O crepitar da fogueira era o único som que quebrava o silêncio da floresta enquanto a tarde se estendia sobre a clareira. As chamas dançavam em tons de laranja e dourado, lançando sombras tremeluzentes nas árvores altas que cercavam o acampamento conjurado por Oloorin. O ar carregava o cheiro quente de madeira queimada, misturado à umidade fria que subia do solo, e o vento sussurrava entre as folhas, um murmúrio quase reconfortante após o dia de caos e luto. Thomas descansava dentro da tenda, o corpo exausto finalmente cedendo ao peso da batalha contra o Hobgoblin e à dor que latejava em seu ombro ferido. Sua túnica rasgada, suja de terra e sangue seco, estava jogada ao lado, e suas espadas curtas repousavam na grama, o metal frio refletindo a luz fraca do fogo.
Oloorin, no entanto, permanecia acordado, sentado em um tronco próximo à fogueira. O mago de meia-idade parecia uma estátua de calma, os cabelos grisalhos presos em um rabo de cavalo balançando levemente com a brisa, a barba bem cuidada emoldurando um rosto pensativo. Seu manto azul-escuro, bordado com runas prateadas, brilhava sutilmente à luz das chamas, e o cajado repousava ao seu lado, a madeira escura cravada no chão como uma sentinela silenciosa. Ele olhava fixamente para o fogo, os olhos azuis profundos refletindo as labaredas, perdido em pensamentos que Thomas só podia imaginar.
O sol já estava alto quando Thomas despertou, o calor da tarde infiltrando-se pela tenda e trazendo consigo o aroma de terra úmida e folhas secas. Ele abriu os olhos devagar, o corpo ainda pesado de cansaço, e esfregou o ombro enfaixado, sentindo a dor pulsar sob a pele. Cada movimento era um lembrete da luta do dia anterior — o impacto da clava do Hobgoblin, o peso da culpa por Gareth e Lyanna, e a incerteza sobre Mira. Ele se levantou com esforço, vestindo a túnica rasgada que cheirava a suor e sangue, e saiu da tenda, piscando contra a luz do sol que filtrava pelas copas das árvores.
Oloorin ergueu o olhar das brasas quase extintas, um leve sorriso curvando os lábios. "Descansou bem, Thomas?" perguntou, a voz calma carregada de um tom gentil.
"O suficiente," respondeu Thomas, a voz rouca enquanto se aproximava da fogueira. Ele se sentou ao lado do mago, esfregando as mãos calejadas para afastar o frio que ainda sentia nos ossos. "Você ficou acordado?"
"Quase," disse Oloorin, com um aceno leve. "Passei o tempo pensando no passado. Revivendo lembranças, mas precisamos encontrar essa sua companheira, vamos?"
Thomas sentiu o coração acelerar com a menção da cleriga. A imagem da runa de proteção, traçada na terra com dedos trêmulos, voltou à sua mente, reacendendo a esperança que o sustentava. "Você acha que ela está viva?"
"Não sei ao certo," admitiu Oloorin, o tom cauteloso mas não desprovido de otimismo. "Mas ela deixou aquele sinal por um motivo. Vamos descobrir o que significa."
Eles desmontaram o acampamento com rapidez, os itens mágicos desaparecendo em um lampejo de luz etérea enquanto Oloorin guardava tudo em seu espaço dimensional. Thomas observava, fascinado, enquanto o mago manipulava a magia com a mesma facilidade com que outros respiravam. "Como você faz isso?" perguntou, incapaz de conter a curiosidade.
Oloorin riu baixinho, um som grave que ecoou na clareira. "É um truque que levei anos para dominar. A magia é como um músculo — você a exercita, e ela cresce. Talvez eu te ensine algo mais simples hoje."
Thomas sorriu, a perspectiva de aprender com o mago aquecendo seu peito. Eles começaram a caminhar pela floresta, seguindo a pista da runa. Oloorin usava sua magia para rastrear a energia residual do símbolo, os olhos semicerrados enquanto murmurava palavras antigas, o cajado pulsando com uma luz suave. Thomas seguia ao seu lado, as espadas embainhadas, os sentidos alertas para qualquer sinal de perigo. O ar estava fresco, o cheiro de terra úmida e musgo enchendo suas narinas, e o som de seus passos ecoava no chão coberto de folhas secas.
Após horas de caminhada, o sol já começando a descer no horizonte, eles chegaram a uma parte da floresta onde as árvores eram mais densas, os troncos retorcidos cobertos de vegetação espinhosa. Oloorin parou de repente, erguendo a mão para sinalizar a Thomas. "Aqui," disse, apontando para uma abertura quase invisível entre os arbustos. "A energia da runa termina ali."
