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A noite estava pesada, carregada de um silêncio quebrado apenas pelo eco distante de passos apressados e o som abafado de armaduras rangendo. O ar, antes fresco, agora trazia consigo um cheiro metálico e doce, era sangue. Muito sangue.
Meus olhos se abriram de repente. A [Visão Noturna] me permitia enxergar como se fosse dia, mas o que eu via não era reconfortante. Soldados corriam em todas as direções. Algo estava terrivelmente errado.
— Ei, Merlin, tem alguma coisa acontecendo lá fora
Merlin surgiu ao meu lado, sua forma materializando-se fora de sua camuflagem.
— [Isso é assustador…]
Eu desci as escadas rapidamente, pulando os degraus, na parte de baixo eu vi Thom e Eliza abraçados com Lilia ao lado com os olhos arregalados.
— O que tá acontecendo? — perguntei, olhando para os dois.
Thom cruzou os braços e suspirou, claramente preocupado.
— Algo aconteceu no castelo. Mensageiros estão convocando reforços pela cidade. Mas não sabemos os detalhes.
— Eu acho que estão falando dos aventureiros, se algo está acontecendo eles são os únicos que podem ajudar além dos soldados. — Eliza disse
Eu pensei que tudo ficaria bem já que Sentil poderia ajudar. Então não tem o que me preocupar…
Espere! Ele iria hoje nas montanhas com alguns soldados para investigarem. Se ele não voltou ainda…
— Eu estou saindo. — eu disse abrindo a porta
Eliza arregalou os olhos.
— Tem certeza? Você nem sabe o que aconteceu…
Dei de ombros, um sorriso confiante nos lábios.
— Está tudo bem. Se for sério o bastante pra chamar reforços, eu posso ajudar, sou um aventureiro, se lembra?
Vamos alongar essa mentirinha inocente mais um pouco, vamos?
Ela hesitou por um instante, mas depois suspirou.
— Só… tome cuidado.
— Relaxa. Eu sou um cara bem forte.
Ao sair eu pedi para Merlin ficar ali, para cuidar deles eu iria me virar sozinho dessa vez.
O vento cortava meu rosto enquanto eu saltava pelos telhados. Meus pés encontraram o equilíbrio perfeito entre velocidade e precisão. Com essa velocidade, eu chegaria ao castelo em cinco minutos.
Mas o cenário que encontrei ao pousar na última casa antes dos portões foi pior do que esperava.
Uma chacina.
Soldados lutavam contra... zumbis? Criaturas humanoides, rápidas, mas sem técnica. Eles avançavam em massa, impedindo qualquer um de entrar no castelo.
Alguns aventureiros chegaram para ajudar. Magia de fogo iluminava a noite enquanto cavaleiros de escudo avançavam, tentando abrir caminho.
Sem hesitar, saltei para a rua. Todos me olharam quando usei minha [Manipulação de Fogo], incendiando os zumbis e arremessando alguns longe.
— Eu vou abrir caminho! Se afastem! — gritei.
Abri a boca e uma rajada de fogo saiu, carbonizando tudo à frente. Os soldados de escudo avançaram logo depois, aproveitando o espaço que criei.
Eu esperei. Deixei os mais experientes irem primeiro. Ainda sou novato, não posso comprometer a operação.
Assim que alguns aventureiros passaram, segui atrás. Eles eram rápidos. Provavelmente tinham um físico excepcional.
Uma maga à minha frente diminuiu o ritmo para falar comigo. Ela usava uma armadura negra que deixava o rosto à mostra. Tinha cabelos longos laranjas e olhos da mesma cor, que brilhavam como uma fogueira.
— Aquela foi uma magia impressionante. Você é um mago? — perguntou, curiosa.
— Ah, não. Meu estilo é corpo a corpo.
Ela arqueou uma sobrancelha.
— Sério?! É raro ver alguém usando uma habilidade tão forte fora da especialização.
Eu não faço ideia do que ela está falando…
— Obrigado. Me chamo Victor.
— Abóbora. — Ela estendeu o punho. Toquei o dela num cumprimento rápido.
Abóbora…é? Que nome mais fofo.
O som de espadas cortando carne podre ecoava pelo campo de batalha. Minha percepção aguçada criava um mapa mental ao meu redor. Sem hesitar, revelei minhas garras, cortando cabeças de zumbis em um movimento preciso. Logo depois, as retraí para evitar que alguém notasse.
