A escuridão engolia a câmara, sufocando a luz das tochas que o trio carregava. O rugido ecoou novamente, mais próximo, fazendo o chão tremer sob seus pés. Thomas apertou o punho da espada, o coração disparado, enquanto Mira se agarrava ao grimório, os olhos arregalados de medo. Oloorin, com o cajado erguido, conjurou uma esfera de luz azulada, mas mesmo sua magia parecia fraca contra a escuridão opressiva que os cercava, uma força quase tangível que pressionava seus ombros como mãos invisíveis.
Das sombras, uma forma imensa começou a se materializar. Primeiro, dois olhos brilhantes, como faróis de maldade, depois um corpo colossal, coberto de uma carapaça quitinosa e espinhos afiados. Conhecida por sua força bruta e sua habilidade de confundir a mente de suas presas com um simples olhar. Seus olhos multifacetados, como joias partidas, fixaram-se no trio, e uma onda de confusão mental atingiu Thomas e Mira, fazendo-os cambalear, as pernas fraquejando como se o próprio chão se dissolvesse sob seus pés.
"Um Mandíbulgor!" exclamou Oloorin, sua voz cortando a névoa de confusão que turvava suas mentes, firme como um farol em uma tempestade. "Não olhem diretamente para seus olhos!"
Thomas, lutando contra a vertigem que o assolava, desviou o olhar e focou no corpo encouraçado da criatura. Ele conjurou uma chama fraca em sua lâmina, o fogo tremeluzindo debilmente, mas era o melhor que podia fazer com suas habilidades limitadas de rank F. O Mandíbulgor avançou, suas garras escavadoras, grandes como pás, rasgando o chão de pedra como se fosse argila mole, os estilhaços voando pelo ar. Thomas esquivou-se por um triz, rolando para o lado enquanto a criatura golpeava onde ele estivera, deixando uma cratera fumegante no chão, o cheiro acre de pedra queimada enchendo suas narinas.
Mira, tremendo, mas determinada, abriu o grimório com mãos trêmulas e começou a entoar uma prece para dissipar a confusão mental. Sua voz, inicialmente vacilante, ganhou força à medida que as palavras sagradas fluíam de seus lábios, cada sílaba um esforço contra o peso da escuridão. Uma luz suave, como o amanhecer filtrado por folhas, envolveu Thomas e ela mesma, clareando suas mentes e restaurando o equilíbrio. "Thomas, ataque suas pernas!" gritou ela, enquanto conjurava uma barreira de luz para protegê-los, o escudo translúcido tremeluzindo à medida que absorvia os impactos das garras do Mandíbulgor, faíscas saltando como estrelas cadentes.
Oloorin, com a sabedoria de um mago experiente, canalizou sua magia com precisão. Ele ergueu o cajado, as runas entalhadas brilhando com uma luz azul intensa, quase pulsando em sincronia com seu coração, e lançou um feitiço de imobilização. Raízes de energia arcana brotaram do chão, enrolando-se nas pernas encouraçadas do Mandíbulgor como serpentes famintas, suas superfícies brilhando com veios de luz. A criatura rugiu, um som gutural que reverberou pelas paredes, sacudindo as tochas e fazendo a luz dançar erraticamente, enquanto lutava contra as amarras mágicas, seus músculos quitinosos se retesando em resistência.
Isso deu a Thomas a abertura que ele precisava. Com um grito de determinação, ele avançou, sua espada flamejante cortando o ar com um sibilo, o calor da lâmina contrastando com o frio úmido da câmara. Ele mirou nas juntas das pernas do Mandíbulgor, onde a carapaça era mais fina, e desferiu um golpe preciso, a força do impacto reverberando por seu braço. A lâmina penetrou, e o sangue negro da criatura jorrou, chiando ao tocar o chão de pedra, o vapor acre subindo em espirais. O Mandíbulgor uivou de dor, seu corpo maciço tremendo, mas não estava derrotado. Com um movimento brusco, quebrou as raízes mágicas, lascas de energia voando como estilhaços, e girou, sua cauda espinhosa atingindo Thomas e lançando-o contra a parede com um impacto que expeliu o ar de seus pulmões, o som de seu corpo colidindo com a pedra ecoando como um trovão abafado.
"Thomas!" gritou Mira, correndo para ajudá-lo, o grimório esquecido momentaneamente enquanto ela conjurava uma cura rápida com gestos frenéticos. A luz dourada envolveu o ferimento de Thomas, fechando os cortes e aliviando a dor, os fios de magia tecendo-se como uma teia sobre sua pele. Mas a exaustão estava cobrando seu preço: seu rosto estava pálido, quase translúcido à luz das tochas, e ela mal conseguia manter-se de pé, os joelhos tremendo como se fossem ceder a qualquer momento.
