O ar no labirinto era espesso, impregnado de um fedor de podridão que se agarrava à garganta como uma mortalha úmida. As paredes, lisas e úmidas ao toque, pulsavam com uma vida profana, como se a própria pedra respirasse, inspirando e expirando em um ritmo lento e sinistro. Thomas, recostado contra uma dessas paredes, sentia o latejar constante em seu ombro ferido, uma dor que parecia ecoar o batimento soturno do labirinto. Sangue escorria pela manga rasgada de sua túnica, manchando o tecido de um vermelho escuro que se mesclava às sombras ao redor.
Mira, ajoelhada ao seu lado, murmurava uma prece de cura, as mãos trêmulas pairando sobre a ferida. Uma luz dourada e suave emanava de suas palmas, banhando o ombro de Thomas em um brilho cálido, mas vacilante. Seu rosto estava pálido, os olhos verdes cansados, mas resolutos. A batalha contra o minotauro sombrio havia cobrado seu preço, e mesmo sua fé, inabalável como era, parecia lutar contra a exaustão que pesava sobre ela.
— Aguenta firme, Thomas — sussurrou ela, a voz quase inaudível no silêncio opressivo. — Isso pode doer um pouco.
Thomas rangeu os dentes e assentiu, sentindo a magia de cura penetrar em sua carne, costurando lentamente a pele e os músculos dilacerados. O processo era doloroso, mas ele podia sentir a ferida se fechando, a dor diminuindo aos poucos. Ele ergueu os olhos para Mira, uma mistura de gratidão e preocupação em seu olhar. Ela parecia esgotada, sua própria força se esvaindo como a luz que conjurava.
A poucos passos de distância, Oloorin permanecia vigilante, o cajado plantado firmemente no chão de pedra. As runas entalhadas na madeira brilhavam com uma luz azul tênue, lançando sombras tremeluzentes nas paredes que pareciam se mover, ondulando como tendões retesados. Seus olhos azuis, profundos e sábios, varriam o corredor à frente, atentos a qualquer sinal de perigo. O labirinto era uma entidade viva, suas passagens se contorcendo e mudando, selando caminhos antigos e abrindo novos em uma dança enlouquecedora. Eles precisavam seguir em frente, mas para onde?
— Precisamos nos mover — disse Oloorin, sua voz grave cortando o silêncio. — Este lugar não nos dará descanso.
Thomas, com o ombro ainda sensível, mas funcional, levantou-se com a ajuda de Mira. Ele embainhou a espada curta, sentindo o peso do metal frio contra sua coxa. — Para onde vamos? — perguntou, a voz rouca de cansaço. — Tudo aqui parece o mesmo.
Mira, guardando o grimório contra o peito, olhou ao redor, os olhos arregalados. — Talvez se seguirmos a luz de Oloorin... — sugeriu, mas mesmo enquanto falava, as paredes à sua volta começaram a ranger, um som gutural que parecia vir das profundezas da terra.
Com um estrondo súbito, a passagem à frente deles se fechou, as pedras se fundindo como carne cicatrizando uma ferida. Ao mesmo tempo, um novo corredor se abriu à direita, escuro e convidativo, mas de uma maneira que arrepiava a espinha.
— O labirinto está nos guiando — murmurou Oloorin, franzindo a testa. — Ou nos enganando.
Sem escolha, o trio avançou pelo novo caminho, os passos ecoando nas lajes úmidas. O ar ficava mais pesado a cada metro, carregado de um cheiro metálico que lembrava sangue e enxofre. As paredes, agora mais estreitas, pareciam cerrar-se sobre eles, como se o labirinto respirasse, apertando-os em seu abraço sufocante.
Após alguns minutos de caminhada tensa, eles chegaram a uma bifurcação. Dois corredores se estendiam à frente, idênticos em sua escuridão opressiva. Mas à esquerda, uma luz fraca tremeluzia, distante e tentadora, como um farol em uma tempestade.
— Ali! — exclamou Thomas, apontando para a luz. — Pode ser a saída.
Ele deu um passo à frente, mas Oloorin estendeu o braço, barrando seu caminho. — Cuidado, jovem Thomas. Neste lugar, nem tudo é o que parece.
Mira, apertando o grimório, assentiu. — Poderia ser uma armadilha. Uma ilusão para nos atrair.
Thomas hesitou, mas a esperança em seu peito era difícil de ignorar. — Mas e se for real? Não podemos perder a chance.
Oloorin ponderou por um momento, os olhos fixos na luz distante. — Prossigamos com cautela — decidiu finalmente. — Mas preparem-se para o pior.
