Capítulo 7

O hospital estava em caos.

Médicos e enfermeiros evacuavam os pacientes às pressas. Gritos ecoavam pelos corredores, o som das macas sendo empurradas, portas batendo, passos apressados. Mas Ji-Ho permaneceu imóvel, fitando a criatura colossal que emergira das sombras.

Os segundos se arrastavam como horas.

Então, um ataque.

O punho do monstro avançou com velocidade destruidora, esmagando a lateral do prédio onde Ji-Ho estava. As paredes explodiram em destroços, janelas se estilhaçaram, e a poeira encobriu tudo. Mas Ji-Ho já não estava lá.

Num instante impossível, ele saltou.

Seu corpo, antes frágil, agora cortava o ar com leveza sobre-humana. Ele mal podia acreditar no que estava fazendo.

Então sorriu.

Pela primeira vez, sentia-se forte.

Ainda suspenso no ar, Ji-Ho canalizou toda sua energia. O poder pulsava dentro dele como um trovão contido, e ele o concentrou no punho. O monstro tentou agarrá-lo, mas Ji-Ho desviava como um borrão, passando por entre os dedos massivos. Pousou no braço da criatura e disparou em alta velocidade, correndo por sua pele áspera. Um último salto e—

Soco.

A explosão ressoou por quilômetros.

O impacto gerou um estrondo que fez o chão tremer. Os civis, assistindo à cena do outro lado do hospital, estavam em choque absoluto.

"Aquele garoto... não pode ser o mesmo Ji-Ho de dias atrás..."

Havia apenas uma explicação.

Ele despertou.

Ji-Ho se movia como uma sombra viva. Seus golpes eram rápidos, precisos, brutais. Ele desviava dos ataques do monstro com reflexos sobre-humanos. E, o mais aterrador, não demonstrava cansaço.

Seus olhos brilhavam em chamas azuis.

Um sorriso surgiu.

— Isso é tudo? — Ji-Ho perguntou, entediado.

O monstro rugiu, furioso. Mas não atacava mais ninguém. Só Ji-Ho importava.

"Nenhum sinal dos outros despertos... Devem estar ocupados com outra horda." Ji-Ho cerrou os punhos.

— Esse monstro é meu.

De repente, flashes do acidente na floresta invadiram sua mente.

Seu corpo hesitou. Apenas um segundo.

Foi o suficiente.

O monstro agarrou Ji-Ho e o arremessou com força brutal. Seu corpo rasgou o ar como um míssil, atravessando prédios, destruindo paredes, rachando o asfalto ao colidir contra o solo.

Silêncio.

A poeira baixou.

Então, um som.

Ji-Ho se levantou.

Limpou o sangue escorrendo do canto de sua boca.

Chamas azuis começaram a envolver seu corpo.

Seus olhos queimavam.

Seus músculos estavam tensos.

Ele deu um passo à frente.

O chão estremeceu.

— Estou cansado de vocês... — Sua voz reverberou no silêncio.

Cada passo do monstro fazia os escombros desmoronarem ao redor.

— Estou cansado da soberania dos deuses...

Seus passos ecoavam em sua mente. Seu encontro com Freya. O destino cruel que lhe foi imposto.

— Estou cansado de ver pessoas boas pagarem pelos pecados dos cruéis...

O monstro se aproximava, seus olhos brilhavam com um ódio primordial.

— Estou cansado de ser fraco.

As chamas azuis em seu corpo explodiram, intensas como um incêndio celestial.

— Estou cansado de sentir medo.

Seus olhos brilharam, incandescentes.

— Chegou a hora de dar um basta nisso.

Ji-Ho ergueu uma das mãos.

E estalou os dedos.

No instante seguinte, um raio negro cortou o céu. O som rasgou o ar como um trovão dos deuses.

O monstro não teve chance.

Foi partido ao meio.

A criatura explodiu, seus pedaços voaram pelo campo de batalha antes de virarem cinzas. Não houve loot. Nada restou.

As chamas ao redor de Ji-Ho se extinguiram. Seus olhos voltaram ao normal.

Ele colocou as mãos nos bolsos da jaqueta e caminhou lentamente até os escombros de seu quarto. Sem emoção, puxou sua mala de roupas.

E sumiu na fumaça.

"Melhor ir embora antes que a Associação comece a fazer perguntas."

Num salto, Ji-Ho desapareceu.

Quando os despertos chegaram, tudo que encontraram foram cinzas e destruição. O chão ainda fumegava.

Tenkai analisou os destroços.

Então olhou para cima.

No topo de um edifício distante, parado contra o vento, uma silhueta.

"Lee Ji-Ho..."

 Ji-Ho chegou em casa. Sua irmã, Hikari, tentava fazer sua mãe comer um pouco de sopa.

— Olha, mãe, quem está de volta! — exclamou Hikari.

Os olhos cansados de sua mãe se abriram levemente.

— Ji-Ho...? É você, meu filho?

Seu tempo no hospital o transformara. Ele não era mais o mesmo.

— Sim, mãe. Voltei para casa. — Ji-Ho sentou-se ao lado dela. — Hikari, deixe comigo. Vá descansar.

Hikari entregou o prato sem questionar. Estava exausta.

— Como você se sente, meu filho?

— Estou bem. Mas agora precisamos cuidar da senhora.

— Que posição miserável... Eu deveria estar cuidando de vocês...

— Estamos apenas retribuindo tudo que a senhora fez por nós.

