O dia começou com um estrondo.
O noticiário matinal exibia imagens ao vivo de um incêndio intenso consumindo o shopping próximo ao apartamento de Evelyn.
O céu estava tomado por uma densa cortina de fumaça negra, e as chamas iluminavam a cidade como um farol caótico.
Encolhida no sofá, Evelyn assistia à transmissão com atenção, sentindo o contraste do calor na tela e o frio cortante do ar-condicionado ao seu redor.
Enrolada em um cobertor, ela buscava entender a situação quando um som repentino interrompeu seus pensamentos.
Passos apressados.
Oliver atravessou o apartamento em um ritmo acelerado, pegando alguns itens antes de se dirigir à porta.
— O que você tá fazendo? — perguntou Evelyn, confusa.
Ele nem parou para responder direito. Apenas jogou uma frase rápida por cima do ombro:
— Fica de olho na TV se quiser saber a verdade.
E então, ele se foi.
O som da moto preencheu o silêncio deixado por Oliver, primeiro um ronco suave e depois um rugido estrondoso que desapareceu na distância.
Evelyn voltou os olhos para a tela, inquieta.
No local do incêndio
Os bombeiros já estavam na cena, mas não eram os bombeiros comuns. Um esquadrão especial, trajando uniformes pretos com luzes brancas, trabalhava em conjunto para controlar a situação.
Entre eles, uma figura se destacava.
Thomas, Evelyn e outros amigos que assistiam reconheceram imediatamente.
— Espera aí… não pode ser…
As câmeras focaram no homem que caminhava em direção ao shopping em chamas, sem hesitação.
A parte de cima de seu uniforme estava amarrada na cintura, expondo o físico e as cicatrizes que poucos sabiam que ele possuía.
Era Oliver.
Ele não parou, não hesitou.
Passou pelas barreiras como se nada estivesse ali e entrou direto no inferno de fogo.
Thomas rapidamente iniciou uma ligação em grupo.
— Alguém me explica AGORA se eu tô vendo coisa ou se esse desgraçado tá no meio do incêndio!
— É ele. — Evelyn confirmou, tentando processar o que via.
Nas redes sociais e nos círculos próximos, o choque era geral. Até então, Oliver era apenas um artista e escritor recluso.
Agora, todos viam a verdade: o homem no meio das chamas, movendo-se com precisão e agilidade, era muito mais do que isso.
Ele parecia imune ao fogo.
O que ninguém via era como ele fazia isso.
Dentro do prédio
O calor era sufocante.
Estruturas caíam ao redor, o fogo consumia tudo com fúria incontrolável.
Mas Oliver se movia sem medo.
A telecinese envolvia seu corpo, afastando o calor, criando um escudo invisível que impedia as chamas de o tocarem.
Cada passo era calculado, cada movimento eficiente. Sob os escombros, vítimas presas.
Com um leve movimento da mão, os destroços se erguiam, permitindo que as pessoas escapassem sem que ninguém percebesse sua verdadeira habilidade.
Do lado de fora, o esquadrão especial fazia seu trabalho, retirando os resgatados.
Enquanto isso, os bombeiros normais chegavam para dar suporte.
Pouco a pouco, o resgate foi concluído.
Não demorou muito para que o incêndio fosse contido.
E então, veio a revelação.
O noticiário divulgou a informação que pegou todos de surpresa: Oliver era o líder do Sétimo Esquadrão Especial de Bombeiros do Exército.
Evelyn piscou, atônita.
Thomas e os outros na chamada explodiram em perguntas.
— O QUÊ?!
A reação foi instantânea. As redes sociais ferviam com a descoberta.
Mas ninguém sabia explicar como ele caminhava entre as chamas sem se queimar.
No local do incêndio
A jornalista da emissora local, vendo uma oportunidade, tentou se aproximar.
Evelyn, do outro lado da tela, sentiu um incômodo crescente ao ver aquela cena.
No entanto, antes que a repórter pudesse sequer formar uma pergunta, os membros do esquadrão se posicionaram ao redor de Oliver.
Eles já conheciam seu líder muito bem, ele não gostava de receber muita atenção, que para Oliver, era desnecessária.
A tentativa de obter declarações foi frustrada rapidamente.
Enquanto isso, Oliver já havia analisado a causa do incêndio.
O foco inicial das chamas estava no último andar, dentro de um cinema. Os rolos de filme, devido ao tamanho e ao aquecimento excessivo, pegaram fogo.