Eles avançaram em direção à luz, o corredor parecendo esticar-se à medida que caminhavam, como se o próprio espaço se distorcesse. O som de seus passos era abafado, como se o labirinto engolisse o ruído. Quando finalmente alcançaram a fonte da luz, encontraram uma pequena câmara, no centro da qual brilhava um orbe de cristal, suspenso no ar, emitindo um brilho dourado que prometia salvação.
Thomas, impulsivo, correu em direção ao orbe, mas antes que pudesse tocá-lo, Mira gritou: — Thomas, não!
Tarde demais. Assim que sua mão roçou o cristal, a luz se extinguiu, e as paredes ao redor começaram a tremer violentamente. O chão se abriu sob seus pés, revelando um abismo negro e sem fundo. Thomas cambaleou para trás, quase caindo, mas Oloorin o agarrou pelo colarinho, puxando-o para a segurança.
— Uma ilusão! — exclamou Oloorin, sua voz ecoando na câmara agora vazia. — O labirinto brinca conosco.
Mira, o coração disparado, olhou ao redor. A passagem pela qual vieram havia desaparecido, selada pela pedra movediça. Um novo caminho se abriu à frente, mais escuro e estreito que os anteriores.
— Não temos escolha — disse ela, a voz trêmula. — Temos que continuar.
Eles prosseguiram, mas o labirinto parecia zombar de sua determinação. Cada passo parecia levá-los mais fundo em sua teia de pedra, as paredes se contorcendo e gemendo como se estivessem vivas. O ar ficava mais frio, e um som distante, como o arrastar de correntes, ecoava pelos corredores.
De repente, o chão tremeu, e das sombras à frente, uma forma emergiu — uma aranha gigantesca, seu corpo uma amálgama de sombra e pedra, os olhos brilhando como brasas ardentes. Suas patas, afiadas como lâminas, raspavam o chão, produzindo um som que gelava o sangue.
Thomas desembainhou a espada, o coração martelando no peito. — Outra criatura! — gritou, posicionando-se à frente de Mira.
A aranha avançou, rápida como um raio, suas mandíbulas clicando famintas. Thomas girou a espada, mas a lâmina passou através da criatura como se ela fosse feita de fumaça. A aranha sibilou, recuando apenas para atacar novamente.
Mira ergueu as mãos, conjurando uma explosão de luz. O brilho branco envolveu a aranha, fazendo-a recuar, mas não a feriu. — Não está funcionando! — exclamou ela, o desespero tingindo sua voz.
Oloorin, com a calma de um veterano, ergueu o cajado. — Afastem-se! — ordenou, e com um gesto, lançou um feixe de energia arcana. O raio azul atingiu a aranha em cheio, fazendo seu corpo de sombra se contorcer e chiar. Mas a criatura não caiu; em vez disso, pareceu absorver a magia, crescendo em tamanho e fúria.
— É imune à minha magia! — disse Oloorin, surpreso. — Deve ser uma guardiã do labirinto, alimentada por sua energia.
Thomas, pensando rápido, lembrou-se de seu treinamento rudimentar com fogo. — Talvez eu possa distraí-la! — gritou, conjurando uma pequena bola de chamas em sua palma. Ele a lançou contra a aranha, mas o fogo se dissipou ao tocar a criatura, sem causar dano.
A aranha, agora enfurecida, avançou novamente, suas patas mirando Thomas. Ele se esquivou por pouco, rolando pelo chão enquanto a criatura golpeava a pedra onde ele estivera.
Mira, vasculhando freneticamente o grimório, encontrou uma prece de banimento. — Talvez isso funcione! — exclamou, entoando as palavras sagradas. Uma aura de luz envolveu a aranha, e por um momento, a criatura pareceu enfraquecer, sua forma tremeluzindo.
Oloorin aproveitou a abertura. — Agora, Thomas! Ataque com tudo que tens!
Thomas, reunindo toda sua coragem, canalizou sua magia de fogo através da espada, a lâmina brilhando com chamas alaranjadas. Ele avançou, golpeando a aranha com um grito. A espada, agora imbuída de fogo, cortou através da sombra, abrindo um talho profundo. A criatura uivou, um som agudo que reverberou pelas paredes, antes de se desfazer em uma nuvem de fumaça negra.
Ofegante, Thomas caiu de joelhos, a espada caindo ao seu lado. — Conseguimos — murmurou, incrédulo.
Mira correu para ele, ajudando-o a se levantar. — Você foi incrível, Thomas — disse, um sorriso cansado nos lábios.
