Capítulo 11 – O Caçador e a Presa

A manhã chegou sem aviso.

Eu não dormi, como de costume. Passei a noite analisando os detalhes que já temos sobre nosso alvo e organizando possíveis estratégias para encontrá-lo.

Sylvaine concordou com um suspiro pesado, sentando-se na cama e passando pelas mãos pelos prateados. Seu olhar foi direto para mim.

— Você sequer piscou essa noite, não é?

— Perder tempo dormindo não é um luxo que posso dar.

Ela revirou os olhos e clamou-se, pegando a espada que estava encostada na parede.

— Você vai acabar morto antes de completar sua vingança, se continuar assim.

Não respondo. Morte não era algo que me assustava há muito tempo.

Depois de nos prepararmos, descemos para o salão principal da pousada. O cheiro de pão recém-assado e café forte enchia o ar, misturado ao murmúrio das conversas dos viajantes e mercadores que ocupavam as mesas.

Sentamos em um canto discreto, pedindo algo simples para comer enquanto escutávamos as conversas ao redor.

Nosso alvo estava perto.

O nome dele era Darian Kross . Um mercenário de alta patente, envolvido em todo tipo de negócio sujo que se possa imaginar. Extorsão, assassinato, tráfico. Um verdadeiro parasita.

Ele não era o mais poderoso de seus aliados, mas eliminava um homem como ele enviaria uma mensagem.

Ninguém está seguro. Nem os mesmos cães do sistema.

— Eu ouvi algo ontem à noite — Sylvaine falou em voz baixa, seus olhos analisando o salão com cautela. — Dois mercadores estavam comentando sobre um grupo de soldados de aluguel que chegou à cidade há três dias. Parece que alguém contratou segurança extra para uma transação importante.

Parei por um momento, absorvendo a informação.

— E onde exatamente isso aconteceu?

— No armazém do Distrito Sul.

Fazia sentido. O Distrito Sul era conhecido por seu mercado negro, suas docas onde embarcações clandestinas atracavam sob a proteção de guardas subornados. Se Darian estava ali, era porque algo grande estava vencendo.

— Vamos até lá — disse, terminando o último pedaço de pão e me levantando.

Sylvaine fez o mesmo, ajeitando a espada na cintura.

Antes de sairmos, uma voz chamou minha atenção.

— ...sim, sim, dizem que ele vai ficar aqui só por mais uma noite. Depois disso, vai partir para o leste...

Virei discretamente a cabeça para observar a fonte da conversa. Dois homens, trajando roupas simples de comerciantes, falavam entre si enquanto bebiam cerveja.

— Então, a transação é hoje? — um deles perguntou.

Ou então concordo.

– Sim. Só temos até esta noite para fechar o negócio. Depois, ele estará longe do nosso alcance.

Encontrei o olhar de Sylvaine. Ela entendeu imediatamente.

Hoje era nossa única chance.

Saímos da hospedaria e caminhamos pelas ruas estreitas do Distrito Sul. O lugar tinha um cheiro forte de peixe e fumaça, com becos apertados e edifícios antigos cobertos de fuligem.

— Vamos manter distância — falei. — precisamos de mais informações antes de agir.

Nos misturamos ao fluxo de pessoas, mantendo a cabeça baixa e os ouvidos atentos. Quanto mais nos aproximávamos das docas, mais a atmosfera mudava. Soldados de aluguel, homens fortemente armados patrulhavam as áreas estratégicas.

A transação estava realmente acontecendo.

Encostei-me em uma parede de pedra, observando a movimentação.

Darian estava lá.

Ele estava cercado por pelo menos seis guardas , conversando com um homem encapuzado. Não podíamos atacar agora.

— Se fizermos algo aqui, vamos atrair atenção demais — Sylvaine sussurrou, os olhos analisando a cena.

Ela estava certa.

— Esperamos até que ele se mova — concluí.

Não demoraria.

Se ele estivesse realmente indo embora, em algum momento, teria que se separar de seus guardas e seguir para uma rota de fuga.

Tudo o que precisávamos fazer era seguir a trilha do sangue.