Em segundos, o incêndio se espalhou, atingindo a fiação elétrica e causando explosões.
Pessoas ficaram presas, o caos se instaurou.
Mas agora, tudo estava sob controle.
Ele repassou as informações a um dos comandantes e, sem perder tempo com a mídia, caminhou lentamente até sua moto.
As câmeras o seguiam.
A imagem do líder do esquadrão, com a fumaça ao fundo e os olhos determinados, ficou gravada na tela.
E então, sem cerimônias, Oliver deu partida na moto e foi embora, desaparecendo tão rápido quanto chegou.
No apartamento
Evelyn ainda encarava a tela, um turbilhão de emoções dentro de si.
— Esse desgraçado…
Ela apertou os lábios, cruzando os braços.
Por mais que tentasse esconder, seu coração batia mais rápido.
Ela não sabia como lidar com isso.
E agora, tudo tinha mudado.
Oliver estaciona a moto na garagem do prédio e sobe as escadas tranquilamente, como se nada tivesse acontecido.
Quando abre a porta do apartamento, a primeira coisa que vê é Evelyn de braços cruzados, ainda enrolada no cobertor, o encarando com um olhar afiado.
— Então, além de artista, escritor e quase um fantasma quando quer… você também é bombeiro?
Oliver fecha a porta atrás de si, pega uma garrafa d'água e bebe um gole antes de responder.
— Eu sou o que eu precisar ser.
Evelyn aperta os olhos, claramente insatisfeita com essa resposta vaga.
Mas antes que possa falar algo, Thomas e os outros entram na ligação de vídeo, gritando ao mesmo tempo.
— VOCÊ TÁ DE BRINCADEIRA QUE É ISSO MESMO?!
Oliver suspira, já esperando a enxurrada de perguntas.
Ele se senta no sofá ao lado de Evelyn e coloca o celular na mesa, ativando o viva-voz.
— Sim, sou o líder do Sétimo Esquadrão Especial de Bombeiros do Exército. Sim, eu apaguei o incêndio. Sim, eu voltei pra casa pra descansar. Alguma outra pergunta?
O grupo fica em silêncio por alguns segundos, tentando processar tudo. Até que um deles finalmente solta:
— Cara… você é tipo um super-herói sem a parte da fantasia.
Oliver apenas dá de ombros.
— Se eu fosse um super-herói, teria um nome e um traje, né?
Evelyn solta um pequeno riso pelo nariz, mas logo se contém.
— E por que você nunca disse nada?
Oliver se recosta no sofá, fechando os olhos por um instante.
— Nunca teve necessidade.
A conversa segue por mais alguns minutos até que todos se acalmam. Quando a ligação é encerrada, Evelyn se vira para Oliver, o olhando de cima abaixo.
— Tá fedendo a fumaça.
Ele abre um dos olhos, olhando para ela.
— Isso é o que acontece quando você entra num prédio pegando fogo.
Ela estreita os olhos e se levanta.
— Vai tomar um banho. E não discute.
Oliver levanta as mãos em rendição e se levanta.
— Sim, senhora.
Enquanto ele caminha até o banheiro, Evelyn cruza os braços e solta um longo suspiro.
Seu olhar se fixa na tela da TV, que ainda reprisava as imagens do incêndio e de Oliver no meio das chamas.
Ela morde o lábio inferior e sussurra para si mesma:
— Como eu vou lidar com isso agora...?
Oliver fechou a porta do banheiro atrás de si, girando o chuveiro até que a água quente começasse a cair.
Ele tirou as roupas impregnadas pelo cheiro de fumaça e entrou debaixo do jato d'água, sentindo a tensão do dia finalmente se dissipar.
Enquanto isso, Evelyn continuava no sofá, encarando a TV, mas sem realmente prestar atenção.
A imagem dele entre as chamas não saía da sua cabeça.
O jeito como ele caminhava no meio do fogo sem hesitação, como se soubesse exatamente o que estava fazendo, como se aquilo fosse apenas mais um dia comum para ele.
Ela soltou um suspiro pesado e se jogou no sofá, puxando o cobertor para cima.
— Filho da mãe…
Ela queria estar irritada. Deveria estar irritada. Mas, no fundo, sentia outra coisa.
Algo que não queria admitir nem para si mesma.
