O silêncio que tomou conta do refeitório após o confronto entre Anya e Daehyn parecia ter se dissipado na manhã seguinte. Mas Anya logo percebeu que algo estava diferente. O ambiente da academia estava carregado de sussurros e olhares furtivos. As colegas a analisavam de cima a baixo com expressões de desprezo e malícia, e sempre que passava pelos corredores, ouvia risinhos abafados.
Inicialmente, ela tentou ignorar. Mas à medida que o dia avançava, a hostilidade se tornava impossível de ignorar. O que estava acontecendo?
Foi apenas durante o intervalo que Anya finalmente entendeu. Duas alunas estavam cochichando perto de seu armário, e, quando perceberam sua presença, lançaram um olhar sarcástico e saíram apressadas. Curiosa e preocupada, ela caminhou até a porta da sala de aula e encontrou Haeun, uma das poucas pessoas que não pareciam envolvidas na situação.
— O que está acontecendo? — Anya perguntou, sentindo a ansiedade apertar seu peito.
Haeun hesitou, olhando para os lados antes de suspirar. — Você não ouviu os boatos?
— Que boatos? — Anya franziu o cenho.
— Daehyn... Ela está espalhando que você só conseguiu a bolsa porque teve um "patrocinador" — Haeun disse em um tom baixo, como se tivesse medo de que alguém a ouvisse. — Estão dizendo que você usou métodos... bem, que você se vendeu para alguém influente para entrar na academia.
O estômago de Anya revirou. A raiva e a humilhação se misturaram em sua garganta, tornando difícil até mesmo respirar. Como Daehyn podia descer tão baixo?
— Isso é mentira! — sua voz saiu mais alta do que pretendia, atraindo olhares curiosos de algumas alunas próximas.
— Eu sei, mas... você conhece essa escola, Anya. Para muita gente aqui, a verdade não importa tanto quanto uma história interessante para espalhar — Haeun disse com um olhar pesaroso. — E Daehyn é influente. Muitas garotas acreditam nela, ou simplesmente fingem acreditar para não ficarem do lado errado dessa guerra.
Anya cerrou os punhos. Ela já sabia que Daehyn não aceitaria sua derrota com facilidade, mas não esperava um golpe tão cruel. Sabia que não poderia ficar calada, mas também não tinha ideia de como reagir.
Quando a última aula do dia terminou, ela caminhou para a saída, perdida em seus próprios pensamentos, até sentir uma presença familiar ao seu lado. Riyeon.
— Você parece irritada. — Riyeon comentou, sua voz sempre calma, mas com um tom de alerta.
Anya hesitou, mas então decidiu contar tudo. Riyeon a ouviu em silêncio, os olhos se estreitando levemente a cada palavra. Quando Anya terminou, Riyeon ficou imóvel por um instante, como se estivesse calculando algo. Então, para a surpresa de Anya, um pequeno sorriso surgiu no canto de seus lábios.
— Então Daehyn está jogando sujo — Riyeon disse, cruzando os braços. — Eu deveria ter imaginado.
— Isso não te incomoda? — Anya perguntou, um pouco irritada com a aparente calma de Riyeon. — Não vê o quanto isso é grave? Ela está tentando destruir minha reputação!
— Claro que me incomoda — Riyeon respondeu, olhando diretamente para ela. — Mas, Daehyn não está acostumada a perder. E ela cometeu um erro ao escolher um jogo que eu sou melhor do que ela.
Antes que Anya pudesse perguntar o que isso significava, Riyeon segurou sua mão com firmeza e começou a puxá-la pelos corredores.
— O que você está fazendo?! — Anya perguntou, surpresa.
— Você vai ver — Riyeon respondeu com um sorriso determinado.
Minutos depois, Anya se encontrou na saída da escola, onde Daehyn esperava com um sorriso confiante. Mas antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, Riyeon deu um passo à frente, sua expressão tranquila, porém afiada.
— Daehyn — Riyeon começou, seu tom carregado de ironia. — Você pode espalhar quantas mentiras quiser, mas eu sei exatamente por que está fazendo isso.
Os olhos de Daehyn se estreitaram. — O que você quer dizer com isso?
Riyeon sorriu, inclinando levemente a cabeça. — Você sempre gostou de mim, não é? Sempre quis estar onde a Anya está agora. — O silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor. — Você não está apenas irritada por ter perdido o controle sobre essa escola, Daehyn. Você está com ciúmes. Porque, pela primeira vez, alguém conseguiu algo que você nunca teve.
O rosto de Daehyn ficou pálido por um instante, e então corou furiosamente. — Você está delirando!
— Estou? — Riyeon ergueu uma sobrancelha, dando um passo à frente. — Você me admirava, mas nunca teve coragem de admitir. Agora que Anya está ao meu lado, isso te incomoda mais do que qualquer coisa, não é? Porque, diferente de você, ela nunca precisou pisar em ninguém para ser incrível.
O silêncio ao redor delas se tornou sufocante. Alunas que estavam por perto pararam para ouvir, chocadas com a acusação. Daehyn estava imóvel, como se tentasse encontrar algo para dizer, mas nada vinha.
Riyeon então virou-se levemente para Anya, e seu tom mudou para algo mais suave, quase íntimo. — Eu sempre soube, Daehyn. Mas nunca me importei. Porque, no fim, eu sabia que nunca olharia para você da mesma forma.
O coração de Anya disparou. Aquilo era... uma confissão?
Daehyn, percebendo que estava encurralada, rangeu os dentes e saiu dali sem dizer mais nada. O impacto do que Riyeon havia dito a destruíra mais do que qualquer humilhação pública poderia.
Quando a multidão começou a dispersar, Anya olhou para Riyeon, ainda tentando processar o que havia acontecido. Mas Riyeon apenas sorriu para ela, e disse baixinho:
— Espero que tenha ficado claro. Para ela... e para você.
Anya sentiu um rubor quente subir por seu rosto. Sim, estava claro. Muito claro.