Oloorin assentiu, mas sua expressão era sombria. — Sim, mas não podemos baixar a guarda. O labirinto ainda nos observa.
Eles continuaram, mas o labirinto parecia sentir sua determinação e reagiu com fúria. As paredes começaram a se mover mais rápido, os corredores se estreitando e se alargando em padrões caóticos. Em um instante, uma seção da parede se abriu, separando Thomas dos outros. Antes que pudessem reagir, uma barreira de pedra se ergueu, isolando-o em um corredor solitário.
— Thomas! — gritou Mira, batendo na pedra, mas sua voz era abafada.
Do outro lado, Thomas olhou ao redor, o coração acelerado. Estava sozinho, as paredes pulsando ao seu redor, o ar pesado como chumbo. Ele respirou fundo, tentando acalmar-se. — Preciso encontrar um caminho de volta — murmurou para si mesmo.
Ele começou a caminhar, a espada em punho, os sentidos alertas. O corredor era estreito, as paredes tão próximas que ele podia tocar ambos os lados com os braços estendidos. De repente, um som de arranhar ecoou à sua frente, e das sombras, pequenas criaturas emergiram — imps sombrios, com olhos vermelhos e garras afiadas.
Thomas conjurou uma chama em sua mão, lançando-a contra os imps. O fogo os fez recuar, chiando em protesto. Ele avançou, usando o fogo para abrir caminho, as criaturas se dispersando diante da luz. Era uma vitória pequena, mas o suficiente para impulsioná-lo adiante.
Enquanto isso, Mira e Oloorin lutavam para encontrar uma maneira de alcançá-lo. Mira, com o grimório aberto, procurava um feitiço que pudesse atravessar a pedra ou localizar Thomas. Oloorin, por sua vez, tentava sentir a magia do labirinto, buscando uma falha em sua estrutura.
— Este lugar é antigo — disse Oloorin, a voz baixa. — Construído por um mago há séculos, para proteger... ou aprisionar algo de grande poder. Sua magia é profunda, entrelaçada com a própria terra.
Mira assentiu, os olhos fixos no grimório. — Talvez haja uma maneira de desviar sua atenção, de confundi-lo.
Ela encontrou uma prece de luz, uma que poderia criar uma ilusão de presença em outro local. — Se eu puder fazer o labirinto pensar que estamos em outro lugar, talvez ele abra o caminho.
Oloorin concordou. — Tente. Eu protegerei você.
Mira entoou a prece, e uma luz suave se espalhou, criando ecos de suas formas em corredores distantes. O labirinto pareceu hesitar, as paredes tremendo, e então, com um rangido, a barreira que separava Thomas começou a se abrir.
Do outro lado, Thomas, que havia acabado de despachar os últimos imps, viu a parede se mover e correu em direção à abertura. Ele emergiu, ofegante, mas aliviado ao ver seus companheiros.
— Graças à deusa — disse Mira, abraçando-o brevemente.
— Não temos tempo para comemorações — alertou Oloorin. — O labirinto aprende. Ele não cometerá o mesmo erro duas vezes.
Eles prosseguiram, mais cautelosos do que nunca. Após o que pareceram horas de caminhada, chegaram a uma câmara maior, onde as paredes pareciam menos opressivas, o ar ligeiramente mais fresco. No centro, uma escada em espiral subia para uma abertura no teto, através da qual uma luz tênue filtrava, prometendo liberdade.
— Será que é a saída? — perguntou Thomas, a voz tingida de esperança.
Oloorin aproximou-se da escada, o cajado erguido. — Talvez — disse, mas sua expressão era cautelosa. — No entanto, sinto algo... errado.
Antes que pudessem subir, um rugido profundo e retumbante ecoou pelo labirinto, fazendo o chão tremer e poeira cair do teto. O som era primal, cheio de uma fúria anciã que gelava o sangue.
Mira empalideceu. — O que foi isso?
Oloorin apertou o cajado com mais força. — Algo despertou. Algo que não deveria estar acordado.
Eles olharam para a escada, a luz acima tremeluzindo como se zombasse deles. O rugido veio novamente, mais próximo, acompanhado pelo som de passos pesados que faziam a pedra vibrar.
— Temos que sair daqui — disse Thomas, a urgência em sua voz.
Mas quando deram o primeiro passo em direção à escada, a luz se apagou, mergulhando a câmara em escuridão. O rugido ecoou mais uma vez, agora quase sobre eles, e das sombras, uma presença imensa começou a se materializar, seus olhos brilhando como faróis de maldade na escuridão.
O labirinto havia guardado seu maior terror para o fim.