Capítulo 6 – Caçadores e Presa

O sorriso de Sylvaine era calculado, quase desafiador. Ela segurava sua taça de vinho como se estivesse saboreando não apenas a bebida, mas também a tensão crescente entre nós.

Ela queria assistir a morte de Roderick.

Isso significava uma de duas coisas: ou ela tinha uma rixa pessoal com ele, ou fazia parte de um jogo maior que eu ainda não entendia.

Me encostei na cadeira, mantendo meu olhar fixo no dela.

— Você parece bem informada. Como sabe que estou atrás de Roderick?

Ela brincou com a borda da taça antes de responder.

— O mundo é pequeno para pessoas como nós. Vozes sussurram, e eu sei ouvir muito bem.

Meus olhos se estreitaram.

— E por que está interessada nisso?

Ela riu baixinho.

— Porque eu também quero vê-lo morto.

O brilho nos olhos dela era intenso demais para ser apenas curiosidade. Havia algo mais ali. Ódio. Dor. Vingança.

— O que ele fez a você?

Por um instante, algo cruzou seu olhar. Uma lembrança talvez. Mas foi rápido. Rápido demais para ser lido.

— Isso não importa. — Ela se levantou, deixando algumas moedas sobre a mesa. — Se quiser encontrá-lo, me siga.

Acompanhei seus movimentos, analisando cada detalhe. Ela não era uma mulher comum. Seu jeito de andar, a postura, a maneira como seus olhos varriam o ambiente sem parecerem alertas demais... ela era uma caçadora.

E eu ainda não sabia se era minha aliada ou inimiga.

A Noite nos Observa

Saímos da taverna sem trocar mais palavras. A vila estava silenciosa, com apenas algumas lanternas iluminando as ruas de terra batida. O ar estava frio, carregado com o cheiro de lenha queimada e o perfume de Sylvaine, que me atingia ocasionalmente conforme caminhávamos lado a lado.

— Para onde estamos indo? — perguntei.

— Um pouco de paciência, meu caro. Toda caçada começa com o silêncio.

Suas palavras me fizeram perceber algo.

Ela não apenas queria matar Roderick. Ela queria caçá-lo.

Essa mulher tinha experiência.

Isso tornava tudo mais interessante.

Viramos uma esquina e entramos em um beco estreito. As sombras nos engoliram, e Sylvaine se virou para mim.

— Há uma carroça saindo para Blackhaven ao amanhecer. Roderick está lá, e não está sozinho.

Cruzei os braços.

— Quantos homens?

— Pelo menos seis. Mas não são soldados comuns. — Ela sorriu, e dessa vez havia um toque de desafio. — São caçadores de maldições.

Um silêncio pairou entre nós.

— Caçadores? — minha voz saiu baixa.

— Exatamente. — Ela se aproximou um pouco mais, a luz fraca iluminando os traços marcantes de seu rosto. — E você... é uma maldição ambulante.

Ela sabia.

Sylvaine sabia que eu era mais do que um homem comum.

— Você tem um jeito interessante de escolher aliados — falei, minha voz carregada de desconfiança.

Ela inclinou a cabeça, como se estivesse me estudando de novo.

— Você não é o único com assuntos inacabados neste mundo.

Ela me deu as costas e começou a caminhar para longe, mas antes de desaparecer na escuridão do beco, jogou uma última frase sobre o ombro:

— Se quiser a cabeça de Roderick, esteja pronto ao amanhecer.

A noite permaneceu em silêncio enquanto eu ficava parado ali, processando tudo o que havia aprendido.

Caçadores de maldições.

Se Roderick estava com eles, então já sabiam sobre mim. E se já sabiam, então vir atrás dele não seria apenas uma missão de vingança.

Seria uma armadilha.

Sorri para mim mesmo.

Isso tornava tudo ainda mais divertido.

O Passado em Seus Olhos

Antes de voltar para a hospedaria, olhei uma última vez para a direção que Sylvaine havia tomado.

Havia algo nela que me intrigava.

Não era apenas a habilidade de observação ou o jeito preciso com que se movia. Não era apenas sua beleza, nem o fato de ter uma sede de sangue semelhante à minha.

Era o olhar.

Por um instante, quando perguntei sobre Roderick, vi algo quebrado dentro dela.

Aquilo não foi apenas um desejo de vingança. Foi algo mais profundo.

Eu sabia reconhecer um passado sombrio.

Porque o meu era feito apenas disso.

E no fundo, sabia que descobrir o que assombrava Sylvaine era inevitável.

Mas primeiro...

Roderick precisava morrer.