Vou Destruir essa sua Fantasia

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Orion, o prodígio, trilhou um caminho de desafios e perdas. Seu pai, um renomado guerreiro, fundou a guilda onde Orion cresceu, nutrindo o desejo de seguir seus passos como líder. Contudo, a morte trágica do pai em uma expedição abalou a confiança de Orion. Aquele que ele admirava, cuja força parecia inquebrantável, foi brutalmente assassinado por um monstro em um dia qualquer, simples assim.

Aos 20 anos, ele assumiu a guilda mesmo com autoestima fragilizada, Orion liderou expedições bem-sucedidas, mas seu olhar se tornou sombrio ao contemplar a realeza. O povo o chamava de "prodígio", e ele próprio aceitou essa alcunha com orgulho. Era como se o mundo reconhecesse sua grandeza, e ele se banhava na luz desse reconhecimento. Todos o admiravam quando ele era mais novo, ele aprendia tudo facilmente, era forte, claro que ele cresceu acreditando que seria uma estrela.

No entanto, a chegada dos filhos da realeza mudou tudo. A filha mais nova possuía um poder assustador, e o filho, um prodígio em ascensão, superava adultos com facilidade. Aquele fogo interior queimava em seus olhos, e Orion sentiu algo que ele não esperava: inveja. Uma inveja que corroía sua alma, fazendo-o questionar seu próprio valor.

Ele, que havia enfrentado monstros e desbravado terras desconhecidas, agora se via ofuscado por crianças. O brilho deles era mais intenso, suas habilidades superiores. E Orion? Ele se sentia como um astro que perdeu sua luz, eclipsado por esses jovens talentos. Uma menininha cega poderia destruir o reino inteiro? Mas que tipo de piada é essa?

A irritação crescia dentro dele, uma chama ardente que o consumia. Por que o mundo era tão injusto? Por que ele, o prodígio, agora se sentia diminuído? 

A resposta estava ali, naqueles dois monstros disfarçados de humanos. O narcisismo cedia espaço à amargura, e esse sentimento faz uma pessoa fazer coisas inimagináveis, cruéis, até mesmo desumanas. Ele queria ser a luz de novo, o centro, ocupar o posto que merece.

Naquele dia, Orion afogava suas preocupações em um bar, tentando esquecer os fardos que pesavam sobre seus ombros. Foi então que um homem vestido de branco, de aparência envelhecida, surgiu à sua frente. A conversa entre eles se estendeu, abordando pontos de vista, crenças e sonhos, até que alcançou um tópico perigoso.

— Por que você só não toma deles? — perguntou o homem, sua voz carregada de mistério.

Orion franziu o cenho, o que aquele estranho queria dizer? O trono? Era absurdo. Ele não passava de um simples líder de guilda, e a realeza estava muito além de seu alcance.

— ... O que?

— O trono, o reino, o futuro. Se você quer tanto, é só ir pegar. — O homem insistiu, sua expressão inabalável.

Orion riu, mas havia algo perturbador naquelas palavras. Claro que não era assim tão simples. Qualquer tentativa resultará em sua morte imediata. Afinal, ele não passava de um peão.

— Tá falando sério? — Orion desafiou, desconfiado.

— Claro que sim. Você sabe, eu tenho meus objetivos, você tem os seus. Podemos nos ajudar. Digo, eu posso te ajudar, se você estiver disposto a fazer o que eu disser... — O homem sorriu, um sorriso que não alcançava seus olhos.

A conversa não terminou ali. Orion recusou inicialmente, mas algo o fez reconsiderar nos dias seguintes. O homem encapuzado parecia observá-lo, como se soubesse que Orion eventualmente aceitaria.

Ele verdadeiramente era o que poderia ser chamado de rato, pois para ele, ninguém no mundo sofria a dor que ele sentia, a dor de não ser o melhor em tudo que faz, de viver em um lugar isolado, de não alcançar postos mais altos. 

Aquele homem misterioso leu Orion como um livro e sabia que eventualmente, ele acabaria cedendo.

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Orion estreitou os olhos ao ver a figura parada diante dele. Pequeno. Magro. Ridículo. 

