o confronto

O dia começou agitado para Anya. Ela não conseguia tirar os pensamentos sobre a prova de aptidão e os resultados do dia anterior, que ainda a faziam sorrir quando lembrava. A sensação de superação ainda estava fresca em sua mente. Porém, hoje parecia diferente. Riyeon não estava por perto, o que deixou Anya com uma sensação de vazio. Ela sabia que Riyeon estava ocupada com seus compromissos, inclusive com a reitora, mas não conseguia evitar a saudade que sentia da sua presença.

As suas colegas de classe começaram a analisá-la assim que a mesma entrou na sala, com olhares julgadores e invejosos. Ninguém aceitava que uma novata havia conquistado a segunda colocação, passando até mesmo Daehyn, que se manteve calada na maior parte do dia. E quando os professores parabenizavam Anya pelo seu desempenho, o murmúrio ficava ainda pior entre as estudantes. Anya não tinha Riyeon ao seu lado para se sentir segura.

Na hora do almoço, Anya estava caminhando em direção ao refeitório, perdida em seus pensamentos, quando de repente sentiu uma mão em seu ombro. Ela virou-se, e ao encarar Daehyn, seu sorriso logo desapareceu. Daehyn estava acompanhada de seu grupo de seguidoras, todas com expressões desafiadoras.

— Anya, você não pertence a esse lugar! — Daehyn gritou, a voz cheia de desprezo, enquanto ergueu um papel de inscrição em sua mão. — Essa academia é para pessoas como nós, não para uma bolsista pobre como você!

Anya ficou paralisada, sem saber como reagir, seus olhos se voltaram para o papel, sentindo-se humilhada. As palavras de Daehyn ecoaram em sua mente, e o peso de ser tratada como uma intrusa naquela academia a atingiu com força. O que ela estava fazendo ali, realmente? Não se encaixava naquele mundo. A insegurança começou a tomar conta de seu peito, mas ela tentou se manter firme.

— Você não é bem-vinda aqui. Essa academia não é para uma imigrante como você, que nem mesmo coreana é — Daehyn continuou, com uma risada cruel. — Volte para o buraco de onde você saiu, querida.

Daehyn avançou com a atitude de quem iria dar o golpe final. Ela pegou um copo de suco da mesa próxima e, com um movimento rápido, se preparou para jogar tudo no rosto de Anya. O gesto foi acompanhado das risadas de suas seguidoras, que esperavam ansiosas para ver Anya envergonhada e humilhada.

Foi quando, de repente, uma sombra se projetou sobre as duas. Anya mal teve tempo de reagir, seus olhos arregalaram-se ao ver Riyeon surgindo entre elas com uma velocidade impressionante.

— Para! — Riyeon gritou, sua voz grave e autoritária. Ela avançou na direção de Daehyn com uma expressão que deixava claro que ela não toleraria mais nenhuma provocação.

Antes que Anya pudesse processar o que estava acontecendo, Riyeon se posicionou na frente dela, de forma protetora, bloqueando qualquer ataque que Daehyn pudesse fazer. Riyeon levantou os braços com uma precisão incrível, colocando um braço de cada lado da cabeça de Anya, a prendendo na parede com uma força sutil, mas não o suficiente para fazer Daehyn parar.

O copo com suco foi derramado nas costas de Riyeon, mas ela não demonstrou nem um pingo de dor. Sua postura era de uma confiança absoluta. O líquido escorreu por seu uniforme impecável, mas ela não se moveu, não desfez a posição em que estava. Ela olhou diretamente para Anya, sem nem sequer desviar o olhar.

— Eu te protejo — Riyeon disse, em um tom de voz suave, mas firme, sem quebrar a ligação visual com Anya. As palavras estavam carregadas de um significado profundo, e Anya, apesar da situação caótica, sentiu uma onda de segurança invadir seu corpo.

Todos os estudantes que estavam observando a cena, de longe, ficaram em completo silêncio. O ar parecia ter parado de circular, como se o tempo tivesse desacelerado. O impacto das palavras de Riyeon e a sua postura destemida tomaram conta de todos. Eles estavam esperando a reação de Daehyn, mas ninguém imaginava o que Riyeon faria a seguir. O gesto de proteção foi algo inesperado, e não era algo que qualquer um esperaria dela.

Daehyn, que estava acostumada a ser a líder do grupo, ficou momentaneamente sem palavras. Sua fúria aumentava à medida que se dava conta de que o seu ataque havia falhado. Mas, ao invés de recuar, ela estava se preparando para contra-atacar, com a mandíbula cerrada e os olhos queimando de raiva.

Foi então que uma das seguidoras de Daehyn pegou o caderno de desenhos de Anya e o entregou para ela. Daehyn abriu o caderno e seus olhos brilharam com malícia ao ver os desenhos. Eram esboços detalhados de Riyeon, capturando sua postura elegante, seu olhar intenso, sua presença marcante.

— Olhem só isso — Daehyn debochou, erguendo o caderno para que todos vissem. — Parece que nossa bolsista tem uma quedinha pela nossa estrela. Isso é tão patético. Você realmente acha que alguém como Riyeon olharia para você?

O riso cruel de Daehyn ecoou pelo refeitório, mas antes que ela pudesse continuar, Riyeon arrancou o caderno de suas mãos com um movimento rápido e decidido. O olhar dela era afiado como uma lâmina, carregado de algo perigoso e intenso.

— Chega — Riyeon disse, sua voz baixa, mas firme. — Você não tem o direito de tocar nisso.

Ela segurou o caderno contra o peito, protegendo os desenhos de Anya do olhar curioso dos outros. Seu olhar encontrou o de Anya, e algo silencioso passou entre elas, algo que ninguém mais poderia entender.

— Você deveria aprender a respeitar as pessoas, Daehyn. Principalmente, aquelas que tomaram o segundo lugar de você. 

O nome de Daehyn foi dito com uma suavidade cortante, como uma lâmina afiada. Não era um grito, não era uma ameaça – era apenas uma constatação. Riyeon não precisava levantar a voz, pois sua presença falava mais alto do que qualquer palavra. E a forma como ela disse de forma direta que Daehyn não fazia mais parte do favoritismo, a fez sentir um gosto amargo na boca.

Finalmente, Daehyn deu um passo atrás, ainda furiosa, mas sem saber como reagir à autoridade e força de Riyeon. Ela simplesmente olhou para Anya com desprezo e saiu, com o grupo de seguidoras logo atrás.

Anya, que até aquele momento não sabia o que fazer, olhou para Riyeon com os olhos brilhando. A admiração em seu olhar era clara. Ela estava sem palavras, mas no fundo, sabia que Riyeon havia feito algo que nenhuma outra pessoa teria coragem de fazer. Ela tinha se colocado à frente, como uma barreira protetora, não apenas contra o ataque físico, mas contra a dor emocional que Daehyn sempre tentava causar.

Riyeon se virou para Anya, seu sorriso suave contrastando com o embate anterior. Ela colocou uma das mãos gentilmente no ombro de Anya.

— Está tudo bem agora. Você está segura — Riyeon disse, com uma leveza que só ela sabia ter.

Anya não conseguiu mais esconder o sorriso que se formava em seu rosto. Ela sentiu um calor no peito, uma sensação de conforto, algo que ela não podia mais negar. Ela se importava com Riyeon – e, mais do que isso, ela queria estar perto dela, o quanto fosse possível.

Anya entendeu que, a partir daquele momento, nada mais seria igual.