A Escolha de Lyra

Thomas e Mira avançaram pelo corredor estreito, o assoalho de madeira rangendo sob seus pés como se a casa antiga protestasse contra a presença deles. O ar estava pesado, impregnado com o cheiro acre de madeira velha e umidade, uma combinação que parecia se infiltrar nas roupas e grudar na pele. Chegaram a um quarto simples nos fundos da casa, um espaço pequeno e austero iluminado apenas pela luz trêmula de uma vela quase consumida. Duas camas modestas os aguardavam, cobertas por mantas rústicas de lã desbotada, dobradas com um cuidado que parecia contrastar com o abandono do lugar. Pelas frestas da janela mal vedada, o vento gelado entrava em rajadas, trazendo consigo um uivo baixo e constante que arrepiava os braços e parecia dar voz aos temores que nenhum dos dois ousava expressar.

Thomas se deixou cair sobre o colchão mais próximo com um suspiro longo e exausto, o corpo afundando no tecido áspero e irregular. Seus olhos castanhos, cansados mas inquietos, subiram até as vigas escuras do teto, onde sombras oscilantes dançavam ao sabor da chama vacilante da vela. As formas pareciam se contorcer, como se sussurrassem fragmentos da história que Aiden contara mais cedo — a caverna úmida e sufocante, o portal azul que pulsava como um coração vivo, a criatura sombria que os confrontara. Sua mente girava em um turbilhão, agarrada a essas imagens, enquanto uma urgência ardente queimava em seu peito, um desejo quase obsessivo de entender o que havia acontecido. Ele sentia o peso do desconhecido como uma pressão física, uma mão invisível apertando seu coração e roubando-lhe o fôlego.

Ao seu lado, Mira remexia-se na outra cama, incapaz de encontrar uma posição confortável. O ranger das molas quebrava o silêncio opressivo do quarto, um som agudo que parecia amplificar a tensão entre eles. Seus olhos, brilhando na penumbra como duas pequenas chamas, encontraram os de Thomas em um olhar carregado de perguntas. "Thomas, acha que ele termina a história amanhã?" murmurou ela, a voz trêmula oscilando entre esperança e ansiedade, como se as palavras pairassem no ar, hesitando antes de pousar.

Ele girou a cabeça lentamente, encarando-a através da escuridão, e respondeu com um aceno curto, quase mecânico. "Ele tem que terminar," disse, a voz rouca carregada de uma frustração que ele mal conseguia conter. "Quero saber o que aconteceu com ele e Lyra." Seus dedos se fecharam com força ao redor da manta, o tecido áspero roçando contra a pele calejada, enquanto ele tentava, sem sucesso, organizar os pensamentos caóticos que zumbiam em sua mente como um enxame inquieto.

Mira fez um som suave, quase um suspiro, mas havia uma determinação por trás dele que ressoou em Thomas como um eco de sua própria inquietação. Ela puxou a manta até o queixo, os dedos pálidos agarrando a borda como se buscasse proteção contra a incerteza que os envolvia. "Eu também," confessou, a voz agora mais firme, apesar do leve tremor. "Não consigo parar de pensar naquilo — a caverna, o portal, aquela criatura. O que ela queria com Lyra?" Seus olhos voltaram ao teto, buscando nas sombras respostas que não estavam lá, enquanto ela mordia o lábio inferior, um hábito nervoso que traía sua agitação.

Thomas ficou em silêncio por um longo momento, deixando as palavras dela se assentarem entre eles, uma ponte frágil construída sobre a ansiedade compartilhada. "Vamos descobrir amanhã," afirmou por fim, a voz baixa mas carregada de uma convicção que ele desejava sentir de verdade. Seus olhos encontraram os dela mais uma vez, um breve instante de conexão, antes de se perderem novamente nas vigas escuras acima. O silêncio voltou, denso e palpável, interrompido apenas pelo uivo do vento que agitava as cortinas gastas e pelo ranger intermitente da casa, como se ela própria lamentasse junto com os pensamentos inquietos dos dois.