Oloorin, vendo a situação crítica, decidiu usar uma magia mais poderosa. Ele começou a entoar um encantamento antigo, as palavras ressoando com um poder que parecia sacudir as próprias fundações do labirinto, cada sílaba carregada de uma energia que fazia o ar vibrar. As runas em seu cajado brilhavam intensamente, quase cegantes, e uma esfera de energia se formou na ponta, crescendo em tamanho e intensidade, pulsando como um coração vivo de pura magia, sua luz refletindo nas paredes úmidas em padrões caóticos. O Mandíbulgor, sentindo o perigo iminente, avançou contra ele com fúria redobrada, suas garras erguidas para despedaçá-lo, os mandíbulos clicando em antecipação.
Mira, com um último esforço, interpôs-se entre Oloorin e a criatura, erguendo uma barreira de luz que deteve o Mandíbulgor por um momento crucial. A barreira crepitou sob o impacto, faíscas voando como se fosse explodir, mas segurou o suficiente para Oloorin completar seu feitiço, o suor escorrendo por sua testa enquanto ele mantinha o foco.
"Agora, Oloorin!" gritou Mira, sua voz falhando de exaustão, quase um sussurro rouco contra o rugido da criatura.
Oloorin liberou a magia, uma explosão de luz arcana que atingiu o Mandíbulgor em cheio, o brilho tão intenso que por um momento a câmara inteira foi banhada em branco. A criatura foi lançada para trás, seu corpo encouraçado rachando e se despedaçando em fragmentos de sombra e pedra que se espalharam pelo chão, alguns pedaços ainda fumegando onde caíram. O silêncio caiu sobre a câmara, pesado e opressivo, quebrado apenas pela respiração ofegante do trio e pelo eco distante do rugido agonizante da criatura, que se dissipava como um pesadelo ao amanhecer.
"Conseguimos," murmurou Thomas, levantando-se com dificuldade, o corpo dolorido, mas a determinação intacta, uma chama teimosa queimando em seus olhos. "Mas não podemos ficar aqui."
Eles subiram a escada em espiral, cada degrau uma vitória contra a opressão do labirinto, o metal frio sob suas mãos coberto por uma camada de umidade que escorria como lágrimas. Emergiram finalmente em uma câmara ampla, as paredes adornadas com símbolos antigos que pareciam pulsar com uma luz própria, fraca e doentia, como veias de um organismo vivo. No centro, um cristal azul pulsava, emanando ventos gelados que cortavam como lâminas invisíveis, o ar ao redor carregado de uma energia que arrepiava os cabelos na nuca. Ao redor, dezenas de cultistas em mantos escuros estavam de pé, suas vozes entoando um cântico sinistro, um coro baixo e dissonante que parecia rastejar pelas paredes, os olhos fixos em uma parede que começou a brilhar com um portal azul, crescendo em intensidade a cada palavra proferida.
Os cultistas estavam dispostos em um semicírculo ritualístico, cada um segurando uma vela negra que exalava uma fumaça acre, serpenteando pelo ar como tentáculos de escuridão, o cheiro pungente de enxofre e ervas queimadas enchendo a câmara. No centro, um altar de pedra estava coberto com runas sangrentas, traçadas com precisão macabra, o sangue ainda fresco brilhando à luz do cristal. Sobre o altar, pequenos animais sacrificados jaziam, seus corpos ainda quentes, o sangue escorrendo pelas bordas e pingando no chão em um ritmo hipnótico, cada gota ressoando como um tambor distante. O líder dos cultistas, um homem alto com uma máscara de osso que escondia seu rosto, ergueu as mãos, os dedos adornados com anéis de prata gravados com símbolos profanos, e começou a entoar palavras em uma língua esquecida, sua voz ressoando com um poder que parecia distorcer o próprio ar ao redor, criando ondulações visíveis como calor sobre o deserto.
Os cultistas não estavam apenas esperando; eles trabalhavam com uma coordenação fria e calculada, preparando o ritual para invocar o Devorador de Luz, uma entidade que ninguém no trio conhecia, mas cuja presença parecia pairar sobre a câmara como uma sombra iminente. Dois cultistas, menores e mais ágeis, moviam-se entre os outros, distribuindo frascos de um líquido viscoso e escuro, que os demais derramavam em círculos menores ao redor do altar, traçando padrões que brilhavam com uma luz vermelho-sangue ao contato. "A barreira deve estar perfeita," sussurrou um deles, sua voz abafada pelo capuz, mas carregada de urgência. "Se os intrusos chegarem antes do sacrifício, tudo estará perdido."
