O dia seguinte amanheceu com uma atmosfera estranhamente carregada na Academia Seonhwa. Riyeon já sentia os olhares sobre si assim que cruzou os portões da escola. Murmúrios corriam pelos corredores, como um zunido incômodo ao fundo, mas ela manteve sua postura impecável, indiferente a qualquer coisa que tentassem insinuar.
Ela sabia que Daehyn não engoliria fácil seu relacionamento com Anya, e, de alguma forma, já previa que a garota tentaria alguma jogada suja. O que não esperava era ser confrontada tão cedo.
Durante o intervalo, Riyeon se dirigiu ao banheiro feminino, buscando um momento de tranquilidade antes da próxima aula. No entanto, ao entrar, percebeu Daehyn escorada na pia, os braços cruzados e um sorriso presunçoso no rosto. As outras alunas que estavam ali trocaram olhares nervosos quando Daehyn simplesmente ordenou:
— Saiam. Agora.
Elas sabiam que discutir com Daehyn era inútil. Uma a uma, saíram rapidamente, fechando a porta atrás de si, deixando as duas completamente a sós.
Riyeon soltou um suspiro entediado, cruzando os braços.
— Se você queria um encontro privado comigo, Daehyn, deveria ter pedido de forma mais educada.
— Engraçadinha — Daehyn riu de forma seca, então deu um passo à frente, sacando o celular do bolso. — Eu só queria te mostrar algo.
Ela deslizou o dedo pela tela e virou o aparelho para Riyeon. Eram fotos. Fotos dela e de Anya na noite anterior, no centro, trocando olhares apaixonados. E, claro, a principal: a delas se beijando sob a luz fraca da rua.
Riyeon olhou as imagens com calma, sem demonstrar um pingo de nervosismo.
— Bonito enquadramento. Poderia ter captado um ângulo melhor, mas devo admitir que conseguiu um bom registro do momento — disse, elevando o queixo com um sorriso desafiador.
Daehyn rangeu os dentes, claramente incomodada com a tranquilidade de Riyeon.
— Você realmente acha que isso é uma brincadeira, não é? Eu posso acabar com a Anya com um único clique. Você sabe como essa escola trata bolsistas, ainda mais uma que 'roubou' a minha vaga. Imagine quando descobrirem que ela está envolvida com você. — Ela aproximou o celular do rosto de Riyeon. — Se eu postar isso, ela nunca mais terá paz aqui dentro. Nem fora daqui. E você sabe disso.
Riyeon continuou olhando para ela, sem se abalar.
— O que você quer, Daehyn?
— Que seja esperta. Mantenha Anya longe do assédio, ou melhor, longe de você. Se não fizer isso, vou garantir que a vida dela se torne um inferno.
Riyeon inclinou a cabeça, como se ponderasse a ameaça, e então, um sorriso frio surgiu em seus lábios.
— Você realmente acha que pode me intimidar?
— Você pode ser poderosa, Riyeon, mas até você tem pontos fracos. Anya é um deles.
Riyeon deu um passo à frente, estreitando os olhos. A tensão no ar se tornou palpável.
— Escute bem, Daehyn. Se você sequer pensar em prejudicar Anya, eu juro que vou transformar sua vida em algo muito pior do que qualquer coisa que você esteja planejando para ela. — Sua voz saiu baixa e cortante como uma lâmina afiada. — Você não tem ideia do que sou capaz de fazer quando mexem com algo que me pertence.
Daehyn hesitou. Não era comum ver Riyeon tão ameaçadora. Mas logo recuperou a postura e deu uma risada debochada.
— Veremos, então. Só espero que você faça a escolha certa.
Ela virou nos calcanhares e saiu do banheiro, deixando Riyeon para trás. A herdeira Lee permaneceu ali por alguns segundos, observando seu próprio reflexo no espelho. Seu coração batia firme, não de medo, mas de raiva.
Se Daehyn achava que poderia separá-la de Anya com ameaças vazias, estava muito enganada.
Aquilo era só o começo.
Riyeon entrou na sala de aula com o semblante fechado, a expressão carregada de raiva contida. Seus passos eram firmes, e o olhar, normalmente calmo, trazia uma frieza incomum. Anya, que já estava sentada, percebeu de imediato que algo estava errado. Riyeon raramente deixava suas emoções transparecerem, mas dessa vez, era impossível não notar. Ela parecia pensativa.
Assim que se sentou ao lado de Anya, Riyeon soltou um suspiro pesado. Tentando suavizar a expressão, ela deslizou sua mão para debaixo da mesa e segurou a de Anya. O toque era firme, quase como se quisesse se ancorar ali, como se Anya fosse a única coisa impedindo que sua raiva transbordasse.
Anya apertou levemente seus dedos em resposta, um pedido silencioso para que Riyeon relaxasse. Mas antes que pudesse perguntar o que havia acontecido, Riyeon começou a falar, mantendo a voz baixa para que ninguém mais ouvisse.
— Daehyn me ameaçou no banheiro. Ela tem fotos nossas. Fotos da gente se beijando.
Anya arregalou os olhos, mas não foi o medo da exposição que a fez prender a respiração. Foi a forma como Riyeon falava, a tensão evidente em cada palavra. Ela estava levemente irritada, e não era apenas pela ameaça. Era pelo que poderia acontecer a seguir.
— Ela disse que pode divulgar as fotos, que pode espalhar para todos. — Riyeon apertou ainda mais a mão de Anya, seu tom de voz carregado de indignação. — Eu juro que se ela fizer alguma coisa...
Anya, que até então apenas escutava, virou-se totalmente para Riyeon e segurou sua outra mão, forçando-a a olhá-la nos olhos.
— Eu não me importo com as fotos — Anya sussurrou com firmeza. — Mas eu me importo com você. Com o que isso pode te fazer. Se isso chegar aos ouvidos errados, se chegar até os seus pais...
Riyeon fechou os olhos, tentando conter a onda de sentimentos que se chocavam dentro dela. Ela sabia que Anya tinha razão. Não era apenas uma questão de orgulho ou reputação escolar. Se aquelas fotos chegassem à sua família, as consequências poderiam ser sérias. Sua mãe e seu pai... Ela nem queria imaginar qual poderia ser a reação deles.
Sentindo-se impotente, Riyeon soltou um suspiro longo e cansado. Anya percebeu e acariciou de leve a mão dela.
— Nós vamos resolver isso. Juntas. — Anya assegurou, oferecendo um sorriso encorajador.
Riyeon encarou a namorada antes de assentir. Sim, juntas. Por mais que Daehyn tentasse separá-las, ela não permitiria. Anya era sua força. E, por ela, Riyeon lutaria até o fim. A jovem conteve as emoções e as deixou de lado, não mais dando importância às palavras de Daehyn. Aquela ameaça não era nem uma faísca, levando em conta tudo o que já viveu ao longo da convivência com seus pais.