Luz na Escuridão

Thomas, ainda de joelhos ao lado dos túmulos recém-cavados de Gareth e Lyanna, sentiu o suor frio escorrer pela testa, misturando-se às lágrimas que ele havia enxugado momentos antes. Seu ombro ferido latejava sob a bandagem improvisada, o sangue seco endurecendo a túnica rasgada nos cotovelos e no peito, mas a dor física era um sussurro diante da determinação que ardia em seus olhos castanhos. Ele não podia hesitar agora — não diante dos amigos que acabara de honrar com flores silvestres, suas pétalas brancas e amarelas tremendo ao vento sobre a terra remexida. Com um esforço que fez seus músculos protestarem, ele se levantou, as espadas curtas tremendo em suas mãos calejadas enquanto assumia uma posição defensiva entre o monstro e os túmulos. O metal frio das lâminas parecia pulsar contra suas palmas, e o cheiro de terra úmida enchia suas narinas, misturado ao fedor que o Hobgoblin exsudava.

Oloorin, ao seu lado, permanecia uma figura de calma imperturbável, os olhos azuis penetrantes fixos na criatura que avançava. Alto e imponente, o mago apoiou o cajado no chão com um movimento deliberado, a madeira escura batendo na terra com um toc seco que ressoou na clareira silenciosa. As runas prateadas bordadas em suas vestes azul-escuras começaram a brilhar suavemente, como estrelas despertando na penumbra, refletindo a luz fraca do sol que mal atravessava o dossel de folhas. Seus cabelos grisalhos, presos em um rabo de cavalo, balançaram levemente com a brisa, e sua barba bem cuidada emoldurava um rosto que carregava décadas de sabedoria e batalhas. Com uma voz firme e serena, ele murmurou palavras antigas, o ar ao seu redor crepitando com energia mágica, um som sutil como o estalar de brasas em uma fogueira distante. Em sua mão direita, uma espada longa se materializou em um lampejo de luz etérea, a lâmina reluzindo com um brilho azulado, enquanto ele mantinha o cajado firme na esquerda.

Thomas lançou um olhar rápido ao mago, admirado e um pouco intimidado pela presença imponente que parecia preencher o espaço ao seu redor. Ele nunca vira alguém conjurar uma arma do nada com tamanha facilidade, e a confiança de Oloorin era quase palpável, uma âncora em meio à tempestade que se aproximava. O jovem aventureiro apertou ainda mais as espadas, os cabelos castanhos bagunçados caindo sobre a testa suada, enquanto tentava domar o tremor em suas pernas. Ele não podia falhar novamente — não diante de Oloorin, não diante dos túmulos que jurara proteger.

O Hobgoblin avançou sem hesitação, os passos pesados fazendo o chão tremer, a clava subindo em um arco brutal que cortou o ar com um silvo ameaçador. Oloorin não recuou; em vez disso, ergueu o cajado com um movimento fluido, e uma barreira de luz azulada se formou à sua frente, tremeluzindo como uma cortina de água sob o sol. O impacto da clava contra a magia foi ensurdecedor, um estrondo que reverberou pelas árvores e lançou faíscas dançantes no ar, o cheiro de ozônio queimando as narinas de Thomas. A barreira resistiu, sólida como pedra, e o Hobgoblin grunhiu, um som gutural e selvagem que ecoou como o rosnado de um animal encurralado.

Com um giro elegante da espada longa, Oloorin avançou, a lâmina traçando um arco perfeito que cortou o ar com precisão. O Hobgoblin tentou se esquivar, mas era lento diante de Oloorin, uma montanha de músculos brutos contra a agilidade refinada do mago. A espada acertou seu flanco, rasgando a armadura de couro reforçada como se fosse papel, e um jorro de sangue escuro manchou a terra, o cheiro se intensificando. O monstro rugiu, girando a clava em um ataque desajeitado que buscava a cabeça de Oloorin, mas o mago se abaixou com uma graça quase dançante, o golpe passando rente aos seus cabelos grisalhos, o vento do movimento agitando as runas brilhantes de suas vestes.

