Ato 6 - Mudanças Inesperadas

O relógio da sala marcava quase oito da noite, e a rotina da casa seguia como sempre.

Oliver trancado em seu quarto, concentrado em mais uma de suas comissões, enquanto Evelyn estava largada no sofá, zapeando sem muito interesse pelo celular.

O ambiente estava silencioso, apenas o som distante do teclado de Oliver preenchia o ar.

Foi então que o celular de Evelyn vibrou. Uma notificação acendeu a tela e, sem pensar muito, ela desbloqueou o aparelho.

Assim que leu a mensagem, seu corpo travou por alguns segundos.

[ Evelyn, prepare-se para a mudança. Você será transferida para acompanhar a empresa em um novo projeto. Em breve enviaremos mais detalhes. ]

Os olhos dela se arregalaram levemente. Seu coração acelerou um pouco. Mudar? Para onde? Quando? Por quê?

— Tsc… Só faltava essa. — Murmurou, jogando o celular no peito e encarando o teto.

Ela não queria isso. Sua vida estava estabilizada, tinha sua rotina organizada… Tinha Oliver.

Suspirou pesadamente e passou a mão no rosto, queria ignorar aquilo, mas não podia. Era uma ordem direta.

Por um instante, pensou em levantar e ir direto ao quarto de Oliver contar a novidade. Mas hesitou.

Sabia exatamente como ele reagiria, um simples "Ah, entendi. Boa sorte." e pronto, nenhuma expressão, nenhum sinal de incômodo. Como sempre.

A frustração cresceu dentro dela. Queria ver alguma reação vinda dele, alguma demonstração de que se importava.

Mas era Oliver.

Ele era assim.

Mordeu o lábio inferior e bufou baixinho.

— Droga, Oliver… O que você vai dizer quando eu contar isso?

Ela virou de lado no sofá, encarando o corredor que levava até o quarto dele. A luz azul fraca da tela do computador vazava por baixo da porta, denunciando que ele ainda estava lá dentro, preso no trabalho.

Evelyn fechou os olhos por um instante. Precisava de um plano. Não podia simplesmente jogar essa bomba de qualquer jeito.

Talvez… Devesse esperar um pouco mais.

Evelyn encarou o teto por mais alguns minutos, tentando organizar seus pensamentos.

Seu coração estava inquieto, mas decidiu que não falaria com Oliver ainda.

— Amanhã. Eu conto amanhã. — Murmurando para si mesma.

Ela pegou o celular novamente e respondeu com um simples "Entendido", tentando afastar qualquer preocupação.

Mas dormir naquela noite foi difícil.

Na manhã seguinte, a rotina seguiu como sempre.

Oliver acordou, preparou café, pegou um pão e voltou para o quarto.

Evelyn apenas o observou da cozinha, apoiada na bancada, mordendo distraidamente uma torrada.

Se ele ao menos percebesse que algo estava errado…

Mas não, Oliver estava no modo automático.

Foi só depois do almoço que ela tomou coragem.

— Oliver. — Chamou firme.

Ele levantou os olhos do notebook.

— Hm?

— Eu preciso te contar uma coisa.

Oliver fechou o laptop, cruzou os braços e esperou. Evelyn respirou fundo.

— Eu vou me mudar.

O silêncio tomou conta da sala. Evelyn sentiu um nó na garganta, mas manteve a expressão firme.

Oliver piscou lentamente, absorvendo a informação.

— Quando?

— Ainda não sei exatamente, mas em breve... Fui transferida pra acompanhar um novo projeto da empresa.

Ele permaneceu imóvel por alguns segundos, depois assentiu.

— Entendi.

Foi só isso.

Evelyn cerrou os punhos.

— Só isso?

Oliver inclinou a cabeça levemente.

— O que mais você quer que eu diga?

— Sei lá, Oliver! Você podia pelo menos… demonstrar alguma coisa!

Ele suspirou, coçou a nuca e desviou o olhar por um momento.

— Você tem que ir, não tem?

— Sim.

— Então pronto. — Ele se levantou. — Se precisar de ajuda pra arrumar as coisas, me avisa.

Evelyn o observou sair da sala, sentindo um aperto estranho no peito.

Era exatamente como ela imaginava.

Mas, ainda assim… Doía.

Os dias passaram, e a atmosfera no apartamento mudou.

