Mais uma vez, Riyeon se pegou observando Anya à distância. Ultimamente, era como se seu olhar fosse atraído para a garota sem que ela sequer percebesse. Anya havia se tornado sua nova obsessão particular. Ela gostava de analisá-la, de entender seus hábitos e tentar decifrar os mistérios por trás de seu olhar sempre absorto.
Naquele dia, Riyeon não teria aula particular. Seu tutor tinha adoecido e pedido para repor a aula no sábado. Ela apenas concordou, sem realmente se importar. Se fosse para casa, ficaria sozinha — seus pais estariam no hospital, e sua irmã provavelmente ocupada na faculdade.
Nos raros momentos em que tinha folga dos estudos, Riyeon gostava de ir para a pista de skate do parque. Sempre camuflada sob um moletom e calças largas, sentia a adrenalina tomar conta de seu corpo, permitindo que, por alguns instantes, ela perdesse as rédeas de si mesma. O skate era sua válvula de escape, um segredo que poucos conheciam. Entre todos os esportes que praticava desde a infância, esse era o seu favorito, porque a fazia sentir-se livre da realidade controladora em que vivia.
Mas hoje, ela queria fazer algo diferente.
Do banco traseiro do carro de luxo, Riyeon viu o ônibus de Anya se aproximar e, assim que a garota entrou, tomou sua decisão.
— Senhor Jung, siga aquele ônibus, por favor.
O motorista, um senhor de meia-idade que trabalhava para a família há anos, apenas assentiu sem questionar. Ele conhecia Riyeon o suficiente para saber o quanto ela era reservada e que, se pedira algo, tinha seus motivos.
Riyeon observou atentamente o trajeto do ônibus, percebendo que Anya morava muito longe da academia. As aulas terminavam à tarde, mas a jovem só chegava em casa à noite. Essa constatação despertou nela um sentimento inesperado de admiração. Anya era esforçada. Não tinha os privilégios que a maioria das alunas possuía e, ainda assim, mantinha-se firme, dedicada.
O ônibus fez uma parada e Anya desceu.
— Espere aqui — Riyeon disse ao motorista, deixando a bolsa no carro antes de sair.
Ela seguiu Anya com cautela, certificando-se de manter uma distância segura para não ser notada. A garota andava distraída, alheia ao movimento ao seu redor. Riyeon percebeu que Anya não olhava o celular enquanto caminhava, ao contrário da maioria das pessoas. Ela parecia imersa nos próprios pensamentos.
Após alguns minutos, Anya entrou em um pequeno restaurante localizado em uma rua mais estreita. Riyeon olhou para o letreiro e viu que se tratava de um restaurante de comida tailandesa. O lugar estava parcialmente cheio, com mesas organizadas entre os espaços reduzidos. As paredes de vidro permitiam uma visão clara do interior, e Riyeon se posicionou discretamente do lado de fora, observando.
Anya foi recebida por uma mulher de meia-idade, que a beijou no rosto com carinho. A cena pegou Riyeon de surpresa.
Ela nunca havia visto uma demonstração de afeto tão próxima entre pais e filhos. Na cultura coreana, os laços familiares costumavam ser mais discretos e formais. Mas Anya vinha de uma realidade diferente. Seu mundo parecia mais acolhedor, mais humano.
A mulher, provavelmente sua mãe, sorriu enquanto dizia algo, e Anya riu, visivelmente à vontade. Logo depois, um homem — provavelmente seu pai — surgiu da cozinha, limpando as mãos no avental antes de se juntar à filha e à esposa. Eles pareciam uma família calorosa, unidos por laços que iam além das aparências.
Riyeon continuou observando. Anya começou a ajudá-los, pegando alguns pratos e organizando as mesas. Diferente da academia, onde parecia sempre hesitante e contida, ali ela estava à vontade. Seu sorriso era genuíno, seus gestos eram naturais.
Era como se Riyeon estivesse vendo uma nova faceta de Anya — uma versão mais real dela, longe da pressão da academia de elite.
E, de alguma forma, isso a fascinava ainda mais.