A chegada em Eldenwood

O sol já estava alto quando o grupo de aventureiros avistou a vila de Eldenwood, após uma caminhada exaustiva de meio dia desde o acampamento dos bandidos. A floresta densa abria-se em uma clareira suave, revelando casas de madeira e pedra alinhadas ao redor de uma praça central, onde uma fonte antiga gorgolejava com água cristalina. O ar trazia o cheiro de lenha queimada e pão fresco, misturado ao aroma úmido das folhas que o vento agitava. Os aldeões pararam suas tarefas — uma mulher carregando um cesto de roupas, um homem consertando uma carroça — e os observaram com uma mistura de curiosidade e cautela.

Oloorin, o mago de manto azul-escuro, liderava o grupo, seus passos firmes apesar do cansaço visível em seus olhos azuis. Thomas seguia logo atrás, o ombro direito enfaixado, a camisa simples que Oloorin conjurara manchada de suor e poeira. Mira caminhava ao seu lado, os cabelos castanhos emaranhados caindo sobre o rosto pálido, os olhos verdes ainda carregados de uma sombra pensativa. Atrás deles vinham os aventureiros resgatados: Eron, o guerreiro loiro de pulsos feridos; Lila, a maga morena com o braço machucado; Marta, a mulher grisalha de mãos trêmulas; Finn, o arqueiro magro com costelas roxas; e Sienna, a clériga que mancava com o tornozelo torcido. Todos carregavam marcas da provação no acampamento, mas também um brilho de alívio por estarem livres.

Um homem alto, de barba grisalha e olhos penetrantes, aproximou-se deles na entrada da vila. Vestia uma túnica marrom simples, mas o cinto de couro com uma adaga embainhada sugeria autoridade. "Eu sou Garen, chefe de Eldenwood," disse, a voz grave e acolhedora ressoando na praça silenciosa. "O que os traz aqui em tal estado?"

Oloorin deu um passo à frente, o manto ondulando levemente com a brisa. "Somos aventureiros. Resgatamos estes prisioneiros de um acampamento de bandidos a meio dia de distância. Precisamos de descanso, comida e cuidados para os feridos."

Garen assentiu, os olhos percorrendo o grupo e notando os curativos improvisados e os rostos exaustos. "Venham ao salão comunitário. Lá poderemos conversar e providenciar o que precisam."

O salão era uma construção robusta de madeira, com vigas expostas no teto e uma lareira crepitante que aquecia o ambiente. Uma longa mesa de carvalho ocupava o centro, cercada por bancos rústicos, e o cheiro de ensopado de legumes pairava no ar, vindo de uma panela que borbulhava no fogo. Garen os conduziu para dentro, e o grupo se sentou com suspiros de alívio, os corpos finalmente cedendo ao peso da jornada.

Oloorin tomou a palavra, sentando-se à cabeceira da mesa enquanto Garen ocupava o lado oposto. "Os bandidos que encontramos não eram simples ladrões," começou o mago, a voz firme apesar do cansaço. "Eles falavam de um culto, algo maior que os guiava. O líder mencionou planos que não conseguimos desvendar antes de sua derrota."

Garen franziu a testa, esfregando a barba com uma mão calejada. "Um culto, você diz? Isso é preocupante." Ele fez uma pausa, os olhos se perdendo por um momento na dança das chamas na lareira. "Há um lugar aqui perto que pode ter relação com isso. Bem ao fundo da floresta, existe um templo antigo, abandonado há gerações. Os aldeões o evitam — dizem que é um lugar de sombras, envolto em lendas. Ninguém vai lá, mas talvez seja onde esse culto se esconde."

Thomas, que ouvia ao lado de Mira, inclinou-se para frente, o interesse brilhando em seus olhos castanhos. "Que tipo de templo? Você sabe mais sobre ele?"

Garen balançou a cabeça, os ombros largos relaxando enquanto se recostava no banco. "Pouco, garoto. É uma ruína de pedra, coberta de musgo e esquecimento. Alguns dizem que foi construído por um povo antigo que adorava forças além da nossa compreensão. Outros falam que é apenas um monte de pedras assombradas por histórias de velhas. Mas se há um culto por aí, aquele templo me parece um lugar onde eles poderiam se reunir."

Mira ergueu os olhos do tampo da mesa, onde suas mãos inquietas traçavam linhas imaginárias. "Um templo escondido na floresta... faz sentido," murmurou, mais para si mesma do que para os outros. "O líder dos bandidos disse algo sobre o culto não ser detido. Talvez esteja ligado a isso."