Evelyn continuava jogada no sofá como sempre, mas agora não era por preguiça, era porque não queria encarar Oliver.

Ele, por sua vez, também não puxava assunto. Não que fosse novidade, mas agora parecia… diferente.

Porém, no terceiro dia, algo quebrou o silêncio.

Era tarde da noite, Evelyn estava no sofá, rolando o feed do celular sem prestar atenção em nada, quando ouviu Oliver sair do quarto e ir até a cozinha.

Ela não queria falar com ele. Queria que ele falasse com ela primeiro.

Mas Oliver, como sempre, era impossível de ler.

Ele abriu a geladeira, pegou um copo d'água e voltou pelo mesmo caminho.

Evelyn soltou um suspiro pesado.

— Você realmente não tem nada pra falar sobre isso? — Sua voz saiu mais amarga do que esperava.

Oliver parou na porta do quarto. Ficou de costas para ela por alguns segundos, depois se virou.

— Tipo o quê?

Evelyn riu, sem humor.

— Sei lá… "Vou sentir sua falta", talvez?

Oliver franziu o cenho.

— Mas é óbvio que eu vou sentir sua falta.

Evelyn piscou.

— O quê?

Ele deu um gole no copo d'água, como se estivesse falando de algo trivial.

— Você é a única que me entende.

Evelyn sentiu o rosto esquentar, mas manteve a expressão séria.

— Então por que você não falou nada antes?

Oliver coçou a cabeça, parecendo incomodado.

— Eu não sei o que você quer que eu faça, Evelyn. Se eu pedir pra você ficar, você vai?

Ela abriu a boca, mas nenhuma resposta saiu.

Oliver soltou um suspiro.

— Achei que não.

Ele virou-se novamente para o quarto.

— Boa noite.

A porta se fechou suavemente, deixando Evelyn com um turbilhão de sentimentos.

Ela puxou o cobertor sobre o rosto, frustrada.

"Idiota."

Mais um dia se passou.

Evelyn ainda não havia se acostumado com a ideia de se mudar, mas já tinha aceitado.

Pelo menos era o que tentava convencer a si mesma.

Durante a manhã, decidiu contar para suas amigas sobre a mudança.

Assim que terminou de explicar, já se arrependeu.

— O QUÊ?! — Uma delas quase derrubou o celular. — Você vai mesmo embora?!

— Não é bem assim… — Evelyn coçou a cabeça. — Só vou acompanhar a empresa, não é como se eu estivesse indo pro outro lado do mundo.

— Não importa, você tá indo embora! — Outra amiga cruzou os braços. — E o Oliver?

Evelyn hesitou por um segundo.

— Ele… Ele tá de boa com isso.

— "De boa"? Como assim "de boa"?

— Ele é sempre assim.

As amigas se entreolharam e suspiraram.

— A gente tem que sair antes de você ir.

— O quê?

— É sério! Vamos comemorar os últimos dias!

Evelyn arregalou os olhos.

— "Comemorar"?!

— Tá, talvez "comemorar" não seja a palavra certa… Mas a gente precisa de uma despedida digna.

Evelyn suspirou.

— Eu não sei, meninas…

— Nem vem! Você vai sair com a gente, nem que a gente tenha que te arrastar!

Evelyn sabia que não adiantava discutir. No fundo, até queria um motivo pra se distrair um pouco.

— Tá bom, tá bom… Mas nada muito exagerado.

— Relaxa, a gente só vai encher a cara um pouquinho.

Evelyn revirou os olhos, mas não conseguiu segurar um pequeno sorriso.

Agora, restava contar para Oliver.

E por algum motivo, isso parecia mais difícil do que contar para as amigas.

Evelyn voltou para casa no início da noite, ensaiando mentalmente como contaria a Oliver sobre a "despedida".

Ao entrar no apartamento, o encontrou exatamente onde esperava: sentado à mesa, com os olhos fixos no monitor da mesa digitalizadora.

— Oi. — Ela se encostou na porta, observando-o.

— Hm.

Ele não desviou o olhar da tela, mas Evelyn sabia que ele tinha escutado.

— As meninas querem sair… pra se despedir de mim.

Dessa vez, Oliver parou de desenhar por um segundo.

— Quando?

— Amanhã à noite.