Um dos zumbis se lançou sobre mim. Já estava pronto para reagir quando um enorme escudo se interpôs entre nós. Um homem de quase dois metros, vestindo uma armadura pesada, bloqueou o ataque.
— Pode deixar as costas comigo — disse ele, firme.
— Valeu!
Esses caras eram bons. O grandão devia ser um Tank. Isso estava parecendo um jogo.
» Viola Abóbora
Raça: Humano
Idade: 26
Classe de ameaça: (B-) «
Agora o grandão:
» Don Hun
Raça: Humano
Idade: 37
Classe de ameaça: (B-) «
Mesma classe, mesmo com essa diferença de idade. Parece que subir de classe é mesmo difícil, mas talvez Abóbora só fosse um prodígio.
Ela destruía os mortos-vivos com ataques simples. Com um movimento de mão, uma chama laranja queimava o ar e explodia, levando três ou quatro zumbis junto. Seu poder destrutivo era alto, mas resistência baixa.
Focar em um tipo de habilidade parecia mais eficiente do que querer ter um pouco de tudo, isso que ela quis dizer com "especialização"?
— Cuidado! — Abóbora gritou.
Antes que eu reagisse, me defendi de um ataque e o zumbi foi queimado pela magia dela. Mas algo estava errado…
Do corte em meu braço, uma aura negra emanava.
— O que é isso?
— [Cura Sagrada] — ela murmurou, colocando as mãos sobre o ferimento.
Uma dor absurda percorreu meu corpo. Tive que me segurar para não fazer uma careta de agonia. A aura negra desapareceu.
— O-obrigado...
— Zumbis são amaldiçoados. Um ataque deles pode te infectar.
Que cura mais dolorosa…
Ela correu para ajudar os outros, e eu me infiltrei no castelo. O salão era imenso, um grande tapete no centro e uma escadaria se erguendo ao fundo. Sem hesitar, disparei para o segundo andar, procurando o inimigo.
O estrondo de passos apressados me alertou, um homem enorme surgiu, correndo direto para mim. Atrás dele, um velho com uma espada. Provavelmente o velhinho é aliado.
— Você! — gritei, avançando.
Minha mão envolveu o rosto do brutamontes e o lancei com força no chão. Ele despencou pelo buraco causado, caindo no andar de baixo.
O velho parou ao meu lado, surpreso.
— Você é um aventureiro?
— Sim. Sou conhecido do príncipe. Vim ajudar na ausência dele.
Ele relaxou um pouco.
— Então é amigo do meu aluno… Agradeço o apoio.
Das sombras, um homem envolto em um manto negro se revelou perto de um quarto protegido por uma barreira mágica.
— Quem é esse? — perguntei.
— O responsável pelos zumbis. Ele teleportou aqueles monstros para cá e agora tenta alcançar a princesa.
Então aquele quarto era da irmã de Sentil… O velho devia ter erguido a barreira para protegê-la.
— Cuide dele. O grandão é meu. — E sem esperar resposta, saltei pelo buraco.
O brutamontes já se levantava. Antes que pudesse se recuperar, caí em cima dele, forçando-o contra o chão de novo.
Saltei para trás, esperando seu próximo movimento. Ele cuspiu sangue e sorriu.
— Você é forte… — avançou, tentando me agarrar.
Segurei seus punhos e começamos um embate de força bruta. Ele estava me igualando. Quem diabos era esse cara?
» Impossível analisar. Bloqueio detectado. «
Então ele também usava bloqueio…
— E agora? Onde está sua força ago—
Não esperei ele terminar. Minha testa colidiu com seu rosto, um estalar de ossos quebrando ecoou. Ele tropeçou para trás, as mãos indo ao nariz quebrado.
Aproveitei a abertura. Meu punho afundou na bochecha dele, e seu corpo foi lançado para trás, atravessando a parede de pedra do castelo.
Mas não ia deixá-lo escapar. Antes que tocasse o chão, agarrei seu tornozelo e o joguei de volta com toda a força.
— Minha força parece muito bem aqui.
Caminhei até onde ele caiu, tossindo sangue. Eu não queria matar humanos, então me segurava para não exagerar… como fiz com Dragan.
