Capítulo 3

A ORIGEM DOS DESPERTOS

Muito antes das primeiras estrelas rasgarem o véu negro do cosmo, os deuses moldaram a existência conforme seus caprichos.

Seres de poder inimaginável. Indiferentes ao destino de suas criações.

Para eles, os humanos eram nada.

Frágeis. Efêmeros. Destinados à servidão eterna.

Mas Freya, a deusa da criação humana, discordava.

Em desafio aos próprios irmãos divinos, infundiu sua essência vital no solo do mundo e ergueu seres colossais do barro mais puro. Os humanos os moldaram com devoção. E quando finalmente lhes deram o sopro da vida...

Eles se ergueram.

Gigantes.

Titãs.

Seria a salvação da humanidade.

Se não houvesse um preço.

Sob a luz do sol, seus corpos se petrificavam. Se tornavam meras estátuas de mármore.

Era uma maldição.

E também uma arma.

Assim começou a rebelião. Os humanos atacaram sob o manto da noite. O céu se incendiou. Montanhas foram esmagadas. O sangue divino e mortal se misturou no solo.

Mas no fim...

Os Titãs foram erradicados.

Freya, punida. Seu poder, arrancado. Seu nome, amaldiçoado.

E os humanos? Condenados ao sofrimento eterno.

Em várias regiões do mundo, os cadáveres apodrecidos dos Titãs jaziam como lembranças eternas da guerra.

 

Seus ossos apodreceram. Seus corpos viraram cinzas.

Mas a humanidade não desapareceu.

Ela resistiu.

Anos se passaram. A humanidade seguiu sua existência, acossada pelas represálias divinas.

Até que um jovem destemido surgiu.

Yeonryu.

Seu vilarejo padecia sob o jugo dos deuses. Ele jurou encontrar uma forma de libertá-los.

E assim, iniciou sua jornada.

Seu destino? As Montanhas Nebulosas.

Antigo campo de batalha entre Titãs e Deuses. Um local esquecido, devorado pela floresta e pelo tempo. Mas algo inesperado o aguardava entre as ruínas e árvores retorcidas.

Zephyros.

Um deus caído.

Ferido. Abandonado. Perdido em um mundo que já não o reconhecia.

Seu corpo irradiava uma luz fraca. Três metros de altura, imponente como um titã adormecido. Mas sua presença era frágil.

Exausto.

Uma coroa de louros murchos adornava sua testa marcada pela guerra. Seu rosto, envelhecido pelo sofrimento, exibia cicatrizes profundas. Mas nada chamava mais atenção do que a ferida aberta em seu abdômen.

Um rombo colossal jorrava um sangue espesso e cintilante.

Zephyros tentava contê-lo com uma das mãos.

Em vão.

Yeonryu observou. Oculto entre as árvores, aguardou. Quando a noite caiu e o deus, enfraquecido, sucumbiu ao sono...

Ele se moveu.

Aproximou-se. Lâmina em punho. Escalou o rochedo onde a divindade se apoiava. Seu coração martelava em seu peito.

Agora.

De sua bolsa, retirou um pequeno frasco.

Essência de Salamora.

Uma planta rara, que florescia apenas onde os Titãs tombaram. Suas pétalas negras exalavam um aroma fúnebre. Sua seiva, um veneno letal. Até mesmo os imortais sucumbiam à sua corrupção.

Yeonryu pingou algumas gotas na boca entreaberta do deus.

Por um instante, silêncio absoluto.

Então—

Zephyros despertou.

Seus olhos se dilataram. Ele sufocou, engasgando-se com o veneno. Seu brilho desvaneceu. Sua pele perdeu a luminescência divina. Seus músculos fraquejaram.

Seu corpo se contorceu. Agonizou.

Em um último esforço, tentou agarrar seu assassino.

Mas Yeonryu já havia desaparecido nas sombras.

Minutos se passaram. Talvez horas.

Então, tudo acabou.

Zephyros jazia morto.

Yeonryu caiu de joelhos. Seu corpo tremia. Jamais havia tirado uma vida antes. O peso de seu ato esmagava seus ombros.

