A noite estava fresca, e a iluminação suave dos postes lançava sombras longas sobre a pista de skate. Anya estava sentada na arquibancada de concreto, segurando o caderno de desenho contra o peito, enquanto seus olhos seguiam cada movimento de Riyeon. Ela nunca havia prestado atenção em skate antes, mas agora... era impossível desviar o olhar.
Riyeon parecia pertencer àquele lugar de uma forma quase natural. Com o vento bagunçando seus cabelos e a expressão tranquila no rosto, ela deslizava pelo asfalto com uma facilidade impressionante. Anya observava fascinada enquanto a mais velha impulsionava o skate, ganhando velocidade antes de subir em uma rampa. Por um momento, parecia que Riyeon estava voando.
O tempo parecia desacelerar quando ela realizou um kickflip perfeito, girando o skate no ar antes de pousar suavemente. Os outros skatistas ao redor aplaudiram, mas Anya continuou paralisada, seu coração batendo rápido demais no peito.
Ela era tão... incrível.
Havia algo na confiança de Riyeon que a deixava hipnotizada. O jeito como ela controlava cada movimento, como se desafiasse a gravidade, mas ao mesmo tempo se entregasse completamente a ela. Anya nunca tinha visto alguém se mover com tanta liberdade antes.
Riyeon deu mais uma volta pela pista, e então seus olhos encontraram os de Anya. Um sorriso brincalhão surgiu em seus lábios, e Anya sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
— Está gostando do show? — Riyeon perguntou, deslizando até parar bem em frente à arquibancada.
Anya sentiu seu rosto esquentar.
— Eu... você é muito boa nisso.
Riyeon riu, passando a mão pelos cabelos ligeiramente suados.
— Eu gosto de sentir o vento, de esquecer tudo por alguns minutos. É libertador.
Anya mordeu o lábio, olhando para o skate sob os pés dela.
Riyeon sorriu de lado, colocando o skate no chão e se sentando ao lado dela. Durante alguns minutos, ficaram em silêncio, apenas observando o movimento ao redor. O som das rodinhas deslizando no asfalto preenchia o ar, misturado às risadas distantes dos outros jovens.
Anya hesitou por um momento, segurando o caderno de couro firme contra o peito. Seus dedos traçaram distraidamente a borda da capa, sentindo a textura desgastada pelo uso. Ela nunca tinha mostrado seus desenhos para ninguém antes — era algo que guardava apenas para si. Mas ali, sob o olhar curioso e gentil de Riyeon, sentiu que poderia abrir aquela parte do seu mundo. Já que nos últimos dias elas vinham compartilhando momentos incríveis juntas. E desde o dia em que Riyeon disse que esperaria ela se sentir confortável para lhe mostrar sua arte, ela pensou nisso. Aquele era o momento.
Com um suspiro tímido, ela estendeu o caderno para a mais velha.
— Aqui... você pode ver.
Riyeon ergueu uma sobrancelha, surpresa, mas pegou o caderno com cuidado, como se estivesse segurando algo precioso. Ela abriu a primeira página.
Os primeiros desenhos eram paisagens, cenas urbanas vistas da janela do ônibus ou do quarto de Anya. Pequenos retratos de desconhecidos, gestos capturados rapidamente com traços delicados. Mas conforme virava as páginas, algo chamou sua atenção.
Era ela.
Riyeon ficou em silêncio, observando um esboço seu de perfil, com o olhar distante e os cabelos presos de maneira casual. Na página seguinte, havia outro desenho — ela com o skate nos pés, se preparando para uma manobra. E então mais um, mostrando o exato momento em que ela estava no ar, o corpo perfeitamente equilibrado enquanto desafiava a gravidade.
Anya se encolheu um pouco, o coração disparado.
— Eu... eu desenho o que me inspira — murmurou, desviando o olhar.
Riyeon passou os dedos sobre o grafite suave, sentindo um calor inesperado no peito. Ela nunca imaginou que alguém a enxergaria dessa forma. Que alguém prestaria tanta atenção aos seus detalhes a ponto de capturá-los no papel com tamanha precisão e carinho.
Ela olhou para Anya, e um sorriso genuíno, quase bobo, surgiu em seus lábios.
— Então eu te inspiro?
Anya sentiu o rosto queimar.
— Você... você é muito expressiva quando está andando de skate. Eu só... gosto de desenhar momentos assim.
Riyeon riu suavemente, fechando o caderno com cuidado antes de devolvê-lo.
— Eu adorei. De verdade. Isso é... incrível, Anya. Obrigada por me mostrar. Você é muito talentosa.
Anya abaixou o olhar, envergonhada, mas por dentro, sentia um calor diferente no peito. Como se, ao compartilhar aqueles traços, tivesse se aproximado ainda mais de Riyeon.
A mais velha apoiou o cotovelo no joelho e descansou o rosto sobre a mão, observando Anya com um brilho divertido no olhar.
— Se eu sou sua musa, acho que preciso te dar mais motivos para me desenhar. — Ela sorriu de lado. — O que acha de algumas manobras exclusivas só para você?
Anya riu baixinho, relaxando um pouco.
— Eu adoraria ver isso.
Riyeon pegou o skate e se levantou de um salto, piscando para Anya antes de deslizar de volta para a pista. Anya não apenas assistia fascinada — ela sentia que agora Riyeon também estava se movendo para ela.