Ele riu. Não um riso de humor, mas de desprezo absoluto. Aquela coisa menor que Serena era o obstáculo que ele precisava enfrentar? Isso era uma piada. 

— Só pode ser brincadeira… — murmurou, sacudindo a cabeça. 

Mas seu sorriso se desfez no instante seguinte. 

Victor não respondeu. Não se moveu. Apenas o encarou, os olhos dourados frios como lâminas. Orion sentiu um arrepio percorrer sua espinha sem motivo aparente. Não. Ele não podia estar sentindo isso. Não de alguém como aquele garoto. 

Orion empunhou sua espada e, com um passo firme, fez o chão estremecer sob seus pés. 

— Saia do meu caminho. 

Victor inclinou a cabeça, como se analisasse sua postura. Um segundo depois, ele desapareceu. 

BOOM!

Orion mal teve tempo de perceber o que havia acontecido antes de seu corpo ser jogado para trás. O impacto atingiu suas costas como um martelo de aço, e o ar foi arrancado de seus pulmões em um grunhido sufocado. Ele cambaleou, cravando a lâmina no chão para não ser arremessado. 

O silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor. 

Orion ofegou. Seus músculos tremiam levemente, e só então percebeu que estava suando. 

— Tsc… — limpou a boca, irritado. Seus olhos se ergueram, encontrando Victor novamente à sua frente, imóvel. Sem expressão. Como se aquele golpe tivesse sido apenas um gesto casual. 

A raiva queimou no peito de Orion. 

— Maldito… 

A espada em sua mão brilhou com uma energia negra, moldando-se e se comprimindo até se tornar uma esfera pulsante de escuridão. Orion abriu um sorriso selvagem. 

— Vamos ver se você é rápido o bastante para isso! 

Ele ergueu a esfera e disparou uma saraivada de projéteis negros. As sombras rasgaram o ar, cortando o espaço entre eles em frações de segundo. 

Mas Victor já não estava lá. 

Orion arregalou os olhos quando viu a cena diante dele. Victor se movia entre os disparos sem esforço, como uma sombra fluída, como se os próprios ataques estivessem tentando errá-lo. Para Orion, parecia que o garoto estava se teletransportando a cada fração de segundo. Um instante ele estava à esquerda, no seguinte, à direita, e então… 

Está perto demais!

Victor surgiu bem diante dele, rápido demais para sua mente acompanhar. Orion mal teve tempo de registrar o brilho dourado dos olhos dele antes de sentir a dor. 

CRACK!

O punho de Victor cravou-se em seu abdômen. Orion sentiu o impacto percorrer seu corpo inteiro. Sua respiração travou. Seu estômago revirou. Era como se cada órgão dentro dele tivesse sido deslocado com a força do golpe. O gosto amargo de sangue subiu por sua garganta. 

E então veio a segunda onda do impacto. 

Ele foi lançado para trás, seu corpo cortando o ar como um míssil desgovernado. O vento assobiava em seus ouvidos enquanto a parede se aproximava rápido demais para que pudesse reagir. 

BOOOOM!

A colisão fez o concreto rachar, poeira e destroços voando por todos os lados. O impacto foi tão violento que ele sentiu o choque reverberar até sua espinha. Seu corpo inteiro gritava em protesto. 

Orion tossiu, cuspindo sangue. Sua visão oscilou. Ele tentou se mover, mas seus músculos estavam rígidos, tremendo sem controle. 

Seus olhos subiram lentamente até Victor. 

Aquele olhar… frio, sereno. Sem um traço de esforço. 

Orion sentiu algo que não queria admitir. 

Eu estou com medo? Disso?!

Ele percebeu, aquilo não era nem um humano, era um monstro no sentido literalmente. Uma criatura odiável, desprezível, uma coisa que ele nunca perdoaria.

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— Aqui. Pegue isso. — A voz calma e fria do homem encapuzado ecoou na sala escura. Seu manto branco esvoaçava levemente, quase reluzindo à luz fraca. Ele era conhecido apenas como o 5º.

Orion olhou para ele com desconfiança, estendendo a mão hesitante. Quando o objeto foi colocado em sua palma, ele sentiu o peso do frasco de vidro. 

