Lee Raina

Riyeon chegou em casa no dia seguinte com um sentimento diferente no coração. Subiu as escadas com passos leves, a mente ainda imersa na noite que tivera ao lado de Anya. No entanto, algo no ambiente parecia diferente. O silêncio habitual da casa estava ligeiramente perturbado quando passou pelo quarto da irmã mais velha.

A porta estava entreaberta, um sinal claro de que Lee Raina estava em casa. Antes que pudesse confirmar, a irmã surgiu à vista, recostando-se no batente da porta. Seu rosto cansado, com olheiras evidentes, mostrava o peso da rotina intensa.

Raina era praticamente uma versão mais velha de Riyeon, com traços incrivelmente semelhantes. A relação entre as duas era estável, embora sem grandes demonstrações de afeto. Elas se entendiam sem precisar de palavras doces.

Assim que seus olhos pousaram na irmã, Raina soltou um sorriso divertido, analisando o modelito de Riyeon: moletom largo e calças folgadas. Ela estava usando o moletom de Anya.

— Olha só, você finalmente lembrou que tem casa — provocou Riyeon, cruzando os braços.

Ela sabia bem o que Raina enfrentava — a mesma pressão para ser perfeita. Mas, por ser a primogênita, a carga sobre a irmã era ainda maior.

Raina não perdeu tempo e retrucou no mesmo tom:

— Deixa eu adivinhar, você estava naquelas pistas de skate, tentando fingir que é uma pessoa normal.

Riyeon apenas sorriu, sem confirmar nem negar.

Raina inclinou a cabeça, estreitando os olhos em um olhar minucioso. Algo estava diferente na irmã mais nova. Riyeon parecia... feliz. Mas não era apenas um bom humor passageiro — havia uma leveza nela, algo que Raina nunca vira antes.

— Tem alguma coisa diferente em você... — murmurou, analisando-a com atenção.

— Deve ser a roupa — Riyeon desconversou, dando de ombros.

— Não é isso, eu já estou acostumada a te ver vestida feito moleca.

Riyeon soltou uma risada nasal, mas Raina não desviou o olhar. E então, como a observadora afiada que era, seus olhos pousaram em um detalhe revelador.

— Que anel é esse no seu dedo?

Riyeon praguejou mentalmente. Se tinha alguém que jamais deixaria algo passar despercebido, era Raina.

— Você não tem matérias acumuladas para estudar? Essas olheiras no seu rosto dizem que sim — provocou Riyeon, tentando mudar de assunto.

Raina cruzou os braços e arqueou uma sobrancelha, impassível.

— Você não vai a lugar nenhum antes de me contar quem te deu esse anel, Lee Ri-Yeon.

Riyeon suspirou pesadamente. Raina era um verdadeiro pé no saco quando queria ser.

— Estou namorando — revelou de forma direta.

O silêncio pairou por um instante. Raina arregalou os olhos, claramente em choque.

— Espera... O quê?

Ela piscou algumas vezes, como se tentasse processar a informação.

— Eu pensei que você fosse imune a esse tipo de coisa. Já estava convencida de que era um E.T.

Riyeon revirou os olhos enquanto Raina soltava uma risada divertida.

— Agora me diz... Quem foi o louco que resolveu entrar nessa família? Porque ele precisa passar pelo meu crivo.

Riyeon inclinou a cabeça, deixando um sorriso de canto surgir.

— Ela não precisa da sua aprovação.

Raina piscou novamente.

— Uau... — ela soltou, antes de rir. — A garota perfeita namorando uma mulher. Isso é inesperado.

Riyeon ergueu a sobrancelha.

— Você parece mais surpresa com esse detalhe do que com o fato de eu estar namorando.

Raina deu de ombros.

— Bom, considerando que eu nunca te vi interessada em ninguém, qualquer tipo de relacionamento seu já seria uma novidade. Mas confesso que estou intrigada...

Ela sorriu de canto.