Ele voltou a trabalhar.

— Ok.

Evelyn esperou um pouco, esperando que ele perguntasse mais alguma coisa, mas nada.

— Você não vai falar nada?

— O que você quer que eu fale?

Evelyn bufou, cruzando os braços.

— Sei lá… Que você vai sentir minha falta?

Oliver parou de novo e a encarou.

— Eu já falei.

Ela piscou algumas vezes, surpresa.

— Falou? Quando?

— No outro dia. Quando você se jogou em cima de mim.

Evelyn ficou em silêncio por um instante, relembrando a noite que passou com ele no sofá-cama.

— Ah…

— Você achou que eu tava dormindo.

Ela desviou o olhar, um pouco sem graça.

— Enfim… — Oliver voltou a se concentrar no monitor. — Divirta-se amanhã.

Evelyn o observou por mais alguns segundos.

— Você podia ir também, sabia?

Oliver sorriu de canto.

— Não faz meu estilo.

Evelyn já esperava essa resposta.

— Tá… Eu vou tomar um banho.

Ela se virou e foi para o quarto, mas antes de entrar, ainda conseguiu ouvir Oliver murmurando:

— Não beba demais.

Ela sorriu.

— Sem promessas.

Evelyn e suas amigas estavam aproveitando a noite no parque de diversões.

As luzes brilhantes refletiam no sorriso delas enquanto passeavam pelos brinquedos e tiravam fotos.

— Faz tempo que não saímos assim! — disse uma das amigas, segurando um algodão-doce.

— Pois é, precisava disso. — Evelyn sorriu, mas no fundo, sentia uma pontada de melancolia.

Sabia que aqueles momentos estavam contados.

Depois de algumas horas, decidiram se sentar perto da roda-gigante para descansar um pouco.

A conversa fluía tranquilamente, até que uma presença desagradável se aproximou.

Dois homens, vestidos de forma casual, mas com olhares nada amigáveis, pararam em frente a elas.

— Boa noite, senhoritas. — Um deles sorriu de maneira presunçosa. — Se divertindo?

Evelyn já sabia onde aquilo ia dar.

— Sim, e gostaríamos de continuar assim. Dá licença?

— Ah, mas a gente só quer conversar. — Outro deles riu, se aproximando um pouco mais.

As amigas de Evelyn se entreolharam, tensas.

— Não estamos interessadas. — Evelyn disse firme, levantando-se.

Os dois homens se entreolharam, parecendo se divertir com a resistência dela.

— Relaxa, ninguém tá fazendo nada de mais.

Quando um deles esticou a mão para tocar no ombro de Evelyn, uma voz familiar interrompeu.

— Toca nela e tu não vai mais usar essa mão.

Os dois viraram rapidamente, encontrando Thomas parado ali, junto com os outros amigos de Oliver.

O ar mudou imediatamente.

— O que vocês querem? — um dos homens perguntou, estreitando os olhos.

— Só garantir que vocês não passem dos limites. — Thomas cruzou os braços, mantendo um olhar firme.

Os outros dois amigos dele também estavam ali, prontos para qualquer coisa.

— Vocês acham que vão dar uma de heróis? — O homem que estava mais perto de Evelyn riu, mas seu tom tinha um traço de nervosismo.

— Só queremos evitar que idiotas como vocês estraguem a noite. — Thomas deu um passo à frente.

A tensão no ar ficou palpável. Os dois pareciam avaliar se valia a pena criar uma confusão…

O brilho colorido das luzes do parque contrastava com a escuridão da situação.

Os dois homens, ao perceberem que estavam em desvantagem, mudaram de tática.

Com movimentos rápidos, ambos puxaram facas.

— Acho que vocês não entenderam... — um deles sussurrou, girando a lâmina entre os dedos. — Se vocês não saírem daqui, alguém vai sair machucado.

O medo tomou conta das amigas de Evelyn. Algumas deram passos para trás, enquanto Thomas e os outros ficaram tensos.

Mas, de repente, tudo mudou.

Era como se o mundo tivesse parado.

Os sons do parque foram cortados de maneira abrupta. As vozes, os risos, a música dos brinquedos... tudo desapareceu.

Mas quando olhavam ao redor, tudo ainda estava acontecendo. As pessoas continuavam a se divertir, só que… sem som.