A caverna os engolia em um abraço gélido, o ar úmido e cortante aderindo à pele como uma camada de gelo fino. O cheiro pungente de terra molhada misturado ao musgo enchia o ambiente, saturando os pulmões a cada respiração rasa. As lanternas que carregavam tremiam em suas mãos trêmulas, projetando feixes de luz instáveis contra as paredes viscosas da caverna, que pareciam pulsar sutilmente sob o brilho fraco, como se estivessem vivas. Cada passo ecoava no vazio, um som oco e reverberante que amplificava o medo crescente que apertava seus corações. À frente, o portal azul se erguia como uma ferida aberta no tecido da realidade, uma fissura vibrante que pulsava com energia e exalava rajadas geladas, fazendo os cabelos castanhos de Lyra dançarem no ar como sombras vivas.

De repente, a criatura emergiu do portal, sua presença tão súbita quanto aterrorizante. Ela deslizou para fora como uma sombra líquida, alta e esguia, o corpo uma fusão perturbadora de gelo translúcido e trevas densas que pareciam sugar a luz ao redor. Seus olhos eram brasas vermelhas ardendo em um rosto indistinto, e um sorriso cruel se abriu, revelando dentes afiados que brilhavam com uma promessa de violência. Aiden sentiu o coração disparar em seu peito, o estômago se contraindo em um nó apertado, enquanto segurava a foice com ambas as mãos, os dedos rígidos e doloridos agarrando o cabo de madeira. A dor em sua costela machucada latejava a cada movimento, uma pontada aguda que subia pelo lado esquerdo do corpo, e seu braço inchado pendia quase inútil ao lado. Ele não era um guerreiro treinado, apenas um fazendeiro endurecido pela vida, mas fugir não era uma opção — não com Lyra ali, vulnerável. "Lyra, atrás de mim," ordenou, a voz rouca cortando o ar, enquanto avançava com o corpo tenso, os músculos protestando contra o esforço.

Lyra hesitou, os pés deslizando no chão escorregadio coberto de musgo, as mãos trêmulas pairando no ar como se não soubesse o que fazer com elas. Seus olhos azuis, arregalados de medo mas faiscando com uma determinação teimosa, fixaram-se na criatura enquanto ela recuava lentamente, os punhos cerrados em um gesto de desafio. A figura sombria inclinou a cabeça, observando Aiden com uma curiosidade predatória que fez o suor frio escorrer por sua testa. Ele atacou, a foice cortando o ar em um arco desajeitado mas feroz, mas a criatura desviou com uma graça fluida, quase dançante, a lâmina atravessando apenas o vazio. O sorriso dela se alargou, provocador, e Aiden girou o corpo para tentar novamente, a dor na costela explodindo em uma onda que o fez ranger os dentes, o suor embaçando sua visão. Cada golpe era um esforço monumental, mas ele persistia, impulsionado por uma mistura de raiva e desespero.

"Lyra, me ajuda!" gritou ele, a voz saindo entrecortada enquanto lutava para manter o equilíbrio. Ela se abaixou rapidamente, os dedos encontrando uma pedra irregular no chão úmido, e a arremessou com toda a força que conseguiu reunir. A pedra voou em direção à criatura, mas passou direto através dela como se fosse feita de fumaça, caindo com um estalo seco contra a parede oposta. "Não funciona!" exclamou Lyra, a frustração tingindo sua voz enquanto ela pegava outra pedra e tentava novamente, o movimento rápido mas igualmente inútil. Aiden avançou mais uma vez, o braço tremendo com o peso da foice, mas a criatura ergueu uma mão gelada e o empurrou com uma força sobrenatural. Ele perdeu o equilíbrio, a foice escapando de suas mãos e caindo com um clangor metálico no chão rochoso. O impacto o derrubou, a dor em seu corpo se transformando em uma onda avassaladora que o sufocava. A criatura se aproximou, uma garra fria tocando sua testa, e o mundo ao seu redor escureceu enquanto ele desmaiava, o som distante do grito de Lyra ecoando em seus ouvidos.

Lyra soltou um grito agudo, correndo em direção a Aiden, mas a criatura se interpôs em seu caminho com uma velocidade impossível. "Lyra," disse ela, a voz grave ressoando como um trovão baixo que vibrava nas paredes da caverna. "Eu vim por você." Lyra congelou onde estava, o coração batendo tão rápido que parecia querer escapar do peito. "Quem é você? O que quer comigo?" perguntou, a voz trêmula mas sustentada por uma coragem que ela mal reconhecia em si mesma.