Mas sua missão era clara.

Engoliu a dor. Limpou as lágrimas. Retomou sua determinação.

Moveu-se até o cadáver do deus.

Com esforço, chegou à sua medula.

Extraiu um líquido viscoso e dourado. Guardou-o em um frasco de cristal.

Retornou ao vilarejo.

Distribuiu o líquido a um homem de cada família.

Na manhã seguinte, todos adoeceram.

Nenhuma cura conhecida foi capaz de aliviar os sintomas.

Yeonryu se culpou. Voltou ao corpo do deus e arrancou um pedaço de sua carne. Hesitou.

Então, mastigou o tecido amargo.

Em instantes, sua enfermidade desapareceu.

Levou a carne aos homens do vilarejo. Ordenou que a comessem. Crua. Sem queimar. Sem temperar.

Eles se curaram.

E nada mais aconteceu.

Até que—

Meses depois, algo mudou.

As crianças nascidas desses homens começaram a manifestar habilidades sobre-humanas.

Cada uma possuía dons únicos.

Elas foram os primeiros Despertos.

 

A CHEGADA DA ESCURIDÃO

Thalerius caiu.

Mas sua morte não trouxe a paz.

Dos ossos quebrados do deus, uma fumaça negra emergiu. Dançou nos céus. Sussurrou horrores.

E então... os monstros vieram.

Goblins. Feiticeiros. Licantropos.

A humanidade foi empurrada novamente para o limiar da extinção.

Os Despertos foram sua última esperança.

Mas os deuses tentaram impedir o inevitável. Tesseron, o deus do destino, já havia escrito a profecia no Arquilivro. A história não poderia ser apagada. Apenas distorcida.

A cada nova geração, os Despertos eram enfraquecidos.

Mas os mais poderosos sobreviveram.

E assim nasceram três grandes facções:

Phanteons (Reconhecimento & Exploração)

Titãs (Força Ofensiva)

Vanguarda (Suporte & Defesa)

O mundo mudou.

Os restos dos monstros derrotados se tornaram materiais preciosos.

O comércio de espólios começou.

A guerra não acabou.

Ela apenas evoluiu.

 

TEMPOS ATUAIS

Lee Ji-Ho tinha dezessete. Talvez dezoito.

Mas sua vida o tornara velho demais.

Seu cabelo castanho-escuro caía desordenado sobre a testa. Seus olhos âmbar brilhavam em alerta constante.

Ele fingia despreocupação.

Mas nunca relaxava.

Órfão de pai. O homem da casa. Trabalhador incansável.

Seu mundo era feito de medo e sobrevivência.

Então, naquela noite, tudo mudou.

Explosões rasgaram o céu. Luzes distantes pulsaram no horizonte. O Leste ardia em chamas.

A penitenciária próxima havia se tornado um campo de batalha.

No dia seguinte, veio a convocação.

Todos os mineradores deveriam se apresentar ao local de extração. Até mesmo prisioneiros seriam usados como mão de obra.

O ônibus reforçado percorreu a cidade.

Parou na prisão.

Guardas armados entraram primeiro. Examinaram cada canto.

E então...

Três homens subiram.

O primeiro, alto e magro, exalava arrogância. Seu sorriso torto transbordava veneno.

O segundo, loiro de moicano, olhos cheios de desafio.

O terceiro, o mais intimidador.

Cabelos verdes desgrenhados. Máscara no rosto. Olhar frio e letal.

Os macacões laranja e as correntes pesadas os marcavam como criminosos.

Mas não eram prisioneiros comuns.

Eram Despertos.

O ônibus seguiu para a base da montanha.

Lá, os caçadores Despertos já esperavam.

O corpo da criatura abatida era colossal. Meio-homem, meio-touro. Mesmo morto, segurava seu machado como se recusasse a aceitar a derrota.

A ordem foi dada.

Os mineradores começaram seu trabalho.

Picaretas erguidas. Ossos cortados. Espólios extraídos.

Os prisioneiros foram libertos de suas algemas.

O tempo passou.

Silêncio.

Então...

Um estrondo.

O chão tremeu.

Uma explosão.

O caos começou.