capítulo 9 Uma Nova Ameaça

O colégio seguia sua rotina normal, mas João Ricardo sabia que algo estava errado.

Depois da aparição misteriosa daquela mulher de terno e do registro mágico de Tati como aluna, ele não conseguia relaxar.

Tati, por outro lado…

— "Caraaa, eu adorei essa coisa de estudar!" — Ela dizia animada, rodando os braços enquanto caminhavam para a próxima aula.

— "Você só teve uma aula até agora."

— "Mas foi legal! A professora falou sobre ciências, e eu fiquei pensando que vocês, humanos, são uns gênios! Como descobriram tanta coisa sem magia?"

João revirou os olhos.

— "Com muito esforço e erro."

— "Aaaah, faz sentido!"

Ele respirou fundo.

Tati podia ter perdido os poderes, mas não tinha perdido a energia infinita de uma deusa.

Porém, antes que pudesse responder algo sarcástico, uma sensação estranha percorreu sua espinha.

Ele parou no meio do corredor.

Tati notou o silêncio dele.

— "Que foi?"

Ele olhou ao redor.

O corredor estava cheio de alunos, mas…

Havia alguém os observando.

E quando João virou para o lado direito…

— "Aquele cara tá encarando a gente."

Tati seguiu o olhar dele.

Encostado na parede, perto do bebedouro, estava um garoto alto, cabelos pretos e um olhar afiado.

Ele parecia… sério demais para alguém do ensino médio.

Mas o que mais incomodava João era o fato de que o cara não desviava o olhar.

— "Quem é ele?" — João perguntou.

Tati parecia inquieta.

— "Eu… eu não sei."

— "Certeza?"

— "Positiva. Nunca vi esse cara na minha vida."

Isso só deixava tudo mais estranho.

Por que alguém estaria encarando eles daquele jeito?

Mudança de Planos

Durante a aula, João tentou ignorar a sensação de ser observado.

Mas falhou miseravelmente.

Ele olhava para trás discretamente, e lá estava o garoto de antes.

Sempre com o mesmo olhar frio e calculista.

Até que…

No final da aula, quando João e Tati estavam saindo da sala, o garoto finalmente se aproximou.

— "Podemos conversar?"

João se virou devagar.

Tati ficou tensa.

— "Sobre o quê?" — João perguntou, cauteloso.

O garoto olhou diretamente para Tati.

— "Sobre você."

Tati esticou um sorriso nervoso.

— "E-eu? Mas eu sou só uma aluna nova, nada de especial!"

O garoto arqueou uma sobrancelha.

— "É mesmo?"

João se colocou entre os dois.

— "O que você quer com ela?"

O garoto suspirou e cruzou os braços.

— "Eu sei que vocês dois não são normais."

Tati engoliu em seco.

João franziu a testa.

— "Do que você tá falando?"

O garoto os analisou por um momento, depois sorriu de lado.

— "É melhor vocês não mentirem. Eu já sei a verdade sobre o Chocolate do Cupido."

Os olhos de João se arregalaram.

Tati parecia paralisada.

Como ele sabia disso?!

João Ricardo sentiu o peso da encrenca aumentando.

E sabia que não podia fugir dessa conversa.

O silêncio pairou entre os três.

João sabia que precisava agir com cautela.

Tati estava imóvel, o rosto pálido.

E aquele garoto…

Quem diabos ele era?

— "Do que você tá falando?" — João perguntou, tentando manter a calma.

O garoto sorriu de lado.

— "Não precisa bancar o desentendido. Eu sei que algo estranho aconteceu nessa escola."

Tati engoliu seco.

— "Acho que você tá viajando. Não aconteceu nada demais."

O garoto arqueou a sobrancelha.

— "Não mesmo?"

Ele tirou um celular do bolso.

E, antes que João pudesse reagir, ele mostrou a tela para os dois.

Era um vídeo.

Um vídeo onde Bia Montenegro aparecia chorando, cercada por várias garotas.

Elas falavam sobre memórias estranhas.

Sobre como tinham certeza de que amavam alguém… mas não lembravam quem.

Sobre como parecia que algo tinha sido apagado de suas mentes.

— "Esse vídeo foi gravado ontem." — O garoto disse. — "Elas não lembram que fizeram isso. Mas eu lembro."