Thomas observava, os olhos arregalados, incapaz de se mover enquanto protegia os túmulos. Ele queria ajudar, mas algo na postura de Oloorin o deteve — uma autoridade silenciosa que dizia que aquele combate pertencia ao mago. "Fique onde está," ordenou Oloorin, a voz calma mas carregada de comando, enquanto girava o cajado em um movimento amplo. Um feixe de luz azul disparou da ponta da madeira, envolvendo o Hobgoblin em uma rede crepitante que estalava como trovões em miniatura. O monstro se debateu, os músculos se contraindo contra as amarras mágicas, mas elas o seguravam com firmeza, apertando-se como cordas vivas.

Oloorin avançou novamente, a espada longa brilhando em sua mão direita enquanto o cajado pulsava com energia na esquerda. Ele era uma visão de poder controlado, cada movimento calculado, cada golpe uma demonstração de superioridade esmagadora. A lâmina cortou o ar mais uma vez, atingindo o ombro do Hobgoblin com um som úmido de carne sendo rasgada. O monstro cambaleou, os olhos vermelhos faiscando com uma mistura de raiva e confusão, mas não havia escapatória. Oloorin entoou outro encantamento, as palavras ressoando como um cântico antigo, e o chão sob os pés do Hobgoblin tremeu. Raízes de luz mágica brotaram da terra, envolvendo as pernas da criatura e prendendo-a no lugar, o som de madeira estalando misturado ao grunhido desesperado do monstro.

Com um último movimento, Oloorin ergueu o cajado e apontou para o céu. Um raio de energia pura caiu sobre o Hobgoblin, uma coluna de luz branca que iluminou a clareira como um relâmpago silencioso. O monstro rugiu pela última vez, o som abafado pelo crepitar da magia, antes de ser consumido pela força avassaladora. Quando a luz se dissipou, restava apenas um monte fumegante de carne carbonizada e armadura derretida, o cheiro acre de queimado dominando o ar enquanto cinzas flutuavam lentamente ao chão.

O silêncio voltou à clareira, pesado e carregado, quebrado apenas pela respiração ofegante de Thomas. Oloorin embainhou a espada mágica, que desapareceu em um lampejo de luz, e apoiou o cajado no ombro, os olhos fixos no que restava do Hobgoblin. "Ele não era páreo para mim," disse, a voz serena mas com um toque de reflexão. "Mas sua presença aqui, sozinho, é um mistério."

Thomas, ainda segurando as espadas, baixou os braços lentamente, o tremor em suas mãos começando a ceder. "Obrigado, Oloorin," murmurou, a voz rouca de emoção. "Eu... eu não teria conseguido enfrentá-lo."

O mago virou-se para ele, um leve sorriso curvando os lábios sob a barba grisalha. "Você tem coragem, Thomas. Isso é mais do que muitos podem dizer. Mas precisamos entender por que ele voltou. Vamos verificar o acampamento."

Eles começaram a vasculhar os destroços, os pés esmagando cinzas e restos de tendas queimadas enquanto o vento sussurrava entre as árvores. Thomas sentia o peso da exaustão em cada passo, as botas encharcadas de lama e sangue rangendo contra o chão. Ele vasculhou os arredores da cabana maior, os olhos castanhos atentos a qualquer sinal de Mira, sua cleriga perdida. A incerteza sobre o destino dela o corroía, uma ferida mais profunda que os cortes em sua pele. Foi então que algo chamou sua atenção perto de um arbusto retorcido, quase escondido entre os galhos espinhosos.

Não era um pedaço óbvio de tecido, como ele esperava — não havia nenhum fragmento do vestido cinza de Mira à vista. Em vez disso, ele encontrou uma pequena pilha de pedras, dispostas em um círculo perfeito, algo que a natureza não faria sozinha. No centro, uma marca na terra seca parecia ter sido desenhada com um dedo trêmulo — uma runa simples, um símbolo que ele reconheceu das lições rudimentares de Mira sobre magia sagrada. Era uma runa de proteção, sutil mas inconfundível, o traço irregular sugerindo pressa ou fraqueza.

