A noite foi tranquila no pequeno apartamento acima do restaurante. Depois de ajudar os pais no expediente, Anya finalmente conseguiu se instalar para o seu quarto.
Sentou-se à escrivaninha, os livros abertos à sua frente, mas sua mente estava dispersa. Sua rotina na academia era intensa, e, mesmo estudando, sentia que ainda se esforçava mais.
Foi quando seu celular vibrou sobre a mesa.
Ela olhou para a tela e franziu as sobrancelhas.
Número desconhecido: "Encontre-me no Parque Han às 20h. Perto da pista de skate. Não se atrase. ps; você me conhece."
Anya piscou, confusa. Quem enviaria uma mensagem assim para ela?
Verificado novamente, tentando encontrar alguma pista, mas o número não estava salvo e a mensagem não trazia nenhuma assinatura específica. Apenas uma foto do brasão da academia Seonhwa.
Um trote? Algum engano? Mas a pessoa dizia que ela a conhecia.
Seu primeiro instinto foi ignorar. Mas algo incomodava. E isso seria importante?
Olhando para o relógio, vi que ainda tinha tempo para decidir. Mordeu o atraso, indecisa. Não costumava sair à noite, especialmente para encontrar "desconhecidos". Mas uma estranha curiosidade cresceu dentro dela.
Cerca de uma hora depois, Anya chegou ao Parque Han. O local era amplo, iluminado pelos postes espalhados ao longo das trilhas. Havia casais caminhantes, grupos de amigos conversando e alguns jovens andando de bicicleta.
A pista de skate ficava em uma área mais afastada, onde as luzes eram mais baixas e o som das rodinhas deslizando pelo concreto se misturava ao riso dos skatistas.
Anya ponderou antes de se aproximar. Sentia-se deslocada ali. Mas pelo menos era um lugar público e movimentado.
Foi então que, em meio aos praticantes, seus olhos captaram uma figura familiar.
Uma garota de moletom preto e calças largas deslizava pelo circuito com uma habilidade impressionante. Seus movimentos eram fluidos, como se o mundo ao redor não existisse. O capô escondia parte do rosto, mas Anya percebeu imediatamente o pequeno detalhe que a denunciava.
A fita no cabelo.
Riyeon (Rei)
Anya sentiu seu coração acelerar.
A garota exemplar da academia, sempre impecável e controlada, estava ali, vestida de forma completamente casual, dominando a pista de skate como se pertencesse nesse lugar.
Antes que pudesse reagir, Riyeon deslizou até ela, parando com um leve impulso.
— Você veio. — Riyeon disse, um pequeno sorriso brincando nos lábios.
Anya cruzou os braços, ainda um pouco confusa.
— Então a mensagem misteriosa era sua?
— Precisava de um jeito para você tirar do restaurante. — Riyeon deu de ombros, como se fosse algo óbvio.
Anya estreitou os olhos.
— Você me atrapalhou até em casa, não foi?
Riyeon não respondeu imediatamente. Apenas virou o skate de lado e apoiou um pé sobre ele, como se estivesse esperando que Anya chegasse a essa conclusão sozinha.
—Talvez. —disse, finalmente. — Mas e daí?
Anya suspirou, passando a mão pelo rosto.
— Você é impossível.
Riyeon sorri.
— Vem, quero te ensinar uma coisa.
Antes que Anya pudesse protestar, Riyeon pegou seu pulso e a calma suavemente para mais perto da pista.
Anya não sabia exatamente como tinha acabado aquela situação, mas uma coisa era certa: sua vida nunca mais seria monótona com Riyeon por perto.
Apenas alguns minutos atrás, Riyeon tinha mandado uma mensagem misteriosa, a caminho da pista de skate no Parque Han. Agora, Anya estava de pé sobre um skate, completamente desequilibrada, enquanto Riyeon segurava suas mãos para evitar que ela caísse.
-Respira, Anya. Se você ficar assim, vai cair antes mesmo de começar. — Riyeon disse, os olhos brilhando com diversão.
Anya lançou um olhar desconfiado para os pés, que simplesmente escorregar a qualquer momento.
— Você fala como se fosse fácil.
Riyeon inclinou levemente a cabeça, observando-a.
— É. Você só precisa confiar em mim.
Aquela frase, dita de maneira tão casual, fez algo estranho no peito de Anya.
Ela engoliu em seco e desviou o olhar.
— Tudo bem... O que eu faço agora?
Riyeon alegre, satisfeita, e se posicionou atrás dela, colocando as mãos levemente sobre sua cintura. Anya sentiu o toque quente através do tecido da blusa e, involuntariamente, prendeu a respiração. Riyeon era mais alta que ela e isso facilitava seu ensino.
— Primeiro, flexione um pouco os joelhos. Assim. — Riyeon ajustou sua postura com um toque suave, os dedos deslizando sobre a lateral de sua cintura. — Agora, use o pé da frente para equilibrar e o de trás para dar impulso.