O som da TV chamou sua atenção. Noticiários transmitiam imagens do ataque ao hospital.

"Um monstro colossal surgiu hoje em frente ao hospital. Ele parecia estar à procura de alguém."

Na tela, um vídeo amador mostrava Ji-Ho enfrentando a criatura. A baixa resolução ocultava seu rosto, mas era o suficiente para gerar rumores.

Ji-Ho desligou a TV imediatamente.

— Você é muito nova para ver essas coisas, Hikari. — Ele bagunçou o cabelo da irmã.

— O que você vai fazer agora? A Associação ainda investiga o ataque aos mineradores. Suspenderam a extração de loot.

Ji-Ho recostou-se no sofá, olhando para o teto. Mesmo com poderes divinos, ele ainda era humano. Tinha responsabilidades.

— Ainda não sei... Talvez me aliste nos Gladiadores.

Os Gladiadores.

Uma facção mercenária. Indivíduos despertos que compravam hordas da Associação para caçar monstros e manter todo o loot. Sem regras. Sem burocracia. Apenas poder e dinheiro.

Talvez fosse exatamente o que ele precisava.

Mas uma coisa era certa na mente de Ji-Ho. Ele foi concebido com os poderes de um deus. Sem qualquer treinamento de combate, conseguiu exterminar um colosso sozinho.

"Foi tudo tão fácil… Como se eu pudesse prever seus movimentos. E quando fui atingido… Meu corpo reagiu sozinho. O que mais posso fazer com esses poderes? Mais monstros virão. Preciso estar pronto."

 No dia seguinte.

Ji-Ho despertou cedo. Seu corpo estava descansado, mas sua mente fervilhava. Ele precisava testar seus limites.

Sem hesitar, arrumou uma mochila com roupas e suprimentos para cinco dias. Escreveu um bilhete para sua família, deixou sobre a mesa e partiu.

Dessa vez, não havia dúvidas. Ele precisava explorar a imensidão de seus poderes.

 Dirigindo para fora da cidade, Ji-Ho chegou à floresta do acidente.

Ao descer do carro, sentiu um arrepio na espinha. Cada passo o fazia relembrar flashes do que havia acontecido ali. Ele seguiu pegadas antigas, até o local onde deveria estar a gigantesca árvore.

Mas ela havia desaparecido.

Uma clareira imensa ocupava o espaço, como se algo tivesse removido a árvore completamente. Ji-Ho sentiu uma vertigem. A cabeça latejou. Visões invadiram sua mente.

Chamas azuis. Poder esmagador.

Seu corpo tremeu.

"Argh… O que é isso…?"

Ji-Ho ajoelhou, ofegante. Seu corpo emanava calor. Então, sem aviso, uma explosão de energia irrompeu dele. Chamas azuis se espalharam, consumindo o chão ao seu redor.

O grito de Ji-Ho ecoou pela floresta. Pássaros fugiram, assustados. A terra queimava.

Quando finalmente recuperou o controle, Ji-Ho observou o estrago ao seu redor.

"…Isso foi por causa da minha raiva?"

Seu coração disparava. Uma coisa era certa: ele não poderia treinar ali. Era perigoso demais.

 Horas depois, Ji-Ho encontrou uma região afastada, cercada por montanhas e coberta por vegetação densa.

Perfeito.

Ele jogou a mochila no chão e começou os testes.

Primeiro desafio: velocidade e saltos.

Ji-Ho flexionou as pernas e saltou.

Com um único impulso, ultrapassou a copa das árvores.

"Isso é incrível…"

Seus reflexos estavam refinados. Seus movimentos, naturais. Mesmo sem treinamento, tudo parecia intuitivo.

Segundo desafio: resistência e corrida vertical.

Ele avistou uma montanha próxima e ativou o cronômetro do relógio. Sem hesitar, disparou.

O solo se partiu com a força do seu arranque.

Os ventos cortavam seu rosto. Ji-Ho enxergava tudo em tempo real, como se sua visão fosse uma lente fotográfica. Alcançando a base da montanha, não diminuiu o ritmo.

A gravidade não o impedia. Ele corria verticalmente pela rocha.

Segundos depois, alcançou o topo.

"Três quilômetros em linha reta e mais dez na subida…"

Ele olhou para as mãos. Seus punhos tremiam de excitação.

"Que absurdo."

 Quando a noite caiu, Ji-Ho retornou ao seu acampamento. Ele coletou gravetos e acendeu uma fogueira.

O calor das chamas dançava diante de seus olhos, mas ele não sentia frio. Seu corpo parecia se ajustar automaticamente ao ambiente.

Após uma refeição simples, montou sua barraca e deitou-se.

Era a primeira vez desde o coma que seu corpo relaxava de verdade.

Mas a paz durou pouco.

O farfalhar das árvores mudou. O vento soprou diferente.

A fogueira foi extinta por uma rajada repentina.

Ji-Ho abriu os olhos imediatamente.

Seus instintos gritavam perigo.

Ele saiu da barraca. Tudo estava escuro. A densa floresta ao seu redor impedia qualquer vestígio de luz.

Mas então…

Olhos vermelhos brilharam entre as árvores. Um. Dois. Dez. Dezenas deles.

A floresta inteira estava infestada.

Ele estava cercado.

Mas, ao invés de medo, um sorriso se formou nos lábios de Ji-Ho.

Ele abaixou a cabeça, fechou os olhos por um instante… e riu.

"…Era exatamente isso que eu queria."