O barulho do chuveiro cessou, e minutos depois, Oliver saiu do banheiro com uma toalha enrolada na cintura, esfregando outra nos cabelos. Evelyn desviou o olhar rapidamente, fuzilando a TV como se fosse o centro do universo.
Ele percebeu.
Um sorriso quase imperceptível surgiu em seu rosto, mas ele não comentou nada.
— Pronto. Agora estou cheiroso, posso ficar no sofá de novo?
Evelyn estreitou os olhos.
— Eu ainda não decidi se você merece.
Assim que terminou de secar o cabelo, Oliver voltou para o quarto e vestiu uma calça de moletom e uma camiseta preta.
Só então saiu, caminhando até a cozinha enquanto Evelyn continuava observando a TV, fingindo não notar sua presença.
— Pronto, agora estou vestido. Alguma outra exigência antes de eu sentar no sofá? — Ele perguntou, pegando uma garrafa de suco na geladeira.
Evelyn estreitou os olhos.
— Eu ainda não decidi se você merece.
— Nossa, que cruel. — Oliver abriu a garrafa e bebeu um gole. — Quer alguma coisa?
— Quero respostas.
Ele fechou a garrafa lentamente, apoiando-se no balcão.
— Quais exatamente?
Evelyn virou o rosto para ele, cruzando as pernas sobre o sofá.
— Há quanto tempo você faz isso?
Oliver soltou um pequeno suspiro, deixando a garrafa sobre a pia.
— Alguns anos.
— E ninguém sabia?
— Só quem precisava saber.
— E eu não precisava?
Oliver virou-se para encará-la diretamente.
— Você queria saber?
Evelyn abriu a boca para responder, mas hesitou.
Queria dizer que sim, que ele deveria ter contado, mas, no fundo, sabia que isso não mudaria nada.
Ele ainda seria o Oliver que sempre foi: misterioso, imprevisível e, de alguma forma, sempre um passo à frente.
Ela suspirou, balançando a cabeça.
— Você é impossível.
— Eu prefiro "versátil".
Ela revirou os olhos, mas um pequeno sorriso escapou.
Oliver se aproximou, encostando-se ao sofá.
— Tá preocupada comigo?
Evelyn bufou.
— Não enche.
Mas ela estava. E sabia que ele sabia.
O silêncio se instalou por alguns segundos antes de Oliver mudar de assunto.
— Quer sair um pouco?
Ela piscou, surpresa.
— Agora?
— Sim. Eu dirigi direto para o incêndio, então nem tomei café direito. Vamos comer alguma coisa.
Evelyn estreitou os olhos, desconfiada.
— Isso é um suborno para eu parar de fazer perguntas?
Oliver abriu um pequeno sorriso.
— Funciona?
Ela cruzou os braços, fingindo pensar.
— Depende. Você paga?
— Claro.
Ela soltou um suspiro dramático.
— Tá bom, mas se você tentar fugir das minhas perguntas de novo, eu jogo café quente na sua cara.
— Anotado.
Oliver pegou a jaqueta, e Evelyn finalmente saiu do cobertor, pegando sua bolsa.
Enquanto saíam do apartamento, ela olhou de relance para ele, ainda tentando entender o homem ao seu lado.
Talvez nunca entendesse completamente.
Mas, de alguma forma, isso tornava tudo mais interessante.
Os dois desceram até a garagem, onde a moto estava estacionada.
Evelyn continuou com os braços cruzados, olhando fixamente para a moto de Oliver.
— Nem vem.
Oliver a olhou de relance enquanto guardava o capacete.
— O quê?
— Eu não vou nessa moto. — Ela suspirou, exausta. — Você pode ser um bombeiro, um escritor, um desenhista, o que for… Mas isso não me faz confiar nessa coisa.
Oliver não discutiu.
Apenas pegou o celular do bolso e digitou rapidamente na tela.
— Então vamos de táxi.
Evelyn piscou algumas vezes, surpresa pela falta de insistência.
— Sério? Você não vai tentar me convencer?
— Não. — Ele guardou o celular. — Assim nem precisamos falar no caminho.
Ela franziu o cenho, mas não disse nada. No fundo, sabia que ele estava certo.
O táxi chegou em poucos minutos. Eles entraram e passaram a viagem inteira em silêncio.
Evelyn encarava a janela, enquanto Oliver apenas olhava para frente, sem expressão.
Era como se nenhum dos dois estivesse ali.
O silêncio dentro do táxi era quase palpável.