Oloorin assentiu, tamborilando os dedos no cajado apoiado ao seu lado. "Precisaremos investigar esse templo, mas não hoje. Primeiro, devemos nos recuperar."

Garen bateu na mesa com um sorriso firme. "Vocês terão o que precisam. Marta, nossa curandeira, cuidará dos feridos, e a taverna tem espaço para todos descansarem. Fiquem o quanto precisarem."

A taverna de Eldenwood era um prédio aconchegante de dois andares, com paredes de madeira envernizada e um telhado inclinado de palha. Hanna, a dona, uma mulher robusta de cabelos ruivos presos em um coque, recebeu o grupo com um aceno caloroso e pratos de ensopado fumegante. "Comam à vontade," disse, colocando uma cesta de pão fresco na mesa comprida onde se instalaram. "Vocês parecem ter atravessado o inferno."

Os aventureiros se reuniram em torno da mesa, o calor da comida e do fogo da lareira dissolvendo parte da tensão que carregavam. Eron, o guerreiro loiro, cutucou Thomas com um sorriso travesso enquanto pegava um pedaço de pão. "Então, ferreiro virou aventureiro, hein? Como foi que você caiu nessa vida?"

Thomas riu, esfregando a nuca com a mão boa. "Não sei se sou aventureiro ainda. Só vim atrás da Mira e acabei no meio disso tudo. Meu pai me ensinou a manejar um martelo, mas espadas são outra história."

Lila, a maga morena, que mexia seu ensopado com uma colher, olhou para Oloorin com curiosidade. "E você, mago? Aquela luz que você conjurou contra as sombras... nunca vi nada assim. Como aprendeu isso?"

Oloorin sorriu, os olhos brilhando com um toque de mistério. "Anos viajando por lugares esquecidos, Lila. Esse feitiço veio de um tomo que encontrei em uma ruína ao norte. Você tem potencial para magia, sabe? Talvez eu te ensine algo um dia."

Finn, o arqueiro magro, limpou a boca com a manga e inclinou-se para frente. "Tudo ótimo, mas e esse culto? Não podemos ficar parados enquanto eles tramam sei lá o quê."

Sienna, a clériga de tornozelo torcido, respondeu com calma, ajustando a perna sobre um banco. "Concordo, Finn, mas olhe para nós. Estamos vivos por pouco. Precisamos de tempo para nos curar antes de qualquer coisa."

Mira, que até então comia em silêncio, levantou a voz, hesitante. "O templo que Garen mencionou... pode ser o próximo passo. Mas temos que estar prontos."

Thomas virou-se para ela, notando o tom preocupado. "Vamos estar, Mira. Juntos, a gente dá um jeito."

A conversa fluiu entre risadas e histórias, o grupo se conectando aos poucos. Eron contou uma piada sobre um goblin atrapalhado que fez Finn quase engasgar com o ensopado, enquanto Marta, a grisalha, murmurava sobre os netos que esperava rever. Aos poucos, a taverna se tornou um refúgio, um lugar onde as cicatrizes do passado recente pareciam menos pesadas.

Mais tarde, quando a luz do dia começava a suavizar-se em tons alaranjados, Marta, a curandeira da vila, chegou à taverna. Era uma mulher pequena, mas de presença marcante, com cabelos brancos presos em uma trança apertada que caía sobre o ombro. Sua bolsa de couro surrada tilintava com frascos e ferramentas, e seus olhos azuis carregavam uma mistura de firmeza e ternura enquanto examinava o grupo. Ela passou a mão no avental, ajeitando-o com um gesto prático, antes de se aproximar de Thomas, que descansava em um banco perto da lareira.

"Vamos dar uma olhada nesse ombro," disse ela, a voz firme mas carregada de um calor maternal. Thomas assentiu, sentando-se mais reto enquanto ela desfazia o curativo improvisado. A ferida estava inflamada, a pele avermelhada ao redor de um corte profundo que ele ganhara no confronto com os bandidos. Marta franziu a testa, pegando um frasco de unguento da bolsa. "Isso vai arder um pouco," avisou, aplicando o cataplasma com mãos experientes. Thomas contraiu o rosto, os dentes cerrados enquanto o cheiro forte de ervas — alecrim e lavanda — enchia o ar, trazendo uma sensação estranhamente reconfortante.

