Mundo que Continua Girando

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O impacto dos golpes de Victor e Orion ecoava pelo terreno aberto, onde as montanhas cercavam a área como gigantes adormecidos. A cada choque, o solo tremia, rachaduras se espalhavam e pedras rolavam colina abaixo. Orion, agora em sua forma monstruosa, exalava uma aura sombria que distorcia o ar ao seu redor. Seu corpo bestial irradiava puro poder destrutivo, e cada golpe desferido por suas garras poderia devastar montanhas inteiras.

Victor, mesmo em desvantagem em termos de força bruta, não recuava. Ele se movia com precisão, seus ataques rápidos atingiam Orion constantemente. No entanto, a barreira de mana densa que o envolvia era um problema. Cada soco de Victor era amortecido antes de atingir o verdadeiro corpo de seu oponente.

Ele começou a usar um tipo de barreira, não consigo atravessar… pensou Victor, desviando de um golpe brutal que fez o solo rachar sob seus pés. 

Ele era rápido o suficiente para continuar na luta, mas sua mente estava dividida. Serena estava desacordada a poucos metros, vulnerável demais para sequer reagir ao caos ao redor. Se Orion resolvesse atacá-la, Victor não sabia se conseguiria impedir a tempo.

Orion rugiu e avançou com fúria, suas garras cortando o ar. Victor saltou para trás, seu corpo instintivamente se adaptando ao ritmo insano da luta. Ele tentou contra-atacar, desferindo um chute no joelho de Orion, mas o impacto foi reduzido a quase nada. O escudo absorvia toda a força do golpe.

— VOCÊ NÃO VAI CONSEGUIR! — vociferou Orion, um brilho de loucura e ódio nos olhos. — EU SOU FORTE! SOU MAIS FORTE!!!

Victor recuou ligeiramente, avaliando a situação. O escudo era uma barreira quase impenetrável. Mesmo atacando constantemente, seus golpes não conseguiam alcançar Orion de verdade. E com Serena desacordada ali, ele precisava manter parte de sua atenção nela, o que limitava seus movimentos.

Não posso lutar direito assim... Preciso de uma estratégia.

Victor observou melhor Orion enquanto desviava de outro ataque destrutivo. Foi então que percebeu algo sutil: o escudo oscilava levemente quando Orion se movia de forma mais agressiva. Talvez houvesse um padrão... uma brecha.

Se eu puder descobrir como esse escudo funciona...

Ele saltou para trás e concentrou-se, ativando sua [Percepção Analítica]. A habilidade começou a processar as informações do combate, buscando entender a estrutura da barreira, usando em potência máxima seus sentidos em busca de uma pista. A energia em torno de Orion pulsava em intervalos quase imperceptíveis, absorvendo e redistribuindo força. Victor cerrou os punhos. Ele precisava testar algo.

Orion atacou de novo, desferindo um soco avassalador. Victor não esquivou completamente, deixando-se ser atingido de raspão. O golpe o lançou metros para trás, mas naquele instante, sua percepção captou a mudança sutil na barreira.

— Entendi... — murmurou Victor, erguendo o olhar dourado para seu inimigo.

» O poder de Orion em medidas humanas alcançou 40.000 Mna. «

A informação ecoou em sua mente. Victor ainda não compreendia completamente o conceito de Mna, mas sabia que significava um nível de força que ele ainda não havia enfrentado. E se ele queria vencer, precisava agir rápido.

Inspirando fundo, ele ajustou sua postura. Se queria romper aquela barreira, precisava atacar no momento exato, no ponto fraco que sua análise detectou. Suas mãos se fecharam, gelo e fogo pulsando em sua pele.

— Eu vou usar tudo que tenho. — Victor sorriu, sentindo a adrenalina pulsar. Ele ainda não sabia o desfecho dessa luta, mas algo dentro dele dizia que estava pronto para descobrir.

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Eu sentia o chão tremer a cada golpe que trocávamos. Orion era uma muralha ambulante, cada ataque dele carregava a força de um cataclismo. Meus punhos ardiam ao atingir a barreira de mana densa que envolvia seu corpo, usar fogo ou gelo também não estava funcionando.

Toda vez que eu pensava que tinha feito algum progresso, era como socar uma almofada gigante, que absorvia tudo sem sofrer nenhum dano real.

