Tati sentiu um arrepio percorrer seu corpo.
Algo estava errado.
Muito errado.
Era como se uma onda invisível tivesse varrido o mundo ao seu redor.
Ela olhou para as próprias mãos, esperando ver seu brilho dourado celestial…
Mas não havia nada.
— "Meus poderes… desapareceram."
E então, algo ainda mais estranho aconteceu.
As meninas que estavam por perto, que até um segundo atrás estavam obcecadas por João Ricardo…
De repente, voltaram ao normal.
— "Ei, quem é aquela garota ali?" – perguntou uma.
— "Sei lá. Nunca vi antes." – respondeu outra.
Tati arregalou os olhos.
— "Espera… elas não me reconhecem?"
Ela olhou ao redor.
Todas as garotas que haviam sido afetadas pelo feitiço agiam como se nada tivesse acontecido.
A paixão incontrolável…
As memórias falsas…
Tudo desapareceu.
Enquanto isso, no ginásio…
João Ricardo sentiu um arrepio na espinha.
— "Hã?"
Melissa e Bia estavam sentadas ao seu lado…
Mas algo estava estranho.
Muito estranho.
Melissa olhou para ele e franziu a testa.
— "Ei… por que a gente tá aqui mesmo?"
Bia piscou algumas vezes, confusa.
— "É… parece que a gente tava falando sobre alguma coisa… mas eu não lembro o quê."
João congelou.
— "Vocês… não lembram de nada?"
Melissa riu.
— "Do quê? Sei lá, a gente tava aqui conversando, mas acho que era só papo furado."
Bia concordou.
— "É, deve ser. Vou pra sala antes que o professor me mate."
As duas se levantaram e saíram.
Simples assim.
Como se nada tivesse acontecido.
João Ricardo colocou as mãos na cabeça.
— "Não… não pode ser…"
Foi quando Tati apareceu, ofegante.
Ele olhou para ela e percebeu imediatamente.
O brilho dourado… sumiu.
— "Tati… o que aconteceu?"
Ela respirou fundo e falou, com a voz trêmula:
— "Eu quebrei uma regra."
Ela olhou para suas mãos, como se ainda estivesse tentando entender o que tinha acontecido.
— "Eu fui vista por um humano sem contrato… e perdi meus poderes."
João sentiu um peso no peito.
— "Espera… então… isso significa que…"
Tati assentiu, nervosa.
— "O feitiço foi completamente desfeito. Todas as garotas afetadas pelo Chocolate do Cupido… esqueceram de tudo."
João Ricardo olhou ao redor.
Agora que reparava, o colégio estava calmo.
Sem perseguições.
Sem confusões.
Sem memórias falsas.
Era como se nada daquilo tivesse existido.
Só ele e Tati lembravam.
Todo o resto do mundo seguiu em frente.
Tati soltou um suspiro pesado.
— "Isso significa que minha missão falhou…"
Ela olhou para João, e dessa vez não havia nenhum traço de brincadeira em seu rosto.
— "E que eu… estou presa aqui. Como humana."
João Ricardo passou a mão no rosto, tentando processar tudo.
Depois de tudo aquilo…
Depois de tanto caos…
Tudo voltou ao normal.
Menos para ele.
E menos para Tati.
O silêncio entre João Ricardo e Tati era pesado.
A escola, antes um caos de garotas enlouquecidas, agora parecia um dia comum.
Os alunos passavam pelo corredor, rindo, conversando, mexendo no celular…
Como se nada tivesse acontecido.
Mas João sabia a verdade.
Ele sabia que aquelas meninas já tinham dito que o amavam.
Sabia que Bia já tinha falado que estava "grávida" dele.
Sabia que tinha quase sido espancado por uma gangue de seguranças.
Mas agora… tudo isso sumiu.
Ele olhou para Tati.
Ela ainda encarava as próprias mãos, sem brilho, sem poder.
— "E agora?" – João quebrou o silêncio.
Tati engoliu seco.
— "Agora… eu sou só uma humana comum."
Ele arqueou uma sobrancelha.
— "E o que isso significa exatamente?"
Ela suspirou, olhando para ele com uma expressão rara de preocupação.
— "Significa que eu estou presa aqui. Eu não posso voltar pro Reino Celestial. Não posso usar magia. Eu…" – ela hesitou, e sua voz tremeu um pouco – "Eu sou só uma garota normal agora."
João ficou pensativo.
— "Então… quer dizer que você vai ter que viver como uma humana?"
Tati assentiu lentamente.
— "Exatamente."
João coçou a nuca.
— "E onde você vai morar?"
Tati paralisou.
— "Hã?"
— "Se você é humana agora, precisa de um lugar pra ficar, né?"
Ela engoliu em seco.
— "Ahm… é… eu… não tinha pensado nisso."
João suspirou fundo.
— "Meu Deus… eu sou um imã de problemas."
Ele sabia o que precisava fazer.