Dentro, um cristal vermelho pulsava suavemente, como se estivesse vivo, irradiando uma energia estranha e perturbadora.

— O que é isso? — Orion perguntou, sua voz carregada de curiosidade e cautela. Ele não confiava completamente no 5º, mas sabia que aquele homem não lhe entregaria algo sem propósito.

O encapuzado permaneceu em silêncio por um momento, os olhos escondidos sob a sombra de seu capuz. Então, com a mesma tranquilidade, ele respondeu:

— É um fragmento de monstro. Um cristal extraído de uma criatura antiga e poderosa. Se, em algum momento, você se encontrar diante de algo que acredita ser incapaz de derrotar, coma esse cristal. Ele irá despertar seu poder mais "monstruoso". — A última palavra foi dita com uma ênfase especial, como se tivesse um significado mais profundo.

Orion franziu a testa, examinando o cristal. O brilho vermelho continuava a pulsar, e ele sentiu um leve arrepio subir por sua espinha. Poder mais monstruoso?

— E quais são os efeitos colaterais? — perguntou, tentando esconder a apreensão em sua voz.

O 5º deixou um pequeno sorriso curvar seus lábios, como se esperasse a pergunta.

— Não há como saber com exatidão até que você o use. Mas posso garantir que seu corpo será transformado, temporariamente. Você vai se tornar mais forte, mais rápido, mas também menos humano. O que, acredito, não será um problema para alguém como você.

A resposta não trouxe conforto para Orion, mas o pensamento de ser derrotado por alguém, ou algo, o irritava mais do que o risco. Ele sempre foi orgulhoso de sua força e posição, e a ideia de falhar era insuportável.

— Eu não planejo perder. — Ele apertou o frasco na mão. Isso é apenas uma garantia... uma última alternativa, pensou.

— É claro que não. — O 5º deu um passo para trás, sua voz gélida e calculista. — Mas lembre-se, Orion... Há sempre algo maior, algo mais perigoso. O cristal apenas vai revelar o que já está dentro de você. Use-o sabiamente.

Orion observou o encapuzado desaparecer na escuridão da sala, deixando apenas o brilho fraco do cristal como um lembrete de sua presença. Ele colocou o frasco em um bolso interno de sua capa. Eu nunca precisarei disso, ele pensou na época.

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Agora, de volta ao presente, Orion segurava o frasco. Aquela era uma escolha que ele nunca quis fazer... até agora. O rosto calmo de Victor, a maneira como o ignorava, a superioridade esmagadora que exibia sem esforço... tudo o levava para aquele único caminho.

Seus dedos trêmulos abriram o frasco. O cristal vermelho pulsava como um coração vivo, irradiando uma luz sombria, como se já soubesse seu destino. Orion engoliu seco, seus olhos fixos na substância que prometia poder. 

Então, sem mais hesitação, ele ingeriu o cristal. 

O efeito foi imediato. 

Um frio cortante percorreu suas veias, como se algo gélido rasgasse cada célula de seu corpo. Em seguida, veio o oposto: um calor abrasador o consumiu de dentro para fora. Seus músculos se contraíram violentamente, seu corpo inteiro tremia em espasmos involuntários. Ele gritou. O som que saiu de sua garganta não era mais humano — era um rugido gutural, uma distorção de sua própria existência. 

Uma aura negra começou a envolver seu corpo, grossa e sufocante. Victor imediatamente entrou em posição de combate, movendo-se instintivamente para proteger Serena. Seus olhos dourados brilharam em alerta. 

As paredes da caverna estremeceram, rachaduras se espalharam pelo chão e teto, estroços caíram ao redor, poeira preenchendo o ar, obscurecendo a visão. 

O que diabos é isso...? Victor pensou, estreitando os olhos. 

O poder de Orion se expandia, esmagador. O ar ficou pesado, carregado com algo perverso. Victor cerrou os punhos. 

— Ele realmente vai tão longe... Por quê? 

O rugido de Orion ecoou, mas dessa vez, não era um grito de dor. Era um rugido de predador. Seu corpo começou a se distorcer. 