Era como se aquele espaço tivesse sido isolado do restante do mundo.

Os dois homens, antes confiantes, ficaram imóveis, como se tivessem sentido a presença de algo errado.

E então, ele apareceu.

De longe, uma figura surgiu, caminhando calmamente na direção deles.

Mesmo com a pouca luz, todos ali sabiam exatamente quem era.

A figura se aproximava sem pressa, as luzes do parque piscando e criando sombras distorcidas em seu rosto.

Mesmo sem dizer nada, sua presença era esmagadora.

Os dois homens engoliram em seco. Eles não sabiam explicar, mas um arrepio percorreu suas espinhas.

O instinto gritava para correr, mas seus corpos estavam pesados, como se algo os impedisse.

— O-Oliver...? — murmurou Thomas, reconhecendo a silhueta familiar.

Evelyn, que até então apenas observava, sentiu seu coração acelerar.

Aquele olhar neutro, aquele passo firme... ela já sabia. Ele não tinha vindo conversar.

Oliver parou a poucos metros dos agressores. Suas mãos estavam nos bolsos do corta-vento preto, a expressão inalterada.

— …É sério isso? — Sua voz soou baixa, mas nítida no silêncio absoluto.

Os homens se entreolharam, tentando entender por que aquele cara parecia tão... diferente.

— Quem diabos é você?! — um deles tentou se recompor, segurando a faca com mais força.

Oliver inclinou a cabeça levemente, como se considerasse a pergunta.

— Alguém que não gosta de perder tempo.

Os homens sentiram um peso esmagador nos ombros.

As facas que seguravam tremiam em suas mãos.

O ar ficou mais pesado, difícil de respirar.

O primeiro tentou dar um passo para trás, mas suas pernas estavam bambas.

O segundo, suando frio, levantou a faca de forma instável.

Oliver apenas olhou para eles e suspirou.

— Decidam rápido. Vocês realmente querem continuar com isso?

Foi só isso.

Nenhuma ameaça explícita.

Nenhuma ação violenta.

Mas aquilo foi o suficiente para quebrar o psicológico deles.

As facas caíram no chão. Um deles caiu sentado, o outro girou nos calcanhares e saiu correndo sem olhar para trás. O que ficou para trás tentou se levantar, mas suas pernas não respondiam.

Oliver apenas deu um passo à frente e olhou para ele.

O homem, quase se arrastando, conseguiu se levantar e saiu tropeçando, desaparecendo na multidão.

O som do parque voltou instantaneamente.

As risadas, a música, os brinquedos, tudo parecia como antes. Como se nada tivesse acontecido.

Thomas e os outros ainda estavam processando tudo. O silêncio entre eles era pesado, até que Oliver quebrou a tensão:

— …Então, Como foi o parque?

Evelyn, que desde o começo sentia que algo dentro dela estava se remexendo, encarou Oliver por um momento.

Ele olhou de volta, como se esperasse alguma resposta.

Ela abriu a boca para falar algo... mas desistiu.

Afinal, como ela poderia explicar aquilo?

Ninguém queria falar sobre o que havia acabado de acontecer.

O peso da situação ainda pairava sobre eles, mas ninguém parecia disposto a ser o primeiro a comentar.

O silêncio era estranho, desconfortável até.

Thomas, percebendo isso, decidiu quebrar o clima tenso da única maneira que sabia.

— Certo... Isso foi intenso. Que tal irmos beber alguma coisa?

Os olhares se voltaram para ele.

— Beber? — uma das amigas de Evelyn perguntou.

— Sim! Um pub! Eu conheço um ótimo aqui perto. — Thomas sorriu, tentando aliviar a tensão. — Primeira rodada por minha conta.

Os amigos se entreolharam. Beber parecia uma boa forma de esquecer o que tinha acabado de acontecer.

— Tô dentro. — disse um deles.

— Por mim, tanto faz. — Evelyn respondeu, ainda processando tudo.

— E você, Oliver?

Oliver, que estava de braços cruzados, deu de ombros.

— Desde que tenha algo sem álcool, não vejo problema.

Thomas bateu palmas.

— Fechado! Então vamos.

E assim, o grupo deixou o parque, caminhando para o pub enquanto tentavam deixar para trás a estranha sensação daquela noite.

O bar estava mergulhado em um caos divertido.

