fascínio

Anya chegou em casa já à noite. Seus pais estavam no restaurante, atendendo os clientes em meio ao movimento intenso. Sem a ajuda da filha, que agora estudava em tempo integral, eles tiveram que contratar um novo funcionário, Kyn. Ele era um rapaz extrovertido e sorridente, que morava próximo ao restaurante. Anya o conhecia da antiga escola e mantinha uma relação cordial com ele, mas sem muita conversa. Assim que entrou no restaurante, sua mãe caminhou animadamente em sua direção e a envolveu em um abraço apertado, fazendo uma enxurrada de perguntas. Anya riu da empolgação. Adorava essa energia falante da mãe. Avisou que contaria tudo no jantar e subiu para casa, ansiosa por um banho quente que aliviasse o estresse do primeiro dia. Mais tarde, quando seus pais finalizaram o expediente, trouxeram uma boa refeição do restaurante, como uma pequena comemoração. Com a mesa posta e todos sentados, Anya começou a contar como havia sido o dia, omitindo certos detalhes — especialmente sobre a garota exemplar que a academia idolatrava. Limitou-se ao essencial: a escola era de fato um ambiente muito acima da média, e seus esforços precisariam ser redobrados para acompanhar o ritmo.

— Você é a nossa pequena gênia. Tenho certeza de que vai se sair bem — disse seu pai com convicção.

Ele sabia o quanto Anya era dedicada e que faria o possível para manter seu padrão de excelência.

— Eu percebi que a maioria dos alunos vem de famílias ricas — comentou ela.

Os pais trocaram olhares. Antes de aceitarem a bolsa de estudos para a filha, haviam se informado sobre o ambiente da academia. A reitora fora direta: Anya precisaria lidar com colegas de alto poder aquisitivo.

Eles sabiam que isso poderia ser um desafio e estavam dispostos a apoiá-la para que não se sentisse inferior. O próprio uniforme já havia sido um gasto considerável, e quase desistiram por causa disso. Mas, ao perceber o sacrifício que estavam dispostos a fazer, a reitora ofereceu um acordo: eles comprariam apenas o uniforme, enquanto os livros do semestre seriam doados sem custo. Esses materiais eram ainda mais caros, e a ajuda foi recebida com alívio. No entanto, a generosidade da reitora tinha um motivo oculto. Poucos sabiam, mas Anya lembrava muito sua filha mais nova, falecida aos 16 anos. Quando a reitora a encontrou durante sua busca anual por novos talentos, quase chorou ao notar a semelhança. Quis correr e abraçá-la, mas se conteve. Desde então, passou a pesquisar sobre Anya e percebeu que ela tinha o talento que a academia procurava. Ajudá-la era uma forma silenciosa de manter a memória da filha viva. Anya tentou se manter firme. Afinal, era apenas o primeiro dia. Precisaria de tempo para se adaptar.

Seu quarto era seu refúgio. Com paredes decoradas por desenhos, fotos polaroides com os pais e imagens de lugares especiais, o ambiente exalava acolhimento. No canto, havia uma estante repleta de quadrinhos, sua pequena coleção particular. Anya se sentia segura ali. Sentou-se à escrivaninha e retirou o caderno de couro da bolsa. Era um caderno de desenhos que sempre carregava consigo. Sem nem perceber, começou a traçar linhas delicadas no papel, dando forma a um rosto. Traços bem definidos. Olhos expressivos. Uma fita no cabelo. Era Riyeon. Anya piscou, surpresa ao notar a familiaridade do desenho. Quando havia decidido desenhá-la? Talvez o momento tivesse ficado gravado em sua mente sem que ela se desse conta. Riyeon, concentrada no almoço, segurando os hashis com elegância. Era inegável: Riyeon era linda. Mas não apenas isso. Tinha uma presença intensa, quase sedutora, sem fazer o menor esforço.

Anya mordeu o lábio, um leve rubor colorindo suas bochechas. Por que ela estava desenhando Riyeon? Seu olhar voltou à ilustração. A resposta estava ali, nos traços que havia feito com tanto cuidado. Riyeon a intrigava também. Fascinava. E Anya não sabia bem como lidar com isso.