Evelyn observava a cidade passar pela janela, mas sua mente estava longe dali.
Oliver, por sua vez, mantinha o olhar fixo na estrada à frente, indiferente ao clima pesado que pairava entre os dois.
O motorista, sentindo a tensão, decidiu não puxar conversa. Apenas seguiu o trajeto sem interrupções.
Quando finalmente chegaram ao destino, Oliver pagou a corrida e saiu do carro sem dizer nada.
Evelyn o seguiu, ainda processando tudo que havia acontecido naquele dia.
Ao entrar no restaurante, foram recebidos pelo grupo de amigos, que já os aguardava em uma mesa nos fundos. Thomas foi o primeiro a falar:
— Até que enfim! O grande herói resolveu aparecer.
Oliver puxou a cadeira e se sentou sem responder.
Evelyn fez o mesmo, mas lançou um olhar de canto para ele antes de desviar a atenção para o cardápio.
— Vocês não vão falar nada? — Outra amiga perguntou, olhando de um para o outro. — Parece que nem se conhecem.
Evelyn soltou um suspiro, apoiando o cotovelo na mesa.
— Ele que decidiu não falar.
Oliver finalmente ergueu os olhos, encarando-a de forma neutra.
— Não achei que precisava.
Thomas soltou uma risada nervosa.
— Certo… clima estranho aqui, hein?
O grupo tentou continuar a conversa de forma natural, mas a atmosfera ao redor dos dois ainda pesava.
Evelyn, sem dizer nada, pegou o cardápio e começou a ler.
Oliver fez o mesmo.
Nenhum dos dois queria ser o primeiro a ceder.
Oliver saiu do restaurante sem pressa, sentindo o leve calor do sol contra a pele enquanto caminhava até onde sua moto estava estacionada.
Ele colocou o capacete, ligou o motor e partiu, sem olhar para trás.
Dentro do restaurante, Evelyn continuava observando a porta, ainda processando a forma como ele simplesmente foi embora sem hesitar.
— Ele realmente não faz questão de socializar, né? — Thomas comentou, bebendo um gole de suco.
Evelyn soltou um suspiro e pegou outro pedaço de comida, sem responder de imediato.
No fundo, ela sabia que Oliver era assim.
Mas algo naquela saída tão indiferente incomodava mais do que deveria.
Lá fora, Oliver seguia pelas ruas movimentadas, focado apenas no caminho.
Não era como se ele não gostasse da presença deles, mas simplesmente… não via necessidade de prolongar aquilo.
O celular de Evelyn vibrou, uma mensagem de Oliver apareceu na tela. Como sempre, direta e neutra:
[ Quando chegar, me avise para pagar o táxi.]
Sem responder, apenas guardou o celular e olhou pela janela.
O caminho de volta para casa foi silencioso, apenas o som do motor e o trânsito ao redor preenchendo o espaço.
Quando finalmente chegou, pagou o táxi como Oliver havia instruído e subiu até o apartamento.
Ao abrir a porta, encontrou Oliver sentado no sofá, tranquilo, como se nada tivesse acontecido.
Mas o que chamou sua atenção foi o que ele estava comendo.
— Gelatina de café? — murmurou para si mesma, franzindo a testa.
Sem dizer nada, Evelyn caminhou até o sofá e se sentou ao lado dele, cruzando os braços.
Oliver, que conhecia muito bem seus silêncios, não demorou a reagir.
Com a mesma naturalidade de sempre, ele se levantou, pegou o pote de gelatina e o colocou nas mãos dela.
Evelyn piscou algumas vezes, sem entender.
— O quê...?
Antes que pudesse perguntar qualquer coisa, sentiu um movimento atrás de si.
Oliver passou por trás do sofá e, sem hesitação, envolveu-a em um abraço por trás.
O calor do corpo dele contrastava com o frescor do ar-condicionado.
E então, sem aviso, ele inclinou-se e depositou um pequeno beijo em seu pescoço.
O mundo de Evelyn congelou.
Seu corpo ficou tenso, seu rosto esquentou instantaneamente.
O toque foi breve, mas parecia que sua pele ainda queimava.
Antes que ela pudesse processar qualquer coisa, Oliver já estava se afastando, caminhando de volta para a cozinha como se nada tivesse acontecido.
— Ah… olha… — começou ele, pegando um copo d'água. — Só não contei antes porque não via necessidade, nenhum conhecido meu sabe, e também, eu só faço trabalho de bombeiro se o perigo for muito grande.