O álcool havia feito efeito na maioria, deixando Thomas e os outros quase desmaiando sobre a mesa.

Gargalhadas ecoavam pelo lugar, mas Oliver, como sempre, estava à parte da bagunça.

Sentado em um canto mais afastado, ele comia um simples salgado, indiferente ao estado deplorável dos amigos.

Evelyn, por outro lado, não estava completamente bêbada, mas já havia perdido a noção do tempo.

Seus pensamentos estavam enevoados, e a única coisa que sabia era que se sentia mais leve—talvez um pouco solta demais.

Oliver, sempre atento, verificou as horas em seu celular e se levantou, pegando sua jaqueta. Era hora de ir.

— Tchau. — Ele disse simplesmente, sem mais explicações.

A despedida curta foi o suficiente para Thomas levantar a cabeça por um instante, apenas para vê-lo saindo com Evelyn.

Ela nem questionou; apenas o seguiu para fora.

Assim que pisaram na calçada, Oliver pegou o celular e fez um simples toque na tela.

Em questão de segundos, o som de um motor ecoou ao longe.

Sua moto, com toda a tecnologia avançada que possuía, surgiu na rua como se soubesse exatamente onde deveria estar.

— Você ainda precisa me explicar como isso funciona. — Evelyn murmurou, encarando o veículo enquanto Oliver pegava o capacete.

— Talvez um dia.

Ele entregou o capacete a ela, subindo na moto.

Evelyn suspirou e o seguiu, posicionando-se na garupa.

Antes de partir, porém, Oliver olhou para ela pelo reflexo do retrovisor.

— Ah, antes que eu esqueça… Falei com o seu chefe. A mudança vai durar só uma semana.

Evelyn piscou, surpresa.

— O quê? Você… Você falou com ele?

— Sim.

— E como você conseguiu essa informação?

— Eu perguntei.

Ela abriu a boca para responder, mas percebeu que não adiantaria insistir. Oliver era assim.

Sem dizer mais nada, ela envolveu a cintura dele com os braços enquanto a moto acelerava pela cidade.

Quando chegaram no prédio, Evelyn desceu sem nem pensar e foi direto para o apartamento.

Ela estava cansada demais para questionar qualquer coisa.

Mas, ao invés de ir para o sofá ou para sua própria cama, ela seguiu para o quarto de Oliver.

Se jogou na cama dele sem cerimônia, puxando as cobertas como se fosse o lugar mais natural do mundo para dormir.

E, dessa vez, Oliver não disse nada.

Uma semana se passou.

O tempo longe de Oliver fez Evelyn refletir.

Ela saiu naquela manhã sem dizer nada a ele, e agora não fazia ideia do que dizer quando o visse de novo.

Quando finalmente chegou ao apartamento, notou que a porta estava entreaberta.

Estranhou, mas ao empurrá-la, encontrou Oliver jogado no sofá, assistindo a alguma série.

Ele notou sua presença, mas não desviou os olhos da tela.

— Você esqueceu de trancar a porta de novo.

Oliver deu um gole no refrigerante que estava ao seu lado e, sem tirar os olhos da TV, respondeu:

— Eu sabia que você tava voltando hoje.

Evelyn se aproximou lentamente, ainda sem saber exatamente o que dizer.

O silêncio no apartamento parecia mais pesado do que o normal, e Oliver, como sempre, não demonstrava nenhuma reação exagerada.

Apenas continuava assistindo à série, como se sua chegada não fosse nada demais.

Ela abriu a boca para falar algo, talvez um simples "Oi" ou um "Voltei", mas antes que qualquer palavra pudesse sair, do absoluto nada, Oliver a puxou para si.

O movimento foi rápido e preciso, sem hesitação.

Em um instante, Evelyn estava caída sobre ele no sofá, seu rosto próximo demais do dele, seu corpo parcialmente sobre o dele.

Seu coração deu um salto, e ela nem teve tempo de reagir antes de ouvir a voz calma de Oliver bem perto de seu ouvido:

— Já é quase meia noite, você demorou.

Evelyn não sabia o que responder, sentia sua mente em branco.

Mas Oliver, como sempre, manteve a calma e continuou:

— Sei que é difícil voltar e puxar assunto, tendo em vista que saiu sem dizer nada… mas, amanhã falamos sobre isso.