João sentiu um calafrio.

Então não era só ele e Tati que perceberam a mudança.

Alguém ainda tinha fragmentos da verdade.

Tati tentou manter um tom casual.

— "E o que isso tem a ver com a gente?"

O garoto a encarou, sério.

— "Tudo. Porque vocês dois são os únicos que parecem normais depois de tudo isso."

João cerrou os punhos.

Esse cara não era qualquer um.

Ele sabia demais.

— "Quem é você?" — João perguntou, estreitando os olhos.

O garoto sorriu levemente.

— "Me chamo Daniel."

Ele guardou o celular e deu um passo para trás.

— "Eu não tô aqui pra brigar com vocês. Na verdade, quero ajudar."

Tati e João se entreolharam.

— "Ajudar como?" — Tati perguntou, desconfiada.

Daniel colocou as mãos no bolso.

— "Eu também fui afetado pelo Chocolate do Cupido."

João prendeu a respiração.

Tati ficou ainda mais tensa.

— "Mas então…" — João começou. — "Por que você ainda lembra?"

Daniel sorriu de lado.

— "Porque eu fiz questão de não esquecer."

João sentiu um arrepio na espinha.

Esse cara definitivamente era perigoso.

Mas, ao mesmo tempo…

Talvez ele fosse a única pista que tinham sobre o que estava por vir.

E João sabia que não tinha escolha.

Ele precisava descobrir a verdade.

João Ricardo sentia seu coração bater forte no peito.

Tati ainda parecia meio perdida, mas ele sabia que ela também sentia o peso daquela revelação.

— "Como assim você fez questão de não esquecer?" — João estreitou os olhos para Daniel.

O garoto sorriu de leve.

— "Eu percebi que algo estava errado antes mesmo de tudo ser apagado."

Ele tirou um caderninho do bolso e mostrou algumas anotações rabiscadas com pressa.

— "Sempre que eu sentia que algo estranho estava acontecendo, eu anotava.

João e Tati se aproximaram para ler.

Havia frases como:

"Por que todo mundo tá agindo como se um cara tivesse sumido do nada?"

"Bia estava diferente. Perguntar sobre isso amanhã."

"A escola parece… vazia?"

"Preciso lembrar que algo foi apagado."

João engoliu seco.

— "Então você… criou um jeito de resistir?"

Daniel assentiu.

— "Eu não sei o que aconteceu exatamente, mas percebi que vocês dois eram os únicos que não foram afetados."

Tati murmurou baixinho:

— "Isso não era pra ser possível…"

Daniel cruzou os braços.

— "E ainda tem mais uma coisa."

Ele olhou direto para Tati.

— "Eu vi você desaparecer uma vez."

Tati prendeu a respiração.

João sentiu o corpo gelar.

— "O quê?"

Daniel manteve o olhar sério.

— "Antes do reset acontecer, você… sumiu por alguns segundos. Como se estivesse desaparecendo no ar."

Tati ficou pálida.

João percebeu que ela tremia levemente.

Ele fechou os olhos por um segundo.

Isso era muito ruim.

Se Daniel tinha visto isso, significava que Tati estava perdendo mais do que os poderes.

Significava que talvez ela estivesse desaparecendo completamente.

O Que Fazer Agora?

O silêncio se estendeu entre os três.

Até que João respirou fundo.

— "Tá, e o que você quer com a gente?"

Daniel o encarou por alguns segundos antes de responder:

— "Saber a verdade."

Tati desviou o olhar.

— "A verdade não vai te ajudar em nada."

— "Deixa que eu decido isso." — Daniel respondeu sem hesitar.

João sabia que esse cara não ia desistir.

E, pior…

Se ele já tinha percebido tanto sozinho, ele estava a um passo de descobrir tudo.

Ele olhou para Tati.

Ela ainda parecia nervosa, mas assentiu para ele.

João suspirou.

— "Tá bom. Vamos conversar."

Daniel arqueou a sobrancelha.

— "Agora?"

— "Não. Depois da escola."

João olhou para os lados.

— "Aqui tem gente demais."

Daniel analisou João por um momento, então sorriu de leve.

— "Beleza. Depois da escola, então."

