O corpo do assassino jazia imóvel sobre as folhas secas, os olhos ainda abertos, refletindo o brilho pálido da lua. Não havia piedade em mim. A compaixão morreu no dia em que fui traído.
Eu me abaixei, observando os traços rígidos do rosto dele. Jovem. Talvez não tivesse mais do que vinte anos. Seus músculos indicavam anos de treinamento, mas a forma como suas mãos tremiam nos momentos finais mostrava a verdade: ele nunca havia enfrentado algo como eu.
E ele nunca enfrentaria de novo.
Peguei sua insígnia e o pergaminho, guardando-os dentro das vestes. Sargento Roderick. Eu precisava encontrá-lo e descobrir até que ponto os Cavaleiros Carmesins suspeitavam de mim.
Mas antes disso, eu precisava de informações.
A Caminho da Cidade
A estrada era longa e deserta. Árvores antigas erguiam-se como sentinelas silenciosas ao meu redor, e a lua alta projetava sombras distorcidas sobre o chão. Meus passos eram leves, minha mente afiada. Eu precisava ser meticuloso.
Se os Cavaleiros Carmesins haviam enviado um assassino para investigar as suspeitas sobre minha ressurreição, não demoraria para que mandassem mais. E da próxima vez, eu duvidava que viesse apenas um.
Eles não cometeriam o erro de me subestimar duas vezes.
Após algumas horas de caminhada, as primeiras luzes de uma vila apareceram ao longe. Casas simples de madeira, um pequeno moinho e uma única taverna de dois andares no centro. O cheiro de pão recém-assado e carne grelhada flutuava no ar, misturado ao odor persistente de suor e cerveja.
Meu estômago se revirou. Há quanto tempo eu não comia? Desde que despertei, a fome era uma lembrança distante, um eco de minha humanidade perdida.
Mas a sede... essa era algo que eu sentia.
E não era sede de água.
Entrei na taverna, ignorando os olhares que se voltaram para mim. Meus trajes estavam sujos de poeira e sangue seco, o capuz ocultando parte do meu rosto. Movi-me até o balcão, onde um homem robusto enxugava uma caneca de madeira.
— O que deseja? — perguntou o taverneiro, sem levantar os olhos.
Minha voz saiu rouca.
— Informação.
Ele finalmente me olhou, estreitando os olhos.
— Informação custa caro.
Deslizei uma moeda de ouro sobre o balcão. Os olhos dele brilharam por um instante, mas logo sua expressão se tornou cautelosa.
— O que quer saber?
— Os Cavaleiros Carmesins. Eles passaram por aqui recentemente?
O homem hesitou.
— Talvez.
Me inclinei levemente, deixando meu tom de voz mais baixo, ameaçador.
— Não me faça perguntar duas vezes.
O taverneiro engoliu em seco.
— Um grupo passou por aqui há dois dias. Falaram com um homem no canto da taverna, depois seguiram para a cidade de Blackhaven.
Blackhaven. Uma cidade grande, mais movimentada. Um lugar perfeito para se esconder... ou para caçar.
— Quem era o homem com quem conversaram?
O taverneiro fez uma careta.
— Se está perguntando isso... então você já sabe.
Meus olhos se estreitaram.
— Diga o nome.
Ele respirou fundo.
— Sargento Roderick.
Meu peito se encheu com uma fúria silenciosa. Então ele já estava um passo à minha frente.
Mas eu iria alcançá-lo.
O Lobo na Alcateia
Saí da taverna, meus pensamentos acelerados. Se Roderick esteve ali, ele poderia ter deixado rastros. Eu precisava encontrar alguém que tivesse conversado com ele.
E foi então que a vi.
Uma mulher sentada sozinha em um canto escuro da taverna, observando-me com interesse. Seu cabelo negro caía em ondas sobre os ombros, e seus olhos tinham um brilho afiado, analítico.
Ela não estava apenas me olhando.
Ela estava me estudando.
Voltei para dentro da taverna e caminhei até sua mesa.
— Parece que você me reconhece — falei, puxando uma cadeira.
Ela sorriu, mas seus olhos continuaram frios.
— Difícil não reconhecer alguém como você.
— E como eu sou?
Ela girou sua taça de vinho, observando o líquido rodopiar.
— Alguém que deveria estar morto.
O silêncio entre nós se tornou denso.
— Quem é você? — perguntei.
— Meu nome é Sylvaine. E eu sei por que está aqui.
Meus olhos se estreitaram.
— Então me diga.
Ela inclinou-se para frente, o perfume sutil de especiarias misturado ao cheiro forte de vinho.
— Você procura Roderick. E eu sei onde ele está.
Meu coração acelerou.
— E o que você quer em troca dessa informação?
O sorriso dela se alargou.
— Apenas uma coisa... quero assistir você matá-lo.