Outro cultista, mais robusto, posicionava-se perto da entrada da câmara, uma adaga longa em mãos, os olhos estreitados enquanto observava as sombras. "Eles estão próximos," grunhiu ele, a voz rouca como pedra sendo arrastada. "Posso sentir o fedor de sua esperança. Preparem as armadilhas." Com um gesto, ele indicou as laterais da câmara, onde outros cultistas espalhavam pó cinzento pelo chão — uma substância que, ao ser ativada, explodiria em chamas ao menor toque, uma estratégia para deter qualquer um que tentasse interromper o ritual.
O líder, imperturbável, continuava o cântico, suas mãos traçando símbolos no ar que deixavam rastros de luz residual, como fios de teia luminescentes. "O Devorador exige perfeição," disse ele, sua voz cortante como uma lâmina. "O sacrifício virá, e com ele, nosso poder." Ninguém mencionava quem ou o que seria oferecido; o segredo era guardado com um zelo fanático, cada cultista movido por uma devoção cega que os tornava ainda mais perigosos.
Thomas, ofegante, olhou ao redor, os olhos arregalados de horror e incredulidade, o coração batendo tão forte que ele podia senti-lo na garganta. Ele viu o portal se abrindo no centro da câmara, uma fenda na realidade que sugava a luz e exalava uma frieza antinatural, como o hálito de um túmulo aberto. Do portal, uma figura foi trazida, arrastada por mãos invisíveis: uma mulher de cabelos dourados, os olhos fechados como se estivesse em transe, o rosto pálido e sereno, vestida em um manto simples que contrastava com a escuridão ao redor. Seu coração parou quando reconheceu Elara, sua amada perdida, a pessoa que ele jurara proteger e encontrar, agora diante dele em um pesadelo que ele não podia compreender.
"Elaraaaaa!" gritou Thomas, sem pensar, sua voz ecoando pela câmara, carregada de desespero e esperança, um clamor que cortou o ar como uma lâmina e interrompeu o cântico por um instante, os cultistas virando-se em uníssono para encará-lo.
Os cultistas reagiram com uma precisão assustadora. Os olhos sob os capuzes brilhavam com malícia, as velas tremeluzindo em suas mãos enquanto eles avançavam, um muro de escuridão viva. O líder sorriu, um sorriso cruel que revelava dentes afiados, quase animalescos, a máscara de osso refletindo a luz do portal. "Intrusos," sibilou ele, a voz baixa e venenosa, carregada de um prazer sádico. "Vocês chegaram tarde demais. O ritual está quase completo."
Oloorin agiu rapidamente, conjurando uma cúpula de proteção ao redor deles, a luz azulada pulsando como um escudo vivo, crepitando com energia arcana enquanto ele segurava o cajado com ambas as mãos. "Fiquem atrás de mim!" ordenou, sua voz firme como rocha, enquanto os cultistas avançavam, brandindo adagas ritualísticas, as lâminas gravadas com runas que brilhavam com uma luz profana, o ar ao redor delas zumbindo com energia maligna.
Oloorin lutou com maestria, seu cajado dançando no ar em movimentos majestosos, cada golpe lançando feitiços de fogo e relâmpago que incineravam os inimigos em explosões épicas. Chamas alaranjadas lambiam o ar, consumindo os mantos dos cultistas e transformando-os em tochas vivas, enquanto faíscas azuis de eletricidade saltavam de corpo em corpo, deixando um rastro de cinzas e gritos abafados. Mas eram muitos, e a cada momento, mais surgiam das sombras, um mar de mantos escuros que parecia infinito, suas vozes retomando o cântico em um tom mais urgente, tentando romper a barreira de Oloorin com pura força de vontade.
Thomas, com os olhos fixos em Elara, tentou avançar, a espada tremendo em suas mãos, o desespero dando-lhe uma coragem imprudente que beirava a loucura. "Eu tenho que salvá-la!" gritou, a voz quebrada pela emoção, cada palavra um apelo à sua própria alma, um juramento que ele não podia quebrar. Mas Oloorin o segurou com firmeza, os dedos como garras de ferro em seu ombro, o rosto do mago contorcido em uma mistura de preocupação e determinação. "Não, Thomas! É uma armadilha! Eles querem que você se aproxime!"
Nesse momento, os cultistas ergueram Elara, seus corpos movendo-se em uníssono, como marionetes controladas por uma vontade superior, e a jogaram no portal com uma precisão cerimonial, seus movimentos tão ensaiados que pareciam uma dança macabra. Thomas lutou contra Oloorin, lágrimas de frustração escorrendo por seu rosto enquanto via sua amada desaparecer na luz azul, engolida pela fenda que se fechava lentamente, a luz diminuindo como uma vela sendo apagada. "Elara! Não!" gritou, o peito apertado por uma impotência que o sufocava, cada batida de seu coração uma punhalada de dor que o fazia querer arrancá-lo do peito.