"Oloorin!" chamou Thomas, a voz carregada de urgência enquanto se abaixava para tocar a runa com os dedos calejados. A terra estava fria, mas a descoberta aqueceu seu peito com uma chama de esperança.

O mago se aproximou, os olhos azuis semicerrados enquanto examinava o achado. "Uma runa de proteção," murmurou, a voz baixa mas cheia de interesse. "Mira deve ter feito isso. Ela estava viva o suficiente para deixar um sinal, talvez como um aviso ou uma mensagem."

Thomas sentiu o coração acelerar, os cabelos bagunçados caindo sobre os olhos enquanto olhava para Oloorin. "Você acha que ela escapou?"

"É possível," respondeu o mago, cauteloso mas com um brilho de otimismo nos olhos. "Clérigas como ela têm recursos além do que vemos. Ela pode ter usado sua magia para se esconder ou fugir. Isso não é obra de alguém derrotado."

Thomas assentiu, agarrando-se àquela possibilidade como um náufrago a um pedaço de madeira. Ele imaginou Mira, ferida mas determinada, traçando a runa com as últimas forças antes de desaparecer na floresta. "Então ela pode estar por aí, sozinha," disse, a voz tremendo com uma mistura de alívio e preocupação.

Oloorin colocou a mão em seu ombro, o gesto firme e reconfortante através do tecido rasgado da túnica de Thomas. "Vamos manter a esperança, garoto. Mas agora precisamos descansar. Não podemos procurá-la exaustos como estamos."

Eles decidiram se afastar do acampamento destruído, caminhando pela floresta até encontrar uma pequena clareira cercada por árvores altas, o som do vento nas folhas criando um sussurro quase reconfortante. Oloorin ergueu o cajado, as runas prateadas em suas vestes brilhando mais uma vez, e com um gesto simples conjurou um acampamento mágico. Uma tenda espaçosa surgiu do nada, o tecido azul ondulando como se tecido por mãos invisíveis, acompanhada por uma fogueira crepitante que se acendeu sozinha, as chamas dançando em tons de laranja e dourado. Um baú pequeno apareceu ao lado, junto com cobertores e suprimentos básicos, o ar enchendo-se com o cheiro quente de madeira queimada.

Thomas observava, boquiaberto, a magia se desdobrando diante de seus olhos castanhos. A tenda era grande o suficiente para abrigá-los confortavelmente, e a fogueira lançava sombras tremeluzentes que dançavam nas árvores ao redor. "Como você fez isso?" perguntou, a curiosidade superando o cansaço que pesava em seus ombros feridos.

Oloorin sorriu, sentando-se em um tronco próximo à fogueira, o cajado apoiado ao seu lado. "É uma habilidade que adquiri com muito esforço e anos de estudo," respondeu, a voz calma carregada de um tom quase nostálgico. "Consigo armazenar itens em um espaço dimensional — um bolso mágico, se preferir — e invocá-los quando necessário. É útil para viagens longas e situações como esta."

Thomas se juntou a ele, sentindo o calor das chamas aquecer seu rosto e aliviar a tensão em seus músculos doloridos. Ele largou as espadas na grama, o metal tilintando suavemente, e esfregou as mãos calejadas, ainda sujas de terra e sangue seco. "Isso é incrível," disse, os olhos brilhando com admiração. "Eu gostaria de aprender algo assim um dia."

O mago riu baixinho, um som grave que ecoou na clareira. "Talvez você aprenda, Thomas, com tempo e dedicação. Mas por agora, vamos descansar e conversar. Você passou por muito hoje."

Eles compartilharam uma refeição simples que Oloorin conjurou do baú — pão fresco, queijo duro e uma sopa quente que fumegava em tigelas de madeira. O aroma salgado da comida misturava-se ao cheiro da fogueira, criando uma sensação de conforto que Thomas não sentia desde antes da missão fatídica. Enquanto comiam, Oloorin começou a contar histórias de suas aventuras passadas, a voz fluida e envolvente como um rio tranquilo.

