O vento frio cortava a noite como uma lâmina invisível, carregando consigo o cheiro da cidade e o peso da traição que ainda não havia sido revelada.
Eu não sabia.
Não sabia que, enquanto caminhávamos pelas ruas escuras, um acordo já havia sido selado.
Sylvaine, minha única aliada, havia vendido minha cabeça.
Mas antes da tempestade, tudo parecia normal.
— precisamos de um plano melhor para nos aproximarmos de Darian. — Sylvaine falou, mantendo o tom casual, mas firme.
Eu concordo com um aceno. Já reunimos informações suficientes, mas ainda precisávamos de uma abertura para atacar.
Foi então que ela sugeriu.
— Eu conheço um beco distante, uma passagem secreta usada por mercenários para fugas rápidas. Podemos esperar lá e interceptá-lo.
parece razoável.
Eu sigo sua ideia. Sem suspeitar de nada.
Horas antes...
Sylvaine encontrou-se com o representante da igreja no interior de uma capela abandonada.
As tochas queimavam fracamente, lançando sombras nas paredes de pedra. O homem que a esperava trajava vestes brancas, com o símbolo da cruz prateada em seu peito. Seus olhos carregavam a frieza de alguém que se via como justo.
— Então é verdade — ele disse, a voz serena. — Você viaja com um amaldiçoado.
Sylvaine cruzou os braços, o olhar fixo no homem.
— Isso não é problema seu.
O representante sorriu.
— Na verdade, é exatamente o meu problema. O que você acha de um acordo?
Ele tirou um saco de moedas de ouro do manto e jogou sobre a mesa. O som das moedas tilintando ecoou pelo ambiente, e Sylvaine sentiu o peso do dinheiro antes mesmo de tocá-lo.
— Tudo isso… só para entregar um homem?
— O preço pela cabeça de um amaldiçoado sempre será alto. Principalmente um como ele.
Ela queria votar.
Mas esse dinheiro…
Era o suficiente para garantir sua sobrevivência por anos. O suficiente para ela desaparecer do mundo.
O suficiente para realizar sua própria vingança.
Ela respirou fundo, fechou os olhos e tomou sua decisão.
— Me diga os detalhes.
Agora...
O beco era estreito e escuro. As paredes de pedra úmidas tornaram o ambiente claustrofóbico.
Sylvaine andava na frente, guiando o caminho.
Então, ela parou.
— O que foi? — perguntou.
Ela não respondeu. Apenas olhei para trás .
E então, eu ouvi.
Passos.
Vários passos.
A escuridão ao nosso redor se moveu, revelando homens encapuzados armados com lâminas e correntes.
Um círculo de feitiços brilhava fracamente no chão.
Uma armadilha.
Eu senti algo dentro de mim se retorcer. Não foi surpresa. Era um sentimento familiar.
Traição.
— Sylvaine…?
Ela não disse nada. Apenas desviou o olhar.
A compreensão caiu sobre mim como um golpe brutal.
Ela me vendeu.
De novo. De novo. Sempre a maldita traição.
Os caçadores avançaram.
Mas eles nunca tiveram uma chance.
Eu senti quando minha visão escureceu. Algo dentro de mim se partiu.
O chão rachou sob meus pés. O ficou pesado. A maldição despertou.
Uma energia negra explodiu do meu corpo, avançando como garras invisíveis. O mundo ao meu redor se desfez no caos.
Paredes desmoronaram. Gritos de agonia preencheram o beco. Homens foram lançados como bonecos de pano, seus corpos sendo esmagados contra as pedras.
Sylvaine que ajudou em tudo.
Pela primeira vez, ela sentiu medo de mim.
O vento soprou forte, levantando poeira e destruindo. Quando tudo se acalmou, eu estava diante dela.
Seus olhos estavam arregalados. Suas mãos tremiam.
Mas eu não a ataquei.
Apenas pergunto:
— Por quê?
Minha voz não carregava ódio.
Apenas uma profunda decepção.
Sylvaine não respondeu.
Porque ela não tinha uma resposta.