Mas não queria admitir.
Tati percebeu o silêncio e sorriu de lado.
— "Ei… por acaso você tá pensando em me oferecer abrigo?"
João revirou os olhos.
— "Não tô pensando. Eu já sei que não tenho escolha."
Ela deu um pulinho animado.
— "Então eu vou morar com você! Que legal!"
Ele apontou um dedo para ela.
— "Mas ó… sem bagunça, sem loucura e sem usar minha casa como seu playground, entendeu?"
Tati sorriu maliciosa.
— "Hmm… não prometo nada."
João se afundou na própria cadeira.
— "Minha vida tá indo de mal a pior…"
Tati riu.
— "Relaxa, Joãozinho. Agora você tem uma ex-deusa do amor como colega de quarto! O que pode dar errado?"
João Ricardo sentiu um calafrio.
Ele tinha certeza absoluta…
Essa história ainda estava longe de acabar.
João Ricardo não sabia o que era pior.
Ter um grupo de garotas apaixonadas correndo atrás dele ou…
Ter uma ex-deusa do amor morando em sua casa.
— "Certeza que isso é uma boa ideia?" – ele murmurou enquanto andavam pela calçada.
Tati pulava ao lado dele, olhando tudo ao redor como se nunca tivesse visto uma cidade antes.
— "Uau! Então é assim que humanos vivem! Olha só aquela loja! E essa comida? QUE CHEIRO BOM!"
João segurou o braço dela antes que ela saísse correndo para dentro de um restaurante.
— "Controla a empolgação, pelo amor de Deus! Quer dizer… pelo amor de… sei lá mais quem."
Tati riu.
— "Ah, Joãozinho, relaxa! Eu preciso aproveitar minha nova vida de humana, né?"
Ele suspirou.
— "Só não apronta muito. Meus pais já têm problema suficiente sem precisar lidar com um tornado ambulante em casa."
Tati o encarou com curiosidade.
— "Ah, é! Agora que sou humana, eu posso conhecer sua família! Como eles são?"
João hesitou.
— "Bom… minha mãe trabalha muito e quase não para em casa. Meu pai… ele mora em outra cidade."
Tati ficou um pouco séria.
— "Ah…"
— "Mas tá tudo bem. Eu me viro sozinho há um bom tempo."
Ela o observou com um olhar diferente. Como se estivesse vendo algo além da fachada sarcástica dele.
— "João… você é solitário, né?"
Ele arregalou os olhos.
— "O quê?! Não! De onde tirou isso?"
Tati sorriu de leve.
— "Só um palpite."
João desviou o olhar.
— "Chega de papo sentimental. Vamos logo antes que eu me arrependa de te levar pra casa."
Tati riu e o seguiu.
Mas no fundo, algo nela mudou.
Ela sempre viu João como um humano comum, alguém com quem podia brincar e zoar.
Mas agora, ela via outra coisa.
Ele não era só um cara azarado que caiu no feitiço do chocolate.
Ele era alguém que carregava muita coisa sozinho.
E agora, pela primeira vez, ele tinha companhia.
Mais tarde, na casa de João…
Assim que abriram a porta, Tati se jogou no sofá.
— "NOSSA, QUE DELÍCIA! Eu já amo morar aqui!"
João fechou a porta e cruzou os braços.
— "Nem pense em transformar isso numa zona, ouviu?"
Tati revirou os olhos.
— "Relaxa, Joãozinho. Eu sou uma ótima hóspede!"
— "Duvido muito."
Ela se levantou e olhou ao redor.
— "Então, onde eu vou dormir?"
João coçou a nuca.
— "Bom… tem o meu quarto e tem o sofá."
Tati sorriu travessa.
— "Que tal eu dividir a cama com você?"
João engasgou.
— "NEM PENSAR!"
Ela caiu na risada.
— "Relaxa, foi brincadeira! Acho que vou ficar com o sofá mesmo."
Ele ainda estava vermelho.
— "Ótimo. Então, regras da casa: sem bagunça, sem barulho e—"
Um barulho alto veio da cozinha.
Tati já estava fuçando na geladeira.
— "UOU! Humanos têm MUITA comida! O que é isso?"
João massageou as têmporas.
Ele já estava se arrependendo.
E era só o primeiro dia.
Enquanto isso…
Lá no Reino Celestial…
Um grupo de deuses observava tudo através de um espelho mágico.
— "Então… Tati quebrou as regras."
— "Sim. E agora ela está vivendo como uma humana."
Um deus de cabelos brancos e olhos dourados franziu a testa.
— "Isso não pode ficar assim. Precisamos interferir."
Outro deus, mais velho, sorriu de leve.
— "Ainda não. Vamos observar mais um pouco. Quero ver como ela se adapta… e como aquele humano lida com tudo isso."
O espelho refletiu João Ricardo brigando com Tati na cozinha.
Os deuses sorriram.
Isso ainda estava longe de acabar.