Evelyn continuou imóvel, ainda segurando a gelatina de café, sem saber se olhava para ele ou se tentava fingir que nada havia acontecido.
Evelyn permaneceu imóvel no sofá, sentindo o resquício do toque de Oliver em sua pele.
Sua mente estava um caos, tentando processar o que havia acabado de acontecer.
Ela olhou para a gelatina de café em suas mãos, ainda sem saber como reagir.
O pior era que ele agia como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo, enquanto ela sentia o rosto queimar.
Oliver, por sua vez, já estava na cozinha, pegando um copo d'água, como se não tivesse feito nada demais.
— Eu só faço trabalho de bombeiro se o perigo for muito grande. — Ele repetiu, bebendo um gole. — Não é algo que interfere na minha rotina normal.
Evelyn apertou o pote de gelatina, ainda sem encará-lo.
— E se um dia der errado?
Oliver deu de ombros.
— Então eu resolvo.
O silêncio se instalou por alguns segundos.
Evelyn finalmente olhou para ele, ainda sentindo o calor em seu rosto.
— Você… — ela hesitou por um instante, mas logo disfarçou. — Você realmente gosta de gelatina de café?
Ele assentiu.
— É bom.
Evelyn revirou os olhos, mas uma leve risada escapou.
— Você é um caso perdido…
Oliver se encostou no balcão, observando-a.
— E ainda assim, você está aqui.
Evelyn congelou por um instante, mas logo deu outra colherada na gelatina, desviando o olhar.
— Cala a boca…
Oliver esboçou um pequeno sorriso antes de voltar a beber sua água.
A raiva de Evelyn ainda não tinha desaparecido.
O fato de Oliver nunca ter contado sobre ser bombeiro a irritava profundamente.
Ele simplesmente decidiu esconder essa parte da vida dele, como se não fosse nada.
Como se não fosse importante.
Mas o que realmente a incomodava, o que a fazia apertar a colher contra o pote de gelatina com mais força do que deveria, era outra coisa.
A repórter.
O jeito como ela tentou puxar assunto com Oliver.
O olhar que lançou para ele.
O tom de voz que usou.
E Oliver… Ele simplesmente ignorou tudo, como sempre.
Mas Evelyn sabia. Ela sabia como aquelas jornalistas agiam, como tentavam se aproximar, como aproveitavam qualquer brecha.
E saber disso fazia seu estômago revirar.
Ela pegou outra colherada de gelatina, tentando ignorar a irritação crescendo dentro dela.
Mas não adiantava.
Oliver voltou para o sofá, sentando-se ao lado dela novamente, como se não houvesse nada errado.
Como se não tivesse acabado de deixar sua cabeça um caos.
Evelyn fechou os olhos por um instante, respirando fundo.
No fim, ele sempre fazia isso.
Sempre bagunçava tudo.
E nem sequer percebia.
Oliver bateu levemente na própria perna, um gesto simples, quase distraído. Evelyn nem percebeu quando um ahoge surgiu em seu cabelo, mas seu corpo reagiu antes que sua mente pudesse acompanhar.
Sem pensar, ela se deitou no colo dele.
O silêncio no ambiente se estendeu por alguns segundos, até que a lembrança do que Oliver havia feito mais cedo a atingiu como um raio.
A raiva ainda estava lá, junto com o ciúme que queimava silenciosamente dentro dela.
Mas antes que pudesse se afastar, sentiu os dedos dele deslizando por seu cabelo.
O toque era firme, mas cuidadoso, como se ele soubesse exatamente o que estava fazendo.
Evelyn congelou por um instante, sentindo a respiração prender na garganta. Seus olhos subiram devagar, encontrando os de Oliver.
E então, ela viu.
Pela primeira vez, ele sorriu.
Não era um sorriso forçado ou um daqueles sorrisos calculados que ele usava quando queria encerrar uma conversa.
Era um sorriso genuíno, silencioso, mas carregado de algo que Evelyn não conseguia decifrar completamente.
Seu coração bateu mais forte.
Ela queria falar algo, perguntar o que aquele sorriso significava, mas as palavras simplesmente não vinham.
Então, ao invés disso, apenas fechou os olhos e se deixou ficar ali.
Mesmo que não quisesse admitir, aquele momento... era confortável demais para ser interrompido.