confissões

A noite continuava a se estender silenciosa ao redor delas, o quarto de Riyeon iluminado apenas pela luz suave que emanava do aquário. As sombras dançavam nas paredes enquanto Anya e Riyeon se encontravam ainda mais próximas, sentadas sobre a cama, o cheiro do perfume de Riyeon ainda no ar, misturado ao calor dos corpos.

Anya estava imersa nas sensações do momento, mas havia algo mais profundo nas palavras que Riyeon acabara de dizer sobre seus olhos, algo que a tocava de uma maneira que ela não sabia expressar. As mãos de Riyeon continuavam a acariciar delicadamente seu rosto, como se cada gesto fosse uma promessa silenciosa.

— Seus olhos... — Riyeon sussurrou, seus dedos traçando a linha do rosto de Anya com uma suavidade quase reverente. — Eles são tão meigos, tão... calorosos. Foi a primeira coisa que me fez notar você. Não é como se você tentasse esconder ou se esconder, mas há algo tão genuíno em você. Algo que eu nunca vi em ninguém.

Anya sentiu seu coração acelerar, seus lábios se curvando para um sorriso tímido, embora seu corpo estivesse completamente entregue à presença de Riyeon.

— Eu... não sei o que dizer. — Anya murmurou, suas palavras abafadas pela proximidade, mas suas mãos estavam agora segurando as de Riyeon, sentindo a textura suave de sua pele.

— Acho que eu nunca conheci alguém como você. É estranho, mas... desde o momento que te vi, parecia que havia algo entre a gente, algo que nem palavras poderiam explicar.

Riyeon a olhou com um sorriso suave, mas seus olhos estavam mais intensos do que Anya poderia compreender. Ela estava confusa e encantada ao mesmo tempo, mas tinha algo nas palavras de Riyeon que parecia pesar no ar, algo não dito, como se ela estivesse prestes a se abrir mais.

— Eu... — Riyeon hesitou, parecendo distante, antes de baixar os olhos. — Eu sempre me senti meio... sozinha. Não da maneira óbvia, mas... a minha família nunca foi realmente uma família. Eles estão sempre tão focados em seus próprios negócios, em suas próprias agendas, que eu sinto como se fosse uma peça de um jogo. Um papel que eles querem que eu desempenhe.

Anya sentiu um aperto no peito ao ouvir isso, uma empatia crescente por Riyeon. Ela não podia imaginar a dor que Riyeon sentia em meio ao luxo e à pressão de sua vida, mas algo em seu coração dizia que a garota sentia uma ausência muito maior do que qualquer coisa material pudesse preencher.

— Eu... entendo. Eu não tenho a mesma vida que você, mas... eu sei o que é se sentir sozinha. Como se as pessoas ao seu redor não te vissem de verdade. — Anya disse, sua voz suave, mas cheia de sinceridade. — Meu pai e minha mãe sempre me apoiaram, mas ainda assim... Eu sou diferente. E às vezes, sinto que sou só uma garota que tenta ser o que os outros esperam.

Riyeon inclinou-se para frente, sua mão acariciando novamente o rosto de Anya, como se procurasse aliviar a dor silenciosa que compartilhavam.

— Você não precisa ser o que os outros esperam, Anya. — Riyeon disse, com um olhar profundo, cheio de uma ternura inesperada. — E eu... eu não quero que você se sinta sozinha, especialmente agora. Se tiver alguma coisa que eu possa fazer para que você se sinta mais perto de mim, eu vou fazer, sem hesitar.

Anya engoliu em seco, sentindo uma mistura de emoções borbulhando dentro de si. A gentileza de Riyeon a fazia se sentir protegida de uma forma que nunca imaginara ser possível. Cada palavra, cada gesto, parecia criar uma ponte entre elas.

— E você, Riyeon? Como... como você se sente em relação a tudo isso? — Anya perguntou, sua voz mais firme agora, o desejo de compreender Riyeon tomando conta de seu coração. — Como é viver com essa pressão toda? Você... você já se sentiu sozinha, mesmo quando estava rodeada de pessoas?

Riyeon sorriu com um toque de melancolia nos olhos. Ela olhou para Anya com uma sinceridade rara.

— Eu me sinto sozinha o tempo todo. Mas... — ela pausou, como se ponderasse cada palavra. — Mas com você, Anya, não. Não é... estranho? Eu sempre me controlei, sempre fui a Riyeon que todos esperam que eu seja, mas com você eu sinto que posso ser... apenas eu mesma. E isso me assusta, porque nunca deixei ninguém ver essa parte de mim. Eu digo a você para não ser o que as pessoas querem que seja, porque eu vivo isso, eu vivo em prol do que a minha família espera que eu seja. E não desejo isso a ninguém. Porque isso não é vida. Talvez, a parte de ser médica, seja a única coisa que eu quero de verdade. Mas, alcançar a perfeição e ser a melhor em tudo, isso eu sou manipulada a ser e fazer desde que me entendo por gente.

Anya sentiu seu peito apertar, mas ao mesmo tempo, uma leveza a envolvia. Riyeon estava se abrindo, talvez pela primeira vez, e Anya sabia que isso significava algo profundo. Pois, aquela garota que todos viam como um exemplo a ser seguido, também tinha medos e frustrações. E, apesar da grande responsabilidade que tinha sob os ombros, ela não demonstrava nenhuma fraqueza, e era tudo aquilo que parecia ser: inteligente, prestativa e cativante. Mesmo que ela não se enxergasse dessa forma.

— Eu também sinto isso, Riyeon... — Anya respondeu, a voz mais suave agora, mas cheia de emoção. — Como se, de alguma forma, a gente fosse duas peças de um quebra-cabeça que se encaixam. Mas, eu vejo que grande parte do que você é para os outros, você de fato é no seu íntimo. Você cativa todas as pessoas à sua volta e as inspira. Quando eu vi no primeiro dia de aula as pessoas te exaltando a todo momento, como se fosse uma espécie de deusa escolar, eu não entendia o porquê, até te conhecer um pouco mais. Então eu percebi que você é realmente tudo aquilo que falavam. Você é inspiradora.

Riyeon olhou para ela com um sorriso quase imperceptível, mas seus olhos estavam tão claros, tão sinceros, que Anya sentiu seu coração bater mais rápido.

— Você acha mesmo tudo isso? — Riyeon se inclinou ainda mais perto, suas mãos segurando as de Anya com mais força agora, a forma como Anya a enxergava a deixava tímida.

— Claro que sim. Você é alguém que vale a pena ter na vida. Não é à toa que meus pais te adoram — Anya solta um sorriso fofo.

E com isso, as duas se aproximaram mais, seus corpos tão próximos que era impossível negar a intensidade do que estavam compartilhando. Anya não hesitou em responder ao gesto, entregando-se novamente ao calor do toque de Riyeon, e a conexão entre elas crescia mais a cada segundo, mais profunda, mais real.

O silêncio falou mais do que palavras poderiam. Entre elas, nada precisava ser dito; o momento já era perfeito da maneira mais simples e mais verdadeira possível.