Ela abriu a boca, mas nenhuma palavra saiu.

No fundo, não queria falar.

Só queria ficar ali, com seu corpo sobre o dele, cansada demais para pensar.

Enquanto Oliver assistia à série, Evelyn desviou o olhar para ele.

Observava cada detalhe,seu jeito relaxado, a expressão neutra, os olhos fixos na tela, como se nada tivesse acontecido.

Até que, sem aviso, Oliver desligou a televisão.

Evelyn piscou, surpresa. Antes que pudesse perguntar algo, sentiu o movimento.

Oliver a colocou ao seu lado no sofá, algo que nunca havia feito antes. Seu coração bateu mais forte, e sua mente tentou processar o que estava acontecendo.

E então, outro fato inesperado.

Com a maior naturalidade do mundo, Oliver ergueu delicadamente o queixo de Evelyn.

Seus rostos ficaram próximos, muito próximos.

Ela sentiu a respiração dele, quente e calma.

Os olhos dele estavam fixos nos dela, e por um instante, o tempo pareceu parar.

Ele se aproximou ainda mais, seus lábios quase tocando os dela, mas, antes que isso acontecesse, ele simplesmente puxou o cobertor e os cobriu.

Dormiu.

Evelyn ficou ali, de olhos arregalados, seu corpo pegando fogo por dentro. O que era aquilo?! Vergonha? Raiva? Frustração? Seu coração batia tão forte que ela quase podia ouvi-lo.

Sua mente gritava para reagir, mas seu corpo estava travado.

Mas então, algo diferente aconteceu.

Oliver abriu os olhos por um instante. Olhou para ela, como se estivesse pensando em algo.

Evelyn sentiu seu corpo ficar ainda mais quente, e, antes que pudesse entender o que estava prestes a acontecer, ele a beijou.

Simples. Natural. Como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

E, sem dizer nada, a puxou para perto e dormiu de vez.

Evelyn ficou ali, paralisada. Seu rosto ardia, sua mente estava uma bagunça, e ela se segurava para não rir de nervoso.

Seu corpo inteiro estava quente.

E, acima de tudo… ela não sabia o que fazer.

E então, algo mudou.

Aquela sensação familiar tomou conta de Evelyn.

Como se uma parte dela, oculta na maior parte do tempo, finalmente acordasse.

Uma parte possessiva.

Seu olhar caiu sobre Oliver, que dormia tranquilamente ao seu lado, alheio ao furacão de emoções que ela sentia.

Seus braços, antes imóveis, agora o envolviam sutilmente, como se temesse que ele sumisse. Seu corpo inteiro queria se aproximar ainda mais, queriam… tomá-lo para si.

Seus pensamentos se tornaram intensos.

— Ele fez isso e simplesmente dormiu? Como se nada tivesse acontecido? Como se eu não estivesse aqui, queimando por dentro? — Pensou Evelyn

Aquela parte dela queria sacudi-lo, queria respostas, queria que ele… quisesse mais dela.

Mas ao mesmo tempo, sentia algo reconfortante ali, um tipo de segurança estranha.

Evelyn respirou fundo, tentando se acalmar.

Não podia simplesmente perder o controle.

Ou podia?

Seus dedos deslizaram lentamente pelo peito de Oliver, sentindo a respiração dele ritmada e calma.

A vontade de acordá-lo só crescia, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, sentiu algo diferente.

Os braços de Oliver, que estavam relaxados, agora a envolviam de volta.

Como se já soubesse que ela faria isso.

Como se estivesse apenas esperando.

Evelyn mordeu o lábio, frustrada. E, ao mesmo tempo, satisfeita.

O dia seguinte começou como qualquer outro.

Evelyn acordou, saiu do quarto, e viu Oliver já em sua rotina habitual.

Ele trabalhava no computador, focado, como se nada tivesse acontecido na noite anterior.

Porém, algo estava diferente.

Toda vez que Evelyn passava perto, Oliver se aproximava o suficiente para fazê-la prender a respiração. Ele não dizia nada, não demonstrava nada.

Apenas se inclinava levemente, a ponto de fazê-la surtar internamente, e... beijava sua testa.

Foi assim durante toda a manhã.

Evelyn tentava agir normalmente, mas toda vez que ele repetia o gesto, seu coração acelerava.