Ele guardou o caderno no bolso.

— "Vou esperar vocês na quadra."

E, sem dizer mais nada, se afastou.

Tati soltou um suspiro pesado.

— "Isso tá saindo do controle."

João passou a mão no rosto.

— "Como se já estivesse sob controle antes…"

Agora, além de lidar com as consequências do reset, eles tinham um novo problema.

E o nome desse problema era Daniel.

O dia de aula se arrastou como um filme em câmera lenta.

João Ricardo não conseguia prestar atenção em nada.

Matemática? Que se dane.

História? Que importância tinha, quando ele estava vivendo um problema real?

Tati, por outro lado, parecia uma bomba-relógio prestes a explodir.

Cada vez que Daniel olhava para eles de longe, ela ficava mais inquieta.

E quando o sinal finalmente bateu…

— "Vamos acabar logo com isso." — João murmurou, levantando-se da carteira.

Tati respirou fundo e assentiu.

A Reunião com Daniel

A quadra da escola já estava vazia.

Daniel esperava sentado na arquibancada, girando um lápis entre os dedos.

— "Pontuais. Gosto disso."

João cruzou os braços.

— "Chega de enrolação. O que exatamente você quer saber?"

Daniel sorriu de leve.

— "Primeiro, quero que me contem o que aconteceu com todas as garotas que esqueceram alguma coisa."

Tati tentou disfarçar o desconforto.

— "E se a gente disser que não sabe?"

Daniel arqueou a sobrancelha.

— "Então eu continuo investigando sozinho."

João soltou um suspiro.

Esse cara não ia desistir.

E, para piorar, ele já sabia demais.

João olhou para Tati, que hesitou, mas acabou assentindo.

— "Tá bom." — João disse. — "Mas depois disso, você não se mete mais."

Daniel deu um sorriso satisfeito.

— "Veremos."

João passou a mão no rosto. Por onde começar?

Então ele resolveu ir direto ao ponto:

— "Tudo isso aconteceu por causa de um feitiço."

Daniel estreitou os olhos.

— "Feitiço?"

— "Sim. Um feitiço de amor. Uma magia que fez as garotas acharem que estavam apaixonadas por mim."

Daniel ficou em silêncio por um momento.

— "E agora todas esqueceram."

— "Porque o feitiço foi desfeito."

Daniel olhou para Tati.

— "E você?"

Tati forçou um sorriso.

— "Eu… sou alguém que entende dessas coisas."

João percebeu que ela não queria dizer que era uma ex-deusa.

E, sinceramente, ele concordava.

Daniel os analisou por alguns segundos.

Então, finalmente, falou:

— "Então me expliquem uma coisa."

Os dois ficaram atentos.

Daniel se inclinou um pouco para frente.

— "Se o feitiço foi desfeito…

…por que algumas pessoas ainda sentem que algo está faltando?"

João prendeu a respiração.

Tati arregalou os olhos.

— "O quê?"

Daniel pegou seu caderninho e folheou até uma página específica.

— "Ontem, Bia Montenegro teve um ataque de pânico no meio da aula.

Ela disse que sentia que alguém importante havia sumido da vida dela.

Mas ela não conseguia lembrar quem."

João sentiu um arrepio na espinha.

Isso não podia estar acontecendo.

O feitiço tinha sido apagado.

As memórias tinham sumido.

Então…

…por que as emoções ainda estavam lá?

Tati engoliu seco.

— "Isso… não faz sentido."

Daniel fechou o caderno.

— "Exatamente. E é por isso que eu não vou parar de investigar."

Ele levantou-se da arquibancada e deu um último olhar para os dois.

— "O feitiço pode ter sumido… mas as cicatrizes que ele deixou ainda estão por aí."

E, sem dizer mais nada, ele foi embora.

João ficou parado ali, sentindo um nó no estômago.

Tati abraçou os próprios braços.

— "João…" — a voz dela soou fraca.

Ele olhou para ela.

— "Se ele estiver certo… o reset não foi completo."

João fechou as mãos em punho.

— "O feitiço pode ter desaparecido… mas algo ficou para trás."

Os dois se entreolharam.

E, pela primeira vez desde o começo de tudo, eles perceberam que talvez a história ainda não tivesse acabado.