"Uma vez, fui enviado para recuperar um amuleto encantado numa ruína abandonada nas terras baixas de Eldren," disse Oloorin, os olhos azuis brilhando à luz das chamas enquanto gesticulava com a mão livre. "O lugar estava cheio de armadilhas mágicas e habitado por aranhas gigantes. Usei minha magia para desarmar os mecanismos e enfrentei as criaturas com minha espada e alguns feitiços bem colocados. Não foi fácil, mas consegui trazer o amuleto de volta para o cliente da guilda."

Thomas ouvia, fascinado, a colher parada a meio caminho da boca. "E como você sabia o que fazer com as armadilhas?" perguntou, curioso.

"Estudei um pouco de magia e mecânica antes da missão," respondeu Oloorin com um leve sorriso. "Mas, na hora, precisei confiar nos meus instintos. O truque é estar preparado e agir rápido quando o perigo aparece."

Thomas assentiu, impressionado, e tomou um gole da sopa antes de perguntar: "Você já fez outras missões assim?"

"Sim," continuou Oloorin, inclinando-se para frente. "Outra vez, a guilda me mandou negociar com uma tribo de orcs que estava em conflito com uma vila élfica por causa de um riacho nas colinas de Veldar. Os orcs queriam o controle da água, e os elfos não cediam. Passei dias ouvindo os dois lados, investigando o terreno e até eliminei um grupo de kobolds que estava piorando a tensão. No final, sugeri uma partilha do riacho e consegui a paz — pelo menos por um tempo."

"Isso parece difícil," disse Thomas, os olhos arregalados. "E se eles não tivessem aceitado?"

"Então eu teria que lutar ou fugir," admitiu Oloorin, rindo baixo. "Diplomacia é um risco, mas vale a pena quando funciona. Combater é sempre o último recurso para mim."

Thomas baixou a tigela, pensativo. "E você já enfrentou coisas mais... perigosas?"

Oloorin fez uma pausa, o olhar fixo nas chamas por um instante. "Certa vez, enfrentei um pequeno elemental de terra que estava destruindo campos perto de uma vila," disse ele. "A guilda me contratou para rastrear a origem — um portal instável numa caverna. Usei magia para selar o portal e lutei contra o elemental com feitiços de contenção e minha espada. Não foi uma batalha épica, mas exigiu cuidado. Elementais menores são traiçoeiros."

"Você parece calmo contando isso," observou Thomas, admirado. "Como você fica tão tranquilo?"

"Prática," respondeu Oloorin, com um sorriso sábio. "E aprendi que o medo só atrapalha se você deixar ele te dominar. Coragem é agir mesmo estando com medo — algo que você já mostrou ter, Thomas."

Thomas corou levemente com o elogio, sentindo um calor que não vinha só da fogueira. "Obrigado," murmurou. "Eu quero aprender mais. Ser forte como você."

"Você vai," disse Oloorin, o tom firme e encorajador. "Cada missão, cada erro, cada vitória — tudo isso te molda. Eu comecei como você, inseguro e com muito a provar. O importante é não desistir."

Eles continuaram conversando enquanto a noite avançava, o crepitar da fogueira e o sussurro do vento nas árvores criando uma atmosfera acolhedora. Thomas fez mais perguntas — como Oloorin decidia entre usar magia ou combate, como ele lidava com o fracasso. O mago respondia com paciência, misturando conselhos práticos com histórias que ilustravam suas lições.

Quando o fogo reduziu-se a brasas, Thomas sentiu o cansaço pesar nos olhos. Ele se levantou, as botas rangendo no chão, e olhou para Oloorin. "Obrigado por me contar tudo isso," disse, sincero. "Me dá esperança."

Oloorin assentiu, erguendo-se com o cajado em mãos. "Descanse, Thomas. Amanhã seguimos sua jornada. Você não está sozinho."