O que ela não sabia, era que Riyeon estava criando coragem para fazer um pedido que nunca fez a ninguém. E a adrenalina que percorria seu corpo sempre que realizava uma manobra a deixava cada vez mais confiante. Com uma última volta, ela senta-se novamente ao lado de Anya, que sorria feliz na sua direção.
— Eu queria que esse lugar fosse especial para nós duas — disse suavemente.
Anya olhou para ela, piscando algumas vezes.
— Especial?
Riyeon virou o rosto na direção dela, e dessa vez, Anya não desviou o olhar.
— Anya... eu nunca fui de me apegar a ninguém. Nunca quis, para falar a verdade. Sempre tive tantas expectativas sobre mim que qualquer sentimento parecia um obstáculo. Mas desde que te conheci, tudo parece diferente. Você não tenta se aproximar de mim por status, não me coloca em um pedestal. Você me vê... como eu sou de verdade.
Anya prendeu a respiração.
— Riyeon...
— Eu gosto de você, Anya. Mais do que eu deveria, mais do que eu consigo entender às vezes. Mas sei que quero ficar ao seu lado. — Riyeon respirou fundo antes de continuar. — Então, estou aqui para perguntar... Você quer namorar comigo?
O silêncio entre as duas foi interrompido pelo barulho de um skatista caindo ao fundo, mas Anya não conseguiu desviar a atenção de Riyeon. Seu coração disparava como nunca antes.
— Eu... — Ela sentiu as palavras travarem na garganta.
Riyeon sorriu e segurou sua mão, entrelaçando seus dedos devagar.
— Você não precisa responder agora se não quiser — disse suavemente.
Anya sentiu um arrepio subir pelos braços. Então, apertou a mão de Riyeon em resposta e tomou coragem para sussurrar:
— Eu quero.
O sorriso que Riyeon abriu foi o mais bonito que Anya já viu.
— Então, a partir de hoje, você é minha — Riyeon disse com um tom brincalhão, mas sua voz carregava uma doçura.
Anya abaixou o rosto, completamente vermelha.
— Você sempre diz essas coisas...
— E sempre vou dizer, agora que sei que posso.
Riyeon, então, soltou a mão dela apenas para puxá-la para um abraço apertado.
Ao se separarem, Riyeon deslizou a mão para o bolso do moletom que usava e retirou uma pequena caixa de veludo. Com um movimento elegante, abriu-a, revelando um par de anéis da Valentino. O brilho sofisticado das peças reluzia sob a luz suave da pista de skate.
Anya arregalou os olhos. Sabia que o valor daquele anel provavelmente superava o de sua casa inteira, mas para Riyeon, dinheiro nunca foi um problema.
— Como eu sou uma garota otimista, já sabia que você aceitaria — disse Riyeon com um sorriso convencido, os olhos brilhando de satisfação. — Comprei no final de semana. Quero que você use. É a minha forma de selar nosso compromisso.
Anya ficou sem palavras, admirando o anel no estojo aveludado. Usá-lo significava tornar real algo que, até poucos dias atrás, parecia impossível. Mas agora, olhando para Riyeon, sentia que poderia explodir de felicidade.
Ainda assim, a realidade a puxou de volta. Seria impossível que ninguém notasse uma joia como aquela em seu dedo. Seus pais, em especial, perceberiam imediatamente. Ela teria que conversar com eles... e explicar.
— Você vai usar também? — perguntou, ainda perplexa.
— Claro que sim. Somos um casal agora.
Anya engoliu seco.
— Você não acha que vão perceber que estamos com anéis iguais? Suas fãs vão enlouquecer... e eu provavelmente serei alvo delas de novo.
Riyeon riu, divertida.
— Não me importo que percebam. Na verdade... soube que já temos até um shipper próprio.
— O quê?
— Sim. Algumas delas nos apoiam como casal. — Riyeon disse, satisfeita, lembrando-se dos comentários que leu em um fórum anônimo. Ela tinha uma conta secreta onde acompanhava tudo o que falavam sobre ela. Quando viu que havia um grupo torcendo por seu envolvimento com Anya, soube que o momento certo tinha chegado.
Anya ainda estava absorvendo aquela informação quando Riyeon pegou delicadamente sua mão.
— Além disso, ninguém ousaria me confrontar para saber se é verdade ou não — acrescentou com um tom divertido.
Anya suspirou, mas sorriu, estendendo o dedo para Riyeon. Com um gesto cuidadoso, a mais velha deslizou o anel até encaixá-lo perfeitamente. O metal frio contrastava com o calor que se espalhava pelo seu peito.
Ela pegou o outro anel e colocou no dedo de Riyeon, sentindo a textura macia da pele dela sob a ponta dos dedos. Por um momento, apenas se olharam.
Era real.
Riyeon apertou suavemente a mão de Anya entre as suas, seus olhos gentis, porém intensos.
— Agora é oficial. Você é minha, e eu sou sua.
Anya sentiu as bochechas queimarem, mas não desviou o olhar. Apenas apertou a mão de Riyeon de volta, selando aquele compromisso silencioso entre as duas.
A pista de skate continuava movimentada, mas, para as duas, o mundo parecia se resumir àquele momento.