Não consigo atravessar essa barreira... Meus olhos seguiram cada movimento de Orion, mas a irritação crescia. Eu sabia que, mesmo com minha velocidade e força física, estava ficando sem opções. Não podia me dar ao luxo de continuar assim.

— Preciso de uma brecha... — sussurrei para mim mesmo, esquivando de mais um golpe que fez o solo se despedaçar ao meu redor. 

O ar estava pesado, carregado da energia de Orion, distorcido por sua aura sombria. Eu precisava entender como romper aquela defesa de uma maneira mais eficiente.

Se for para usar tudo que tenho, apenas posso usar meus sentidos, a [Adaptação] está me ajudando a acompanhar Orion, além disso tenho fogo e gelo graças às minhas habilidades de manipulação. Então…

Alternar elementos… Eu acenei para mim mesmo, tentando processar aquilo. O problema é que eu estava tentando depender só da força bruta, mas Orion não era qualquer oponente. Ele não ia ceder facilmente. Um golpe com gelo, seguido por fogo... Era hora de testar essa teoria.

Orion avançou, e eu o acompanhei, começando a alternar entre golpes reforçados com gelo e fogo. O choque térmico deveria, teoricamente, causar instabilidade no escudo.

» Efeito limitado. Impacto insuficiente para romper a barreira. O oponente está adaptando o fluxo de mana. «

Droga. Ele era mais esperto do que eu pensava. Minha análise detectou uma adaptação no fluxo de mana de Orion, ele estava se ajustando às mudanças, neutralizando a estratégia quase tão rápido quanto eu conseguia aplicá-la. Incrível, admiti para mim mesmo, enquanto o impacto dos socos continuava a ecoar ao redor.

— VOCÊ NÃO É TÃO FORTE! — Orion gritou, gargalhando enquanto eu tentava manter o ritmo.

Eu já sabia que ele não iria ceder, mas também estava longe de desistir. Eu só precisava de uma fração de segundo, uma pequena falha em sua defesa. Com meu olhar treinado, vi uma abertura em sua postura. Era agora ou nunca. Com toda a força que me restava, disparei em sua direção, concentrando todo o meu poder no punho direito.

— Agora! — gritei, enquanto o soco atingia diretamente o queixo de Orion.

O impacto reverberou. Por um breve momento, tudo ficou em silêncio. Eu havia acertado.

Sangue escorreu de sua boca, finalmente consegui causar dano, mas não foi normal, eu usei minha própria energia como se fosse um ataque físico. Então eu acabei de fazer algo parecido com o escudo de Orion.

Meu punho latejava, mas a sensação de finalmente perfurar aquela barreira era indescritível. Contudo, ao invés de ficar abalado, Orion riu. Uma gargalhada gutural e sombria. Seus olhos brilharam com algo ainda mais intenso.

— VOCÊ OUSA ME ACERTAR?!— A voz dele ecoava com uma raiva quase bestial. — VOU TE MOSTRAR O QUE ACONTECE QUANDO SE DESAFIA O MAIS FORTE!

»Habilidade ativada — [Aura da Ganância]. O poder de Orion está aumentando exponencialmente. «

Eu vi a mudança imediatamente. Seu corpo irradiava uma força ainda maior, como se o golpe tivesse inflamado seu ego, alimentando sua sede de poder. A aura sombria ao seu redor intensificou-se, e antes que eu pudesse reagir, ele avançou com uma velocidade brutal.

O golpe veio mais rápido do que eu podia processar. Um soco devastador atingiu meu peito, o impacto era insuportável. O ar foi arrancado dos meus pulmões, e por um instante, minha visão ficou turva. Senti meu corpo ser lançado como uma bala de canhão.

As montanhas no meu caminho não foram obstáculo. A primeira, eu a atravessei com um estrondo ensurdecedor, quebrando toneladas de rochas em um único impacto. A segunda montanha cedeu da mesma forma, o som de pedras colidindo ecoava enquanto meu corpo rasgava o ar. Mesmo após passar pela terceira montanha, ainda senti o impacto brutal quando finalmente colidi contra uma quarta, que conseguiu parar minha trajetória.

Eu estava imerso em poeira e destroços, com os ossos vibrando e a mente tonta pela força do impacto, mas eu ainda estava consciente. Consciente e bem vivo.

