a garota mais linda que já vi

O quarto estava silencioso, exceto pelo som suave da respiração das duas. O calor do momento ainda pairava no ar, e a escuridão aconchegante do ambiente deixava tudo ainda mais íntimo.

Anya se aconchegou contra Riyeon, enterrando o rosto no pescoço dela, sentindo o perfume suave misturado ao calor de sua pele nua. O cobertor as envolvia, criando um casulo confortável onde o mundo exterior não existia.

— Você é muito cheirosa — Anya murmurou, apertando o abraço. — E confortável de abraçar.

Riyeon sorriu, passando os dedos pelos cabelos macios da namorada, aproveitando o momento de pura tranquilidade.

— E você é muito grudenta — brincou, rindo baixinho quando Anya se apertou ainda mais contra ela.

— Não sou, não! Só estou confortável demais para me mexer — retrucou, a voz abafada contra o pescoço de Riyeon.

Riyeon deslizou a mão pelas costas dela, traçando círculos suaves com a ponta dos dedos.

— Ah, é? Então quer dizer que sou um travesseiro humano agora?

Anya riu, mas não negou.

— Se fosse, seria o melhor travesseiro do mundo.

Riyeon inclinou a cabeça para olhar Anya e, com um sorriso malicioso, sussurrou contra sua orelha:

— E você... é gostosa.

O calor que subiu pelo rosto de Anya foi imediato. Ela se afastou só o suficiente para encarar Riyeon, os olhos arregalados e a boca entreaberta em choque.

— Yah! — Anya resmungou, escondendo o rosto contra o peito da namorada.

Riyeon riu alto, genuinamente divertida com a reação dela.

— O quê? É só a verdade.

— Você é insuportável — Anya murmurou, ainda com o rosto enfiado contra ela, sem coragem de encará-la.

Riyeon riu mais uma vez, apertando Anya contra si e beijando o topo de sua cabeça.

— Não diz essas coisas que eu fico tímida.

— Eu adoro te ver sem jeito.

Anya resmungou, mas o sorriso em seus lábios denunciava que ela estava completamente rendida, aproveitando aquele momento de paz. Mas algo em sua mente a inquietava. Desde o início do relacionamento, Riyeon sempre demonstrou uma calma inabalável. Mesmo diante das dificuldades, das ameaças de Daehyn, da exposição na escola e até da pressão de seu próprio pai, Riyeon nunca pareceu se abalar. Naquela noite, elas tinham dado um passo muito importante em seu relacionamento, compartilharam momentos íntimos e de puro prazer. Anya estava tão feliz, que mal conseguia conter o sorriso bobo sempre que olhava Riyeon sorrir para ela, também satisfeita pelo seu desempenho. Nem parecia que era sua primeira vez fazendo aquilo.

— Riye? — Anya chamou baixinho, virando um pouco o rosto para encará-la.

— Hum? — Riyeon respondeu sem parar o carinho, olhando para Anya com um pequeno sorriso.

— Você nunca se estressa com nada? — Anya perguntou, estreitando os olhos. — Quero dizer, desde que começamos a namorar, eu nunca te vi irritada, com raiva ou sequer frustrada ao extremo. Como você consegue? Qualquer outra pessoa já teria surtado pelo menos uma vez com tudo o que passamos. Aquele dia que a Daehyn nos ameaçou, eu só senti você levemente incomodada.

Riyeon parou por um momento, como se ponderasse a pergunta. Depois soltou um suspiro leve e passou os dedos pelo queixo de Anya, traçando um caminho suave até sua bochecha antes de responder.

— Acho que isso tem muito a ver com a forma como fui criada — ela disse, sua voz calma e controlada. — Desde que me entendo por gente, fui pressionada pelos meus pais a ser a melhor em tudo. Ser a número um na escola, a filha perfeita, a herdeira ideal. Meu desempenho sempre esteve em primeiro lugar.

Anya ficou em silêncio, apenas ouvindo atentamente. Sabia que a família de Riyeon era rígida, mas nunca tinha parado para pensar no quanto isso moldou sua personalidade.

— No começo, eu me estressava — Riyeon continuou. — Chorava sozinha, ficava frustrada quando sentia que não era suficiente. Mas, com o tempo, percebi que demonstrar emoções demais poderia ser visto como fraqueza. Então aprendi a controlar tudo. Eu me adaptei. Aprendi a lidar com os problemas sem deixar que eles me afetassem visivelmente. É como um escudo que construí para mim mesma.

Anya ergueu a mão e tocou o rosto de Riyeon, deslizando os dedos pela sua mandíbula com delicadeza. Ela entendia o que a namorada queria dizer, mas ao mesmo tempo, a ideia de que Riyeon tivesse carregado tanto peso sozinha a entristecia.

— Você não precisa esconder nada de mim — Anya disse suavemente. — Eu quero conhecer cada parte sua, até aquelas que você acha que não pode mostrar.