Ela não sabia se queria socá-lo ou simplesmente puxá-lo e exigir explicações.

Mais tarde, seu celular vibrou.

— Vamos sair para comemorar sua volta! Sem desculpas!

Evelyn suspirou e foi até Oliver para avisá-lo.

No fundo, esperava alguma reação diferente, talvez um comentário sarcástico ou uma provocação... mas não.

Ele apenas respondeu com sua costumeira calma:

— "Tá bom."

Nada além disso, nenhuma expressão, nenhuma mudança de tom.

Mas Evelyn sabia.

Ela sabia.

Então, quando saiu do apartamento, não conseguiu evitar.

Seu corpo estava leve, seu coração acelerado, e, sem perceber, foi dando pequenos pulinhos de alegria pelo corredor.

A noite chegou rapidamente, e Evelyn já estava no bar com suas amigas.

O ambiente era animado, repleto de risadas, música ao fundo e copos tilintando.

Elas bebiam e conversavam sobre diversos assuntos, mas inevitavelmente, o tópico mudou para Oliver.

— Então... como foi a primeira noite depois que voltou? — Uma delas perguntou, com um sorriso malicioso.

Evelyn congelou por um instante, levando o copo à boca para esconder a expressão.

— Normal... — tentou responder casualmente.

— Normal? Oi? Você sumiu por uma semana, voltou e ficou no mesmo apartamento que ele. E quer me dizer que foi normal?

As amigas riram, provocando-a.

Evelyn bufou e desviou o olhar, mas, no fundo, sabia que não conseguia enganar ninguém.

— Tá, tá... foi um pouco diferente.

— Um pouco?

— É... — Evelyn hesitou, lembrando-se da noite anterior, do calor do corpo de Oliver, da forma como ele a puxou para perto e... do beijo.

Seus pensamentos foram interrompidos por uma das amigas, que percebeu algo.

— Ei... desde que chegamos, tem um cara encarando a gente.

Evelyn ergueu o olhar discretamente e viu um homem no balcão, olhando diretamente para ela.

Ele parecia casual, mas seus olhos carregavam um interesse incômodo.

— Hm... Ignora. — respondeu.

As amigas tentaram continuar a conversa, mas a sensação estranha não desapareceu.

O cara não desviava o olhar.

Evelyn fingia que não percebia, mas por dentro, já estava começando a ficar irritada.

Então, do nada, o celular vibrou.

Uma mensagem.

[ Se precisar de algo, me avise. ]

Era Oliver.

Evelyn sentiu um calafrio. Ele não costumava mandar mensagens assim. Não do nada.

Ela olhou ao redor, mas não viu nenhum sinal dele.

Ainda assim, um sorriso involuntário surgiu em seu rosto.

Porém, quando olhou novamente para o balcão...

O homem que a encarava não estava mais lá.

Evelyn franziu a testa, olhando ao redor do bar.

O cara simplesmente sumiu. Isso a deixou inquieta, mas ela tentou ignorar, voltando sua atenção para as amigas, que continuavam rindo e bebendo.

— Ei, terra pra Evelyn! — Uma delas estalou os dedos na frente do rosto dela. — Você tá viajando por quê?

— Nada, nada... — Evelyn forçou um sorriso, mas sua mente ainda estava presa na mensagem de Oliver e no cara misterioso.

Ainda segurando o celular, digitou rapidamente:

[ Você tá aqui? ]

Oliver respondeu quase instantaneamente.

[ Não. Mas tô vendo.]

Evelyn arregalou os olhos.

Antes que pudesse perguntar mais alguma coisa, sentiu um arrepio percorrer sua nuca.

Não estava sendo observada apenas pelo celular.

— Vou no banheiro rapidinho. — disse às amigas, se levantando.

Ela caminhou pelo bar, mantendo uma expressão tranquila, mas seus sentidos estavam alertas.

Passou pelo corredor estreito, onde a luz piscava de vez em quando, e entrou no banheiro feminino.

Se olhou no espelho, respirando fundo.

— Tá viajando à toa... — murmurou para si mesma.

Mas no instante em que virou para sair...

O cara estava lá.

Encostado na parede do corredor, braços cruzados, olhando para ela com um sorriso que fazia sua pele arrepiar de um jeito ruim.

— Você parece meio assustada. — Ele disse, dando um passo à frente.