De onde eu estava, a única coisa que conseguia ouvir era a gargalhada ensandecida de Orion, ecoando ao longe.

— ISSO É TUDO QUE VOCÊ TEM?— ele gritou, sua voz carregada de arrogância e prazer.

Eu estava ferido, mas não acabado. Sabia que minha resistência era alta, mesmo para um monstro como ele. Respirei fundo, enquanto minha [Consciência Analítica] começava a processar os dados do último golpe.

É... Isso doeu… Mas agora estou muito longe de Serena, e ele também… Pensei enquanto minha cabeça voltava ao normal.

O som da risada de Orion parecia distante, mas a cada segundo mais claro enquanto ele avançava em minha direção. Me levantei, passando a mão pelas pedras que cobriam parte do meu rosto. O sangue escorria de alguns cortes superficiais, nada sério. A dor... a dor que deveria estar me paralisando era apenas um leve incômodo.

Isso está doendo menos agora, acho que minha [Adaptação] está trabalhando muito agora junto da minha regeneração.

Ele acabou me lançando aproximadamente uns 15 quilômetros de onde estávamos. O que era bom, agora posso lutar sem me preocupar com Serena, e Orion está completamente focado em mim.

Os risos de Orion aumentavam à medida que ele se aproximava. Ele achava que tinha me derrotado, que aquele golpe havia decidido tudo. Eu sabia que não. E, sem querer evitar, senti um sorriso se formar no meu rosto.

— Você realmente acredita que isso é o melhor que eu posso fazer?! — gritei, minha voz ecoando pelas montanhas, carregada de uma forma provocativa.

Por um instante, o silêncio tomou conta do ambiente, apenas para ser substituído por uma gargalhada de escárnio.

— Você ainda está de pé?! — Orion gargalhou mais alto, seus passos pesados fazendo o chão tremer enquanto ele voltava. — Você é patético, Victor! Acha que pode me derrotar com essa sua... resistência inútil?

Eu ri de volta, incapaz de conter a provocação, ele não falou berrando dessa vez, significa que minhas palavras o atingiram. Algo dentro de mim gostava de irritá-lo, de testar até onde ia sua arrogância. Sabia que era perigoso, mas era como se não conseguisse evitar. A adrenalina, o orgulho... tudo se misturava em uma vontade incontrolável de rir na cara dele.

— Resistência inútil, é? — Olhei diretamente para ele, o sorriso ainda presente no meu rosto. — Eu estava pensando a mesma coisa sobre você.

Orion rugiu de raiva, sua aura sombria crescendo ao seu redor como uma tempestade prestes a explodir. Eu podia sentir sua força aumentando a níveis absurdos, muito além do que ele já havia demonstrado. Aquele golpe que me lançou através de montanhas? Ele estava só começando.

Minha [Consciência Analítica] imediatamente pulou em ação, processando o novo influxo de energia emanado por Orion.

» O poder de Orion está aumentando rapidamente. A [Aura da Ganância] está amplificando sua força física e agressividade conforme seu ego é desafiado. «

Claro... Quanto mais ele se irrita, mais forte ele fica... pensei enquanto tentava mapear o fluxo de sua energia crescente. Mas isso também o torna mais previsível.

Minha [Consciência Analítica] estava trabalhando em tempo real, tentando processar todos os dados que recebia, mas havia algo que estava me incomodando. Meu próprio fluxo de mana... era uma bagunça total. Diferente de Orion, que parecia manipular sua energia com uma precisão letal, a minha estava descontrolada, como um rio desviado em várias direções, sem rumo. Eu sentia a imensa quantidade de poder dentro de mim, mas não conseguia controlá-lo. Parecia que cada golpe desperdiçava energia e, ao mesmo tempo, deixava minhas defesas vulneráveis.

O sorriso ainda estava no meu rosto, mas eu sabia que, se continuasse assim, seria questão de tempo até que ele encontrasse uma brecha e me derrotasse. Eu precisava fazer algo a respeito. 

Preciso ver como Orion faz isso... como ele canaliza a mana...

Meus olhos se focaram no corpo de Orion. A aura da ganância ao seu redor se espalhava, mas agora que estava mais atento, eu pude ver como sua mana fluía. Era como um fluxo contínuo, sem interrupções, um ciclo perfeito de energia que amplificava seus movimentos e golpes. Cada passo, cada ataque era reforçado por aquele fluxo intenso.