"Você tem potencial," respondeu a criatura, suas palavras lentas e hipnóticas, como se cada sílaba fosse cuidadosamente escolhida para envolvê-la. "Pode ser a hospedeira do Devorador da Luz, uma força de equilíbrio ou destruição." Lyra franziu o cenho, a confusão misturando-se ao medo em sua mente. "O que é isso?" perguntou, tentando entender. "Uma entidade antiga," continuou a figura, os olhos vermelhos fixos nos dela, brilhando com uma intensidade que a fazia querer desviar o olhar. "E eu posso trazer seus pais de volta, se você aceitar." O choque atravessou Lyra como um raio, paralisando-a no lugar. "Meus pais? Eles estão mortos," disse ela, a voz falhando enquanto memórias dolorosas ameaçavam sufocá-la.

"O Devorador rompe a morte," afirmou a criatura, o tom carregado de uma certeza fria. "Seu preço é ser seu vaso." Lyra desviou o olhar para Aiden, ainda inconsciente no chão, o peito subindo e descendo em respirações rasas, e então voltou-se para a figura sombria diante dela. "E eu? O que acontece comigo?" perguntou, as lágrimas começando a embaçar sua visão, a voz quase um sussurro. "Você se fundiria a ele," respondeu a criatura, impassível. "Não seria mais apenas Lyra." As lágrimas escorreram livremente por seu rosto agora, a escolha diante dela esmagando-a como uma rocha caindo sobre seu peito — seus pais, mortos há anos, ou a própria identidade que ela lutara tanto para preservar.

Memórias inundaram sua mente sem permissão: o sorriso gentil de sua mãe enquanto trançava seu cabelo em manhãs frias, o abraço caloroso de seu pai após um longo dia no campo, as risadas altas de seus irmãos correndo pelo quintal. Eram imagens que ela guardava como tesouros frágeis, mas que agora pareciam facas afiadas cortando seu coração. Então ela olhou para Aiden novamente, seu amigo leal que arriscara a vida para protegê-la, o rosto pálido sujo de terra, os cabelos castanhos desgrenhados sobre a testa. "Preciso de tempo," sussurrou ela, a voz quase inaudível, carregada de angústia. "Até o próximo amanhecer," concedeu a criatura, sua forma começando a se dissipar como névoa negra, desaparecendo de volta no portal com um sussurro que ecoou na caverna.

Lyra arrastou Aiden para fora da caverna com esforço, os músculos queimando sob o peso dele, enquanto o fardo da decisão que enfrentaria ao amanhecer queimava ainda mais fundo em seu peito. Ela sabia que precisava estar pronta para encarar a criatura novamente, mas uma parte dela já pressentia que a escolha seria mais impossível do que podia suportar. Horas depois, na cozinha da casa, Thomas e Mira aguardavam ansiosamente o desfecho da história, o silêncio entre eles tão denso que parecia sufocar o ar. A luz fraca de uma lamparina iluminava a mesa de madeira gasta, projetando sombras longas que dançavam nas paredes como espectros silenciosos. Aiden terminou de falar, os olhos fixos na superfície da mesa, as mãos cerradas ao redor de uma caneca vazia.

Thomas e Mira o encaravam, os rostos pálidos refletindo uma mistura de choque e expectativa. "E então?" perguntou Thomas, a voz saindo quase sem força, rouca de tanto segurar a respiração. "O que Lyra decidiu?" Aiden ergueu o olhar lentamente, os olhos castanhos encontrando os de Lyra, que estava sentada ao seu lado. Ela levantou a cabeça, os olhos azuis brilhando com uma dor crua e vulnerável, as mãos tremendo ligeiramente sobre a mesa. "Eu não tinha decidido," disse ela, a voz trêmula mas firme, carregada de emoção. "A criatura voltaria ao amanhecer, mas algo aconteceu antes. Algo que mudou tudo."

O silêncio caiu sobre a cozinha como uma cortina pesada, os quatro ocupantes da mesa presos em um momento suspenso, cada um perdido em seus próprios pensamentos. Thomas inclinou-se para frente, os cotovelos apoiados na mesa, o cenho franzido enquanto tentava processar as palavras dela. Mira segurava a borda da cadeira com força, os nós dos dedos brancos, os olhos arregalados fixos em Lyra como se pudesse extrair a continuação da história apenas com o olhar. Aiden baixou a cabeça novamente, os ombros curvados sob o peso do que havia vivido. E Lyra, no centro de tudo, sentia o olhar deles como uma pressão física, sabendo que o próximo capítulo — fosse ele qual fosse — estava chegando, trazendo consigo respostas que poderiam destruir tudo o que restava dela.