mas o Hobgoblin hesitou na margem, farejando o ar com um grunhido. Por um instante, Thomas achou que tinham uma chance, mas o monstro cruzou também, a água espirrando ao redor de suas pernas musculosas.

"Não vai funcionar!" gritou Mira, parando de repente. Ela se virou, erguendo as mãos, o rosto pálido mas determinado. "Thomas, continue com o menino! Vou atrasá-lo!" Antes que ele pudesse protestar, ela conjurou uma barreira de luz, um brilho intenso que surgiu entre eles e o Hobgoblin, tremendo no ar como uma parede frágil.

"Não, Mira!" gritou Thomas, mas ela já estava focada, os braços tremendo com o esforço. O Hobgoblin bateu na barreira com a clava, o impacto fazendo-a rachar, o som ecoando como vidro quebrando. Thomas não podia parar — ele correu, o menino agarrado a ele, as lágrimas do garoto molhando seu pescoço. Ouviu a barreira se estilhaçar e o rugido furioso do Hobgoblin, mas não olhou para trás. Seus pulmões queimavam, as pernas quase cedendo, o medo e a adrenalina o impulsionando enquanto atravessava a floresta.

Ele correu até alcançar uma clareira, caindo de joelhos na grama, o menino ainda em seus braços. O silêncio da floresta o envolveu, quebrado apenas por sua respiração ofegante e o choro baixo do garoto. Thomas olhou ao redor, o coração apertado, mas não viu sinal de Mira ou do Hobgoblin. Ele esperou, os minutos se arrastando, o som do vento nas árvores como um lamento. Ela não apareceu.

Com o peito pesado, ele abraçou o menino, tentando confortá-lo. "Está tudo bem," sussurrou, embora sua voz tremesse. Ele não sabia se Mira escapara ou fora pega — a incerteza o corroía, mas ele precisava levar o garoto em segurança.

Eles caminhavam de volta pela floresta, mais devagar agora, os passos arrastados pelo peso do cansaço e da tristeza que carregavam. O sol começava a se pôr no horizonte, tingindo o céu de um vermelho profundo, quase como se a natureza refletisse o sangue e a violência que haviam deixado para trás. As sombras das árvores se estendiam, longas e escuras, enquanto o silêncio entre Thomas e o menino era quebrado apenas pelo estalar das folhas secas sob seus pés e pelo canto distante de um pássaro noturno. Thomas segurava a mão pequena e trêmula do garoto, sentindo o calor fraco que ainda emanava dele, um sinal de vida em meio ao caos que haviam enfrentado.

Quando chegaram à guilda, a noite já havia caído completamente. As luzes da cidade brilhavam ao longe, pontinhos dourados contra a escuridão, mas dentro da guilda o clima era mais tranquilo. O salão principal, geralmente barulhento com risadas e conversas animadas, estava quase vazio, com apenas alguns aventureiros sussurrando em um canto. Thomas empurrou a pesada porta de carvalho, o rangido ecoando no espaço silencioso, e seus olhos imediatamente procuraram a recepcionista ruiva que sempre o atendia. Ele estava acostumado ao sorriso caloroso dela e à maneira como ela o recebia, mas, para sua surpresa, o balcão estava ocupado por uma jovem diferente.

A nova recepcionista tinha cabelos castanhos presos em um coque apertado, óculos redondos brilhando à luz das velas que iluminavam o ambiente. Ela ergueu o olhar do livro de registros à sua frente e cumprimentou-os com uma voz profissional, mas tingida de curiosidade ao notar o estado deplorável de Thomas e do menino.

"Boa noite," disse ela, ajustando os óculos. "Em que posso ajudar?"

Thomas hesitou por um momento, esfregando a nuca com a mão livre enquanto tentava organizar os pensamentos. "Eu... eu estava procurando pela outra recepcionista, a ruiva. Ela sempre me atende."

A jovem sorriu levemente, um gesto educado que não escondia sua análise do homem à sua frente. "Ah, você deve estar falando da Elisa. Ela está de folga hoje, aproveitando o festival na cidade. Eu sou Clara, estou cobrindo o turno dela. Posso ajudar no que você precisar."