Seus músculos incharam grotescamente, expandindo-se até rasgar sua pele. Seus ossos se alongaram, estalando e se remodelando em algo antinatural. Sua pele escureceu, adquirindo um tom negro azulado, enquanto garras cresceram de seus dedos. Seus olhos brilhavam em um vermelho intoxicante, irradiando um ódio vivo, profundo. 

Ele não era mais humano. 

Orion se tornou a personificação de sua própria inveja, raiva e ganância. Seus lábios se retorceram em um sorriso selvagem, revelando presas afiadas. O ar ao seu redor tremia, sua aura densa se espalhava como uma sombra devoradora. 

Victor manteve a postura, seu rosto inexpressivo, mas seu corpo inteiro reconhecia o perigo. 

— Então... é assim que você quer jogar? — murmurou, sua voz baixa, mas carregada de determinação. Seus olhos dourados analisavam Orion, calculando seus próximos movimentos. 

Orion ainda mantinha um traço de consciência, mas ela estava corrompida. Sua voz, agora distorcida, escapou entre rugidos. 

— Eu... sou o mais forte... — ele rosnou, saliva escorrendo pelos dentes deformados. — Vou matar você... e ela... vocês não são nada! Sempre tiveram tudo sem esforço! 

Serena congelou ao ouvir aquilo. Seus punhos se cerraram. 

Victor não respondeu. Palavras não teriam significado ali. 

Orion avançou. 

Com velocidade e brutalidade inumanas, suas garras cortaram o ar em direção a Victor. O impacto foi como uma tempestade de destruição — o solo se partiu sob a força do ataque, rachaduras se espalharam pelo chão e se estenderam por centenas de metros. O teto da caverna começou a desmoronar. 

Victor, com Serena nos braços, saltou para o lado no último instante. A lâmina de pura força destrutiva passou rente a ele e rasgou a montanha ao meio, abrindo uma cratera colossal que se estendia até o horizonte. 

Ele realmente se tornou um monstro...

Mas não havia tempo para hesitação. Victor continuou correndo, desviando dos golpes de Orion, guiado pelo puro instinto de sobrevivência. 

— Vai ficar tudo bem, não se preocupe — murmurou para Serena. 

Serena se agarrou a ele, confiando. 

— O que aconteceu com ele...? 

Victor hesitou. 

— Ahm... você não vai querer saber. 

Atrás deles, Orion rugia. 

— EU SOU O MAIS FORTE! — sua voz era um trovão, ecoando pelos corredores enquanto sua forma monstruosa esmagava o solo a cada passo. 

Bom, acho que tô com um sério problema... Victor pensou, mantendo a expressão calma. 

Usando [Manipulação de Gelo], ele ergueu barreiras para atrasar Orion, tentando ganhar tempo. Mas o monstro as atravessava sem esforço, rasgando tudo em seu caminho. 

A perseguição se intensificou. Victor correu pelos corredores sinuosos da montanha, desviando nos últimos segundos dos golpes destrutivos. 

Então, Orion saltou. 

— VICTOR!!! SERENA!!! MORRAM!!! 

Victor, sem pensar, lançou Serena para frente. O impacto veio logo depois. 

O mundo explodiu ao seu redor. 

O golpe de Orion esmagou Victor contra a rocha, a montanha inteira tremeu. Os dois caíram no abismo abaixo, engolidos pela escuridão. 

Serena ficou para trás, atordoada. Seu corpo tremia. 

Então, os rugidos de Orion ecoaram novamente. 

Ele voltou. Sozinho. 

— SERENA! ONDE VOCÊ ESTÁ?! 

Seu tom de voz carregava puro ódio. 

Serena prendeu a respiração e correu, tateando as paredes. Entrou em uma das salas, encolhendo-se no canto, tentando controlar o pânico. 

Os passos de Orion eram ensurdecedores. 

— VOCÊ SABE MUITO BEM QUE NÃO MERECE VIVER, SERENA! 

Ela se encolheu ainda mais. 

— VOCÊ SABE O QUE FEZ! POR SUA CAUSA, SUA QUERIDA MAMÃE MORREU! NÃO ACHA QUE ESTÁ NA HORA DE ASSUMIR A RESPONSABILIDADE E MORRER TAMBÉM?! 