"Você é forte," comentou Marta, enrolando uma bandagem limpa com movimentos precisos. "Mas esse braço precisa de repouso. Nada de esforços por pelo menos uma semana." Thomas sorriu, um tanto envergonhado. "Obrigado, Marta. Vou tentar," respondeu, relaxando enquanto ela terminava o curativo.

Ela seguiu para Eron, que estava recostado em um canto, os pulsos expostos mostrando marcas cruas de cordas. Marta se ajoelhou ao lado dele, limpando as feridas com um pano úmido, removendo cuidadosamente a sujeira incrustada. Eron estremeceu, os olhos fixos no teto, tentando ignorar a dor. "Como você se machucou assim?" perguntou ela, aplicando um unguento terroso que exalava um aroma de raízes.

"Fui capturado pelos bandidos," respondeu Eron, a voz rouca. "Tentaram me amarrar com cordas ásperas. Lutei, mas... não adiantou muito." Marta assentiu, os olhos suavizando com compreensão. "Você é corajoso. Isso vai cicatrizar bem, mas mantenha limpo," disse, finalizando com uma bandagem firme.

Lila foi a próxima, sentada com o braço apoiado na mesa. O corte profundo em sua pele morena estava inchado, e Marta trabalhou com delicadeza, limpando a ferida antes de pegar uma agulha fina e linha de seda. "Isso vai precisar de uns pontos," murmurou, mais para si mesma, enquanto costurava com precisão. Lila mordeu o lábio, mas não reclamou, observando o processo com curiosidade. "Você já fez isso muitas vezes, não é?" perguntou. Marta sorriu, sem desviar os olhos do trabalho. "Mais do que gostaria, querida."

Finn, com suas costelas roxas, recebeu um unguento diferente, que Marta esfregou com cuidado sobre as marcas escuras em sua pele pálida. Ele respirou fundo, aliviado com o frescor do remédio. "Isso ajuda com a dor," disse ela, enquanto Sienna, a última, teve o tornozelo torcido examinado. Marta testou o movimento da articulação, franzindo a testa antes de imobilizá-lo com uma tala de madeira. "Sem apoiar o peso por uns dias," instruiu, e Sienna assentiu, grata.

Enquanto Marta trabalhava, os aventureiros trocavam olhares de alívio e pequenas conversas. A taverna, antes silenciosa, ganhou vida com risadas tímidas e suspiros de conforto. O cuidado de Marta não curava apenas os corpos; parecia remendar algo mais profundo, trazendo de volta um senso de humanidade após dias de brutalidade.

Nos dias seguintes, enquanto o grupo se recuperava, Oloorin decidiu aproveitar o tempo para explorar o potencial de Thomas. Uma tarde, sob um céu tingido de dourado e laranja, ele levou o jovem para um campo nos arredores da vila. A clareira era cercada por árvores altas, o chão macio coberto de grama e flores silvestres que balançavam com a brisa. Oloorin entregou a Thomas uma pedra lisa, gravada com runas antigas que pareciam pulsar com uma luz sutil.

"Essa pedra vai revelar suas afinidades mágicas," explicou o mago, apoiando o cajado na grama ao seu lado. "Segure-a, feche os olhos e deixe sua mente se conectar com ela." Thomas segurou a pedra com ambas as mãos, hesitando por um momento antes de obedecer. Ele respirou fundo, tentando silenciar os pensamentos agitados. Aos poucos, a pedra começou a brilhar — primeiro com uma luz vermelha intensa, depois com um tom marrom terroso. Oloorin observou, um brilho de interesse nos olhos.

"Fogo e terra," disse, com um sorriso de aprovação. "Uma combinação poderosa. Vamos começar com algo simples: conjurar uma chama." Ele demonstrou, estendendo a mão e murmurando "Ignis". Uma pequena chama dançou em sua palma, controlada e brilhante. "Agora você. Visualize o fogo — sinta o calor, a energia. Depois, diga a palavra."

Thomas imitou o gesto, estendendo a mão trêmula. "Ignis," pronunciou, mas nada aconteceu. Ele franziu a testa, tentando novamente. "Ignis!" Uma faísca minúscula surgiu, mas apagou-se em um piscar de olhos. "Não está funcionando," resmungou, frustrado.