Thomas assentiu, ainda assimilando a ausência de Elisa, mas o peso da situação logo o trouxe de volta ao presente. Ele baixou os olhos para o menino, que se agarrava à sua perna como se temesse soltá-lo, e depois olhou novamente para Clara. "Nós... nós voltamos de uma missão. A missão dos goblins. Mas as coisas deram errado. Muito errado."

Clara franziu a testa, pegando um pergaminho e uma pena com movimentos rápidos. "Entendo. Pode me contar mais? Quem estava no grupo com você?"

Thomas respirou fundo, a voz falhando enquanto os nomes saíam de sua boca. "Era eu, Gareth, Lyanna e Mira. Nós conseguimos eliminar os goblins, mas havia um Hobgoblin... ele era mais forte do que esperávamos. Gareth e Lyanna... eles não sobreviveram." Ele engoliu em seco, lutando contra as lágrimas que ameaçavam cair. "Mira ficou para trás, segurando ele pra que eu pudesse fugir com o menino que encontramos lá."

Clara anotava tudo com atenção, os olhos arregalados de preocupação. "Sinto muito pela sua perda. E o menino, ele está bem?"

Thomas olhou para o garoto, que tremia levemente, os olhos arregalados e vazios, ainda em choque. "Ele está machucado, mas vivo. Precisa de cuidados. Eu também, acho," acrescentou, tocando o ombro ferido, onde a dor latejava insistentemente.

Clara assentiu com firmeza, levantando-se do balcão. "Vou chamar alguém para cuidar dele. Temos uma enfermaria aqui na guilda. Venha comigo, vou levá-los até lá para que possam tratar suas feridas."

Eles seguiram Clara por um corredor lateral, o som de seus passos ecoando nas paredes de pedra fria. A enfermaria era um espaço amplo e bem iluminado, com várias camas separadas por cortinas brancas. O ar cheirava a ervas medicinais e antissépticos, um aroma que trazia uma estranha sensação de alívio. Um curandeiro de meia-idade, vestindo uma túnica verde e um avental manchado, aproximou-se assim que os viu.

"Mais um grupo voltando em pedaços," murmurou ele, avaliando Thomas e o menino com um olhar experiente. "Sente-se ali," disse, apontando para uma cama vazia. "Vou cuidar do garoto primeiro."

Thomas ajudou o menino a se sentar, sentindo a mãozinha dele apertar a sua com força antes de soltá-la relutantemente. O curandeiro começou a examinar os hematomas e cortes no corpo do garoto, aplicando pomadas de cheiro forte e murmurando palavras suaves para acalmá-lo. Thomas observava em silêncio, o coração apertado, mas aliviado por ver que o menino estava finalmente em segurança.

Enquanto isso, Clara voltou com um formulário em mãos. "Thomas, preciso que você preencha o relatório da missão. É procedimento padrão, especialmente com perdas no grupo."

Ele pegou a pena com a mão trêmula, começando a escrever os detalhes da batalha da melhor forma que conseguia. Enquanto ele trabalhava, Clara perguntou: "E o menino? Sabe de onde ele veio?"

Thomas balançou a cabeça. "Não sei. Estava preso numa gaiola no acampamento dos goblins. Não disse uma palavra desde que o tiramos de lá."

Clara olhou para o garoto, agora deitado na cama, os olhos fechados enquanto o curandeiro terminava os cuidados. "Vamos tentar encontrar a família dele, se ele tiver uma. Caso contrário, a guilda tem um programa para órfãos de missões ou vítimas como ele. Ele ficará bem aqui."

Thomas assentiu, sentindo um pequeno alívio. "Obrigado."

O curandeiro terminou com o menino e se aproximou de Thomas. "Sua vez," disse, limpando o corte no ombro com um pano úmido antes de aplicar uma bandagem limpa. Ele entregou a Thomas uma poção de cor escura. "Beba isso, vai ajudar com a dor."

Thomas tomou a poção, o gosto amargo descendo pela garganta, mas o alívio veio quase instantaneamente. Ele olhou para o menino, agora dormindo na cama ao lado, e perguntou: "Ele vai ficar bem mesmo?"

Clara sorriu gentilmente. "Sim, ele está em boas mãos. E você também. Descanse agora, Thomas. Você fez o que pôde."

Exausto, Thomas deitou-se na cama, o corpo finalmente cedendo ao peso do dia. O cheiro calmante das ervas o envolveram, e ele fechou os olhos, esperando que o sono trouxesse algum conforto após tanta dor.