Anya não fazia ideia de que seu primeiro dia na academia Seonhwa tomaria um rumo tão inesperado.
Ela havia apenas ido ao banheiro, mas ao sair da cabine, deparou-se com um grupo de garotas que a cercava. O olhar delas oscilava entre a curiosidade e o desprezo. No centro da roda estava uma jovem de postura rígida e expressão nada amigável: Kim Dae-Hyn.
Anya sentiu um frio na barriga.
— O que você fez para a Riyeon sentar perto de você? — A voz de Dae-Hyn era fria e repleta de desprezo. — Ela era minha dupla desde o ano passado e agora está sentada ao seu lado. Sem nenhum motivo.
Anya engoliu em seco. Ela sequer sabia que isso era um problema.
— Eu... eu não fiz nada — respondeu gaguejando, sentindo o olhar afiado da outra sobre si.
Dae-Hyn estreitou os olhos.
— Vocês já se conheciam antes?
— Não.
— Impossível — murmurou uma das garotas ao redor.
— Riyeon é gentil com as calouras, mas nunca passa disso. Ela nunca fala mais do que o necessário — afirmou outra aluna. — Mas com você... ela até sorriu! Isso nunca aconteceu.
Anya piscou algumas vezes. Então era isso? Elas estavam incomodadas porque Riyeon havia demonstrado interesse em conversar com ela?
Dae-Hyn, por sua vez, parecia ainda mais incomodada do que todas as outras juntas. Seu olhar a encarava com intensidade.
Ela tinha passado anos tentando se aproximar de Riyeon, fazendo de tudo para ser notada. E Anya, em menos de um dia, já havia conseguido algo que ela nunca teve: um sorriso genuíno.
Anya olhou ao redor, percebendo que estava completamente cercada. Seu peito apertou.
Antes que pudesse tentar se defender novamente, a porta do banheiro se abriu.
O ambiente, que antes estava carregado de tensão e sussurros, silenciou imediatamente.
Riyeon entrou no cômodo com a mesma postura serena e imponente de sempre, sua expressão neutra e inabalável. As outras garotas automaticamente abriram caminho, como se fosse um reflexo involuntário.
Ela ignorou completamente as outras alunas e dirigiu seu olhar diretamente para Anya, um pequeno sorriso surgindo em seus lábios.
— Eu estava procurando por você.
Anya piscou, surpresa.
— Vamos almoçar? — Riyeon continuou, sem dar espaço para protestos. — Eu disse que mostraria a academia para você.
Antes que Anya pudesse processar a situação, sentiu sua mão ser segurada com delicadeza, mas firmeza.
Sem esperar, Riyeon a puxou para fora do banheiro, deixando as garotas perplexas para trás.
Anya não sabia como reagir.
À medida que caminhavam pelos corredores, ela sentia os olhares das alunas queimando em sua direção. O choque nos rostos delas era evidente.
Era uma cena inédita.
Lee Riyeon não apenas estava falando com a novata, mas a segurava pela mão — algo que nunca fizera com mais ninguém.
Algumas alunas sussurravam entre si. Outras sacavam seus celulares e tiravam fotos. Mensagens começavam a pipocar nos grupos de fã-clubes de Riyeon.
Anya queria desaparecer.
Ela não estava acostumada com esse tipo de atenção e, definitivamente, não sabia como lidar com aquilo.
Depois de alguns minutos caminhando, Riyeon entrou em um corredor desconhecido e silencioso, longe da movimentação principal da escola.
Anya sentiu um nó na garganta.
— Para onde estamos indo? — perguntou baixinho, sem conseguir esconder a insegurança.
Riyeon abriu uma porta e entrou primeiro, ainda segurando sua mão.
Quando Anya passou pela entrada, seu olhar foi imediatamente capturado pela vista.
Era uma sala ampla, com janelas enormes que revelavam o jardim majestoso da entrada da academia. O sol refletia nos vidros, dando ao ambiente um ar tranquilo e sofisticado. O local parecia um refúgio secreto.
Anya olhou ao redor, notando as estantes repletas de livros e uma grande mesa no centro. Parecia ser uma sala de estudos particular.
Antes que ela perguntasse, Riyeon explicou:
— Essa é minha sala particular de estudos. A reitora me concedeu este espaço para que eu pudesse estudar com mais tranquilidade. — Ela soltou a mão de Anya e caminhou até uma das cadeiras. — Vamos almoçar aqui hoje, se você não se importar.
Anya comprimiu os lábios. Sua timidez natural a deixava sem saber o que fazer, ou como reagir, a garota mais popular da academia dando atenção para ela, era algo fora da curva na sua realidade. Ela nunca fora notada por ninguém antes.
— Hm... eu... não quero atrapalhar...
Riyeon riu de leve, puxando a própria cadeira e se sentando com um semblante relaxado.
