A hospedaria era um lugar simples, mas decente. O cheiro de madeira envelhecida misturava-se com o leve aroma de cerveja e carne assada que vinha do salão principal. O balcão estava gasto pelo tempo, e o dono — um homem baixo e corpulento — nos atendeu sem fazer muitas perguntas.
Pelo que ouvimos no mercado, nosso alvo estaria por perto. Precisávamos ficar atentos. Não podíamos simplesmente andar pela cidade perguntando sobre ele. A melhor estratégia era esperar e observar.
— Apenas um quarto? — Sylvaine perguntou, cruzando os braços.
— Foi o que conseguimos — respondi, jogando uma moeda de prata no balcão.
O dono da hospedaria pegou o dinheiro sem hesitar e nos entregou a chave.
— Segundo andar, última porta à direita.
Subimos as escadas sem trocar palavras. Sylvaine não parecia feliz com a situação, mas também não reclamou. No fim, não tínhamos escolha.
O quarto era pequeno e austero. Uma única janela deixava entrar a luz pálida da lua. Havia uma cama modesta no centro e, ao lado, uma cadeira de madeira.
— Você fica com a cama — falei, indo direto para a cadeira e me acomodando nela.
Ela arqueou uma sobrancelha.
— Está brincando?
— Não estou com sono.
Sylvaine franziu a testa, como se quisesse discutir, mas no fim apenas soltou um suspiro cansado e jogou a espada no chão.
— Tanto faz — murmurou, sentando-se na cama e desamarrando as botas.
Eu permaneci onde estava, observando enquanto ela se deitava de lado, de costas para mim. Por um tempo, apenas o silêncio reinou no quarto. O vento noturno balançava as cortinas, e as vozes do salão lá embaixo se tornaram um ruído distante.
Pouco a pouco, a respiração de Sylvaine se tornou mais lenta.
Ela havia adormecido.
Meus olhos permaneceram fixos nela.
Pela primeira vez, eu a olhei não como uma aliada… mas como um homem olha para uma mulher.
Havia algo nela que eu nunca tinha reparado antes. O formato delicado de seu rosto, os fios prateados de seus cabelos espalhados sobre o travesseiro. Seu peito subia e descia suavemente, e a expressão rígida que ela sempre carregava agora estava relaxada.
Levantei-me da cadeira sem perceber.
Dei um passo à frente.
Outro.
Antes que pudesse pensar, já estava ao lado da cama. Meus olhos desceram até seus lábios levemente entreabertos, sua pele clara iluminada pela luz da lua.
Um leve perfume chegou até mim.
O cheiro de seus cabelos.
Foi como um gatilho.
Memória do Passado
O cheiro de flores silvestres no ar. O céu azul refletido em olhos cheios de vida.
Ela estava lá. Agora mais velha.
Não era mais a garotinha que corria pelos campos atrás de borboletas. Ela havia crescido.
Seus cabelos castanhos estavam mais longos, balançando com o vento da tarde. Seu corpo esbelto, suas feições delicadas… tudo nela havia mudado.
Menos os olhos.
Os olhos ainda carregavam aquela mesma intensidade, aquela mesma luz.
— Você está diferente — minha voz soou rouca.
Ela sorriu, inclinando a cabeça.
— E você continua o mesmo.
O silêncio caiu entre nós, até que, com um suspiro profundo, ela deu um passo à frente. Tão perto.
Eu senti o calor de sua pele, o perfume doce que sempre a acompanhava.
Então, ela falou:
— Eu te amo.
O mundo parou.
Seu olhar, tão firme, tão decidido…
Ela não estava brincando. Ela estava falando sério.
E eu… não soube o que dizer.
De volta ao presente…
Abri os olhos.
O cheiro de Sylvaine ainda estava no ar, misturando-se com as memórias do passado.
Dei um passo para trás.
O que diabos eu estava fazendo?
Fechei os olhos, exalando lentamente. Meu coração estava batendo mais forte do que deveria.
Voltei para a cadeira, sentando-me pesadamente.
Aquela garota…
Eu não a via há anos.
E agora, de repente, suas memórias voltavam para mim com uma força esmagadora.
Olhei para Sylvaine mais uma vez.
Por que ela me fazia lembrar dela?
A resposta… ainda estava fora do meu alcance.
Mas, cedo ou tarde, eu descobriria.