Eu também tenho essa energia... Só não sei como usá-la direito... ainda.

Fechei os olhos por um breve segundo, respirando fundo, concentrando-me no que estava dentro de mim. Aos poucos, tentei fazer minha energia seguir um padrão mais eficiente, imitando o que eu via em Orion.

Mas então um pensamento me atravessou como um raio. Serena... Ela ainda estava lá, vulnerável, e eu precisava protegê-la. O que eu estava fazendo? Eu não podia me deixar levar pelo calor da batalha. Ela confiava em mim, e essa luta não é só por mim. Eu tinha que vencer, por ela. Eu estou defendendo Serena... eu não posso falhar com ela.

Por um segundo, senti um peso no peito, como se a responsabilidade estivesse puxando minha consciência de volta ao foco. Eu não quero fazer nada errado... Não posso cometer um erro agora...

Mas, ao mesmo tempo, algo dentro de mim rugia. A adrenalina da batalha pulsava nas minhas veias, e eu não conseguia conter o sentimento. Eu estava me divertindo. Era algo que eu não conseguia controlar, como se estivesse no meu DNA, na minha raça. O sorriso se alargou no meu rosto, quase sem eu perceber. O desejo de provocar Orion, de ver até onde ele iria, me consumia.

— Você sabe, Orion... Quanto mais você fala, mais fraco você parece — falei, minha voz transbordando de provocação. O sorriso em meu rosto era quase cruel.

Por um momento, os olhos de Orion se estreitaram, sua fúria subindo a um novo patamar. Ele se inclinou para frente, seus músculos tensos, pronto para o próximo ataque.

— EU VOU TE DESTRUIR! — Ele rugiu, avançando com uma velocidade que fazia o ar ao redor estalar de energia.

Era um esforço quase doloroso tentar ajustar o fluxo de mana a tempo. Era como tentar domar uma fera indomável. Ainda assim, senti uma leve melhora — minhas defesas estavam um pouco mais robustas, meus movimentos um pouco mais fluidos. Não era perfeito, longe disso, mas era um começo.

Antes que pudesse completar o raciocínio, Orion já estava sobre mim. Suas garras brilharam, e a força do impacto seguinte foi como um meteoro atingindo a terra.

A dor explodiu pelo meu corpo, mas rapidamente se dissipou, como sempre. Meu corpo imitava a dor humana, mas a sensação era muito mais leve. A força, no entanto, não era ignorável. O golpe me lançou novamente pelo ar. Desta vez, o impacto foi ainda mais brutal, me atirando através de múltiplas montanhas, rasgando as rochas como se fossem papel.

Mesmo assim, conforme eu voava pelos destroços, não havia mais aquele medo que eu senti no início da luta. Pelo contrário, um riso escapou dos meus lábios. 

Quando finalmente parei, afundado em destroços, o silêncio voltou a reinar por um momento. Meu corpo, embora dolorido, já estava se ajustando. Eu estava aprendendo, aos poucos, como lidar com aquilo.

A voz de Orion, agora distante, ecoava com um tom de triunfo.

— VOCÊ NÃO É NADA! — Ele rugiu, sua voz reverberando pelo campo de batalha.

Eu, no entanto, estava despreocupado. Serena... Não se preocupe, eu estou cuidando de você.

Eu não sabia nada sobre batalhas nesse mundo, mas a excitação de aprender, de testar meus limites, estava tomando conta.

Um cara como esse, Orion, eu vou destruir suas fantasias, quando você atingir seu ponto mais alto eu vou te derrubar, como punição pelos seus atos!

Orion não deu tempo para o silêncio durar. Ele se aproximou de mim com a mesma fúria de antes, sua aura mais intensa do que nunca. As pedras ao seu redor tremiam, pulverizadas apenas pela presença de sua força crescente. Mas algo dentro de mim havia mudado.

Eu estava começando a entender. A bagunça que era meu fluxo de mana estava começando a se alinhar. Cada golpe de Orion, cada movimento que ele fazia, se tornava mais nítido na minha mente. Eu podia ver os padrões, o modo como sua energia fluía através dos músculos, alimentando seus ataques.