"Paciência," aconselhou Oloorin, a voz calma como um riacho. "Magia é foco e prática. Pense em algo que você conhece bem — o fogo da forja do seu pai, talvez. Imagine as chamas, o calor que molda o metal." Thomas assentiu, fechando os olhos outra vez. Ele se lembrou das tardes na ferraria, o brilho do ferro incandescente, o ar ondulando com o calor. "Ignis," murmurou, e uma chama pequena, mas estável, acendeu-se em sua palma.

"Excelente!" exclamou Oloorin, batendo palmas. "Agora, controle-a. Não deixe que ela cresça demais." Thomas concentrou-se, mas a chama começou a se agitar, lambendo seus dedos. Ele gritou, sacudindo a mão, e Oloorin riu, conjurando um jato de água para apagá-la. "É normal no começo. Vamos tentar de novo."

Nos dias que se seguiram, o treinamento continuou. Thomas passava horas com Oloorin, aprendendo a conjurar chamas mais firmes e a moldar pequenas barreiras de terra. Oloorin o guiava com paciência, corrigindo sua postura e ensinando-o a canalizar energia através da espada curta que lhe dera. Cada tentativa era um desafio — às vezes a chama tremia e apagava, outras a terra desmoronava em pó —, mas também uma conquista. Thomas sentia a magia pulsar em suas veias, um poder novo que o conectava à terra e ao fogo de maneiras que ele nunca imaginara.

Uma noite, após o jantar na taverna, Thomas e Mira sentaram-se em um banco do lado de fora, sob um céu estrelado. A lua cheia banhava a vila em luz prateada, e o ar fresco trazia o cheiro de pinho e terra úmida. Eles ficaram em silêncio por um tempo, ouvindo o canto dos grilos e o murmúrio distante da fonte na praça. Thomas mexia com uma pequena pedra entre os dedos, perdido em pensamentos, enquanto Mira observava as estrelas, o rosto suavizado pela tranquilidade da noite.

"Mira," começou ele, hesitante, quebrando o silêncio. "Eu estive pensando sobre o que vem a seguir." Ela virou-se para ele, os olhos verdes brilhando à luz da lua. "Sim?"

"O culto que o líder dos bandidos mencionou... parece algo grande, algo perigoso," continuou Thomas, a voz ganhando firmeza. "Não quero ficar parado enquanto isso acontece. E você? O que acha?"

Mira assentiu, os dedos brincando com uma mecha de cabelo. "Eu sinto o mesmo. Sempre fui aventureira, mas isso... sinto que é algo que não posso ignorar. Quero entender o que está por trás, impedir que mais pessoas sejam machucadas." Ela fez uma pausa, os olhos encontrando os dele. "E você?"

Thomas sorriu, aliviado por ela compartilhar seus sentimentos. "Então, que tal formarmos um grupo? Você, eu e Oloorin. Juntos, podemos investigar o templo, descobrir mais sobre esse culto." Ele hesitou, observando a reação dela. "O que acha?"

Mira ficou em silêncio por um instante, os olhos percorrendo o rosto de Thomas. Ela viu a sinceridade ali, a determinação que crescera nele desde o resgate. "Você confia em mim pra isso?" perguntou, a voz suave, quase vulnerável.

"Claro que sim," respondeu ele, sem hesitar. "Você é forte, Mira. Já percebi isso. E juntos, somos mais fortes ainda."

Ela sorriu, um brilho de gratidão e confiança iluminando seu rosto. "Então, vamos fazer isso. Vamos formar um grupo e enfrentar isso juntos." Thomas estendeu a mão, e Mira a apertou, selando o acordo com um gesto simples, mas cheio de significado. Eles ficaram ali por mais um tempo, conversando sobre o futuro — o templo, o culto, os desafios que viriam —, a amizade entre eles se fortalecendo sob o céu da noite.

Nos dias seguintes, as interações entre os aventureiros se aprofundaram. Eron e Finn treinavam no pátio da taverna, competindo com varinhas de madeira como se fossem espadas, rindo alto quando um acertava o outro. Lila sentava-se com Oloorin perto da lareira, discutindo teorias mágicas — ela perguntava sobre runas, ele explicava com paciência, traçando símbolos no ar que brilhavam por instantes. Sienna e Mira ajudavam os aldeões, distribuindo pão ou carregando baldes d'água, ganhando sorrisos e gratidão da vila.

Após uma semana, os aventureiros resgatados — Eron, Lila, Finn e Sienna — decidiram partir. Na praça da vila, despediram-se com abraços e promessas. "Vamos alertar as vilas sobre o culto," disse Lila, os olhos brilhando com gratidão.