O portal começou a se fechar, os ventos gelados cessando, e Oloorin, percebendo que estavam em desvantagem numérica e que o ritual estava quase completo, tomou uma decisão difícil. "Precisamos sair!" exclamou, arrastando Thomas e Mira em direção ao cristal no centro da câmara, o único meio de escape que restava, sua luz azul agora fraca, mas ainda pulsante.
Thomas resistiu, os punhos cerrados, o coração partido em mil pedaços, cada fragmento cortando mais fundo. "Não posso deixá-la! Eu falhei com ela de novo!" Sua voz era um lamento, carregada de uma dor crua que ecoava na câmara, misturando-se aos cânticos dos cultistas que agora riam, um som baixo e cruel que reverberava como um insulto.
Oloorin, com força implacável, empurrou os dois até o cristal, seus olhos duros como aço. "Toquem o cristal, agora!" ordenou, sua voz não admitindo hesitação, o tom de um comandante em batalha. Eles o tocaram, e uma luz ofuscante os envolveu, cegando-os momentaneamente, o mundo desaparecendo em um flash de branco puro. Quando a luz se dissipou, estavam de volta ao início do templo, o ar fresco da noite os recebendo como um tapa na face, a brisa noturna contrastando brutalmente com o calor sufocante do labirinto, o céu estrelado acima parecendo zombar de sua derrota.
Thomas caiu de joelhos, as lágrimas escorrendo pelo rosto, o corpo tremendo de raiva e desespero. "Elara... eu falhei com ela..." murmurou, socando o chão até as mãos sangrarem, a terra úmida manchada com seu sangue, cada golpe uma tentativa vã de descarregar a culpa que o consumia. A frustração o engolia, um vazio que parecia sugar sua alma, deixando-o oco por dentro, um eco de quem ele fora.
Mira se ajoelhou ao seu lado, abraçando-o com força, seu próprio coração apertado pela dor do amigo, as lágrimas que ela segurava agora escorrendo livremente. "Não foi sua culpa, Thomas," disse, a voz suave tentando alcançá-lo através da tempestade em sua mente, cada palavra um fio de esperança que ela tentava tecer ao redor dele. "Faremos tudo para trazê-la de volta. Eu prometo." Ela acariciou os cabelos emaranhados dele, um gesto maternal que contrastava com sua própria fragilidade.
Oloorin, com o rosto sombrio, afastou-se alguns passos e começou a preparar uma magia, sua figura alta destacada contra o céu noturno. Ele girou o cajado em uma dança elaborada, os movimentos fluidos e precisos como uma chama dançando ao vento, cada gesto carregado de poder ancestral. As runas brilharam intensamente, o ar ao redor crepitando com energia, faíscas saltando e chiando como se o próprio tecido da realidade estivesse sendo rasgado. Ele ergueu o cajado ao céu, murmurando palavras antigas que pareciam ecoar dos confins do tempo, e o céu acima se abriu, revelando um meteoro flamejante descendo em direção ao templo, uma bola de fogo que cortava a noite como um cometa vingador, sua luz avermelhada banhando o trio em tons de sangue.
Com um estrondo ensurdecedor, o meteoro atingiu o templo, destruindo-o em uma explosão de fogo e pedra que iluminou a noite, o impacto fazendo o chão tremer como se a própria terra protestasse, uma onda de choque que derrubou árvores próximas. Das ruínas fumegantes, almas de guerreiros emergiram, suas formas etéreas voando em direção ao céu, livres finalmente da prisão que as mantinha cativas por séculos. Elas pairaram por um momento diante do trio, sussurrando palavras de gratidão em vozes que ecoavam como o vento: "Vocês nos libertaram... Obrigado..." Suas formas brilhavam como estrelas fugazes antes de desaparecerem na escuridão acima.
Mas para Thomas, a vitória era amarga, um sabor de cinzas em sua boca que ele não conseguia engolir. Ele ficou de pé, os olhos fixos nas ruínas fumegantes, o coração pesado com a imagem de Elara desaparecendo no portal, sua última visão dela sendo engolida pela luz azul, uma memória que se gravava em sua mente como uma cicatriz. "Eu vou encontrá-la," jurou, a voz firme apesar das lágrimas que teimavam em cair, cada palavra um voto que ele selava com o próprio sangue ainda escorrendo de suas mãos. "Não importa o custo."
Mira apertou sua mão, um gesto silencioso de apoio, seus dedos entrelaçados com os dele, oferecendo o que podia de força e consolo, seu olhar firme prometendo que ela estaria ao seu lado. Oloorin observava o horizonte, o cajado ainda fumegando em suas mãos, as runas agora apagadas, mas a determinação em seus olhos mais viva do que nunca, uma chama que não se extinguia. O labirinto estava destruído, suas paredes reduzidas a escombros, mas a jornada deles estava apenas começando, e o caminho à frente seria ainda mais perigoso e incerto, um teste de suas almas que apenas o tempo revelaria.