Quando ele avançou de novo, algo clicou dentro de mim. Meus pés se moveram sem esforço, e meu corpo se esquivou de seu golpe de forma quase automática. A rocha ao meu lado explodiu quando o punho de Orion a atingiu, mas eu já não estava mais lá. Eu havia lido seu ataque, previsto o fluxo de sua energia e, pela primeira vez, o controle de minha própria mana respondeu de acordo. 

Eu me movia com fluidez, e cada vez que ele atacava, eu desviava, escapando por milímetros, mas cada movimento meu parecia mais calculado, mais preciso. Minha [Consciência Analítica] estava em perfeita sincronia com meu corpo, e eu estava começando a sentir o controle da energia que eu possuía, mas que antes parecia incontrolável.

— Como... como você está me acompanhando?! — rugiu Orion, sua voz cheia de incredulidade e raiva. Cada golpe perdido só servia para alimentar sua frustração.

Eu ri. O som sai sem esforço, espontâneo, e talvez um pouco arrogante. Ele não faz ideia do que está acontecendo.

— Você não entende, Orion? — falei, me esquivando de mais um de seus golpes. — Eu estou crescendo.

Enquanto suas investidas ficaram mais desesperadas, eu comecei a experimentar algo diferente. Uma ideia tomou forma na minha mente.

E se eu pudesse concentrar toda essa energia de uma vez? Não usá-la apenas para me mover ou defender, mas para explodir em um único golpe?

De repente, percebi que estava sorrindo de novo, e o sentimento de excitação pulsava em minhas veias. Eu ainda estava aprendendo, ainda começando a entender o básico da manipulação de mana, mas eu já sabia o suficiente para fazer um estrago. Meu orgulho estava me empurrando para testar isso, para liberar tudo de uma vez.

Concentrei-me no fluxo de mana dentro de mim, tentando juntar cada partícula de energia espalhada e forçá-la a circular ao redor do meu corpo. A sensação era estranha, como se eu estivesse segurando uma força bruta que mal compreendia. Mas funcionou. Senti o poder se acumulando, uma pressão crescente que parecia pronta para explodir a qualquer momento.

— Acha que pode me derrotar só porque está desviando dos meus golpes?! — berrou Orion, seus olhos vermelhos de fúria.

Eu soquei seu rosto com toda a força o derrubando da montanha até o chão, onde causou uma explosão, sangue começou a escorrer de sua boca e seus olhos.

Eu não respondi. Em vez disso pousei ao seu lado, levantei a mão direita e deixei minha mana se expandir ao redor do meu corpo. A energia fluía como um rio, mas em vez de se dispersar, eu a mantive ali, circulando, crescendo em intensidade. Eu estava criando algo novo. Uma habilidade que era só minha.

A energia começou a circular em um vórtice ao redor do meu corpo, das cores azul, lilás, prata e vermelho e verde.

— [Aura] — O nome veio naturalmente, como se aquela habilidade já estivesse comigo desde sempre.

De repente, uma luz intensa irrompeu ao redor de mim. Era uma explosão de cores — tons de roxo, verde distorcido de energias que cercam meu corpo como um escudo vivo, mas muito mais poderoso. O chão tremeu, e a pressão da minha mana começou a destruir tudo ao redor. Eu podia sentir a rocha abaixo de mim se desfazendo, as montanhas ao longe começando a rachar sob o peso da energia que eu estava liberando.

Orion me encarou, paralisado por um segundo. O terror em seus olhos era palpável. Ele podia sentir o que estava prestes a acontecer.

— Por favor, não se levante depois disso.

Antes que ele pudesse reagir, eu deixei a [Aura] explodir. Toda a minha mana foi liberada de uma vez, em um ataque devastador. A onda de energia se espalhou em todas as direções, demolindo o terreno ao redor, destruindo montanhas como se fossem feitas de areia. Uma luz avassaladora tomou conta de tudo, enquanto eu deixava minha mana sair com força total.

Orion foi envolvido pela explosão, sua figura desaparecendo no brilho arco-íris que me cercava. Eu senti a força esmagadora da minha própria habilidade destruindo a área montanhosa, transformando o campo de batalha em um deserto de rochas pulverizadas.

Quando a luz finalmente começou a se dissipar, o campo de batalha havia mudado completamente. O terreno antes cheio de montanhas agora era uma cratera gigantesca que cobria 12 quilômetros, e Orion estava no centro dela, caído, coberto de poeira e escombros. Sua aura havia desaparecido, e ele estava imóvel.