— Quero conhecer a pessoa que conseguiu derreter seu coração de gelo. Que tal um jantar amanhã?

Riyeon piscou, surpresa com a sugestão. Não esperava que Raina fosse aceitar a notícia tão tranquilamente.

— Vou pensar se você merece conhecê-la — provocou, virando-se para sair.

— Ei! Não me deixe curiosa desse jeito! — Raina resmungou, seguindo-a com o olhar.

Mas Riyeon já estava caminhando para o próprio quarto, ignorando os protestos da irmã. Um pequeno sorriso brincava em seus lábios.

Talvez... apresentar Anya para Raina não fosse uma ideia tão ruim assim.

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Segunda-feira

Anya saiu do quarto radiante, ainda tentando processar tudo o que havia acontecido. O simples fato de ter sido pedida em namoro parecia surreal. A cada dia compartilhado com Riyeon, ela entendia melhor o porquê de tantas pessoas a admirarem. O favoritismo era real — e completamente merecido.

Riyeon era brilhante, fascinante e, de um jeito inesperado, cavalheira. Tratava Anya com tanta delicadeza que fazia com que ela se sentisse especial. Apesar de sua postura reservada e fria na maior parte do tempo, a mais velha sabia ser amistosa e prestativa quando queria. Sempre atenta às necessidades dos outros, mesmo sem perceber, ela conseguia despertar o melhor nas pessoas.

Anya encontrou seus pais na cozinha, terminando de arrumar a mesa para o café da manhã. Assim que cruzou a porta, os dois pararam o que estavam fazendo e a observaram com curiosidade.

Anya percebeu os olhares trocados entre eles. Seus pais a conheciam bem demais. Desde que Riyeon havia entrado em sua vida, Anya não passava mais os dias sozinha no quarto. Agora, ela saía para explorar o mundo ao lado dela, descobrindo coisas novas, se permitindo viver.

E seus pais notavam essa mudança. Gostavam de ver a filha mais feliz, mais disposta. Também tinham uma ótima impressão de Riyeon — uma jovem educada e respeitosa, que sempre os cumprimentava com cordialidade quando a encontravam. Apesar de pertencer a um mundo completamente diferente do deles, ela nunca agia com arrogância. Pelo contrário, tratava Anya com um carinho evidente.

Anya sentou-se à mesa com um sorriso ainda presente nos lábios. Depois de um breve silêncio, ela respirou fundo, reunindo coragem para contar a novidade.

— Eu tenho algo para dizer a vocês — começou, hesitante.

Seus pais trocaram um olhar breve antes de voltarem a atenção para ela.

— O que foi, querida? — perguntou sua mãe com doçura.

Anya mordeu o lábio inferior, mas então sorriu.

— Eu... estou namorando.

Seu pai arqueou as sobrancelhas, surpreso, enquanto sua mãe abriu um sorriso caloroso.

— Ah... então é por isso esse brilho nos olhos — comentou a mãe, rindo baixinho. — E posso perguntar quem é a pessoa?

Anya riu, sentindo as bochechas corarem levemente. Ela decidiu contar antes que eles, por conta própria, percebessem o anel brilhante no seu dedo.

— Riyeon.

Dessa vez, seus pais pareceram ainda mais surpresos. Seu pai inclinou-se ligeiramente para frente, como se quisesse ter certeza de que tinha ouvido certo.

— Lee Ri-Yeon?

— Sim — Anya confirmou, envergonhada.

Os dois ficaram em silêncio. Então, sua mãe sorriu.

— Bem, não posso dizer que estou surpresa. Sempre achei que ela gostava de você.

— E nós gostamos dela — acrescentou seu pai. — É uma jovem impressionante.

Anya suspirou, aliviada pela reação tranquila dos dois.

— Vocês realmente aprovam?

Sua mãe segurou sua mão com carinho.

— Tudo o que queremos é ver você feliz.

E agora, restava apenas contar para Riyeon sobre o jantar.