Seu corpo tremeu violentamente. Seu peito subia e descia rápido demais. 

— TE ACHEI! 

Orion avançou. 

Mas, antes que pudesse alcançá-la... 

Um punho esmagou seu rosto com força avassaladora. 

O impacto foi brutal. Orion atravessou paredes, seu corpo monstruoso sendo arremessado como um boneco de pano. 

Victor reapareceu, ferido, ensanguentado, suas roupas reduzidas a trapos. 

Ele olhou para Serena e congelou. 

— Foi… minha culpa… sempre é minha culpa… — Serena murmurou, sua voz fraca, seus olhos vazios. 

O ar ao redor começou a gelar. 

Victor sentiu um arrepio na espinha. 

— Serena...? 

— Eu... fui eu... Eu... Eu… aaaagghhh!

Ela gritou. 

Uma explosão de luz azul engoliu a sala. 

Tudo ao redor congelou instantaneamente. O chão, as paredes, o próprio ar. O frio era absoluto, mortal. 

Serena perdeu o controle. 

Seu poder não pararia até consumir tudo.

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A montanha havia desaparecido, engolida pelo poder avassalador de Serena. O chão, agora uma paisagem congelada e irreconhecível, era um reflexo da tempestade que se desenrolara. Entre os escombros, Orion se erguia novamente. O calor de sua aura distorcia o ar ao seu redor, derretendo a neve e transformando-a em uma névoa densa. Seu sorriso maníaco permanecia. 

Então ele viu. 

Victor emergia dos destroços, lentamente, segurando Serena em seus braços.

Os braços do rapaz estavam azulados, congelados até os ossos, cobertos por rachaduras profundas, como se fossem de vidro prestes a estilhaçar. Mas ele não a soltava. Pelo contrário, seus dedos apertavam Serena com ainda mais força, como se sua vida dependesse disso. 

— ESTÁ VENDO?! — Orion rugiu, sua voz reverberando pela paisagem devastada. — TUDO QUE ESSA COISA FAZ É CAUSAR DOR E SOFRIMENTO! ATÉ PARA AQUELES QUE TENTAM AJUDÁ-LA!

Victor ficou em silêncio por um momento, apenas respirando. Sua pele estava pálida, o sangue escorria dos cortes profundos em seu corpo. Suas roupas eram apenas trapos esvoaçando ao vento gélido. Ele parecia um homem prestes a se despedaçar. 

Mas então, ele ergueu os olhos. 

Um vapor escapou de seus lábios ao expirar, e, mesmo ofegante, sua voz soou firme: 

— Orion... eu não sei por que você sente tanto ódio dessa garota. Não sei o que ela fez de tão ruim assim…

Ele baixou o olhar para Serena, sua expressão suavizando por um instante. 

— Mas tudo que vejo é uma menina confusa, sozinha, que carrega um fardo pesado demais para suportar. Você disse que ela matou a própria mãe... Eu não consigo nem imaginar o que isso significou para ela. O que ela sentiu, o que ela pensa de si mesma…

Seus olhos voltaram para Orion, agora frios e inabaláveis. 

— Mas tem uma coisa que eu sei. O único monstro aqui é você. 

Orion rosnou, seus dentes brilhando como presas sob a luz do luar. 

— VOCÊ É IGUAL A ELA! UM IDIOTA! VAI MESMO SE SACRIFICAR POR ESSA COISA?! AMBOS SÃO LIXO!

Victor suspirou, fechando os olhos por um instante. Então, com um gesto cuidadoso, colocou Serena no chão, cobrindo-a com sua blusa rasgada. Seus punhos se cerraram ao lado do corpo, e ele se ergueu, enfrentando Orion de igual para igual mais uma vez.

— Você quer reconhecimento? Quer esse reino? Quer ser o mais forte? — Sua voz, antes serena, agora carregava um tom cortante. — Pois saiba que tudo que você está fazendo vai acabar agora.

Ele inclinou o pescoço, estalando os ossos, e então fixou seu olhar em Orion, como se o atravessasse. 

— Eu vou destruir essa sua fantasia.

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