Eu me ergui, ofegante, mas satisfeito. Eu podia sentir meu corpo vibrando com a energia restante, mas a exaustão estava começando a tomar conta. Eu tinha liberado muito de uma vez só, e isso cobraria um preço.

Mas, naquele momento, eu não me importava. Eu consegui...

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Orion se levantou novamente, mas logo caiu de joelhos, seu corpo pesado, os pulmões ardendo a cada respiração. O campo de batalha ao seu redor havia se tornado uma cratera devastada pela [Aura] de Victor. Sua [Aura da Ganância] estava se desfazendo, assim como sua força. A dor o envolvia, mas era uma dor diferente agora, não apenas a dor da carne, mas a dor da alma. 

Ele sabia que seu fim estava próximo. 

Enquanto seu corpo lentamente perdia a consistência, fragmentando-se em energia, sua mente, pela primeira vez, estava lúcida. Nos instantes finais, uma clareza cruel o atingiu como um golpe invisível.

Ele ergueu os olhos para o céu, ofuscado pela poeira e pelo caos, mas sua mente viajava para longe dali. Pensava em seus companheiros… no 5º… e naquela organização de encapuzados brancos que ele serviu com lealdade cega. 

Figuras sombrias, poderosas, que o haviam alimentado com promessas de grandeza. 

Mas agora ele via a verdade. 

Eles nunca o ajudaram. Nunca sequer se importaram. 

— Se... tivessem me ajudado... talvez... eu teria vencido... — murmurou, sua voz um sopro fraco, tragada pelo vento. 

Mas mesmo enquanto dizia essas palavras, ele sabia que não era verdade. Não havia desculpa. Ele tinha sido usado e jogado fora como uma lâmina cega após perder o fio. 

Eu fui enganado.

Seu peito se apertou ao encarar essa realidade. O orgulho que sustentava sua existência ruía como uma muralha apodrecida. Sua vida inteira fora construída sobre ilusões, ambições vazias forjadas pelas palavras de outros. Todos diziam que ele era um prodígio que seria muito forte, ele viveu a vida por isso. E agora, diante da morte, ele via a verdade com mais clareza do que nunca: 

Ele nunca foi forte. 

Seus olhos vacilaram até Victor. O garoto… o monstro… Não, algo mais que isso. Sua presença era como uma estrela brilhante, ofuscante.

Orion sempre acreditou que força era algo que se tomava, que se conquistava esmagando os outros sob os pés. Mas Victor… Victor era diferente. Mesmo depois de tudo, mesmo depois de destruí-lo completamente, ele ainda conseguia fazer uma expressão como aquela, para alguém como Orion. Tristeza.

— Ah... Eu vejo... — sussurrou, sua voz carregando uma amargura sufocante. Uma risada seca escapou de sua garganta, sem qualquer alegria. Eu nunca saí do lugar. Nunca fui forte.

O peso de sua existência desmoronava ao seu redor. O vazio que sempre tentou ignorar agora o envolvia como um abraço frio. 

Então, a voz de Victor ecoou. 

— Agora deve estar tudo bem. Você foi muito forte, Orion. Eu vou rezar para que, se tiver uma nova chance, seja uma pessoa melhor. 

As palavras cortaram mais fundo que qualquer lâmina. 

O que está dizendo? Como pode dizer algo assim?

Sem perceber, uma lágrima se formou em seus olhos monstruosos. Era uma sensação estranha, quente, pesada. Algo que ele nunca permitiu sentir antes. 

Victor se virou, e Orion teve uma visão clara de suas costas enquanto ele caminhava para longe. Forte. Inabalável.

Você… você…

Uma última fagulha de orgulho se acendeu em seu peito, apenas para ser consumida pela verdade inevitável. 

Eu vejo agora… Você é um cara muito forte. Muito mais forte do que eu jamais seria…

Seu corpo se desfez em pequenas partículas de energia, espalhando-se pelo vento. Seus sonhos, sua ambição, tudo se dissolvia no esquecimento. 

E, no fim, tudo que restou foi o silêncio. 

O mundo continuará girando sem ele. Mas aquela batalha nunca seria esquecida pelo seu oponente. Aquele monstro que foi mais humano do que ele em seus últimos momentos.

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