o quarto de Anya

O jantar estava quase chegando ao fim, e a conversa entre os quatro se desenrolava em um clima agradável e descontraído. Anya e Riyeon já haviam comido, e o prato tailandês, com seu sabor picante e exótico, parecia ter conquistado Riyeon, embora Anya, um pouco tímida, tivesse comido menos do que costumava. Riyeon, por sua vez, parecia à vontade, demonstrando uma certa familiaridade com o local, como se estivesse confortável no ambiente. Mas Anya sabia que, por dentro, a presença da garota tinha mexido mais com ela do que gostaria de admitir. Todos que chegavam no local, notavam a presença dominante da linda Lee Riyeon. Sua beleza extraordinária atraía a atenção de todas as pessoas. Ela parecia uma Idol coreana, moldada por um patrão de beleza quase impossível de ser alcançado, uma beleza que deixava Anya muitas vezes sem fôlego.

As luzes suaves refletindo nas paredes de madeira clara, o restaurante estava ficando um pouco mais vazio à medida que a noite avançava. O som de talheres e conversas distantes preenchia o ar, mas as palavras de seus pais chamaram sua atenção. Eles estavam em pé próxima à mesa das garotas, conversando de forma amigável com Riyeon.

— Então, Anya, o que acha de mostrar o seu quarto para a Riyeon — a mãe de Anya perguntou com um sorriso radiante. Seus olhos estavam brilhando de felicidade, algo que a jovem reconhecia rapidamente. Ela conhecia bem aquele sorriso – o sorriso de uma mãe que se sentia realizada por ver sua filha sendo aceita por alguém, e não apenas por qualquer pessoa. Riyeon, na visão de sua mãe, era mais do que uma simples colega de escola; ela era uma aluna de elite, modelo acadêmica, alguém com poder, influência, e que poderia abrir portas para sua filha.

Anya, inicialmente temerosa, olhou para sua mãe, que parecia genuinamente entusiasmada com a ideia. Já seu pai, não escondia a felicidade que estava sentindo naquele momento. Pela primeira vez, parecia que Anya tinha encontrado uma amiga verdadeira. A ideia de Riyeon, com sua presença marcante, como alguém tão influente e respeitada, fez ele sentir-se ainda mais aliviado com a escolha da filha de estudar na academia de elite. Talvez, finalmente, Anya estivesse se encaixando nesse mundo novo, esse mundo que ela parecia ter sido colocada à força, mas que agora parecia ter algo de positivo.

— Não precisa... Eu só... — Anya começou sentindo-se desconfortável com a ideia. Ela não sabia se queria mostrar seu quarto, especialmente para alguém como Riyeon, alguém que a deixava nervosa e confusa. Mas quando olhou para o rosto de sua mãe, viu o brilho nos olhos dela, e isso a fez perceber o quanto aquela pequena ação significava para a mulher. Seus pais estavam felizes, estavam orgulhosos, e por mais que Anya sentisse aquele nervosismo crescente, sabia que era um pequeno gesto que poderia agradá-los.

Riyeon, por outro lado, apenas observava a situação com um sorriso discreto. Ela sabia que Anya estava hesitante, mas ela também sabia que o gesto não era para ela, mas para seus pais. Ela nunca foi de se incomodar com essas formalidades. Mas de alguma maneira, ela estava interessada em ver seu quarto, entender mais sobre ela, seus gostos, suas particularidades.

— Eu adoraria ver o seu quarto, Anya — Riyeon disse com um tom amável, como se estivesse fazendo um favor, embora o sorriso em seus lábios fosse mais do que cortês. Era evidente que ela não estava apenas sendo educada. Ela queria saber mais sobre Anya, e isso a tornava ainda mais curiosa.

Anya mordeu o lábio inferior, indecisa, antes de finalmente suspirar.

— Tá bom, eu vou mostrar o meu quarto... — disse, a voz baixa e um pouco nervosa. Ela se levantou lentamente, com Riyeon logo atrás, e seguiu até o andar de cima da casa. Seus pais observavam com sorrisos cúmplices, sem esconder a alegria. Para eles, aquele momento significava muito. Não era apenas uma visita ao quarto da filha; era um símbolo de que ela estava se integrando ao mundo que ela escolheu.

Anya abriu a porta do seu quarto, e Riyeon entrou com um passo mais firme, observando atentamente o ambiente. O quarto de Anya era exatamente o que ela imaginava: simples, mas cheio de personalidade. O papel de parede tinha tons suaves de lilás, com algumas ilustrações e desenhos espalhados pelas paredes. O que mais chamava atenção era a estante cheia de livros, principalmente de ficção, com uma clara preferência por quadrinhos e mangás, o que Riyeon achou peculiar, mas de certa forma encantador. 

Anya olhou para Riyeon, tentando ler a reação dela. Ela sentia como se estivesse exposta, como se estivesse mostrando um pedaço de sua alma. Mas Riyeon apenas olhava ao redor com calma, seus olhos detalhistas observando cada canto do quarto. Quando ela se aproximou da estante, seus olhos brilharam ao ver uma coleção de livros de mangá organizada com cuidado, ela tocou um dos volumes com a ponta dos dedos. 

— Eu não sabia que você gostava de mangás. — Riyeon comentou, com um tom suave, mais descontraído do que Anya esperava. Era como se ela estivesse constatando um pensamento pessoal.

— É uma das minhas coisas favoritas... Eu... leio muito para relaxar. — Anya disse, um pouco mais à vontade agora, embora ainda um tanto nervosa.

Riyeon sorriu, finalmente virando-se para encara-la. Ela estava encantada, mais uma vez. Algo simples como a coleção de mangás da garota parecia mais uma chave que abria portas para entender um pouco mais sobre quem ela era. Ela percebeu o quanto Anya se esforçava para ser o que todos esperavam. Não havia espaço para ser só ela mesma, ao menos não até agora, quando as paredes estavam começando a desmoronar.

Anya ficou quieta, observando Riyeon. Elas não precisavam dizer mais nada, mas havia algo mais ali. Algo ainda por ser explorado. Anya estava começando a se abrir, a aceitar um pouco mais a presença de Riyeon em sua vida. O mundo de Anya ainda estava confuso, mas Riyeon parecia ser uma constante que ela não sabia muito bem como lidar. 

— Eu achei a sua coleção ótima — Riyeon finalmente disse, quebrando o silêncio que se formou entre elas.

A jovem sorriu, agora de forma mais natural. Riyeon tinha esse efeito nela, como se fosse capaz de quebrar as barreiras que ela mesma tentava erguer.

E, assim, sem precisar de mais palavras, Riyeon se virou para sair do quarto, mas não sem antes lançar um olhar rápido para Anya, uma expressão que parecia dizer muito mais do que qualquer coisa que pudesse ser dita.

Anya ficou parada, observando Riyeon sair, e naquele momento ela soube que algo havia mudado, e que talvez, só talvez, ela estivesse começando a aceitar o que estava se formando entre elas.