Anya tentou seguir as instruções, mas, assim que moveu o pé de trás, o skate balançou e ela se desequilibrou. Um pequeno grito escapou de seus lábios, e, antes que pudesse cair, Riyeon a segurou firmemente pelos braços, trazendo-a para mais perto.
O impacto foi mínimo, mas suficiente para que fiquem perigosamente próximos.
O coração de Anya martelava em seu peito. Ela sentiu a respiração de Riyeon próxima à sua, o cheiro suave do moletom misturado com algo floral.
— Você está bem? — Riyeon disse, a voz um pouco mais baixa do que o normal.
Anya concordou, mas não se moveu.
Por um breve instante, nenhum som ao redor importava. Nem os skatistas passando, nem o vento frio da noite. Apenas aquele momento suspenso no tempo, onde seus olhos estavam presos um no outro.
Riyeon não desviou o olhar. Havia algo em seus olhos que Anya não sabia decifrar.
E, pela primeira vez, ela não queria desviar também.
O skate deslizou progressivamente para o lado, quebrando o feitiço do momento. Riyeon convidou de canto e tirou-se apenas o suficiente para que Anya pudesse recuperar o equilíbrio.
— Talvez seja melhor começarmos devagar. — Riyeon murmurou, ainda segurando sua mão.
Anya riu nervosamente.
— Eu acho que nunca vou conseguir fazer isso.
— Eu também achei que nunca ia gostar tanto de ensinar alguém.
Anya piscou, surpresa pela confissão. Riyeon deu um pequeno empurrãozinho no skate com o pé, fazendo Anya deslizar alguns centímetros.
— Vamos de novo. Só que, dessa vez, confie em mim de verdade.
Anya descobriu que já estava confiando. Mais do que imaginava.
O carro de Riyeon deslizava suavemente pelas ruas iluminadas de Seul. A cidade passava como um borrão lá fora, mas sua mente ainda estava presa ao parque, às risadas suaves de Anya e o jeito como ela se segurava nela com tanto recebimento.
Riyeon encostou a cabeça no banco, fechando os olhos por um instante. Um sorriso pequeno, quase imperceptível, surgiu em seus lábios.
Ela não costumava se deixar levar por momentos como aquele. Sempre foi alguém que mantinha o controle sobre tudo — sobre seus sentimentos, sobre as expectativas ao seu redor, sobre quem ela deixava se aproximar. Mas com Anya... era diferente.
Havia algo nela que fazia com que Riyeon quisesse provocar, testar os limites daquela timidez encantadora. Era engraçado, porque Anya claramente tentava manter uma barreira entre eles, mas, ao mesmo tempo, se deixava levar de maneiras sutis.
Riyeon suspirou, ainda sorrindo.
Anya segurando sua mão com tanta hesitação. Anya rindo, nervosa, enquanto tentava se equilibrar no skate. Anya olhando para ela como se estivesse vendo algo que não entendia — e talvez não quisesse entender.
Riyeon gostou disso.
Gostava da sensação de ter descoberto um lado da Anya que ninguém mais via.
Talvez fosse egoísmo, mas, pela primeira vez em muito tempo, ela se permitiu aproveitar o momento sem se preocupar com o que os outros esperavam dela.
Enquanto isso, no pequeno quarto acima do restaurante, Anya estava deitada na cama, olhando para o teto, os pensamentos embaralhados.
Ela ainda sentiu os dedos de Riyeon em sua cintura, ainda conseguiu ouvir a risada baixa da garota quando ela quase caiu do skate.
Se fechasse os olhos, poderia reviver o momento em que morresse perigosamente próximo. O olhar intenso de Riyeon sobre ela. O silêncio carregado entre as duas.
Anya virou de lado na cama, puxando o travesseiro contra o peito, sentindo o rosto esquentar.
Aquilo não fez sentido.
Riyeon era uma garota perfeita da academia, uma linha de frente da elite, uma intocável. E, no entanto, ela estava ali, com um moletom largo e um skate, segurando sua mão e dizendo para confiar nela.
Por quê?
O que Riyeon queria com ela?
Anya nunca se considera alguém especial. Ela sabia que era inteligente, sabia que tinha talento, mas isso nunca fez dela alguém que chamava atenção. Ela prefere passar despercebida, focada em seus objetivos.
Então por que Riyeon parecia tão interessada em se aproximar?
Ela se virou novamente, soltando um suspiro pesado.
Sua vida costumava ser previsível. Estudar, trabalhar no restaurante, se esforçar para manter a bolsa de estudos. Mas agora, de repente, havia Riyeon.
Riyeon e seus olhares curiosos.
Riyeon e seu jeito provocador.
Riyeon, quebrando sua rotina e deixando sua mente uma bagunça completa.
Anya fechou os olhos, evitando afastar aqueles pensamentos. Mas sabia que era inútil.
Porque, com uma única tentativa, alguém conseguiu tirar a zona de conforto.
E Anya não sabia se isso era bom ou ruim.