Ele limpou a boca e riu.
— Metamorfos… raça maldita. Você acabou de nascer e já luta desse jeito?
— O que você—
Ele arrancou um pedaço da parede e jogou em mim, aproveitando a distração para me acertar um chute. Meu corpo foi arremessado para cima, e antes que pudesse reagir, um soco esmagou meu estômago, me lançando longe.
Isso doeu…
Pousando com dificuldade, estendi a mão para o chão e conjurei uma lança de gelo sob seus pés. Ele tentou escapar, mas uma estalou contra sua panturrilha.
Seu grunhido de dor foi a deixa. Avancei e desferi um soco, mas ele desviou por centímetros e me acertou um gancho nas costelas.
Que irritante…
Usando o impulso, plantei uma bananeira e tentei acertá-lo com um chute. Ele segurou meus tornozelos, mas eu me dobrei no ar, agarrei seu rosto e o acertei com uma joelhada.
Ele recuou, atordoado.
Nos encaramos por um momento. Meu corpo já se ajustava ao dano, minha [Adaptação] estava funcionando. Mas o desgraçado ainda não caía.
Ele respirou fundo, e seu corpo brilhou em um tom amarelado. Uma habilidade de fortalecimento aparentemente. Os músculos inflaram, as veias saltaram.
— Agora vou com tudo. Está irritado, Victor?
Meus olhos se estreitaram.
— Como sabe meu nome?
— Estamos te observando desde que chegou à cidade.
"Estamos?" Então havia mais deles. Talvez eu conseguisse arrancar informações.
— O que querem com a princesa?
— Eu só sigo ordens.
Mentiroso.
Avancei, socos disparando como uma metralhadora contra seu torso. Quando tentou contra-atacar, desviei e saltei, cravando meu calcanhar na sua nuca.
Ele se virou para me acertar, mas um escudo enorme surgiu entre nós.
Don.
Atrás dele, soldados surgiram, subindo as escadas e cercando o andar de baixo.
— Eu disse que podia contar comigo.
Sorri. Esse cara era mesmo confiável!
Uma explosão detonou no rosto daquele homem, forçando-o a dar um passo para trás. Abóbora havia chegado. Ao lado dela, um homem de vestes brancas ergueu a mão, e uma luz suave percorreu meu corpo, provavelmente cura, bom, graças a regeneração, eu não preciso disso.
— Isso escalou muito… — ele murmurou, cansado.
— Matem o invasor! — gritou um dos soldados.
O inimigo sequer hesitou. Com um único movimento brutal, esmagou a cabeça de um soldado entre as mãos. O capacete e a armadura não foram barreira suficiente. O som úmido de crânio e carne sendo despedaçados fez o estômago de alguns guerreiros revirar, mas ninguém recuou.
As lanças e espadas dos soldados cortaram a carne dele, mas os golpes eram superficiais. Abóbora lançou mais explosões, rasgando seu corpo. No entanto, mesmo sangrando, com dentes faltando e o rosto dilacerado, ele continuava de pé, arrancando vidas como se fossem nada.
Ele arrancou o coração de um dos soldados com as mãos nuas. Outro, tentou recuar, apenas para ter a garganta esmagada por um golpe brutal no pescoço.
Mesmo assim, ele estava começando a fraquejar.
Então, seu corpo brilhou novamente. Outra habilidade de aprimoramento. As veias saltaram, os músculos cresceram.
Ele avançou em velocidade absurda—direto para Abóbora.
— Aghhhh! — O grito dela rasgou o ar.
A mão dele esmagou a dela sem esforço, os ossos quebrando como vidro.
— Sua magia está me incomodando! — disse, apertando ainda mais.
Antes que pudesse fazer mais, Don colidiu contra ele com o escudo, forçando-o a recuar e soltar Abóbora.
Eu disse a mim mesmo que não queria sangue humano em minhas mãos, mas…
Esse homem… Ele não vê vidas, a vida desses soldados, dessas pessoas não valem nada para ele.
Minha visão escureceu por um instante quando corri em sua direção. Ele tentou me socar, mas girei para o lado e chutei sua perna. O estalo seco da fratura exposta ecoou no salão. O osso perfura a pele, jorrando sangue no chão de pedra.
