Anya desceu as escadas com o coração acelerado. Ela precisava se despedir de Riyeon, mesmo que a presença dela ainda a deixasse nervosa e confusa. Havia algo em Riyeon que a atraía, algo no jeito dela, na forma como a fazia sentir, que Anya ainda não compreendia completamente.
Ao chegar ao restaurante, encontrou seus pais terminando de limpar as mesas. O ambiente esvaziava-se aos poucos, os últimos resquícios do jantar sendo organizados. Anya olhou ao redor, mas Riyeon já havia ido embora.
Seu pai, ao notar sua expressão, falou com um sorriso discreto:
— A Riyeon já foi, minha filha. Mas antes de ir, agradeceu muito pela hospitalidade. Disse que adorou o jantar e que foi muito bom ver o seu quarto.
Anya assentiu, sentindo uma pontada no peito. Ela sempre pensou em Riyeon como inalcançável, uma estudante exemplar e fria. No entanto, algo mudara. A presença dela tornara-se reconfortante, e a forma respeitosa com que interagira com seus pais a tocou de maneira inesperada.
Sua mãe, animada a noite toda, agora olhava para ela com um sorriso terno. Anya sentiu o peito apertar. A maneira como sua mãe tratou Riyeon revelava o quão carinhosa e acolhedora ela podia ser.
Sentou-se ao lado dos pais, distraída, quando o telefone da mãe tocou. O tom rápido da conversa chamou sua atenção.
— É a Riyeon — disse sua mãe, simpática, mas com um tom mais sério. — Ela pediu meu número. Disse que queria minha permissão.
Anya ergueu as sobrancelhas, surpresa. Sua mãe, direta como sempre, cedeu rapidamente, sem revelar o que fora pedido. Ao insistir por respostas, ouviu apenas que logo saberia.
Desconcertada, Anya apenas balançou a cabeça. Algo sobre Riyeon fez com que sua mãe confiasse nela. E isso a deixava ainda mais intrigada.
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Riyeon observava a cidade através da janela do carro, as luzes passando rápidas. Havia um sorriso discreto em seus lábios, mas sua mente estava tomada por reflexões.
O jantar com os pais de Anya fora diferente do que imaginava. Crescera rodeada de pessoas influentes, sempre focada nos estudos, acostumada com interações superficiais e calculadas. Mas naquele restaurante, algo nela mudara.
Ela se recordava da mãe de Anya: acolhedora, afetuosa, oposta à frieza que conhecia dentro de casa. Ver aquela dinâmica familiar despertou nela um sentimento incômodo. Um vazio que nunca soubera nomear.
Ela tentou ignorar, mas não conseguiu. A suavidade com que a mãe de Anya falava, a forma como tratava a filha, como olhava para ela com ternura... Era algo que Riyeon não experimentava em sua própria casa. Ali, o afeto era uma formalidade, um gesto rápido em meio a obrigações sociais. O carinho nunca vinha sem uma razão pré-estabelecida.
Por que aquilo a incomodava tanto? Por que aquela cena a fazia sentir saudade de algo que nunca teve?
Suspirando, pegou o celular e ligou para a mãe de Anya. Precisava da permissão dela para um convite. Queria que Anya fosse até sua casa em breve. Não sabia ao certo o porquê, apenas sentia que queria que ela conhecesse seu mundo. Mas, acima de tudo, queria que se sentisse bem ali.
Riyeon nunca fora espontânea, mas algo em Anya despertava isso nela. Queria quebrar as barreiras entre elas, trazer a garota para mais perto, sem as pressões da academia ou dos status. Pela primeira vez, desejava que alguém estivesse ao seu lado de forma sincera.
Ela sabia que isso não seria simples. Mas talvez, apenas talvez, fosse o início de algo que não podia mais ignorar.
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O dia seguinte começou de maneira tranquila para Anya, mas a atmosfera na escola parecia estar carregada de um novo tom. Ela se sentia um pouco nervosa com a prova de aptidão, um teste que todos os alunos precisavam fazer para avaliar seu desempenho acadêmico. Apesar de ser muito dedicada aos estudos, Anya sabia que não estava no mesmo nível das outras alunas da academia, como Daehyn, que sempre parecia ter tudo sob controle. Mas, para ela, a ideia de competir com elas nunca foi sobre ser melhor que elas – era sobre seu próprio esforço, e ela se sentia bem assim, com a sua própria dedicação.
Na sala, as garotas que estavam sentadas com Daehyn no dia anterior no refeitório, se aproximaram de Anya. Elas pareciam um pouco tensas, e ela percebeu o motivo logo de cara. As palavras da garota mais alta, surgiram, embora um pouco receosas:
— Anya, nós... queríamos nos desculpar pelo que aconteceu ontem. Não foi nossa intenção te fazer sentir mal. Queríamos pedir desculpas pela brincadeira, principalmente depois de ver a reação da Riyeon. Não gostaríamos de causar problemas, porque sabemos o quanto ela é importante por aqui.