Thomas empurrou os galhos espinhosos, revelando a entrada de uma caverna escondida. O cheiro de umidade e mofo escapava do interior, misturado a um aroma antigo que lembrava pergaminhos velhos e incenso queimado. Ele trocou um olhar com Oloorin, que assentiu, conjurando uma luz mágica na ponta do cajado para iluminar o caminho.
Eles adentraram a caverna, o som de seus passos ecoando nas paredes de pedra úmida. A luz de Oloorin revelava um espaço amplo, com estalactites pendendo do teto e poças de água refletindo o brilho tremeluzente. No centro, havia um altar de pedra coberto de poeira e teias de aranha, e ao redor, estantes improvisadas sustentavam pilhas de pergaminhos amarelados. Thomas se aproximou, os dedos tremendo enquanto pegava um deles, desenrolando o papel frágil para revelar linhas de texto em uma língua antiga.
"O que é isso?" perguntou, a voz carregada de curiosidade.
Oloorin se juntou a ele, examinando os pergaminhos com um olhar experiente. "São escritos de uma antiga seita," disse, a voz baixa e reverente. "Este lugar era um refúgio deles, abandonado há séculos, mas preservado pelo isolamento."
Eles começaram a ler os pergaminhos, as palavras pintando um quadro sombrio de rituais e sacrifícios. A seita acreditava em capturar pessoas para oferendas a uma entidade obscura, buscando poder e conhecimento proibido. Um dos textos mencionava a captura de uma cleriga para um ritual específico, e Thomas sentiu um calafrio percorrer sua espinha. "Pode ser Mira," disse, os olhos arregalados enquanto apontava para o pergaminho.
Oloorin assentiu, mas antes que pudesse responder, um ruído suave ecoou na caverna — o arrastar de pés na pedra. Eles se viraram, as armas em punho, e uma figura emergiu das sombras: um velho encurvado, vestindo trapos esfarrapados, os cabelos brancos desgrenhados caindo sobre os ombros. Seus olhos estavam cheios de medo e confusão, e ele ergueu as mãos trêmulas em um gesto de rendição.
"Por favor, não me machuquem," sussurrou, a voz rouca e fraca. "Eu só moro aqui. Não sei o que é isso tudo."
Oloorin baixou o cajado, mantendo a cautela. "Quem é você?" perguntou, a voz firme mas sem hostilidade.
"Eu sou Eldrin," respondeu o velho, os olhos fixos no chão. "Perdi tudo — minha família, minha casa — para os goblins há anos. Achei essa caverna e vim pra cá. Não entendo esses papéis. Só fico aqui porque não tenho pra onde ir."
Thomas sentiu um peso no peito ao ouvir a história do homem. Ele olhou para Oloorin, que assentiu levemente, indicando que não via ameaça. O velho parecia frágil, mais um sobrevivente do que alguém com segundas intenções.
"Você viu algo estranho por aqui?" perguntou Thomas, suavizando a voz para não assustar Eldrin. "Uma mulher, talvez, sendo levada por bandidos?"
Eldrin hesitou, os olhos arregalados. "Eu vi, sim. Uma mulher lutando, mas tinham muitos homens com ela. Levaram ela pra algum lugar ao norte. Não sei mais que isso."
Thomas sentiu o coração apertar, mas uma determinação feroz se acendeu dentro dele. "Temos que encontrá-la," disse, a voz firme.
"Precisamos de um plano," acrescentou Oloorin, colocando a mão no ombro de Thomas. "Eldrin, você sabe mais alguma coisa que possa nos ajudar?"
O velho balançou a cabeça, o medo evidente. "Não sei muito. Só que eles vão pro norte, perto do riacho. Às vezes vejo as luzes das fogueiras deles à noite. Mas eu fico aqui, quieto, pra não me acharem."
"Obrigado, Eldrin," disse Thomas, grato pela informação, ainda que limitada. "Fique em segurança."
Eles decidiram seguir a pista até o acampamento dos bandidos. A noite caiu enquanto caminhavam, o céu escurecendo em tons de azul profundo. Avistaram o acampamento à distância — uma fortaleza improvisada de tendas e paliçadas, tochas acesas iluminando sentinelas em patrulha.
Oloorin parou, os olhos semicerrados enquanto analisava a situação. "Vamos acampar aqui e observar durante a noite. Quero estudar os movimentos deles."
Thomas, ainda sentindo o peso dos ferimentos, assentiu. "Preciso descansar um pouco."
Oloorin conjurou o acampamento mágico novamente, a tenda surgindo com a fogueira crepitante. Thomas deitou-se, o calor das chamas aliviando sua dor, enquanto Oloorin ficou de vigília, os olhos fixos no acampamento dos bandidos, planejando o próximo passo sob o véu da noite.