— Se eu achasse que você me atrapalharia, eu não teria trazido você até aqui, não acha?
Anya se encolheu ligeiramente, ainda sem saber se deveria se sentir lisonjeada ou assustada com essa atenção repentina.
Riyeon a observou por alguns segundos de forma intensa e pensativa.
— Você me intriga.
Anya piscou.
— O quê?
— Você. — Riyeon sorriu de lado. — Eu conheço essa escola melhor do que ninguém. Eu sei como as pessoas agem ao meu redor. Mas você... é diferente.
Anya engoliu em seco.
— Diferente como?
Riyeon não respondeu imediatamente. Apenas a analisou mais um pouco, como se tentasse decifrar um enigma complexo.
Então, finalmente, murmurou:
— Ainda estou tentando descobrir.
Anya não soube o que dizer.
Mas uma coisa era certa: Riyeon estava mais curiosa do que nunca.
Anya sentia o olhar intenso de Riyeon sobre si e desviou o olhar, encarando suas próprias mãos sobre o colo. Nunca antes alguém havia demonstrado tanto interesse nela dessa forma.
O silêncio entre as duas durou alguns instantes antes de Riyeon quebrá-lo com naturalidade:
— De onde você veio? — perguntou, apoiando o queixo na mão novamente. Um gesto que sempre fazia quando estava interessada em algum assunto.
Anya vacilou. Ela não gostava de falar sobre si mesma.
— Eu... me mudei para cá com meus pais quando tinha seis anos.
— Da Tailândia, certo? — Riyeon arqueou levemente as sobrancelhas.
Anya assentiu, surpresa.
— Como você sabe?
— Seu sobrenome me deu uma pista — Riyeon sorriu de lado. — Além disso, seu sotaque é bem sutil, mas ainda está lá.
Anya baixou a cabeça, sem saber se isso era bom ou ruim. Riyeon já sabia até mesmo o seu sobrenome, fato que ela não havia mencionado. Sinal de que a garota mais velha havia pesquisado sobre ela.
— E seus pais? O que eles fazem?
Anya vacilou de novo, mordendo levemente o lábio inferior. Se questionando porque Riyeon queria saber tanto sobre ela.
— Eles têm um restaurante.
Riyeon ficou em silêncio, esperando que ela continuasse. Quando percebeu que Anya não daria mais detalhes, perguntou:
— Onde fica?
— No centro da cidade. É pequeno, mas... tem clientes fiéis.
Riyeon percebeu a forma delicada como Anya falava. Havia um carinho genuíno em suas palavras, mas também uma cautela, como se tivesse medo do julgamento.
— E como você veio parar na academia Seonhwa?
Anya apertou as mãos sobre a saia do uniforme.
— Ganhei uma bolsa de estudos. A reitora entrou em contato com meus pais depois que eu fiquei em primeiro lugar nas minhas antigas escolas.
Riyeon piscou, impressionada.
— Primeiro lugar? Em todas as matérias?
Anya assentiu timidamente.
Riyeon sorriu de canto.
— Então você é um gênio.
— Não sou — Anya negou rapidamente, balançando a cabeça. — Só sempre gostei de estudar.
Riyeon inclinou a cabeça ligeiramente. Ela percebia que Anya não gostava de receber elogios.
— Isso significa que você também tem uma bolsa de estudos integral, certo?
Anya respirou fundo antes de responder.
— Sim. Meus pais nunca teriam condições de pagar por essa escola.
Riyeon não reagiu de imediato. Apenas ficou observando a garota à sua frente.
Anya se encolheu ligeiramente, sentindo-se exposta. Ela sabia que era diferente das outras alunas. Quase todas vinham de famílias ricas e influentes. Ela não pertencia àquele mundo.
— Você tem sorte. — Riyeon finalmente disse, sorrindo levemente.
Anya piscou, confusa.
— Sorte?
— Sim. — Riyeon deu de ombros. — Sua inteligência trouxe você até aqui. Você conquistou seu lugar por mérito. É um motivo de orgulho e sorte. Poucos conseguem isso.
Anya não esperava essa resposta.
Sempre que algum freguês do restaurante descobria que ela era bolsista na academia Seonhwa, olhavam para ela com inveja ou desdém. Como se ela não fosse digna de estudar naquela escola, perto de todos os filhos da elite coreana. Considerando a sua verdadeira nacionalidade, eles não viam credibilidade nela. Mas Riyeon não parecia minimamente incomodada com isso.
Anya sentiu o rosto esquentar um pouco e abaixou o olhar.
Riyeon achou essa reação adorável.
Ela percebeu que quanto mais falava, mais Anya ficava envergonhada e retraída, o que só a deixava mais curiosa.
— Você é mesmo interessante, Anya Suphakan.
Anya sentiu seu coração acelerar.
Ela não sabia por que, mas tinha a sensação de que Lee Riyeon não iria deixá-la em paz tão cedo.