O inimigo caiu de joelhos, mas antes que pudesse reagir, meu punho encontrou seu rosto. Um dente voou da boca dele, seguido por um espirro de sangue.
Caído no chão, ele tentou se mover.
Eu não deixei.
Meu pé esmagou seu braço com força suficiente para partir os ossos em ângulos errados.
Ele urrou, mas não durou muito.
Montei em cima dele, segurei seu outro braço contra o chão e comecei a socá-lo sem parar. Cada impacto fazia seu rosto afundar mais no próprio sangue. Osso quebrava. Pele rasgava.
O salão inteiro ficou em silêncio por um momento.
Quando finalmente parei, sua face estava irreconhecível. Inchada ao ponto que ele mal conseguia manter a boca fechada. Mas ele ainda respirava.
Eu me levantei. A luta havia acabado e eu não o mataria.
— Seu merda! — A voz de Abóbora me fez virar.
Ela se aproximou, lágrimas escorrendo pelo rosto enquanto levantava a mão que ela ainda tinha.
Uma torrente de fogo irrompeu de seus dedos, consumindo a cabeça dele sem hesitação.
Os gritos abafados duraram apenas alguns segundos antes de sumirem.
Quando as chamas cessaram, não restava nada além de uma mancha preta onde um rosto deveria estar.
O cheiro de carne queimada encheu o salão. Todos ficaram em silêncio e logo os soldados marcharam para o segundo andar.
A habilidade de bloqueio do inimigo sumiu.
» Nome: Honda
Raça: Humano
Idade: 48
Classe de Ameaça: (B) «
Eu encarei o cadáver sem cabeça. Agora que estava morto, eu poderia absorvê-lo. Mas não o fiz, talvez pudessem descobrir algo sobre ele depois, então deixei o corpo onde estava.
Eu fui até Abóbora, que respirava com dificuldade.
— Eu vou ficar bem… — ela murmurou. — Só preciso de um descanso… Usei tudo naquele golpe final…
Eu me ajoelhei ao seu lado, minhas mãos ainda estavam vermelhas pelo sangue de Honda. O curandeiro veio e curou sua mão danificada. Ao ver que tudo estava bem eu me levantei.
Eu então subi as escadas, sentindo um frio estranho no peito. Assim que pisei no próximo andar, me deparei com uma cena horrível.
Dezenas de corpos dos soldados estavam jogados pelos corredores do castelo, o cheiro de sangue impregnava o ar. Me aproximei de um deles, um homem mais velho, com uma barba mal cuidada.
Essas roupas nobres… só pode ser o rei!
Me abaixei ao lado dele rapidamente. Apesar do corte feio no peito, ele ainda estava respirando. Não havia tempo a perder.
Rasguei parte da roupa dele e amarrei ao redor do ferimento, apertando o tecido com força para estancar o sangramento. Não era a melhor solução, mas pelo menos garantiria que ele aguentasse até que algum curandeiro chegasse.
Respirei fundo e foquei minha percepção, tentando localizar onde o velho e o encapuzado estavam. O castelo era imenso, mas algo na parte de cima chamou minha atenção. Eu conseguia sentir presenças.
As torres de vigilância.
Sem hesitar, corri até a janela e saltei. Minhas garras se cravaram na parede de pedra, e escalei rapidamente até o topo, onde uma cena ainda pior me esperava.
O velho estava ajoelhado, sua respiração pesada. Uma aura negra saía dele, espalhando-se como fumaça.
Uma maldição!
No topo da torre, o encapuzado segurava uma garota adormecida nos braços. Cabelos brancos e longos caiam por seus ombros.
— Seu desgraçado… — o velho resmungou, sua voz fraca e cheia de ódio.
Me aproximei e segurei seu ombro, tentando dar apoio.
— O que ele está fazendo?
— Um dispositivo de teletransporte… Ele é um usuário de magia negra… Me amaldiçoou… Não consegui impedi-lo… — O velho tossiu, o corpo vacilando. — Por favor… salve a Senhorita Serena…
E então, ele desmaiou na minha frente.
Uma luz azul brilhou ao redor do encapuzado. Círculos mágicos surgiram no céu, símbolos estranhos pulsando em uma dança de energia.
Ele iria desaparecer.
Não pensei em mais nada, corri e saltei na direção dele.
Minha mão alcançou seu braço. Então, em um instante, tudo sumiu.
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