meu mundo

O sol ainda estava baixo quando Riyeon acordou, como de costume, já sentindo a pressão das expectativas em seus ombros. O final de semana começava, mas para ela, não passava de mais um dia dentro da rotina que sua vida impunha. Sem animação, ela se levantou da cama, vestiu uma roupa casual e desceu para o café da manhã.

Ao entrar na sala de jantar, viu os pais, como sempre, sentados à mesa. A mãe estava focada em seu tablet, enquanto o pai lia um jornal financeiro. Nenhuma troca de palavras sobre o que quer que fosse, exceto as perguntas padrões.

— Como foi o teste? — foi a primeira coisa que seu pai disse, sem sequer olhar para ela.

Riyeon suspirou baixinho, sentando-se em sua cadeira com a expressão serena que já havia se tornado natural.

— Nada fora do lugar. Estava fácil — ela respondeu, sua voz indiferente. Ela sabia o que eles queriam ouvir. Eles não estavam preocupados com o seu bem-estar ou com como se sentia. Eles apenas queriam os números, as pontuações, a confirmação de que ela continuaria sendo a melhor. E, como sempre, ela não se importava com isso.

— Ótimo — disse seu pai, agora erguendo os olhos, mas ainda distante, como se a conversa nunca tivesse existido. A mãe apenas assentiu, sem sequer parar de digitar no tablet.

Após um rápido café, seu pai se levantou, arrumando a gravata. 

— Eu e sua mãe vamos ao hospital. Temos alguns compromissos — ele disse de forma prática, como se o hospital fosse apenas mais um local de trabalho, algo inevitável.

Riyeon apenas acenou, seus pais saindo apressadamente, sem mais palavras. Ela ficou sozinha, sentindo a familiar sensação de vazio. A casa, grande e fria, parecia vazia sem a presença deles, mas também parecia que ela não pertencia ali. Eles não viam mais do que a estudante de excelência, a máquina de conquistas, sem muito além disso.

Ela deu uma olhada rápida para o relógio. O que restava para o resto do dia não era promissor. Mais uma aula extra pela manhã, outro treino, mais compromissos acadêmicos. Uma repetição sem fim. Não havia espaço para diversão, para uma pausa, para respirar.

A aula extra pela manhã era mais uma extensão da sua rotina insuportável. Ela sentou na sala com outros alunos, todos com o semblante focado e impessoal. O professor falou sobre teoria avançada, mas Riyeon já sabia tudo o que ele dizia. Não havia desafio ali. Ela absorvia tudo com facilidade, como se o corpo e a mente soubessem exatamente o que fazer para manter as aparências.

O verdadeiro pensamento de Riyeon, no entanto, estava mais tarde, na tarde que ainda viria. Ela estava ansiosa, mas não pelos estudos ou pelas obrigações que a vida lhe impunha. Riyeon se pegou sorrindo discretamente ao pensar em Anya, um pensamento que a distraía da monotonia que ela sempre tentava esconder.

Ela havia planejado algo diferente para o dia. Depois da aula, ela iria atrás de Anya. Riyeon queria passar um tempo com ela, conversar, respirar algo fora da bolha de pressão em que vivia. Mais do que isso, ela queria que Anya visse um outro lado seu, um lado que ela raramente mostrava. Ela imaginou Anya na sua casa, descontraída, conhecendo o lugar onde Riyeon realmente morava, sem as máscaras da academia ou as expectativas dos outros.

Ela planejava deixar Anya ver que sua vida, embora cheia de privilégios, também era vazia de verdade. Ela queria quebrar as barreiras entre elas, permitir que Anya visse o lado mais vulnerável de si mesma.

Na sua mente, Riyeon já estava imaginando o que faria. Anya, com toda a sua fragilidade e sinceridade, parecia ser a única pessoa capaz de preencher aquele vazio. Riyeon não sabia exatamente o que ela sentia, mas a sensação de querer mostrar seu mundo a Anya era forte demais para ignorar.

"Hoje vai ser diferente", ela pensou com determinação, enquanto se preparava para o restante do dia. Ela já sabia que a tarde seria mais interessante. Ela tinha um plano.

---------

O restaurante estava um pouco mais tranquilo naquela noite. Anya estava de pé, atrás do balcão, organizando alguns pratos e ajeitando as mesas, quando percebeu uma presença familiar entrando pela porta. O som da campainha que indicava a chegada de clientes a fez olhar para a entrada e, de repente, seus olhos se encontraram com os de Riyeon.

Riyeon estava diferente hoje. Nada de uniforme pesado, sem a pressão das roupas formais da academia. Ela usava roupas casuais, mas cada peça, de uma qualidade inegável, exalava luxo. Um cardigan de lã branco, jeans de corte perfeito, um boné preto e botas que faziam seu andar ainda mais confiante. A mistura de simplicidade e sofisticação era impossível de ignorar. Anya sentiu uma onda de admiração se formar dentro de si.