Evelyn não demonstrou reação. Apenas encarou o homem, mantendo-se firme.

— Dá licença.

Ela tentou passar, mas o homem se moveu na frente dela, bloqueando a saída.

— Relaxa, só quero conversar.

O olhar de Evelyn se tornou frio.

— Não tô interessada.

O homem riu, como se achasse aquilo engraçado.

— Vamos lá, não precisa ser tão grossa...

Ele levantou a mão, como se fosse tocá-la.

E então, num instante, o som ao redor sumiu.

O ar ficou pesado.

As luzes do corredor piscaram violentamente.

O homem congelou.

Evelyn, que já conhecia aquela sensação, olhou para trás.

No final do corredor, uma sombra alta se aproximava.

Devagar.

Calma.

Precisa.

Os olhos vermelhos brilharam na penumbra.

Oliver.

O homem sentiu um arrepio estranho percorrer sua espinha.

Ele não sabia explicar, mas algo estava errado.

O corredor parecia menor, o ar mais denso.

Evelyn cruzou os braços, observando a figura que se aproximava com uma calma perturbadora.

Oliver caminhava sem pressa, as mãos nos bolsos da jaqueta, os olhos semicerrados, mas intensos o suficiente para fazer qualquer um repensar suas ações.

— Atrapalhando a passagem? — Oliver perguntou, sua voz baixa, quase monótona.

O homem olhou para ele e riu, mas foi um riso forçado.

— E você é quem?

Oliver não respondeu de imediato. Apenas inclinou levemente a cabeça, como se estivesse analisando o cara. Então, deu um passo à frente.

A luz piscou novamente.

O homem sentiu o chão ficar mais pesado.

Seu corpo estava tenso, como se algo invisível estivesse pressionando seus ombros.

— Sai.

Foi a única coisa que Oliver disse.

Simples, direto. Mas o tom não deixava espaço para discussão.

O homem abriu a boca para retrucar, mas sua voz falhou.

Seus instintos gritavam para ele sair dali o mais rápido possível.

Ele deu um passo para trás, depois outro, e finalmente virou-se, apressando-se para longe sem olhar para trás.

Evelyn suspirou, descruzando os braços.

— Você sempre chega nesses momentos, né?

Oliver apenas deu de ombros.

— Teve sorte.

Ela revirou os olhos, mas um pequeno sorriso apareceu em seus lábios.

— Você se acha muito, sabia?

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Só tô constatando um fato.

Evelyn bufou, mas não pôde evitar sentir um calor diferente no peito.

Ter alguém que aparecia sempre que precisava... Era algo raro.

Ela desviou o olhar, tentando esconder um pequeno sorriso.

— Obrigada.

Oliver deu um breve aceno com a cabeça e começou a se virar, pronto para ir embora.

Mas antes, ele parou ao lado dela, inclinando-se ligeiramente para sussurrar algo próximo ao seu ouvido.

— Se acontecer de novo, me avisa antes de pensar em resolver sozinha.

E então, ele seguiu em frente, desaparecendo na multidão do bar.

Evelyn ficou parada ali por um instante, sentindo o coração acelerar um pouco mais do que o normal.

Droga.

Ele fazia isso de propósito, não fazia?

Para Evelyn, Oliver era como uma sombra sempre presente, um guardião silencioso.

Para quem estava de fora, ele podia parecer um herói, mas para aqueles que ousavam ficar no caminho, ele era um vilão. O mais vilão de todos.

Ainda sentindo o coração acelerado, ela voltou para suas amigas, afogando a adrenalina em dois copos virados rapidamente.

Mas, mesmo enquanto a bebida queimava sua garganta, uma única frase escapava repetidamente de seus lábios:

— Eu amo ele, eu amo ele!

As amigas riam, brincavam com a cena, mas Evelyn não se importava.

Não era uma confissão para os outros ouvirem, nem para Oliver saber.

Era algo que ela precisava dizer, mesmo que fosse apenas para si mesma.

Então, como um fantasma, Oliver apareceu ao lado dela.

— Você me mandou vir te buscar.

Evelyn piscou, confusa. Isso era uma mentira descarada.

Eles tinham acabado de se encontrar antes. Mas ela não questionou.

Não queria.

Ele estava ali.

E ela só sorriu.