Anya ficou surpresa. Nunca imaginou que elas iriam se desculpar, mas também não sabia como reagir. Ela simplesmente acenou com a cabeça, dizendo:
— Tudo bem. Eu sei que não foi de propósito.
As outras garotas ficaram um pouco aliviadas, mas Daehyn, que se aproximava da mesa com um olhar indiferente, sequer olhou para Anya. Ela continuou andando em direção a sua mesa, sem dar importância à situação. Sua atitude era clara: jamais iria se rebaixar para pedir desculpas a alguém como ela.
– Nada disso importa — disse Daehyn para o grupo, com a voz fria, sem nem mesmo olhar para Anya.
Anya suspirou baixinho, mas não ligou para a atitude de Daehyn. Ela sabia que aquela não era uma pessoa com quem ela conseguiria estabelecer qualquer tipo de amizade. Já Riyeon, que tinha mostrado um lado diferente, estava ocupada se preparando para a prova de aptidão, um evento que seria decisivo para todos os alunos. Ela ainda não havia entrado na sala.
Durante a prova, Anya sentiu a pressão, mas estava determinada a fazer o seu melhor. Ela olhou ao redor e viu que Riyeon estava fazendo a prova com uma naturalidade impressionante. Ela não parecia nem um pouco estressada, passando pelas questões de forma rápida e tranquila, quase como se fosse uma revisão do que já sabia de cor. Para Riyeon, aquilo não era um desafio, era apenas um exercício comum. Ela sabia que seria a número 1, e não tinha dúvidas sobre isso. A confiança transbordava dela, e a prova não era nada mais do que um ritual, algo que ela já dominava completamente.
Já Anya, ao terminar a prova, sentiu um misto de emoções. Ela não sabia como se comparava com os outros, mas o que mais importava era que ela havia dado o seu melhor, como sempre fazia. Ela se levantou com um suspiro aliviado e, ao sair da sala, trocou um olhar rápido com Riyeon, que estava saindo ao mesmo tempo. Riyeon, com um sorriso discreto, lhe desejou boa sorte.
— Boa sorte, Suphakan. Você vai se sair bem — Riyeon disse, com um tom de voz sereno. Ela gostava de chamar Anya pelo sobrenome as vezes.
Ela sorriu timidamente, sentindo uma onda de carinho por Riyeon, que parecia sempre ter algo reconfortante para dizer.
Depois do almoço, as notas começaram a ser divulgadas no mural da escola. O momento de tensão e curiosidade tomou conta dos corredores. As alunas começaram a se reunir ao redor do quadro, observando ansiosos os resultados.
Ao ver sua própria posição, Anya sentiu o coração acelerar. Ela olhou para os números e, para sua surpresa, viu que ela estava em segundo lugar, superando muitas das alunas mais populares, incluindo Daehyn, que ficou em terceiro lugar. A sensação de realização foi quase avassaladora. Anya sentiu um orgulho imenso de si mesma, sabendo que seu esforço estava finalmente sendo reconhecido.
Riyeon, que estava ao lado, percebeu a reação dela e não hesitou. Ela se aproximou com um sorriso largo e genuíno. Estava verdadeiramente feliz pela conquista de Anya. Que mostrou seu potencial logo na primeira avaliação. Ela merecia estar ali.
— Você fez isso, Anya! — Riyeon exclamou, abraçando-a com carinho.
O abraço foi inesperado para Anya, ela não soube como reagir. Mas à medida que Riyeon a envolvia em seu abraço apertado e acolhedor, Anya sentiu uma emoção que não conseguia descrever. Era como se o mundo tivesse parado, e ela estivesse apenas ali, nos braços dela, sentindo o calor de sua presença. Todos ao redor assistiram a cena com um misto de inveja. Pois, nunca viram Lee Riyeon abraçar ninguém. Nem mesmo sua família. Mas, curiosamente, ela estava demonstrando esse afeto com Anya.
Quando Riyeon se afastou um pouco, Anya, ainda sem entender completamente seus próprios sentimentos, olhou para ela, os olhos brilhando com uma intensidade que ela nunca havia notado antes. A forma como Riyeon a fez se sentir naquele abraço, o apoio, a admiração, tudo isso fez seu coração bater mais rápido. Ela se deu conta de que sentia algo por aquela garota de olhar dominante, algo que ela não sabia como lidar.
Riyeon sorriu para ela, como se soubesse exatamente o que Anya estava sentindo, mas sem dizer uma palavra. Ela apenas a olhou com um brilho no olhar, deixando Anya sem saber como reagir. Mas, por dentro, ela sabia: Riyeon tinha uma forma única de fazê-la se sentir especial, e agora, Anya não tinha mais dúvidas sobre o que estava acontecendo com ela.
Ela havia se apaixonado por Lee Riyeon.
Anya não sabia como expressar isso, nem mesmo como lidar com os sentimentos que estavam crescendo dentro de si. O que ela sabia era que, Riyeon a fez se sentir mais viva do que nunca. E isso, por si só, era algo que ela jamais poderia ter previsto.