Riyeon caminhou até o balcão onde Anya estava, com seu sorriso habitual, mas algo nos seus olhos parecia diferente — mais suave, talvez. O modo como ela olhou para Anya, sem pressa, parecia que ela estava ali não só por um simples jantar, mas por algo mais.

— Olá, Anya — Riyeon disse com um sorriso caloroso, e Anya percebeu que ela estava ali de surpresa, como se não fosse planejar nada disso.

Anya sorriu, um pouco envergonhada pela presença imponente de Riyeon, mas logo se recompôs.

— Oi, Riyeon. O que você está fazendo aqui?

Riyeon olhou para os pais de Anya que estavam no canto, acompanhando a cena com curiosidade. Ela se aproximou mais e, com um sorriso travesso, disse:

— Na verdade, eu estava pensando... Você não gostaria de vir comigo hoje? Queria te mostrar minha casa. Gostaria de retribuir a gentileza do outro dia, quando me mostrou seu quarto.

Anya ficou surpresa, mas sentiu um impulso de aceitar. Ela nunca imaginou que Riyeon, a garota número um da academia, queria mostrar seu lado pessoal, e a ideia de passar mais tempo com ela, fora do contexto da escola, parecia tão... natural.

Ela olhou para os pais, que estavam assistindo atentamente, como se já soubessem o que estava prestes a acontecer.

— Posso ir, mãe, pai? — Anya perguntou, um pouco ansiosa.

O pai de Anya sorriu com um olhar compreensivo, como se visse que a filha estava ficando mais aberta a novas amizades. Sua mãe, com um sorriso acolhedor, assentiu.

— Claro, minha querida. Aproveite a noite — disse a mãe de Anya, com um tom de quem sabia que aquilo seria algo bom para Anya.

Anya não teve tempo de pensar muito. Ela rapidamente foi até seu quarto, pegou uma bolsa simples e se preparou para sair. Quando se virou para olhar Riyeon, percebeu que ela ainda estava sorrindo para ela de uma maneira muito pessoal, quase íntima, o que a fez sentir seu rosto esquentar.

Riyeon a levou até seu carro, onde o motorista as aguardava. A cidade já estava mais tranquila, e o caminho até a mansão de Riyeon foi calmo, sem grandes conversas. Anya não sabia o que esperar, mas ela sentia que aquele momento mudaria algo entre elas.

Ao chegarem à mansão de Riyeon, Anya ficou boquiaberta. A casa era imensa, com um jardim bem cuidado e uma fachada elegante, um luxo que Anya jamais imaginou. Tudo naquelas ruas parecia ser do outro mundo. Quando o carro parou em frente à entrada, ela saiu lentamente, sentindo-se como se estivesse entrando em um lugar completamente diferente da sua realidade cotidiana.

— Uau... — Anya murmurou, olhando em volta, ainda sem acreditar no que via.

Riyeon, com seu sorriso sutil, pegou a mão de Anya, quase como se quisesse tranquilizá-la.

— Vamos entrar. Não é tão grande quanto parece. — Ela disse com a mesma leveza de sempre, mas Anya podia perceber que Riyeon estava tentando fazer tudo parecer mais simples, mesmo que fosse tudo muito grandioso.

Quando entraram, Anya ficou mais impressionada ainda com a decoração sofisticada. A casa era moderna e ao mesmo tempo aconchegante, com um toque de elegância que Riyeon parecia carregar sem esforço. O que realmente chamou a atenção de Anya foi o quarto de Riyeon. Ela a levou até lá, e o ambiente foi uma surpresa ainda maior.

O quarto de Riyeon tinha uma atmosfera única. Era despojado e diferente de qualquer lugar que Anya já tinha visto. Parecia um ambiente inspirado no fundo do mar, com paredes de tons azuis e verdes, e, de forma surpreendente, skates pendurados nas paredes, criando um ambiente que refletia tanto o lado aventureiro quanto o sofisticado de Riyeon. E, no canto, havia um grande aquário, com peixes coloridos nadando tranquilamente.

Anya ficou maravilhada, sem palavras.

— Eu... Eu nunca imaginaria que seu quarto fosse assim. — Anya disse, observando cada detalhe, com os olhos brilhando de admiração.

Riyeon riu suavemente, como se soubesse o impacto que aquilo estava causando em Anya.

— Não sou só a garota da academia, sabe? Tem um lado meu que poucas pessoas conhecem.

Anya sentiu um calor no peito ao perceber a confiança que Riyeon tinha ao se mostrar desse jeito. Riyeon não precisava da fachada de perfeição que ela mostrava para todos. Ali, no seu espaço, ela era apenas ela mesma.

Anya olhou para Riyeon, um pouco nervosa, mas também se sentindo confortável. Algo estava mudando entre elas, e, Anya sentiu que Riyeon não era apenas a imagem perfeita da academia — ela era alguém real, com sentimentos, com fragilidades, com uma vida além da pressão da escola.

Riyeon sorriu para Anya, vendo o quanto ela estava encantada com o lugar. Ambas se sentiram mais próximas do que nunca.