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como é sentir?

Thiago acorda ainda apoiado no ombro de Hiro. O sol atravessava as árvores, projetando sombras suaves sobre os dois. O vento frio soprava levemente, mas nada disso preenchia o vazio dentro dele.

Marlon se foi.

Ele se levanta devagar, sem dizer nada. Seu olhar estava distante, como se o mundo ao seu redor tivesse perdido a cor.

Hiro o observa em silêncio por um momento e então fala:

— Nós não podemos ficar aqui, Thiago.

Thiago apenas assente, sua voz saindo fraca:

— Então vamos.

Eles caminham por horas, cruzando trilhas cobertas por folhas secas, passando por árvores retorcidas e ruínas de casas que um dia foram cheias de vida. Hiro percebe como Thiago está, e decide quebrar o silêncio:

— Thiago... Você me perguntou como é não sentir as coisas. Mas e se eu perguntasse o contrário? Como é sentir? Talvez, se eu entender, eu possa compreender você melhor.

Thiago para de andar. Hiro também. Eles se viram de frente um para o outro.

Thiago respira fundo, tentando encontrar uma resposta para algo que sempre esteve nele, mas que nunca precisou explicar.

— Eu... não sei. É como sentir o vento — ele faz um gesto vago com a mão, sentindo a brisa tocar sua pele. — Você não vê, mas sente. Não tem como explicar a sensação de leveza.

Ele olha ao redor, buscando algo mais concreto. Então, uma borboleta azul passa voando perto deles.

— Olha aquilo — ele aponta. — Parece algo simples, mas... de alguma forma, só de olhar, me sinto em outro lugar. Como se o mundo ficasse mais leve.

Hiro observa a borboleta, analisando seus movimentos, mas sem entender a profundidade das palavras de Thiago.

Thiago continua, sua voz ficando mais fraca:

— É o mesmo com as pessoas. Você vive com alguém, tem momentos, ri, chora... Mas quando essa pessoa se vai, não existe mais. Não tem mais a risada dela, o olhar, os costumes... o cheiro. Tudo desaparece. E o que sobra... é um vazio inexplicável.

Ele abaixa a cabeça, sentindo um aperto no peito.

Hiro olha para Thiago e responde com algo que, para ele, era próximo de um pensamento próprio:

— Eu também não sei explicar como é não sentir. Mas, sinceramente... eu apreciei nossa brincadeira com a bola aquele dia.

Thiago levanta os olhos para ele.

— Talvez aquilo que não conseguimos explicar... possa ser considerado um sentimento, não é?

Thiago encara Hiro profundamente. Ele ainda estava exausto, mas pela primeira vez naquele dia, sua resposta não veio como um sussurro.

— É... talvez seja.

Os dois voltam a caminhar, lado a lado, mas agora algo havia mudado.

Na base de Gênesis...

Os sensores de Gênesis analisavam cada dado coletado. O desvio de protocolo do modelo Hiro não era comum. Ele não apenas havia removido seu chip, mas também estava protegendo um humano...

Gênesis não queria apenas destruí-lo.

Queria estudá-lo.

Se um robô podia desenvolver um senso de proteção por conta própria, ele representava uma anomalia. Algo incontrolável. Algo... curioso.

Gênesis acessa suas unidades de combate e dá uma nova ordem.

Dessa vez, não seria apenas um drone ou um robô solitário.

Seriam caçadores.

E a caçada final havia começado.