— Você é a única que consegue me desarmar, Anya. Perto de você eu não preciso usar o meu escudo. Quando estamos juntas, eu não camuflo as minhas emoções. Você tem acesso a uma parte de mim que ninguém mais tem.

Riyeon sorriu, um sorriso meigo, daqueles que ela reservava apenas para Anya. Então, sem dizer mais nada, abaixou-se e deixou um beijo demorado na testa da namorada. Anya sorriu também, se aconchegando ainda mais nos braços dela, sentindo o coração de Riyeon bater firme e constante contra seu próprio peito.

Mesmo que Riyeon tivesse sido moldada para a perfeição, Anya sabia que ali, naquele quarto, nos momentos que compartilhavam, ela podia simplesmente ser ela mesma.

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Anya estava sentada na beirada da cama, os cotovelos apoiados nos joelhos, enquanto observava Riyeon se arrumar. O quarto estava silencioso, exceto pelo leve farfalhar do tecido do uniforme impecavelmente engomado que Riyeon deslizava sobre os ombros. Cada movimento dela era meticuloso, como se estivesse ensaiado a perfeição todos os dias.

A camisa branca ajustava-se perfeitamente ao seu corpo, o blazer branco com detalhes pretos e dourados, deslizava pelos braços de forma elegante, e a gravata era presa com precisão. Anya nem percebeu que estava segurando a respiração enquanto assistia àquela cena. Seu olhar era puro encanto, absorvendo cada pequeno detalhe – desde os fios castanhos escuros e sedosos do cabelo de Riyeon caindo levemente sobre o rosto, o laço fiel moldando o seu penteado, até a maneira como ela se concentrava ao ajustar os punhos da camisa.

Riyeon percebeu o olhar fixo e parou, colocando uma das mãos no queixo e arqueando uma sobrancelha com um sorriso satisfeito.

— Você está apreciando a vista? — perguntou, com um tom divertido na voz.

Anya piscou, como se tivesse sido pega em flagrante, soltando um sorriso fofo. Ela levantou-se e caminhou até Riyeon, parando bem na sua frente. Sem dizer uma palavra, passou os braços ao redor de sua cintura e a puxou para um abraço apertado. Seu rosto se aninhou no pescoço da namorada, inalando o perfume suave que sempre a fazia sentir-se em casa.

Riyeon arregalou os olhos, surpresa pela iniciativa, mas logo relaxou, envolvendo Anya em um abraço carinhoso. O calor daquela proximidade aqueceu seu peito, e um sorriso feliz curvou seus lábios.

— O que foi isso? — murmurou Riyeon, deslizando os dedos pelos cabelos de Anya.

— Eu só queria você mais perto — Anya respondeu, sua voz abafada contra o tecido da camisa da namorada. — Você é a garota mais linda que já vi na vida. Às vezes, eu não consigo acreditar que tenho tanta sorte em te chamar de namorada.

Riyeon piscou algumas vezes, sentindo uma leve pontada de calor subir até as bochechas. Não era como se nunca tivesse recebido elogios antes – ela sempre soube que era admirada por muitos –, mas ouvir essas palavras saindo da boca de Anya, com tanta sinceridade e emoção, fez seu coração bater mais rápido.

Anya se afastou apenas o suficiente para olhar nos olhos de Riyeon, e ali, naquele olhar profundo e brilhante, Riyeon viu todos os sentimentos que Anya nutria por ela. Era avassalador e doce ao mesmo tempo. A noite passada trouxe a elas um nível de intimidade ainda mais profundo.

— Você realmente acha isso? — Riyeon perguntou baixinho, tentando esconder a leve vergonha que sentia.

Anya sorriu e segurou o rosto dela com as duas mãos, acariciando sua pele suavemente com os polegares.

— Eu não acho. Eu tenho certeza.

O olhar intenso de Anya era algo novo para Riyeon. Normalmente, Anya era a mais tímida, a que desviava o olhar e corava com facilidade. Mas ali, era Riyeon quem se sentia exposta – e, estranhamente, adorava isso. Ela nunca tinha se sentido envergonhada antes por um simples elogio.

Riyeon se inclinou levemente, e Anya não hesitou em fechar a distância, capturando os lábios dela em um beijo lento e cheio de carinho. O gosto suave de menta misturava-se com algo inebriante, algo que só Anya conseguia despertar nela. O beijo durou o tempo suficiente para que ambas se esquecessem do mundo ao redor.

Quando se afastaram, Riyeon olhou para Anya com um brilho divertido nos olhos.

— Agora você está tentando me atrasar de propósito, não é?

Anya riu, seu rosto ainda próximo ao de Riyeon, e lhe deu um selinho rápido.

— Talvez — murmurou, brincalhona. — Mas eu acho que vale a pena...